segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Spirit Bound - O recomeço Capitulo 2 Marcas da Vida






Stan e eu caminhamos lado a lado pelo terreno escuro da academia. Já fazia tanto tempo que eu andava sozinha, que de repente pareceu ser bom ter alguém ao meu lado. Nós não dissemos muitas coisas. Eu não sabia o que dizer e provavelmente Stan também não.

Chegamos de volta ao ginásio algum tempo depois. Eu olhei para a multidão de pessoas e pensei em como a vida era engraçada. Alguns minutos atrás eu havia fugido de algo que desejei minha vida toda. Estranho como o valor das coisas muda. Eu ás vezes me perguntava o que eu estava fazendo naquele lugar ainda.

– Rose! Eu sabia que você conseguiria, eu sempre soube.

Lissa correu para mim assim que eu entrei no ginásio. Quando ela me abraçou eu me lembrei da razão de estar ainda na academia, eu estava ali por ela. A confiança de Lissa em mim era a única coisa que eu ainda tinha. Eu sorri encarando seus olhos pálidos de jade. Lissa sorriu de volta e me arrastou pelo braço.

– Vamos, precisamos arrumar você.

– Me arrumar? Para que?

Lissa colocou as mãos na cintura, como se eu fosse uma anormal ou coisa parecida. Se bem que ultimamente eu me sentia mesmo, meio anormal.

– Para a cerimônia.

– Ah claro, a cerimônia.

Quando os guardiões se formavam, era feita uma cerimônia especial. Uma cerimônia em que se ganhava a marca da promessa.

Lissa me levou até o meu quarto e ficou tagarelando de um lado para o outro, como se quem fosse ser tatuada fosse ela, e não eu. Eu me limitei a ficar em silêncio e tentar salvar o que Stan não conseguiu destruir do meu rosto. Muitas camadas de corretivo depois, eu estava apresentável. Lissa prendeu meu cabelo em um coque alto, para deixar meu pescoço exposto, e me ajudou a vestir a roupa. Nada de vestido bonitos e brilhantes – alguém tinha que reformular essa história de terninho, afinal eu tenho dezoito anos! – o que nós usávamos era mesmo um conjunto de calça e blusa preta, com uma regata de decote amplo nas costas. É claro que minha amiga, princesa Lissa Dragomir, deu jeitinho de deixar minha roupa um pouco melhor, fazendo alguns ajustes em uma costureira moroi.

Quando terminamos, eu me olhei no espelho. Lissa sorriu.

– Fizemos um bom trabalho, hum?

– Você sempre faz um bom trabalho Liss.

Nós nos abraçamos por um longo tempo. Quando eu a soltei, Lissa estava com lágrimas nos olhos.

– Eu queria tanto que as coisas fossem diferentes, Rose. Eu queria tanto que ele estivesse aqui.

Eu engoli o meu próprio choro. Okay, falar de Dimitri agora era, sem dúvida, covardia das grandes.

– Está tudo bem Liss, vamos apenas deixar as coisas como estão.

Lissa não insistiu. Ela sabia que eu não gostava de falar sobre o passado, ela me conhecia bem.

Abrimos a porta do quarto, para encontrar Adrian do lado de fora. Ele estava com a mão para cima, preparando-se para bater.

– Hey, eu pensei que estava na corte – eu disse, puxando um sorriso de canto de boca.

– E perder isto?

Adrian abriu os braços, apontando para mim. Eu não pude deixar de sorrir.

– Isto o que? Os hematomas, ou os arranhões? Ah já sei! Provavelmente você está se referindo as múltiplas escoriações.

Adrian levou a mão ao meu rosto. Seus olhos castanhos estavam absolutamente doces e calmos. Embora ele ainda cheirasse a nicotina e whisky.

– Você não muda, Litlle Dhampir. Você não muda.

Eu queria dizer a ele que ele estava errado. Queria dizer que eu havia mudado muito, mas achei que não seria uma boa idéia, então eu apenas o peguei com um braço e Lissa com o outro e sai pelo corredor.

Alberta e os outros guardiões estavam em uma fileira quase militar. O clima no salão era muito sério e formal. Assim que eu coloquei o pé no salão da cerimônia, meu coração acelerou. Uma sensação forte e confortável tomou conta de mim. Eu estava ali, finalmente. Eu havia conseguido, apesar de tudo. Hoje, eu receberia minha marca da promessa, o que faria de mim uma guardiã de verdade. Hoje, eu cumpriria a maior de todas as minhas promessas.

Enquanto eu andava em fila junto aos outros novatos, meu coração estava em paz. Depois de muito tempo, enfim, meu coração estava em paz.

Eu me ajoelhei em uma almofada vermelha, em frente a um moroi de cabelos grisalhos que eu nunca tinha visto. Ele começou a recitar o juramento e eu comecei a sentir minha garganta se fechando junto com cada sim que eu dizia. Cada sim que eu dizia me lembrava a promessa que eu fiz a Dimitri, cada sim me lembrava que eu ainda tinha um trabalho para fazer. Um trabalho doloroso.

As lágrimas começaram a rolar no momento em que minha marca começou a ser feita. Não era dor, ou pelo menos, não dor física. A dor que eu sentia era na alma. É difícil explicar a responsabilidade que eu senti. Pode ser estranho para qualquer um que uma tatuagem possa mudar algo em você, mas eu nasci para isso. Receber aquela marca me transformava mais do que eu podia ter imaginado. Enquanto eu sentia a agulha arranhar a minha pele, eu me lembrei do meu instrutor. Me lembrei da primeira vez que vi sua marca. Da admiração que eu senti por suas seis marcas molnija. Eu tinha as minhas agora, e não poderia mostrar a ele.

Quando terminou, tudo que eu queria era sair dali. Eu queria me sentar em algum lugar e chorar. Só chorar.

Infelizmente, sair do salão não foi tão rápido como eu gostaria. Todos os meus amigos estavam ali, e eu pensei que se fizesse o que tinha vontade, eu estaria mais parecida com Stan do que eu poderia suportar.

Edie veio correndo e me pegou em um abraço apertado.

– Conseguimos Rose! Nós conseguimos!

O sorriso no rosto de Edie era tão sincero que eu acabei sorrindo junto. Sim nós havíamos conseguido.

Eu deixei Edie conversando com um outro garoto louro, do qual eu não me lembrava o nome e continuei andando. Uma mão conhecida em meu ombro, me fez virar.

– Eu estou orgulhosa de você Rosemary.

A voz impessoal de Jeanine Hathaway. Okay, eu estava costumada com isso, mas será que ela não podia me abraçar e dizer que me amava?

– Obrigada mãe, significa muito para mim.

Ela sorriu e eu percebi que significava muito para ela também. Apesar de tudo, eu acho que compreendia melhor a minha mãe ultimamente. Eu continuei buscando espaço entre a multidão.

– Procurando emprego, guardiã?

A voz sarcástica de Christian saiu de trás de uma pilastra.

– Não com um Ozera – eu respondi.

– Uh! Esta partiu o meu coração – Christian respondeu, colocando a mão sobre o peito.

– Você tem um?

Ele não respondeu minha provocação, apenas sorriu.

– Bela roupa.

– É, eu tenho uma bela estilista.

– Eu sei.

Só quando ele respondeu, foi que eu percebi que tinha dito besteira. Christian e Lissa ainda não tinham se acertado e isso era muito doloroso para os dois.

– Desculpe.

Eu tentei concertar as coisas, e o sorriso sarcástico voltou aos lábios dele.

– Não por isso.

Christian virou de costas e deu um tchau com as mãos, o que era bem típico dele.

– Nos vemos por aí? – eu gritei para ele.

– Sempre!

Um pouco antes de sair pela grande porta de madeira de lei, Lissa veio me abraçar e por mais que eu tentasse disfarçar, minha amiga entendia a razão das lágrimas – Sim, eu estava chorando. Assim que virei para a porta, tornou-se impossível segurar. Ela não perguntou ou falou absolutamente nada, apenas segurou minha mão e saiu comigo da multidão.

Lissa me deixou no quarto e voltou para festa, assim que eu disse que precisava ficar sozinha. Quando a porta se fechou, eu me livrei das roupas o mais rápido que pude e me deitei. Eu estava tão cansada que parecia que desmaiaria a qualquer momento.

Eu fechei meus olhos e busquei Dimitri em minha mente. Não foi difícil, já que ele estava em toda ela. Eu me foquei nele. Em seus olhos e seu sorriso e seu cheiro. Ah meu Deus como eu queria sentir aquele cheiro novamente!

Quando os sonhos vieram, eu estava na cabana. Nossa cabana. Eu estava na cama, vestindo uma calcinha e uma camiseta. E o cheiro estava lá. Aspirei o máximo que pude de ar. O cheiro dele. Estava tão perto, tão em mim. Quando olhei para baixo, eu percebi o porque, a camiseta que eu usava, era dele. Um barulho na pia, desviou minha atenção. Dimitri estava lá, usando apenas uma calça jeans, mexendo em alguma coisa. Eu não consegui desviar os olhos dele. Era ele novamente. Sua pele, seus olhos. Eu me levantei e caminhei até onde ele estava. Dimitri se virou e sorriu para mim, nada de presas, apenas sua boca, seus dentes.

– Então você acordou, Roza? Finalmente. Eu fiz café.

Ele estendeu uma xícara para mim. Eu a peguei e coloquei na pia. Dimitri estranhou.

– Não quer café?

Eu sorri maliciosamente para ele.

– Talvez depois.

Ele retribuiu a malicia do meu sorriso e me puxou em seus braços. Ah Deus, como eu estava com saudades! Minhas mãos deslizavam em seu peito nu, sentindo, tocando. Dimitri me beijou. Sua língua explorando minha boca, suas mãos explorando meu corpo. Eu podia sentir as correntes elétricas se espalhando em meu corpo.

– Eu quero você. Eu preciso de você - Foi o que eu consegui dizer entre um gemido e outro.

Ele não vacilou. Suas mãos desceram em minhas coxas e ele me segurou contra seu quadril. Eu agarrei em seu pescoço, puxando o mais perto. Dimitri me sentou na mesa atrás de nós e encaixou meu corpo no seu. Eu sentia seu toque em minha pele. Suas mãos percorrendo minhas costas, seus dedos acariciando meus seios. Eu podia sentir que era um sonho, mas eu não queria sair daquele lugar. Eu não queria sair nunca. Ele começou a beijar minha barriga, por baixo da camiseta e eu gemi mais. Tanto desejo, tanto tesão. Eu queria ele, eu queria mais. Deslizei meus dedos em seu cabelo, sentindo o toque suave e sedoso dele. Minha cabeça girou e de repente Dimitri não estava mais comigo. Eu estava em algum lugar estranho. Algo como uma fazenda. Uh! eu odeio fazendas! Que diabos eu estava fazendo em uma?

– Rose?

A voz de Mason me assustou.

– Pelo amor de Deus Mase, me diga que você não me tirou do meu sonho!

– Hey, eu não chamei você aqui!

– Não? Então me responda porque eu não estou na cabana com Dimitri e estou aqui com você?

– Eu não faço idéia. Eu moro aqui.

– Mora aqui? Como assim, mora aqui? Isto – eu abri meus braços, tentando dar ênfase a todo o feno e coco de cavalo que tinha no chão – é o paraíso?

Mason se deitou em um monte de feno e cruzou as mãos atrás do pescoço.

– Eu gosto daqui.

– Ótimo! Me lembre de não ir mais a igreja, assim quem sabe, eu não venha parar aqui.

Mason riu.

– Uma reuniãozinha e ninguém me convida?

– Adrian! O que você faz aqui? – eu perguntei assim que o vi.

Ele se aproximou, impecável, em sua calça caqui e sua camisa branca. Adrian estendeu a mão para mim.

– Eu não consegui dar os parabéns antes, resolvi aparecer agora - seus olhos encontraram os de Mason e ele continuou – só não esperava que você tivesse companhia. Aliás, eu achei que os espíritos não pudessem se comunicar com os vivos.

– Rose é uma shadow-kissed. E você o que quer com ela? – Mason perguntou, levantando-se um pouco.

– Assunto particular – Adrian respondeu me puxando para perto dele.

Impressão minha ou naquele momento eu tinha dois espíritos brigando por minha causa? Bom papai-do-céu, ou fada-do-dente, ou coelhinho-da-páscoa, sei lá. Se eu puder posso trocar os dois e voltar para a cabana? Okay, é claro que eu não posso. Eu respirei fundo e olhei para Adrian.

– Então foi você que me trouxe aqui?

– Sim. Não. Mais ou menos. Eu tentei entrar no seu sonho, mas não consegui, então de repente, você estava aqui.

Ele olhou diretamente para mim e continuou.

– Alguma coisa me bloqueou de entrar em sua mente antes, o que foi?

– Eu não faço idéia, o usuário do espírito aqui é você!

– Você estava com alguém poderoso. Alguém com quem você tem uma ligação muito forte. Lissa, talvez.

Eu tossi e pigarreei um pouco, antes de concordar. Bem, era muito melhor ele pensar em Lissa do que saber a verdade. Minha bochecha corou só de pensar.

Mason e Adrian continuaram discutindo sobre qual dos dois tinha mais direito de estar em meus sonhos e minha cabeça estava doendo, muito. Eu dei uma sacudida, tentando eliminar as vozes, nada. Soltei hunf entre os dentes e me sentei ao lado de Mason – aquilo iria demorar – mas antes que eu soltasse meu peso, alguma coisa me espetou e eu olhei para baixo. Para a minha maior felicidade, eu ainda estava de calcinha e camiseta, o que era absolutamente constrangedor. Eu surtei.

– Você! Eu apontei para Mason – me faça o favor de aparecer apenas quando eu estiver vestida! E você! – eu apontei para Adrian – me faça o favor de arranjar alguma roupa decente para mim em suas fantasias! E agora os dois! Me levem de volta, pelo amor Deus. Vocês estão me dando dor de cabeça.

Um segundo depois, eu estava em minha cama.

Confesso que tentei, desesperadamente, voltar a sonhar com Dimitri, mas eu não consegui. Eu estava ansiosa com o futuro e amedrontada. Como se pudesse sentir, Mason apareceu.

– Rose, me desculpe. Eu não queria atrapalhar você, eu nem sabia que você poderia ir até lá.

– Okay – eu respondi meio sem vontade.

– É sério Rose. Eu não entendo bem estas coisas ainda, sabe, não fácil morrer.

Eu pensei em dizer alguma coisa como: “E você vem dizer isto para mim? Eu estou tentando matar um strigoi que eu amo e não está dando muito certo”. Mas ao invés disso, eu disse outra coisa. Algo que convenceu ele de que tudo estava mesmo bem, porque ele parou de falar do assunto.

– Hey, posso ver sua marca?

– Hum?

Mason revirou os olhos para mim.

– A da promessa Rose, a da promessa! Lembra? Aquela que você fez hoje!

– Ah esta. Sim, é claro.

Segurei meu cabelo em um rabo de cavalo para que Mason pudesse ver meu pescoço.

– Está linda.

Eu olhei pelo espelho.

– Ah, ela inda está meio vermelha, mas vai ficar bom logo. Sabe, eu tenho ma ótima cicatrização.

Mason sorriu e se aproximou.

– Não a marca sua boba, você.

Engoli em seco. Eu não tinha menor idéia de como lidar com o flerte de um fantasma. Sarcasmo! Sarcasmo é sempre bem vindo.

– Devem ser os hematomas, sabe, eu li que homens se sentem atraídos por isso.

Mason sorriu comigo.

– Você leu? Desde quando você lê?

Eu me fiz de ofendida.

– Desde sempre. Eu não sou só um rostinho bonito em um corpo super sexy, eu sou inteligente.

Mason segurou minha mão e olhou em meus olhos.

– Eu amo você Rose. Sempre vou amar.

– Mase eu...

– Não se preocupe, eu entendo. Eu sei o quanto você o ama, eu sinto. Sempre senti.

Mason baixou os olhos para o chão e eu me senti culpada. Culpada por usa-lo, culpada não ter conseguido protege-lo. Ele segurou meu rosto entre suas mãos frias.

– Vou fazer o que for preciso para vê-la feliz de novo.

Ele sorriu e eu sorri também. Era bom ter Mason de volta, por mais estranho que isso fosse. Ele soltou meu rosto de repente, ainda sorrindo.

– Vivo na área! - E desapareceu.

Alguns segundos depois, bateram em minha porta. Eu não me espantei quando abri.

– Adrian. O que você quer.

Ele me estudou um pouco e depois soltou um dos seus sorrisos irônicos.

– Prefiro a camiseta.

Olhei para baixo e percebi que eu usava minhas calças velhas de ginástica e uma blusa de algodão.

– E você veio aqui, no meio da noite, só para me dizer isto?

Ele entrou – Adrian nunca esperava ser convidado – e se sentou na cadeira da escrivaninha.

– Eu vim te dar os parabéns – ele esperou um pouco para depois continuar – e, fazer uma proposta.

– Ah uma proposta! Bem, isto muda tudo. E o que seria Adrian Ivashcov?

– Eu vou ajuda-la.

– Em que?

– Em sua busca.

Eu sabia exatamente do que ele estava falando e já estava odiando Lissa por ter contado, mas mesmo assim, me fiz de desentendida.

– Que busca?

Ele suspirou fundo.

– Seu guardião, Litlle Damphir.

Eu fiquei muda. Se por um lado, eu não queria que ninguém soubesse, por outro, seria bom ter ajuda. Especialmente de alguém que pudesse obter facilmente favores com a rainha. Eu precisava de alguém que pudesse me ajudar com Victor.

– E o que você quer em troca?

– Sua garantia de que eu terei minha chance com você.

Eu me sentei na cama e cruzei as pernas.

– Eu já lhe prometi isso.

– Não Rose. Eu não quero que você me prometa nada, eu quero que pense. Por isso eu vou ajuda-la, enquanto você tiver esperanças com Belikov, você não vai poder me dar uma chance.

– Então por isso, você vai me ajudar a mata-lo.

– Sim.

De repente, uma esperança brilhou em minha mente. E se desse certo? E se fosse mesmo verdade? O que eu faria com Adrian? Não era justo usa-lo, especialmente sabendo que ele realmente tinha esperanças em relação a isso. Eu suspirei.

– E se eu descobrir que posso salva-lo. E se der certo Adrian, você sabe que vamos ficar juntos.

Ele olhou serio para mim, mas eu pude ver a doçura e a sinceridade em sua voz.

– Então eu vou saber que fiz a coisa certa.

Eu o abracei e Adrian encostou os lábios nos meus. Não foi exatamente um beijo, mesmo porque eu não me movi, mas foi carinhoso e tenho que admitir que Adrian tinha um certo charme.

– Para a corte, então? Adrian me perguntou.

– Sim para a corte!

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Spirit Bound - o recomeço / Capitulo 1




Quando eu saí pela Rússia, em minha caçada pelo homem que eu amo, eu não imaginei que seria tão difícil.

Não foi difícil encontrá-lo, nem me deixar cair em seus braços, mais uma vez. O difícil foi matá-lo. enterrar uma estaca de prata no coração do único homem que eu amei em toda a minha vida.
Tão ficícil que eu falhei. Eu não pude completar minha missão. Agora, Dimitri é quem está me caçando e eu tenho a impressão de que isto não terá um final feliz.





Prólogo – A Carta



Quando acordei, a sensação era estranha. Eu não sentia dor, embora a estaca ainda estivesse em meu peito. Eu a puxei e segurei em minhas mãos. Não havia mais mágica nela, ou eu não estaria escrevendo esta carta agora.

Naquela noite, na margem do rio, eu me levantei e caminhei de volta para a casa que agora pertencia a mim. Apesar de tudo, ela havia me ajudado. Apesar de tudo, ela havia escolhido permanecer ao meu lado, ainda que não quisesse se unir a mim.

Agora, enquanto eu escrevo esta carta, a estaca de prata está em minha mão. Eu não consigo tirá-la da minha mente. Penso em como seria tocá-la novamente. Em como seria sentir seu gosto em minha boca novamente. Hoje, enquanto escrevo esta carta um pensamento faz minha boca salivar de desejo. Eu penso em como seria provar o gosto de seu sangue quente e doce, enquanto faço amor com ela. Minha. Esta é única palavra que vem em minha mente quando penso nela. Minha, minha Roza.

Nada do que escrevo aqui é mentira. Eu penso exatamente isso, eu sinto exatamente isso, e mais, muito mais. O desejo que tenho dela é doentio, eu vou tê-la novamente. Não importa o que eu tenha que fazer para conseguir, eu vou fazer.

Infelizmente, não será fácil. Eu a treinei bem. O que me consola, é que será muito interessante. Eu preciso matá-la, e eu vou. Mas antes disso, eu preciso tê-la em meus braços, mais uma vez.







Capítulo 1 – Passado Perdido





A janela do quarto estava entreaberta. Estávamos na primavera e apesar de Montana ser um lugar frio, naquela tarde o sol brilhava razoavelmente forte. Eu estava sentada na beira da janela, sentindo o sol esquentar a minha pele enquanto olhava as montanhas. O papel ainda estava amassado em minhas mãos.

Definitivamente, existe uma diferença entre cartas de amor e ameaças de morte, mas para mim, não importava muito. O que importava de verdade é que ele havia escrito. O que importava é que eram suas mãos segurando a caneta que marcou aquele pedaço de papel. Eu estava apavorada, mas eu não conseguia de deixar de amá-lo.

Enquanto o sol esquentava minha pele, meu pensamento viajou até a Rússia, até Dimitri. Eu tinha tantas lembranças. Abri o papel mais uma vez, eu já havia perdido a conta de quantas vezes o li, mas eu precisava ler uma vez mais.



Minha querida Rose,


Uma das poucas desvantagens de ter despertado é que não precisamos mais dormir; portanto nós não sonhamos mais. É uma pena porque se eu pudesse sonhar, eu sei que sonharia com você. Eu sonharia com o seu cheiro e sobre a sensação do seu cabelo negro entre meus dedos. Eu sonharia com a suavidade da sua pele e o poder seus lábios quando nos beijamos.

Sem sonhos, eu tenho que me contentar apenas com minha imaginação – que é quase tão boa quanto. Eu posso imaginar todas essas coisas perfeitamente, assim como consigo imaginar como será quando eu tirar sua vida desse mundo. É algo que eu me arrependo de ter que fazer, mas você tornou minha escolha inevitável. Sua recusa de se juntar a mim numa vida e amor eterno não me deixa outra opção, e eu não posso permitir que alguém tão perigoso quanto você viva. Além do mais, mesmo que você seja transformada contra sua vontade, você agora tem tantos inimigos entre os Strigoi que um deles iria te matar. Se você deve morrer, que seja por minhas mãos. A de mais ninguém.

Mesmo assim, eu te desejo sorte hoje enquanto você faz suas provas – não que você precise. Se eles estão fazendo você fazer os testes – e eu não tenho duvidas que eles fizeram – é uma perda do tempo de todos. Você é a melhor no grupo, e nessa noite você vai merecer sua marca da promessa. É claro, isso significa que você será um desafio muito maior quando nos reencontrarmos – o que eu definitivamente vou gostar.

E nós vamos nos encontrar de novo. Com a formatura, você partira da Academia, e assim que você estiver do lado de fora das wards, eu vou encontrar você. Não existe lugar nesse mundo que você possa se esconder de mim. Estou observando.

Amor,



Dimitri.


Eu também me lembrava exatamente de todas aquelas sensações, e de outras, muitas outras mais. Eu me lembrava da sensação do seu corpo apertado contra o meu. A suave pressão do movimento de fazer amor com ele. Eu me lembrava do calor da sua pele. Um calor que eu não sentiria mais, nunca mais. O homem que eu amava já não existia mais, ele havia se perdido em algum lugar daquele passado. E não importa o que eu fizesse, nada poderia trazê-lo de volta – ou quase nada – mas eu não estava disposta a arriscar Lissa por isso. Ela não. Eu já havia perdido muitas coisas e Lissa não entraria nesta lista.

Eu suspirei fundo, mandando aquela nova Rose de volta para dentro de mim e resgatando a garota inconseqüente, que fazia piada de tudo. Podia não ser honesto, mas era o único jeito de não enlouquecer.

Eu estava terminando de pentear o meu cabelo, quando Lissa entrou.

– Não me diga que chama isso de rabo de cavalo?

Lissa estava parada na porta, sorrindo para mim, ou melhor, ela estava rindo de mim. Okay, eu nunca fui mesmo muito boa com cabelos, para minha sorte minha herança genética sempre me ajudou. Eu sorri para ela, segurando desajeitada a escova nas mãos.

– Bem, é uma tentativa.

Lissa pegou a escova e começou a alisar o meu cabelo. Ultimamente ela tinha sido muito mais minha guardiã, do que eu dela. Eu gostava de ver como Lissa estava diferente. Eu gostava de ver tanta confiança em seus olhos e eu tinha que admitir que muito dessa mudança, eu devia a Christian Ozera. Mesmo não estando mais com ela, Christian havia mudado muito Lissa, e eu podia ver que era para melhor.

– Ansiosa?

A voz suave e carinhosa de Lissa me arrancou dos meus pensamentos. Eu queria dizer a ela o quanto eu estava ansiosa e o quanto eu estava apavorada. Ansiosa porque eu queria muito ser aprovada nos meus testes finais e finalmente poder ser a guardiã dela e começar nossas vidas. Apavorada porque se eu realmente fosse aprovada – o que Stan iria tornar bem difícil – eu teria que ser a guardiã dela e começar nossas vidas. Contraditório? Nem tanto, quando se tem um Strigoi no seu encalço. Apavorante? Absolutamente! E principalmente quando este Strigoi é o melhor, ou o pior, dependendo do ponto de vista. E mais principalmente ainda, quando você ama este Strigoi.

Eu respirei fundo mais uma vez – qualquer dia eu iria arrebentar um pulmão, ou uma costela, ou os dois – e respondi sarcasticamente:

– Bom você sabe, Stan é muito pior que um Strigoi!

Lissa não riu. Ela me conhecia bem, o que ás vezes me dava medo. Ao invés de rir comigo, ela me abraçou.

– Você vai se sair bem – e então, ela completou - eu tenho certeza.

Eu a segurei um pouco mais, junto a mim. Lissa era meu porto seguro.

– Você sempre cuidou de mim, agora eu vou cuidar de você – Lissa disse em meu ouvido.

Com as últimas palavras eu tive que segurar a nova Rose para não sair de dentro de mim chorando. Eu não podia. Lissa não merecia uma guardiã fraca.

– Hey, você fez um bom trabalho aqui! – eu disse, passando a mão pelo rabo de cavalo perfeito que Lissa havia feito.

Ela sorriu e caminhou em direção a porta.

– Bem, ninguém disse que uma guardiã tem quer ser desarrumada!

– Diga isto á Alberta!

– Rose!

– Hey! Eu sou sincera, você sabe.

Lissa revirou os olhos sorrindo.

– Te vejo lá embaixo? Ela perguntou.

– É claro, eu tenho um Strigoi hipotético para matar! – eu respondi dando um soquinho no ar.

– Hey, Rose?

Eu me virei para ela á tempo de pegar o pequeno anel de prata.

– Para dar sorte!

Lissa saiu e eu fiquei olhando a argola em minha mão. Sorte eu teria se meu dedo não caísse!

Por mais boa vontade que Lissa tivesse, ela realmente não havia entendido bem o que colocar naqueles anéis. Meu dedo que o diga! Ele ainda tinha marcas do último.

Eu fechei os olhos e encaixei o anel em meu dedo cuidadosamente. Quando ele chegou a base do dedo eu sorri – pelo menos nada estava quebrado, ou sangrando, ainda.

Desci as escadas correndo. Eu estava atrasada, como de costume. Algumas coisas nunca mudam.

Quando olhei o ginásio cheio, meu coração deu uma fisgada. Dimitri estaria ali, junto dos outros guardiões e com sorte, seria com ele que eu lutaria. Se eu pudesse mudar as coisas, se eu pudesse desfazê-las. Meu pensamento viajou mais um pouco, meses atrás, quando nós dois treinávamos naquele lugar. Eu o vi ali novamente, sentado em sua cadeira, com os pés apoiados na grade do ginásio, enquanto eu corria. Seu livro de Cowboy aberto, embora seus olhos estivessem em mim. Na é época eu ignorei, achei que fosse bobagem, mas hoje eu sei, era para mim que ele olhava. Se eu pudesse voltar no tempo eu teria feito tanta coisa diferente. Eu teria arriscado mais. Eu teria tirado o livro das mãos dele e o teria trazido para mim. Eu o teria beijado, muitas vezes mais. Da última vez que eu o beijei não foi a mesma coisa, não que eu não tivesse gostado, é só que, não era mais o meu Dimitri.

Eu dei um pulo e agarrei alguma coisa atrás de mim.

– Hey, garota me solte! Pelo amor de Deus eu só queria dizer “olá”!

– Edie, ficou maluco?

– Porque eu queria dizer “olá”?

– Não! Por se aproximar sem fazer barulho.

Edie sorriu e eu percebi que tinha sido uma idiota – okay, ultimamente isso não era tão incomum.

– Desculpe, okay? Eu estava distraída.

De repente os olhos de Edie se perderam dos meus. Ele os baixou para algum lugar no piso e eu sabia exatamente para onde. Não fazia muito tempo desde a morte de Mason.

– Era para ele estar aqui conosco – Edie afirmou.

– Sim.

Pensar em Mason me deixou ainda pior. Eu sentia falta do meu amigo. Era tão fácil ser eu mesma com Mason. Ele me compreendia tanto. Eu estava pensando em como a vida era injusta, tirando de mim duas pessoas que eu amava tanto, quando Edie continuou.

– Mase está melhor agora, eu sinto.

E então eu me lembrei que a nova Rose estava tentando sair novamente e a puxei para dentro.

– Hey! Pensei que só eu sentisse estas coisas por aqui! – eu falei dando um soco de ombro em Edie.

Deve ter funcionado um pouco, porque o garoto sorriu. Edie segurou em meu braço e me levou para o lugar onde os novatos estavam.

Um pouco antes de eu me sentar, Stan parou ao meu lado.

– Hatway, finalmente nos deu o ar da sua graça!

Bem injusto se você pensar que eu estava no máximo cinco minutos atrasada, mas vindo de Stan, era compreensível.

Eu olhei para ele com meu olhar inocente, apesar de não funcionar com ele, era sempre divertido.

– Bem, eu tenho uma marca da promessa para ganhar.

– Veremos!

Por um momento, eu pensei que talvez não fosse assim tão ruim não ser aprovada. Quem sabe eu não poderia continuar ali, na academia? Pelo menos eu não teria que lidar com meus problemas externos.

Eu nem tinha me ajeitado direito no banco, quando Alberta chamou o meu nome. Okay, eu já devia esperar que eu seria a primeira, mesmo assim, me surpreendeu. Eu me levantei e caminhei para o meio do ginásio, fazendo um pouco de alongamento com meus braços. O nome que Alberta chamou depois de mim, fez meus braços caírem como pedras ao lado do meu corpo.

– Guardião Alto – a voz de Alberta ecoou pelo ginásio.

Ah não! Isso já era demais! Stan? Tinha que ser Stan? Engoli em seco. É claro que tinha que ser Stan. Quem mais me deixaria tão motivada?

Eu olhei na fileira de guardiões nas arquibancadas e encontrei os olhos da minha mãe. Ela estava séria – o que não era novidade – e olhando para mim. Provavelmente ela e Stan haviam tramado tudo só para me fazer perceber que não importa o quanto as coisas estejam ruins, elas podem piorar.

Stan entrou na arena montada para os testes e se posicionou ao meu lado.

– Agora vamos ver o que o Belikov lhe ensinou.

Eu não respondi. Não havia nada para dizer. As maiores lições de Dimitri eram apenas minhas. Além disso, eu não entraria nas provocações de Stan. Eu precisava me concentrar, e foi o que eu fiz.

Assim que o juiz iniciou nossa luta, minha mente entrou em modo matar. Eu não era tão grande e nem tão forte quanto Stan, mas eu havia aprendido com o melhor. Se Dimitri não estaria ali para me ver, eu honraria sua memória.

Meu teste final, como o de todos os novatos, era uma luta corpo a corpo. Nada de ser pego de surpresa, ou fingir que se estava lutando com Strigoi. Ali, eu tinha que vencer Stan, como em uma luta de boxe. Hum, boxe! Até que não seria tão ruim. Eu pensei isso por exatos dois segundos, foi o tempo que Stan levou para acertar o meu rosto. A mão em punho bateu no meu rosto e eu senti alguma coisa quente e pegajosa escorrer – sangue! Ótimo, nem dez minutos de luta e eu estava sangrando. Eu caí.

Enquanto eu estava no chão, meus olhos encontraram minha mãe. Ela não estava torcendo por mim – ou pelo menos não visivelmente – mas eu percebi uma certa tensão nela. Expectativa? Talvez. Preocupação? Provavelmente. Amor? Nem tanto! Mas o fato é que ela estava ali, por mim. Meus olhos rodaram e encontraram Lissa. Ela estava lá, torcendo por mim, no meio da multidão. Era por ela que eu estava ali. Eu precisava vencer, eu precisava vencer por ela. E foi quando, atrás de Lissa, eu o vi novamente. A forma brilhante e esfumaçada de cabelos cor de bronze – Mason. Eu pisquei um pouco, ele não desapareceu. Eu quase sorri, mas o outro braço de Stan estava indo para minha boca, eu desviei. Mason ainda estava lá, atrás de Lissa, olhando para mim. Eu levantei e cerrei meu punho. Um soco no estômago e Stan afastou-se um pouco. Em minha mente eu podia ouvir Mason falando comigo: “Isso! Faça isso! Você precisa vencer” . Eu precisava mesmo. Não só por mim, mas por todos que eu havia perdido pelo caminho.

Eu apanhei mais um pouco e tenho certeza de que meu rosto estava completamente desfigurado – o que só provava que Stan me odiava muito. Porque diabos ele só batia no meu rosto? Mas o importante é que eu acabei em cima de Stan. Montada em sua cintura, imobilizando-o completamente. Ele tentou se mexer, mas não pode. Meus olhos pararam, minha mente voou. Na ultima vez em que eu havia lutado, era Dimitri embaixo de mim. Da ultima vez, eu havia enfiado uma estaca no coração do homem que eu amava. Infeliz ou infelizmente, eu não havia completado minha missão – ele estava vivo.

Quando o juiz anunciou minha vitória, eu não consegui comemorar. A nova Rose estava incontrolável e eu apenas corri. Corri como uma boba e corri exatamente como Dimitri me disse que um dia eu precisaria. “No dia em que você não puder lutar” – ele me disse – “corra!” . Foi o que eu fiz. Eu não podia lutar com minhas lembranças, embora eu também não pudesse arrancá-las de mim. Pelo menos eu podia esconde-las das pessoas.

Eu só parei quando avistei a cabana. Minhas pernas falharam. Eu não conseguia voltar aquele lugar, nunca mais. Não sem ele.

A grama estava seca e fofa. Eu me sentei nela, com as pernas cruzadas, escondendo minha cabeça entre elas. Fiquei ali, tentando controlar minha respiração e mandar a nova Rose para dentro de novo, quando o cheiro entrou em meu nariz. Era um cheiro gozado, de incenso e roupa velha, sei lá. O pior é que eu sabia o que significava.

Desta vez ele se aproximou mais. Eu senti sua mão em meu ombro, mas não abri os olhos. Eu não conseguia definir se eu queria ou não, ver alguma coisa.

– Rose?

– Já faz bem mais de quarenta dias, você não deveria estar no céu, ou coisa assim?

Mason retirou a mão do meu ombro e eu me senti uma estúpida. Abri os olhos e encontrei Mason ao meu lado. Sentado comigo na grama. Ele parecia exatamente o mesmo de sempre. A mesma roupa, os mesmos olhos, o mesmo sorriso. Algo em meu coração me dizia que era Mason, apenas meu amigo Mason, e que eu não precisava ter medo dele. Algo em minha razão me dizia que eu estava completamente louca e que precisava de terapia. Eu decidi ouvir o coração – como se eu nunca tivesse feito isso!

– Hey Mase, me perdoe. Eu estou um pouco confusa.

– Eu sei.



A mão voltou ao meu ombro e eu senti a suavidade fria e quase imperceptível de seu toque.

– Eu achei que você não poderia voltar – não foi exatamente uma pergunta, embora eu esperasse exatamente uma resposta.

– Eu não posso – ele baixou um pouco a cabeça, desviando os olhos dos meus – mas eu não poderia deixá-la sozinha.

– Hum.

Foi a única coisa que saiu da minha garganta. Na verdade eu tenho certeza que pareceu mais um rosnado que qualquer outra coisa. A minha sorte é que eu não precisava mais flertar com Mason, porque certamente, foi bem assustador.

– Você vai ficar por muito tempo? – eu perguntei, assim que minhas palavras retornaram.

– O tempo que você precisar.

– Isso pode ser muito tempo.

Eu não respondi exatamente para o fantasma de Mason ao meu lado, na verdade, eu respondi mais para mim mesma. Eu não tinha idéia de como resolver toda a situação estranha em que minha vida se encontrava, mas eu sabia que não seria fácil, nem rápido.

Mason sorriu para mim. Um sorriso brilhante e cheio de sentimento. Se eu não olhasse seus olhos vermelhos, eu diria que era o mesmo Mason de antes, se bem que ultimamente, olhos vermelhos não eram um problema tão grande para mim.

– Então acho que vou ficar por muito tempo – ele parou e sorriu novamente – mas não agora. Você tem companhia.

Não deu tempo de perguntar quem era, Mason desapareceu. Eu continuei ali, parada, olhando para o nada, ou melhor, para o tudo – nossa cabana.

Quando eu conseguir ver a pessoa que sentou ao meu lado, eu quase não acreditei – Stan. Eu não fazia a menor idéia da razão que havia levado Stan até aquele lugar, e sinceramente, eu nem sabia se queria descobrir.

– Você fugiu.

Eu não respondi e Stan ficou em silêncio por alguns segundos.

– Não se foge de uma vitória.

Eu encarei seus olhos, pela primeira vez. Não que eu nunca tivesse olhado para ele, mas naquela noite, eu olhei de verdade. Stan não parecia mais tão assustador agora. Ele estava ali, sentado em minha frente, olhando para mim, tão sem jeito quanto eu. Em outra ocasião, talvez eu o tivesse ignorado. Eu podia ter feito isso, afinal o cara socou o meu rosto repetidas vezes e provavelmente levariam semanas até que eu pudesse sair na luz novamente. Eu não sei se foi o fantasma de Mason ou a lembrança da cabana, mas algo me fez ser sincera com Stan.

– Eu não tenho ganhado muitas coisas ultimamente. Acho que esqueci como é.

– Você venceu Hatway, como eu sempre soube que venceria – ele fez uma pausa e suspirou fundo – como Dimka sempre soube que venceria.

Golpe baixo ou não, a verdade é que eu estava chorando. Não chorando de soltar coisas estranhas pelo nariz, mas meus olhos não podiam segurar as lágrimas.

Stan tirou um lenço do bolso e me entregou. Eu passei em meus olhos e acabei manchando tudo de sangue.

– Me desculpe. Eu prometo que lavo.

Stan sorriu.

– Não se preocupe, é só um lenço – ele pegou o lenço da minha mão e secou mais uma lágrima – eu queria que fosse Dimka á lhe dizer isto, mas eu sei que ele não pode, então vou dizer por ele: Estou orgulhoso de você. Nós estamos!

Eu congelei. Será que as pancadas haviam sido tão fortes? Será que eu estava com uma concussão? Stan orgulhoso de mim? O cara me odeia desde... Desde sei lá quando!

Não tive muito tempo para digerir o elogio, porque Stan continuou.

– Eu sei o quanto é duro para você.

– Sabe?

– Sim, Rose. Eu sei.

Rose? Alguém mais ouviu o guardião Stan “Terrível” Alto me chamar pelo meu apelido? Okay, eu devo ter batido mesmo a cabeça com força.

– Eu passei por algo parecido.

Deus, agora eu estava assustada mesmo. Primeiro minha mãe se preocupando comigo, depois o fantasma de Mason e por último, Stan me contando confidências! Eu só podia estar morta, ou louca, ou os dois!

– Como assim?

– Eu matei alguém que eu amava.

Eu olhei para Stan. Seus olhos estavam perdidos no passado. Por um momento, eu senti nele a mesma dor que eu tinha. Por um momento eu pensei que talvez ele não fosse tão ruim assim, e eu pensei em quantas vezes eu quis ser durona como ele e afastar todo mundo. Eu o compreendia melhor do que imaginava.

– Eu não matei Dimitri – minha cabeça pendeu para á frente – eu falhei.

Eu esperei ver admiração nos olhos de Stan, esperei ver um monte de coisas, mas não o que eu vi – compreenção.

– Eu sei.

– Como sabe?

– Seu pai me contou.

Meu pai? Meu pai contou a ele? Ele sabia quem era o meu pai? Puxa a coisa só estava piorando!

Eu não sabia o que perguntar a Stan. Não que eu não tivesse perguntas, o problema era exatamente o contrário – eu não sabia o que perguntar primeiro.

Stan se levantou rapidamente, com desenvoltura. Enquanto eu parecia uma pata choca com todos os meus hematomas e cortes. Ele estendeu a mão para mim e quando eu a segurei, ele me ajudou a levantar.

– Venha, temos uma marca da promessa para tatuar.