quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Spirit Bound - o recomeço / Capitulo 1




Quando eu saí pela Rússia, em minha caçada pelo homem que eu amo, eu não imaginei que seria tão difícil.

Não foi difícil encontrá-lo, nem me deixar cair em seus braços, mais uma vez. O difícil foi matá-lo. enterrar uma estaca de prata no coração do único homem que eu amei em toda a minha vida.
Tão ficícil que eu falhei. Eu não pude completar minha missão. Agora, Dimitri é quem está me caçando e eu tenho a impressão de que isto não terá um final feliz.





Prólogo – A Carta



Quando acordei, a sensação era estranha. Eu não sentia dor, embora a estaca ainda estivesse em meu peito. Eu a puxei e segurei em minhas mãos. Não havia mais mágica nela, ou eu não estaria escrevendo esta carta agora.

Naquela noite, na margem do rio, eu me levantei e caminhei de volta para a casa que agora pertencia a mim. Apesar de tudo, ela havia me ajudado. Apesar de tudo, ela havia escolhido permanecer ao meu lado, ainda que não quisesse se unir a mim.

Agora, enquanto eu escrevo esta carta, a estaca de prata está em minha mão. Eu não consigo tirá-la da minha mente. Penso em como seria tocá-la novamente. Em como seria sentir seu gosto em minha boca novamente. Hoje, enquanto escrevo esta carta um pensamento faz minha boca salivar de desejo. Eu penso em como seria provar o gosto de seu sangue quente e doce, enquanto faço amor com ela. Minha. Esta é única palavra que vem em minha mente quando penso nela. Minha, minha Roza.

Nada do que escrevo aqui é mentira. Eu penso exatamente isso, eu sinto exatamente isso, e mais, muito mais. O desejo que tenho dela é doentio, eu vou tê-la novamente. Não importa o que eu tenha que fazer para conseguir, eu vou fazer.

Infelizmente, não será fácil. Eu a treinei bem. O que me consola, é que será muito interessante. Eu preciso matá-la, e eu vou. Mas antes disso, eu preciso tê-la em meus braços, mais uma vez.







Capítulo 1 – Passado Perdido





A janela do quarto estava entreaberta. Estávamos na primavera e apesar de Montana ser um lugar frio, naquela tarde o sol brilhava razoavelmente forte. Eu estava sentada na beira da janela, sentindo o sol esquentar a minha pele enquanto olhava as montanhas. O papel ainda estava amassado em minhas mãos.

Definitivamente, existe uma diferença entre cartas de amor e ameaças de morte, mas para mim, não importava muito. O que importava de verdade é que ele havia escrito. O que importava é que eram suas mãos segurando a caneta que marcou aquele pedaço de papel. Eu estava apavorada, mas eu não conseguia de deixar de amá-lo.

Enquanto o sol esquentava minha pele, meu pensamento viajou até a Rússia, até Dimitri. Eu tinha tantas lembranças. Abri o papel mais uma vez, eu já havia perdido a conta de quantas vezes o li, mas eu precisava ler uma vez mais.



Minha querida Rose,


Uma das poucas desvantagens de ter despertado é que não precisamos mais dormir; portanto nós não sonhamos mais. É uma pena porque se eu pudesse sonhar, eu sei que sonharia com você. Eu sonharia com o seu cheiro e sobre a sensação do seu cabelo negro entre meus dedos. Eu sonharia com a suavidade da sua pele e o poder seus lábios quando nos beijamos.

Sem sonhos, eu tenho que me contentar apenas com minha imaginação – que é quase tão boa quanto. Eu posso imaginar todas essas coisas perfeitamente, assim como consigo imaginar como será quando eu tirar sua vida desse mundo. É algo que eu me arrependo de ter que fazer, mas você tornou minha escolha inevitável. Sua recusa de se juntar a mim numa vida e amor eterno não me deixa outra opção, e eu não posso permitir que alguém tão perigoso quanto você viva. Além do mais, mesmo que você seja transformada contra sua vontade, você agora tem tantos inimigos entre os Strigoi que um deles iria te matar. Se você deve morrer, que seja por minhas mãos. A de mais ninguém.

Mesmo assim, eu te desejo sorte hoje enquanto você faz suas provas – não que você precise. Se eles estão fazendo você fazer os testes – e eu não tenho duvidas que eles fizeram – é uma perda do tempo de todos. Você é a melhor no grupo, e nessa noite você vai merecer sua marca da promessa. É claro, isso significa que você será um desafio muito maior quando nos reencontrarmos – o que eu definitivamente vou gostar.

E nós vamos nos encontrar de novo. Com a formatura, você partira da Academia, e assim que você estiver do lado de fora das wards, eu vou encontrar você. Não existe lugar nesse mundo que você possa se esconder de mim. Estou observando.

Amor,



Dimitri.


Eu também me lembrava exatamente de todas aquelas sensações, e de outras, muitas outras mais. Eu me lembrava da sensação do seu corpo apertado contra o meu. A suave pressão do movimento de fazer amor com ele. Eu me lembrava do calor da sua pele. Um calor que eu não sentiria mais, nunca mais. O homem que eu amava já não existia mais, ele havia se perdido em algum lugar daquele passado. E não importa o que eu fizesse, nada poderia trazê-lo de volta – ou quase nada – mas eu não estava disposta a arriscar Lissa por isso. Ela não. Eu já havia perdido muitas coisas e Lissa não entraria nesta lista.

Eu suspirei fundo, mandando aquela nova Rose de volta para dentro de mim e resgatando a garota inconseqüente, que fazia piada de tudo. Podia não ser honesto, mas era o único jeito de não enlouquecer.

Eu estava terminando de pentear o meu cabelo, quando Lissa entrou.

– Não me diga que chama isso de rabo de cavalo?

Lissa estava parada na porta, sorrindo para mim, ou melhor, ela estava rindo de mim. Okay, eu nunca fui mesmo muito boa com cabelos, para minha sorte minha herança genética sempre me ajudou. Eu sorri para ela, segurando desajeitada a escova nas mãos.

– Bem, é uma tentativa.

Lissa pegou a escova e começou a alisar o meu cabelo. Ultimamente ela tinha sido muito mais minha guardiã, do que eu dela. Eu gostava de ver como Lissa estava diferente. Eu gostava de ver tanta confiança em seus olhos e eu tinha que admitir que muito dessa mudança, eu devia a Christian Ozera. Mesmo não estando mais com ela, Christian havia mudado muito Lissa, e eu podia ver que era para melhor.

– Ansiosa?

A voz suave e carinhosa de Lissa me arrancou dos meus pensamentos. Eu queria dizer a ela o quanto eu estava ansiosa e o quanto eu estava apavorada. Ansiosa porque eu queria muito ser aprovada nos meus testes finais e finalmente poder ser a guardiã dela e começar nossas vidas. Apavorada porque se eu realmente fosse aprovada – o que Stan iria tornar bem difícil – eu teria que ser a guardiã dela e começar nossas vidas. Contraditório? Nem tanto, quando se tem um Strigoi no seu encalço. Apavorante? Absolutamente! E principalmente quando este Strigoi é o melhor, ou o pior, dependendo do ponto de vista. E mais principalmente ainda, quando você ama este Strigoi.

Eu respirei fundo mais uma vez – qualquer dia eu iria arrebentar um pulmão, ou uma costela, ou os dois – e respondi sarcasticamente:

– Bom você sabe, Stan é muito pior que um Strigoi!

Lissa não riu. Ela me conhecia bem, o que ás vezes me dava medo. Ao invés de rir comigo, ela me abraçou.

– Você vai se sair bem – e então, ela completou - eu tenho certeza.

Eu a segurei um pouco mais, junto a mim. Lissa era meu porto seguro.

– Você sempre cuidou de mim, agora eu vou cuidar de você – Lissa disse em meu ouvido.

Com as últimas palavras eu tive que segurar a nova Rose para não sair de dentro de mim chorando. Eu não podia. Lissa não merecia uma guardiã fraca.

– Hey, você fez um bom trabalho aqui! – eu disse, passando a mão pelo rabo de cavalo perfeito que Lissa havia feito.

Ela sorriu e caminhou em direção a porta.

– Bem, ninguém disse que uma guardiã tem quer ser desarrumada!

– Diga isto á Alberta!

– Rose!

– Hey! Eu sou sincera, você sabe.

Lissa revirou os olhos sorrindo.

– Te vejo lá embaixo? Ela perguntou.

– É claro, eu tenho um Strigoi hipotético para matar! – eu respondi dando um soquinho no ar.

– Hey, Rose?

Eu me virei para ela á tempo de pegar o pequeno anel de prata.

– Para dar sorte!

Lissa saiu e eu fiquei olhando a argola em minha mão. Sorte eu teria se meu dedo não caísse!

Por mais boa vontade que Lissa tivesse, ela realmente não havia entendido bem o que colocar naqueles anéis. Meu dedo que o diga! Ele ainda tinha marcas do último.

Eu fechei os olhos e encaixei o anel em meu dedo cuidadosamente. Quando ele chegou a base do dedo eu sorri – pelo menos nada estava quebrado, ou sangrando, ainda.

Desci as escadas correndo. Eu estava atrasada, como de costume. Algumas coisas nunca mudam.

Quando olhei o ginásio cheio, meu coração deu uma fisgada. Dimitri estaria ali, junto dos outros guardiões e com sorte, seria com ele que eu lutaria. Se eu pudesse mudar as coisas, se eu pudesse desfazê-las. Meu pensamento viajou mais um pouco, meses atrás, quando nós dois treinávamos naquele lugar. Eu o vi ali novamente, sentado em sua cadeira, com os pés apoiados na grade do ginásio, enquanto eu corria. Seu livro de Cowboy aberto, embora seus olhos estivessem em mim. Na é época eu ignorei, achei que fosse bobagem, mas hoje eu sei, era para mim que ele olhava. Se eu pudesse voltar no tempo eu teria feito tanta coisa diferente. Eu teria arriscado mais. Eu teria tirado o livro das mãos dele e o teria trazido para mim. Eu o teria beijado, muitas vezes mais. Da última vez que eu o beijei não foi a mesma coisa, não que eu não tivesse gostado, é só que, não era mais o meu Dimitri.

Eu dei um pulo e agarrei alguma coisa atrás de mim.

– Hey, garota me solte! Pelo amor de Deus eu só queria dizer “olá”!

– Edie, ficou maluco?

– Porque eu queria dizer “olá”?

– Não! Por se aproximar sem fazer barulho.

Edie sorriu e eu percebi que tinha sido uma idiota – okay, ultimamente isso não era tão incomum.

– Desculpe, okay? Eu estava distraída.

De repente os olhos de Edie se perderam dos meus. Ele os baixou para algum lugar no piso e eu sabia exatamente para onde. Não fazia muito tempo desde a morte de Mason.

– Era para ele estar aqui conosco – Edie afirmou.

– Sim.

Pensar em Mason me deixou ainda pior. Eu sentia falta do meu amigo. Era tão fácil ser eu mesma com Mason. Ele me compreendia tanto. Eu estava pensando em como a vida era injusta, tirando de mim duas pessoas que eu amava tanto, quando Edie continuou.

– Mase está melhor agora, eu sinto.

E então eu me lembrei que a nova Rose estava tentando sair novamente e a puxei para dentro.

– Hey! Pensei que só eu sentisse estas coisas por aqui! – eu falei dando um soco de ombro em Edie.

Deve ter funcionado um pouco, porque o garoto sorriu. Edie segurou em meu braço e me levou para o lugar onde os novatos estavam.

Um pouco antes de eu me sentar, Stan parou ao meu lado.

– Hatway, finalmente nos deu o ar da sua graça!

Bem injusto se você pensar que eu estava no máximo cinco minutos atrasada, mas vindo de Stan, era compreensível.

Eu olhei para ele com meu olhar inocente, apesar de não funcionar com ele, era sempre divertido.

– Bem, eu tenho uma marca da promessa para ganhar.

– Veremos!

Por um momento, eu pensei que talvez não fosse assim tão ruim não ser aprovada. Quem sabe eu não poderia continuar ali, na academia? Pelo menos eu não teria que lidar com meus problemas externos.

Eu nem tinha me ajeitado direito no banco, quando Alberta chamou o meu nome. Okay, eu já devia esperar que eu seria a primeira, mesmo assim, me surpreendeu. Eu me levantei e caminhei para o meio do ginásio, fazendo um pouco de alongamento com meus braços. O nome que Alberta chamou depois de mim, fez meus braços caírem como pedras ao lado do meu corpo.

– Guardião Alto – a voz de Alberta ecoou pelo ginásio.

Ah não! Isso já era demais! Stan? Tinha que ser Stan? Engoli em seco. É claro que tinha que ser Stan. Quem mais me deixaria tão motivada?

Eu olhei na fileira de guardiões nas arquibancadas e encontrei os olhos da minha mãe. Ela estava séria – o que não era novidade – e olhando para mim. Provavelmente ela e Stan haviam tramado tudo só para me fazer perceber que não importa o quanto as coisas estejam ruins, elas podem piorar.

Stan entrou na arena montada para os testes e se posicionou ao meu lado.

– Agora vamos ver o que o Belikov lhe ensinou.

Eu não respondi. Não havia nada para dizer. As maiores lições de Dimitri eram apenas minhas. Além disso, eu não entraria nas provocações de Stan. Eu precisava me concentrar, e foi o que eu fiz.

Assim que o juiz iniciou nossa luta, minha mente entrou em modo matar. Eu não era tão grande e nem tão forte quanto Stan, mas eu havia aprendido com o melhor. Se Dimitri não estaria ali para me ver, eu honraria sua memória.

Meu teste final, como o de todos os novatos, era uma luta corpo a corpo. Nada de ser pego de surpresa, ou fingir que se estava lutando com Strigoi. Ali, eu tinha que vencer Stan, como em uma luta de boxe. Hum, boxe! Até que não seria tão ruim. Eu pensei isso por exatos dois segundos, foi o tempo que Stan levou para acertar o meu rosto. A mão em punho bateu no meu rosto e eu senti alguma coisa quente e pegajosa escorrer – sangue! Ótimo, nem dez minutos de luta e eu estava sangrando. Eu caí.

Enquanto eu estava no chão, meus olhos encontraram minha mãe. Ela não estava torcendo por mim – ou pelo menos não visivelmente – mas eu percebi uma certa tensão nela. Expectativa? Talvez. Preocupação? Provavelmente. Amor? Nem tanto! Mas o fato é que ela estava ali, por mim. Meus olhos rodaram e encontraram Lissa. Ela estava lá, torcendo por mim, no meio da multidão. Era por ela que eu estava ali. Eu precisava vencer, eu precisava vencer por ela. E foi quando, atrás de Lissa, eu o vi novamente. A forma brilhante e esfumaçada de cabelos cor de bronze – Mason. Eu pisquei um pouco, ele não desapareceu. Eu quase sorri, mas o outro braço de Stan estava indo para minha boca, eu desviei. Mason ainda estava lá, atrás de Lissa, olhando para mim. Eu levantei e cerrei meu punho. Um soco no estômago e Stan afastou-se um pouco. Em minha mente eu podia ouvir Mason falando comigo: “Isso! Faça isso! Você precisa vencer” . Eu precisava mesmo. Não só por mim, mas por todos que eu havia perdido pelo caminho.

Eu apanhei mais um pouco e tenho certeza de que meu rosto estava completamente desfigurado – o que só provava que Stan me odiava muito. Porque diabos ele só batia no meu rosto? Mas o importante é que eu acabei em cima de Stan. Montada em sua cintura, imobilizando-o completamente. Ele tentou se mexer, mas não pode. Meus olhos pararam, minha mente voou. Na ultima vez em que eu havia lutado, era Dimitri embaixo de mim. Da ultima vez, eu havia enfiado uma estaca no coração do homem que eu amava. Infeliz ou infelizmente, eu não havia completado minha missão – ele estava vivo.

Quando o juiz anunciou minha vitória, eu não consegui comemorar. A nova Rose estava incontrolável e eu apenas corri. Corri como uma boba e corri exatamente como Dimitri me disse que um dia eu precisaria. “No dia em que você não puder lutar” – ele me disse – “corra!” . Foi o que eu fiz. Eu não podia lutar com minhas lembranças, embora eu também não pudesse arrancá-las de mim. Pelo menos eu podia esconde-las das pessoas.

Eu só parei quando avistei a cabana. Minhas pernas falharam. Eu não conseguia voltar aquele lugar, nunca mais. Não sem ele.

A grama estava seca e fofa. Eu me sentei nela, com as pernas cruzadas, escondendo minha cabeça entre elas. Fiquei ali, tentando controlar minha respiração e mandar a nova Rose para dentro de novo, quando o cheiro entrou em meu nariz. Era um cheiro gozado, de incenso e roupa velha, sei lá. O pior é que eu sabia o que significava.

Desta vez ele se aproximou mais. Eu senti sua mão em meu ombro, mas não abri os olhos. Eu não conseguia definir se eu queria ou não, ver alguma coisa.

– Rose?

– Já faz bem mais de quarenta dias, você não deveria estar no céu, ou coisa assim?

Mason retirou a mão do meu ombro e eu me senti uma estúpida. Abri os olhos e encontrei Mason ao meu lado. Sentado comigo na grama. Ele parecia exatamente o mesmo de sempre. A mesma roupa, os mesmos olhos, o mesmo sorriso. Algo em meu coração me dizia que era Mason, apenas meu amigo Mason, e que eu não precisava ter medo dele. Algo em minha razão me dizia que eu estava completamente louca e que precisava de terapia. Eu decidi ouvir o coração – como se eu nunca tivesse feito isso!

– Hey Mase, me perdoe. Eu estou um pouco confusa.

– Eu sei.



A mão voltou ao meu ombro e eu senti a suavidade fria e quase imperceptível de seu toque.

– Eu achei que você não poderia voltar – não foi exatamente uma pergunta, embora eu esperasse exatamente uma resposta.

– Eu não posso – ele baixou um pouco a cabeça, desviando os olhos dos meus – mas eu não poderia deixá-la sozinha.

– Hum.

Foi a única coisa que saiu da minha garganta. Na verdade eu tenho certeza que pareceu mais um rosnado que qualquer outra coisa. A minha sorte é que eu não precisava mais flertar com Mason, porque certamente, foi bem assustador.

– Você vai ficar por muito tempo? – eu perguntei, assim que minhas palavras retornaram.

– O tempo que você precisar.

– Isso pode ser muito tempo.

Eu não respondi exatamente para o fantasma de Mason ao meu lado, na verdade, eu respondi mais para mim mesma. Eu não tinha idéia de como resolver toda a situação estranha em que minha vida se encontrava, mas eu sabia que não seria fácil, nem rápido.

Mason sorriu para mim. Um sorriso brilhante e cheio de sentimento. Se eu não olhasse seus olhos vermelhos, eu diria que era o mesmo Mason de antes, se bem que ultimamente, olhos vermelhos não eram um problema tão grande para mim.

– Então acho que vou ficar por muito tempo – ele parou e sorriu novamente – mas não agora. Você tem companhia.

Não deu tempo de perguntar quem era, Mason desapareceu. Eu continuei ali, parada, olhando para o nada, ou melhor, para o tudo – nossa cabana.

Quando eu conseguir ver a pessoa que sentou ao meu lado, eu quase não acreditei – Stan. Eu não fazia a menor idéia da razão que havia levado Stan até aquele lugar, e sinceramente, eu nem sabia se queria descobrir.

– Você fugiu.

Eu não respondi e Stan ficou em silêncio por alguns segundos.

– Não se foge de uma vitória.

Eu encarei seus olhos, pela primeira vez. Não que eu nunca tivesse olhado para ele, mas naquela noite, eu olhei de verdade. Stan não parecia mais tão assustador agora. Ele estava ali, sentado em minha frente, olhando para mim, tão sem jeito quanto eu. Em outra ocasião, talvez eu o tivesse ignorado. Eu podia ter feito isso, afinal o cara socou o meu rosto repetidas vezes e provavelmente levariam semanas até que eu pudesse sair na luz novamente. Eu não sei se foi o fantasma de Mason ou a lembrança da cabana, mas algo me fez ser sincera com Stan.

– Eu não tenho ganhado muitas coisas ultimamente. Acho que esqueci como é.

– Você venceu Hatway, como eu sempre soube que venceria – ele fez uma pausa e suspirou fundo – como Dimka sempre soube que venceria.

Golpe baixo ou não, a verdade é que eu estava chorando. Não chorando de soltar coisas estranhas pelo nariz, mas meus olhos não podiam segurar as lágrimas.

Stan tirou um lenço do bolso e me entregou. Eu passei em meus olhos e acabei manchando tudo de sangue.

– Me desculpe. Eu prometo que lavo.

Stan sorriu.

– Não se preocupe, é só um lenço – ele pegou o lenço da minha mão e secou mais uma lágrima – eu queria que fosse Dimka á lhe dizer isto, mas eu sei que ele não pode, então vou dizer por ele: Estou orgulhoso de você. Nós estamos!

Eu congelei. Será que as pancadas haviam sido tão fortes? Será que eu estava com uma concussão? Stan orgulhoso de mim? O cara me odeia desde... Desde sei lá quando!

Não tive muito tempo para digerir o elogio, porque Stan continuou.

– Eu sei o quanto é duro para você.

– Sabe?

– Sim, Rose. Eu sei.

Rose? Alguém mais ouviu o guardião Stan “Terrível” Alto me chamar pelo meu apelido? Okay, eu devo ter batido mesmo a cabeça com força.

– Eu passei por algo parecido.

Deus, agora eu estava assustada mesmo. Primeiro minha mãe se preocupando comigo, depois o fantasma de Mason e por último, Stan me contando confidências! Eu só podia estar morta, ou louca, ou os dois!

– Como assim?

– Eu matei alguém que eu amava.

Eu olhei para Stan. Seus olhos estavam perdidos no passado. Por um momento, eu senti nele a mesma dor que eu tinha. Por um momento eu pensei que talvez ele não fosse tão ruim assim, e eu pensei em quantas vezes eu quis ser durona como ele e afastar todo mundo. Eu o compreendia melhor do que imaginava.

– Eu não matei Dimitri – minha cabeça pendeu para á frente – eu falhei.

Eu esperei ver admiração nos olhos de Stan, esperei ver um monte de coisas, mas não o que eu vi – compreenção.

– Eu sei.

– Como sabe?

– Seu pai me contou.

Meu pai? Meu pai contou a ele? Ele sabia quem era o meu pai? Puxa a coisa só estava piorando!

Eu não sabia o que perguntar a Stan. Não que eu não tivesse perguntas, o problema era exatamente o contrário – eu não sabia o que perguntar primeiro.

Stan se levantou rapidamente, com desenvoltura. Enquanto eu parecia uma pata choca com todos os meus hematomas e cortes. Ele estendeu a mão para mim e quando eu a segurei, ele me ajudou a levantar.

– Venha, temos uma marca da promessa para tatuar.