sábado, 25 de fevereiro de 2012

house of night - marcada (capitulo 7)


SETE
“Que horas são?”
Estávamos andando por um estreito corredor que se curvava gentilmente. As
paredes eram feitas de uma estranha mistura de pedra negra e tijolos. De vez em quando
as luzes que vinham dos antigos castiçais feitos de ferro se sobressaiam das paredes,
dando um suave brilho amarelo, que graças a Deus, não machucava meus olhos. Não
havia janelas no corredor, e não encontramos mais ninguém (embora eu ficasse olhando
ao redor nervosa, imaginando minha primeira visai de garotos vampiros).
“São quase 4 da manhã... o que significa que as aulas acabaram a quase uma hora,”
Neferet disse, e então ela sorriu para o que eu tenho certeza era uma expressão minha
totalmente chocada.
“As aulas começam as 8 da noite, e acabam as 3 da manhã,” ela explicou. “Os
professores estão disponíveis até as 3:30, para dar aos estudantes ajuda extra. O ginásio
sempre fica aberto até o amanhecer, a hora exata você vai sempre saber quando
completar sua Mudança. Até lá o horário da amanhecer é colocado em cada sala de aula,
salas comunitárias, e áreas de encontro, incluindo o salão de jantar, biblioteca, e ginásio.
O Templo de Nyx é, é claro, aberto em qualquer hora, mas rituais formais são feitos duas
vezes por semana depois da aula. O próximo ritual será amanha.” Neferet olhou para mim
e o sorriso dela foi mais quente. “Parece muita coisa agora, mas você vai se acostumar
rapidamente. E sua colega de quarto vai ajudar você, assim como eu.”
Eu estava me preparando para abrir a boca e perguntar a ela outra pergunta quando
uma bola laranja de pelos correu pelo corredor e sem fazer barulho, pulou nos braços de
Neferet. Eu pulei e fiz um estúpido som de squee – então eu me senti como uma completa
retardada quando vi que a bola de pelo laranja não era um bicho papão ou algo assim,
mas um incrivelmente grande gato.
Neferet riu e acariciou a orelha da bola de pelos. “Zoey, conheça Skylar. Ele
normalmente fica por aqui esperando para se lançar em cima de mim.”
“Esse é o maior gato que eu já vi,” eu disse, estendendo minha mão para deixar ele
me cheirar.
“Cuidado, ele é um conhecido mordedor.”
Antes deu tirar minha mão, Skylar começou a esfregar seu rosto nos meus dedos. Eu
segurei o fôlego.
Neferet jogou seu rosto para o lado, como se estivesse ouvindo as palavras do vento.
“Ele gosta de você, o que definitivamente é raro. Ele não gosta de ninguém a não ser eu.
Ele até mantém os outros gatos longe desse lado do campus. Ele é um terrível valentão,”
ela disse carinhosamente.
Eu cuidadosamente acariciei as orelhas de Skylar como Neferet tinha feito. “Eu gosto
de gatos,” eu disse suavemente. “Eu costumava ter um, mas quando minha mãe casou de
novo eu tive que dar ele para os Gatos de Rua para ser adotado. John, o novo marido
dela, não gosta de gatos.”
“Eu descobri que o jeito que uma pessoa se sente em relação aos gatos – e o jeito
que eles se sentem em relação a ela ou ela – é um excelente medidor de caráter.”
Eu olhei para o gato e encontrei os olhos verdes dela e vi que ela entendia mais
sobre famílias problemáticas do que ela estava dizendo. Me fez sentir conectada a ela, o
meu nível de estresse automaticamente baixou um pouco. “Tem muitos gatos aqui?”
“Sim, tem. Gatos sempre foram aliados dos vampiros.”
Ok, na verdade eu já sabia disso. Em História Mundial com o Sr. Shaddox (Mais
conhecido como Puff Shaddy, mas não diga isso a ele) aprendemos que no passado os
gatos foram mortos porque se pensava que eles transformavam pessoas em vampiros.
Yeah, ok, em falar sobre ridículo. Mais evidencias da estupidez da humanidade... a idéia
passou pela minha cabeça, me chocando sobre como eu comecei a pensar tão facilmente
sobre pessoais “normais” como “humanos,” e que tinha algo diferente em mim.
“Você acha que eu poderia ter um gato?” eu perguntei.
“Se um escolher você, você pertencerá a ele ou ela.”
“Me escolher?”
Neferet sorriu e acariciou Skylar, que fechou os olhos e ronronou alto. “Gatos nos
escolhem; não somos donos deles.” Como se estivesse demonstrando que o que disse era
verdade, Skylar pulou dos braços dela, e com um rápido movimento do rabo dele,
desapareceu pelo corredor.
Neferet riu. “Ele é realmente horrível, mas eu o adoro. Eu acho que o adoraria,
mesmo que ele não fosse parte do meu presente dado por Nyx.”
“Dom? Skylar é um presente de uma deusa?”
“Sim, de certa forma. Toda Alta Sacerdotisa tem uma afinidade – o que você
provavelmente imagina como poderes especiais – pela deusa. É parte do jeito em que
identificamos uma Alta Sacerdotisa. A afinidade pode ser habilidades cognitivas únicas,
como ler mentes ou ter visões e ser capaz de prever o futuro. Ou a afinidade pode ser do
reino psíquico, como ter uma conexão especial com um dos 4 elementos, ou com os
animais. Eu tenho dois presentes da deusa. Minha afinidade principal é com os gatos; eu
tenho uma conexão com eles que é única, até mesmo para uma vampira. Nyx também me
deu um poder único de cura.” Ela sorriu. “E é por isso que eu sei que você está se
curando bem – meu dom me disse.”
“Wow, isso é incrível,” foi tudo o que pude dizer. Minha cabeça já estava se curando
dos eventos do outro dia.
“Anda. Vamos para o seu quarto. Tenho certeza que você está com fome e cansada.
Jantar começa em“ – Neferet colocou sua cabeça de lado como se alguém estivesse
sussurrando o tempo para ela – “uma hora.” Ela me deu um sorriso sábio. “Vampiros
sempre sabem que horas são.”
“Isso também é legal.”
“Isso, minha querida caloura, é só a ponta do iceberg “legal.”
Eu esperava que sua analogia não tivesse nada a ver com o tamanho do desastre do
Titanic. Enquanto continuamos andando pelo corredor eu pensei sobre o tempo e tudo
mais, e lembrei da pergunta que eu tinha começado quando Skylar interrompeu minha
linha de pensamento.
“Então, espera. Você disse que as aulas começam as 8? Da noite?” Ok, eu
normalmente não sou tão devagar, mas parte disso era como se ela estivesse falando
grego. Eu estava tendo dificuldades em entender.
“Quando você parar para pensar você vai entender que as aulas serem a noite é uma
questão lógica. É claro que você deve saber que vampiros, adultos e calouros, não
explodem, ou qualquer outra bobagem da ficção, se somos expostos a luz do sol, mas é
desconfortável para nós. A luz do sol não foi difícil pra você agüentar hoje?”
Eu acenei. “Meu Maui Jims nem ajudou muito.” Então acrescentei rapidamente, me
sentindo uma idiota de novo, “Uh, Mauiu Jims são óculos de sol.”
“Sim, Zoey,” Neferet disse pacientemente. “Eu conheço óculos de sol. Muito bem, na
verdade.”
“Oh, Deus, sinto muito eu-“ eu parei, me perguntando se estava tudo bem dizer
“Deus.” Não iria ofender Neferet, a Alta Sacerdotisa que usava a Marca da sua deusa tão
orgulhosamente? Bem, iria ofender Nyx? Oh, Deus. E quanto a dizer “inferno”? Era o meu
xingamento favorito. (Ok, era o único palavrão que eu usava regularmente.) Eu ainda
poderia dizer? As pessoas de Fé pregavam que a os vampiros adoravam a uma deusa
falsa e que eles eram egoístas, criaturas das trevas que não se importavam com nada a
não ser dinheiro e luxuria e beber sangue e que todos certamente iriam ir para o inferno,
então isso não significa que eu devo cuidar como e quando eu uso...
“Zoey.”
Eu olhei para cima para encontrar Neferet me estudando com uma expressão
preocupada e percebi que ela provavelmente estava tentando chamar minha atenção
enquanto eu balbuciava dentro da minha cabeça.
“Sinto muito,” eu repeti.
Neferet parou. Ela colocou suas mãos em meus ombros e me virou para que eu
pudesse olhar para o rosto dela.
“Zoey, pare de se desculpar. E lembre-se, todos aqui já estiveram onde você esta.
Isso tudo foi novidade para nós algum dia. Todos sabemos como é – o medo da Mudança
– o choque da sua vida ser mudada para algo estranho.”
“E não ser capaz de controlar nada disso,” eu adicionei silenciosamente.
“Isso também. Não vai ser sempre tão ruim. Quando você for uma vampira madura
sua vida parecerá sua de novo. Você fará suas próprias escolhas; seguir seu próprio
caminho; seguir o caminho que sua alma coração e talento te levarem.”
“Se eu me transformar numa vampira madura.”
“Você irá, Zoey.”
“Como você pode ter tanta certeza?”
Os olhos de Neferet olharam para a Marca na minha testa. “Nyx escolheu você. Para
o que, não sabemos. Mas a Marca dela foi claramente colocada em você. Ela não tocaria
você apenas para te ver falhar.”
Eu lembrei das palavras da deusa, Zoey Redbird, Filha da Noite, Eu nomeio você
meus olhos e ouvidos no mundo hoje, um mundo onde bem e mal lutam para encontrar
balanço, e olhei silenciosamente para longe dos olhos de Neferet, desejando
desesperadamente saber porque meu interior ainda estava me dizendo para manter a
boca fechada sobre o meu encontro com a deusa.
“É – é muito para acontecer em um único dia.”
“Certamente é, especialmente com um estomago vazio.”
Começamos a andar de novo quando o som de um telefone tocando me fez dar um
pulo. Neferet suspirou e sorriu apologeticamente para mim, então ela pegou um pequeno
telefone celular do bolso.
“Neferet,” ela disse. Ela ouviu por algum tempo e eu vi a testa dela se enrugar, e os
olhos dela se estreitarem. “Não, você estava certo em me chamar. Eu volto e checo ela.”
E ela desligou o telefone. “Eu sinto muito, Zoey. Um dos calouros quebrou a perna
hoje cedo. Parece que ela esta tendo problemas em descansar, e me assegurar que tudo
está bem com ela. Porque você não segue esse corredor pela esquerda até você chegar
na porta principal? Não tem como errar – é grande e feita de madeira bem antiga. Ali tem
um banco de pedra. Você pode esperar lá eu não vou demorar muito.”
“Ok, sem problemas.” Mas antes deu terminar de falar Neferet já tinha desaparecido
pelo corredor. Eu suspirei. Eu não gostava da idéia de estar sozinha em um lugar cheio de
vampiros e garotos adolescentes. E agora que Neferet tinha ido embora as pequenas luzes
não pareciam tão acolhedoras. Elas pareciam estranhas, jogando fantasmagóricas
sombras contra a velha parede de pedra.
Determinada em não me apavorar, eu comecei a ir devagar na direção que ela tinha
me apontado. Logo eu quase desejei encontrar alguém ( mesmo que fosse um vampiro).
Estava muito silencioso. E assustador. Algumas vezes o corredor ia para a direita, mas
como Neferet me disse, eu me mantive a esquerda. Na verdade, eu também mantive os
olhos na esquerda porque aqueles outros corredores quase não tinham luz.
Infelizmente na próxima virada para a direita eu não evitei de olhar. Ok, o motivo
fazia sentido. Eu ouvi algo.
Para ser mais especifica, eu ouvi uma risada. Era suave, uma risada feminina que por
alguma razão fez o cabelo na minha nuca levantar. Também me fez parar de andar. Eu
olhei pelo corredor e pensei ter visto algum movimento nas sombras.
Zoey... meu nome foi sussurrado pelas sombras.
Eu pisquei surpresa. Eu tinha realmente ouvido meu nome ou estava imaginando
coisas? A voz era quase familiar. Poderia ser Nyx de novo? Era a deusa chamando meu
nome? Com quase tanto medo quanto eu estava intrigada, eu segurei o fôlego e dei
alguns passos em direção ao corredor.
Enquanto eu andava eu vi algo na minha frente que me fez parar e automaticamente
me aproximar da parede. Em um pequeno canto não muito longe de mim haviam duas
pessoas. A principio não conseguia fazer minha mente processar o que eu estava vendo;
então eu rapidamente entendi.
Eu deveria ter saído dali. Eu deveria me afastar silenciosamente e tentar não pensar
no que eu estava vendo. Mas eu não fiz nada disso. Era como se meus pés de repente
tivessem ficado tão pesados que eu não pudesse mover eles. Tudo o que eu podia fazer
era observar.
O homem –e com um pequeno choque adicional eu percebi que ele não era um
homem, e sim um adolescente – não mais que um ano mais velho que eu. Ele estava
parado com suas costas pressionados contra a parede do canto. A cabeça dele estava
virada para trás e ele estava respirando com dificuldade. O rosto dele estava nas sombras,
mas mesmo com ele apenas parcialmente visível eu podia ver o quão lindo ele era. Então
outra pequena risada fez meus olhos irem um pouco mais para baixo.
Ela estava de joelhos na frente dele. Tudo o que eu podia ver dela era o cabelo loiro.
Tinha tanto cabelo que parecia que ela estava usando algum tipo de véu antigo. Então as
mãos dela foram para cima, passando pela choca do cara.
Deus! Minha mente gritou para mim. Sai daí! Eu comecei a ir para trás, e então uma
voz me fez congelar.
“Pare!”
Meus olhos ficaram enormes porque por um segundo eu pensei que ele estava
falando comigo.
“Você realmente não quer que eu pare.”
Eu me senti quase tonta de alivio quando ela falou. Ele estava falando com ela, não
eu. Eles nem sabiam que eu estava ali.
“Sim, eu quero.” Parecia que ele estava falando as palavras entre os dentes.
“Levanta.”
“Você gosta – eu sei que você gosta. Assim como você sabe que ainda me quer.”
A voz dela era rouca e estava tentando ser sexy, mas eu também podia ouvir um
pequeno lamento nela. Ela soava quase desesperada. Eu observei os dedos dela se
moverem, e meus olhos se alargaram de espanto, quando ela passou a unha do seu dedo
indicador pela coxa dele. Incrível, o dedo dela cortou o jeans, como uma faca, e uma linha
de sangue fresco apareceu, um vermelho liquido impressionante.
Eu não queria, e me enojava, mas ao ver o sangue minha boca se encheu de saliva.
“Não!” ele surtou, colocando as mãos dele nos ombros dela e tentando afastar ela
dele.
“Oh, parou de fingir?” ela riu de novo, um som sarcástico e maldoso. “Você sabe que
sempre ficaremos juntos.” Com a língua dela ela lambeu a linha de sangue.
Eu tremi; contra a minha vontade eu estava completamente impressionada.
“Pare com isso!” Ele ainda estava empurrando os ombros dela. “Eu não quero
machucar você, mas você realmente está começando a me irritar. Porque você não
consegue entender? Não vamos mais fazer isso. Eu não quero você.”
“Você me quer! Você sempre me quis!” Ela abriu as calças.
Eu não deveria estar ali. Eu não deveria estar vendo isso. Eu tirei meus olhos da coxa
ensangüentada dele e dei um passo para trás.
Os olhos do cara se ergueram. Ele me viu.
E então algo muito bizarro aconteceu. Eu podia sentir o toque o toque ele pelo
nossos olhos. Eu não conseguia olhar para longe dele. A garota na frente dele pareceu
desaparecer, e tudo que havia no corredor era ele e eu e o doce e lindo cheiro do sangue
dele.
“Você não me quer? Não é o que parece,” ela disse com um horrível rugido na voz.
Eu senti minha cabeça começar a tremer para frente e para trás, para trás e para
frente. Ao mesmo tempo ele chorou “Não!” e tentou tirar ela do caminho para que
pudesse vir na minha direção.
Eu tirei meus olhos dele e tropecei para trás.
“Não!” ele disse de novo. Dessa vez eu sabia que ele estava falando comigo e não
com ela. Ela deve ter percebido também, porque com um choro que parecia
desconfortável como o resmungar de um animal selvagem, ela começou a olhar ao redor.
Meu corpo congelou. Ao mesmo tempo eu me virei e corri de volta para o corredor.
Eu esperei que eles viessem atrás de mim, então eu continuei correndo até alcançar
a enorme e antiga porta que Neferet tinha descrito. Então eu fiquei parada ali, inclinada
contra a madeira fria, tentando controlar minha respiração para poder ouvir o som de pés
correndo.
O que eu faria se eles realmente estivessem me procurando? Minha cabeça estava
latejando novamente, e eu me senti fraca e assustada. E completamente, enojada.
Sim, eu estava ciente daquele negocio do sexo oral, eu duvidava que houvesse
algum adolescente na America hoje que não está ciente que a maioria dos adultas acha
que estávamos boquetes como eles costumavam dar armas aos caras (ou mais
apropriadamente idiotas). Ok, isso era bobagem, e sempre me deixava maluca. É claro
tem garotas que acham que é ‘legal’ dar para os caras assim. Uh, elas estão erradas.
Aqueles com cérebros funcionais sabem que não é legal ser usada assim.
Ok, então eu sabia sobre o negocio do boquete. Eu definitivamente nunca vi um.
Então, o que eu tinha acabado de ver definitivamente me apavorou. Mas o que tinha me
apavorada mais do que uma loira fazendo uma coisa nojenta com ele foi o jeito que eu
respondi ao ver o sangue do cara.
Eu queria lamber também.
E isso simplesmente não é normal.
E então tinha todo o negocio deu dividir aquele estranho olhar com ele. O que tinha
sido isso?
“Zoey, você está bem?”
“Diabos!” eu gritei e dei um pulo. Neferet estava parada atrás de mim me olhando
totalmente confusa.
“Você está se sentindo mal?”
“Eu-eu...” Minha mente voou. De jeito nenhum eu podia contar a ela o que tinha
acabado de ver. “Minha cabeça só dói pra caramba,” eu finalmente consegui dizer. E era
verdade. Eu tinha uma horrível dor de cabeça.
Ela franziu cheia de preocupação. “Me deixe ajudar você.” Neferet colocou sua mão
suavemente pela linha dos meus pontos na minha testa. Ela fechou os olhos e eu podia
ouvir ela sussurrando algo em uma língua que eu não entendia. Então a mão dela
começou a esquentar e foi como se o calor tivesse se tornado liquido e tivesse sido
absorvido pela minha pele. Eu fechei os olhos e suspirei de alivio quando a dor na minha
cabeça começou a diminuir.
“Melhor?”
“Sim,” eu mal sussurrei.
Ela tirou a mão e abriu os olhos. “Isso deve manter a dor longe. Eu não sei porque
de repente voltou com tanta força.”
“Eu também não, mas foi embora agora,” eu disse rapidamente.
Ela estudou meu silencio um pouco mais e então eu segurei a respiração. Então ela
disse, “Algo chateou você?”
Eu engoli. “Estou um pouco assustada sobre conhecer minha colega de quarto.” O
que tecnicamente não era uma mentira. Não era o que tinha me chateado, mas ainda me
assustava.
O sorriso de Neferet era gentil. “Tudo ficará bem, Zoey. Agora me deixe te
apresentar a sua nova vida.
Neferet abriu a porta de madeira e entramos em um grande jardim que era a frente
da escola. Adolescentes usando uniformes que de algum jeito pareciam legais e únicos
embora ainda fossem similares andavam em grupos pequenos pelo jardim e pela calçada.
Eu podia ouvir o som normal das vozes deles enquanto eles conversavam e riam. Eu
continuei olhando deles para a escola, sem ter certeza de qual ficar boba primeiro. Eu
escolhi a escola. Era a menos intimidadora dos dois (e eu estava com medo de ver ele). O
lugar era como algo saído de um sonho estranho. Era o meio da noite, e deveria estar
muito escuro, mas havia uma lua brilhante em cima dos grandes e velhos carvalhos que
fazia sombra em tudo. Luzes alojadas em lustres de cobre seguiam a calçada que se
dirigia paralelamente ao enorme edifício de tijolos vermelhos e rochas pretas. Tinha 3
andares e tinha um telhado estranhamente alto que tinha uma ponta para cima mas
aplanava no topo. Eu podia ver que as pesadas cortinas tinham sido abertas e suaves
luzes amarelas faziam sombras dançar entre os aposentos, dando a estrutura toda um
tom vivo e de boas vindas. Uma torre redonda estava junto ao prédio principal, dando a
ilusão que o lugar era muito mais um castelo – do que uma escola. Eu juro, um fosso iria
parecer se encaixar melhor ali do que uma calçada envolvida por arbustos de azaléias
grossos e um gramado arrumado.
Na frente do prédio principal havia um menor que parecia como uma velha igreja.
Atrás de velhos carvalhos que protegiam o jardim da escola eu podia ver a sombra de
uma enorme pedra que cercava a escola toda. Na frente da igreja havia uma estatua de
mármore de uma mulher que estava usando um longo manto.
“Nyx!” eu gritei.
Neferet levantou a sobrancelha surpresa. “Sim, Zoey. Essa é a estatua da deusa, e o
prédio atrás dela é o templo dela.” Ela fez um movimento assinalando que era para mim
andar com ela pela calçada e gesticulou expansivamente para o impressionante campus
que se esticava na nossa frente. “O que é conhecido hoje como a House of Night foi
construída em um estilo neo-frances- normando, com pedras importadas da Europa. Se
originou nos anos 1920 como um monastério Augustine pelas Pessoas de Fé.
Eventualmente foi convertida em Cascia Hall, uma escola preparatória privada para
adolescentes humanos influentes. Quando decidimos que deveríamos abrir uma escola
nossa nessa parte do país, nos o compramos de Cascia Hall 5 anos atrás.
Eu lembrava vagamente do tempo em que esse lugar era uma escola privada- na
verdade o único motivo pelo qual eu pensei sobre isso era porque eu lembrava ter ouvido
as noticias que um bando de garotos que freqüentavam Cascia Hall tinham sido presos
por posse de drogas, e o quão chocados os adultos tinham ficado. Tanto faz. Mas
ninguém ficou chocado por aqueles garotos ricos estarem metidos até o pescoço com
drogas.
“Estou surpresa por eles terem vendido para vocês,” eu disse.
A risada dela era baixa e um pouco perigosa. “Ele não queria, mas fizemos ao diretos
arrogante deles uma oferta que ele não podia recusar.”
Eu queria perguntar a ela o que ela queria dizer, mas a risada dela me deu um
calafrio. E, além do mais, eu estava ocupada. Eu não conseguia parar de olhar. Ok, a
primeira coisa que eu noite era que todos que tinham uma tatuagem vampirica solida
eram incrivelmente lindos. Eu quero dizer, era totalmente maluco. Sim, eu sabia que
vampiros eram atraentes. Todos sabem disso. Os atores e atrizes mais bem sucedidos no
mundo eram vampiros. Eles também eram bailarinos e músicos, escritores e cantores.
Vampiros dominavam as artes, o que era a razão para eles terem tanto dinheiro – e
também uma das razões (de muitas) para as Pessoas da Fé os considerarem egoístas e
imorais. Mas na verdade, eles só tem inveja porque não são tão bonitos. As Pessoas da Fé
iam ver o filme deles, peças, concertos, compravam seus livros e seus quadros, mas ao
mesmo tempo falavam mal deles e os menosprezavam, e só Deus sabe que eles nunca,
nunca se misturavam com eles. Alô – você pode dizer hipócrita?
De qualquer forma, estar ao redor de tantas pessoas lindas me fez querer me
esconder embaixo de um banco, mesmo que muitos cumprimentassem Neferet e então
sorrissem para mim e me cumprimentassem também. Entre hesitantes respostas eu
passava por entre os garotos que nos rodeavam. Cada um deles acenou respeitosamente
para Neferet. Vários deles se curvaram formalmente para ela e passaram os punhos por
cima dos corações, o que fez Neferet sorrir e se curvar ligeiramente em resposta. Ok, os
garotos não eram tão lindos quanto os adultos. Claro, eles eram bonitos – interessantes
na verdade, com o contorno da lua crescente, e seus uniformes que pareciam muito mais
como designs de uma passarela do que uniformes de escola – mas eles não tinham aquela
brilhosa e nada humana atrativa luz que irradiava de dentro dos adultos vampiros. Uh, eu
notei que, como eu tinha suspeitado, o uniforme deles tinha muito preto (você acha que
um grupo de pessoas tão ligadas em arte iria reconhecer o clichê quando fica andando por
aí com um preto Gótico. Só estou dizendo...). Mas eu suponho que se eu vou ser honesta
eu tenho que admitir que ficava bem neles – a mistura de preto com algumas linhas de
azul escuro, verde esmeralda e um púrpura profundo. Cada uniforme tinha um designe
bordado em dourado ou prata em nos bolsos de seus casacos e blusas. Eu podia perceber
que alguns dos designes eram os mesmos, mas eu não conseguia ver exatamente o que
eram. Além disso, havia uma quantidade muito grande de garotos com cabelos longos.
Sério, as garotas tem cabelos compridos, os caras tem cabelos compridos, os professores
tem cabelos compridos, até os gatos que andavam de vez enquanto na calçada tinham
pelos compridos. Estranho. Que bom que eu me impedi de cortar o cabelo daquele jeito
curto que a Kayla tinha cortado o dela semana passada.
Eu também notei que os adultos e os jovens tinham mais uma coisa em comum – os
olhos deles todos se voltavam com uma curiosidade obvia em direção a minha Marca.
Ótimo. Eu estava começando minha vida nova como uma anomalia, o que era uma merda

house of night - marcada (capitulo 6)


SEIS
Linda, vê o numem, a nuvem apareceu. Linda, vê a chuva, a chuva cai perto...
As palavras de uma antiga musica flutuavam pela minha mente. Eu devia estar
sonhando com a Vovó Redbird de novo. Me fez sentir quente e segura e feliz, o que era
especialmente bom, já que eu me sentia tão mal ultimamente... só que eu não conseguia
me lembrar exatamente porque. Huh. Estranho.
Quem falou?
A pequena semente ouviu,
Bem encima do caule...
A música da minha avó continuou e eu me curvei de lado, suspirando enquanto
esfregava meu peito contra um travesseiro suave. Infelizmente, mover minha cabeça
causou uma horrível dor nas minhas têmporas, e como uma bala quebrando um vidro,
destruiu meus sentimentos de felicidade enquanto as memórias do dia se apoderavam de
mim.
Eu estava me transformando numa vampira.
Eu tive que fugir de casa.
Eu tive um acidente e algum tipo de experiência quase-morte.
Eu estava me transformando numa vampira. Oh meu Deus.
Cara, minha cabeça dói.
“Zoeybird! Você está acordada, baby?”
Eu pisquei e meus olhos fora de foco clarearam para ver Vovó Redbird sentada numa
cadeira perto da minha cama.
“Vovó!” eu tateei e peguei a mão dela. Minha voz soava tão horrível quanto eu me
sentia. “O que aconteceu? Onde estou?”
“Você está segura, Pequena Ave. Você está segura.”
“Minha cabeça dói.” Eu senti o lugar onde minha cabeça estava machucada e
dolorida, e meus dedos encontraram os pontos.
“Deveria. Você tirou 10 anos da minha vida tamanho susto que levei.” Vovó esfregou
minha mão gentilmente. “Todo aquele sangue...” Ela tremeu, e então balançou a cabeça e
sorriu para mim. “Que tal você me prometer não fazer aquilo de novo?”
“Prometo,” eu disse. “Então, você me encontrou...”
“Ensangüentada e inconsciente, Pequena Ave.” Vovó afastou o cabelo da minha
testa, seus dedos passando suavemente pela minha Marca. “E tão pálida que a escura lua
crescente parecia brilhar contra a sua pele. Eu sabia que você precisava ser levada para a
House of Night, o que foi exatamente o que eu fiz.” Ela riu e o maravilhoso brilho nos seus
olhos a fizeram parecer uma garotinha. “Eu liguei para sua mãe para dizer a ela que eu
estava te levando para a House of Night, e eu tive que fingir que meu celular estava com
uma recepção ruim para poder desligar. Eu temo que ela não esteja feliz com nenhuma de
nós duas.”
Eu ri para Vovó Redbird. Há há, mamãe estava braba com ela também.
“Mas, Zoey, o que você estava fazendo na luz do dia? E porque você não me disse
antes que você tinha sido Marcarcada?”
Eu me forcei a sentar, gemendo com a dor na minha cabeça. Mas, graças a Deus,
parecia que eu não estava mais tossindo. Deve ser porque eu finalmente estou aqui – na
House of Night... mas a idéia desapareceu da minha cabeça enquanto processava o que a
Vovó tinha dito.
“Espera, eu não poderia ter te falado antes. O Rastreador veio a escola hoje e me
Marcou. Eu fui para casa primeiro. Eu esperava que a mamãe entendesse e me apoiasse.”
Eu parei, lembrando de novo a horrível cena com meus pais. Entendendo completamente,
Vovó apertou minha mão. “Ela e John basicamente me trancaram no meu quarto
enquanto chamavam nosso psicólogo e começavam a árvore de oração.”
Vovó fez uma careta.
“Então eu sai pela janela e fui diretamente até você,” eu conclui.
“Estou feliz que tenha feito isso, Zoeybird, mas não faz sentido nenhum.”
“Eu sei,” eu suspirei. “Eu também não consigo acreditar que fui Marcada, também.
Porque eu?”
“Não é isso que eu quis dizer, querida. Eu não estou surpresa por você ter sido
rastreada e Marcada. O sangue dos Redbird sempre teve forte magia; era só uma questão
de tempo até um de nós ser Escolhido. O que eu quis dizer é que não faz sentido você ter
acabado de ser Marcada. A lua crescente não está apenas tracejada. Está completamente
pintada.”
“Isso é impossível!”
“Olhe você mesma, U-we-tsi a-ge-hu-tsa." Ela usou a palavra Cherokee para filha, de
repente me lembrando da misteriosa e antiga deusa.
Vovó procurou dentro da sua bolsa por um antigo espelho que ela sempre carregava.
Sem dizer mais nada, ela me entregou. Eu puxei a pequena tampa. Ele abriu para me
mostrar meu reflexo... a estranha familiar... aquela que era eu mas não eu exatamente.
Os olhos dela eram enormes e sua pele muito branca, mas eu mal notei isso. Era a Marca
que eu não conseguia parar de olhar, a Marca que agora era uma lua crescente completa,
pintada perfeitamente com o azul safira da tatuagem dos vampiros. Me sentindo como se
ainda estivesse sonhado, eu levantei a mão e deixei meu dedo tracejar a exótica Marca e
eu pareci sentir os lábios da deusa contra a minha pele de novo.
“O que isso significa?” eu disse, incapaz de olhar para longe da Marca.
“Estavamos esperando que você tivesse a resposta para essa pergunta, Zoey
Redbird.”
A voz dela era incrível. Mesmo antes deu olhar para longe do meu reflexo eu saiba
que ela seria única e inacreditável. Eu estava certa. Ela era tão linda quanto uma estrela
de cinema, linda como uma Barbie. Ela tinha olhos amendoados que eram de um
profundo verde. O rosto dela era quase um coração perfeito e a pele tinha aquela
luminosidade que você vê na TV. O cabelo dela era profundamente vermelho – não aquele
vermelho alaranjado ou um vermelho gasto, mas um escuro, e brilhante vermelho que
caiam em ondas pelos ombros dela. O corpo dela era, bem, perfeito. Ela não era magra
como aquelas garotas bizarras que vomitam e ficam morrendo de fome para chegar
naquilo que elas achavam que era chique a la Paris Hilton. (Isso é quente. É, ok, tanto
faz, Paris.) O corpo dessa mulher era perfeito porque ela era forte, mas tinha curvas. E ela
tinha lindos peitos. (Eu queria ter lindos peitos.)
‘Hun?” eu disse. Falando em peitos – eu totalmente estava soando como uma.
(boba... he He) *(Em inglês boobs são peitos mas também pode significar bobo.)
A mulher sorriu para mim e mostrou dentes incrivelmente perfeitos e brancos – sem
presas. Oh, eu acho que esqueci de mencionar que além da perfeição dela ela tinha uma
tatuagem de lua crescente no meio da testa, e dali, contornos que me lembravam o
oceano, as ondas emolduravam as sobrancelhas dela, se estendendo até as maças do
rosto.
Ela era uma vampira.
“Eu disse, que estávamos esperando que você nos explicasse porque uma vampira
novata que ainda não Mudou tem a Marca de um ser maduro na testa.”
Sem o sorriso e a gentil preocupação na voz dela as palavras poderiam parecer
duras. Ao invés disso, o que ela disse soou preocupado e um pouco confuso.
“Então eu não sou uma vampira?” eu disse.
A risada dela era como musica. “Ainda não, Zoey, mas eu diria que já ter sua Marca
completa é um excelente pressagio.”
“Oh... eu... eu... bem, ótimo. Isso é ótimo.” Eu balbuciei.
Graças a Deus, Vovó me salvou de uma humilhação total.
“Zoey, essa é a Alta Sacerdotisa da House of Night, Neferet. Ela tem cuidado bem de
você enquanto você estava” – vovó pausou, obviamente não querendo dizer a palavra
inconsciente – “enquanto você estava dormindo.”
“Bem Vinda a House of Night, Zoey Redbird,” Neferet disse carinhosamente.
Eu olhei para vovó e depois para Neferet. Me sentindo mais do que um pouco
perdida eu gaguejei , “Esse – esse não é meu nome de verdade. Meu sobrenome é
Montgomery.”
“É?” Neferet disse, levantando uma das suas pequenas sobrancelhas. “Um beneficio
de começar a vida nova é que você tem a oportunidade de começar de novo – de fazer
escolhas que você não pode fazer antes. Se você pudesse escolher, qual seria seu
verdadeiro nome?”
Eu nem hesitei. “Zoey Redbird.”
“Então desse momento em diante, você será Zoey Redbird. Bem vinda a sua nova
vida.” Ela estendeu a mão como se quisesse apertar minha mão, e eu automaticamente
ofereci a minha. Mas ao invés de pegar minha mão, ela pegou meu ante braço, o que era
estranho, mas de algum jeito parecia certo.
O toque dela era quente e firme. O sorriso dela dava boas vindas. Ela era incrível e
inspiradora. Na verdade, ela era o que todos os vampiros eram, mais que humana – mais
forte, inteligente, mais talentosa. Parecia que alguém tinha acendido uma luz dentro dela,
o que eu defini como irônico considerando os estereótipos dos vampiros (alguns dos quais
eu sabia que eram a completa verdade): Eles evitam luz do sol, eles são mais poderosos a
noite, eles precisam beber sangue para viver (eca!), e eles adoravam uma deusa que é
conhecida como a personificação da Noite.
“O-obrigado. É um prazer conhecer você,” eu disse, tentando realmente parecer
semi-inteligente e normal.
“Como eu estava dizendo para sua avó mais cedo, nunca tivemos uma caloura que
viesse até nós de um jeito tão diferente – inconsciente e com uma Marca completa. Você
consegue lembrar o que aconteceu com você, Zoey?”
Eu abri minha boca para dizer a ela que eu totalmente lembrava – de cair e bater e
cabeça... e me ver como se eu fosse um espírito... seguir as palavras visíveis até a
caverna... e finalmente encontrar a deusa Nyx. Mas antes de eu dizer as palavras eu tive
um estranho sentimento, como se alguém tivesse acabado de me bater no estomago. Foi
claro e especifico, e estava me dizendo para calar a boca.
“Eu – eu realmente não lembro muito–“ Eu falei e minha mão chegou no ponto
dolorido onde os pontos se sobressaiam. “Pelo menos não até eu bater a cabeça. Eu
quero dizer, até ai eu lembro de tudo. O Rastreador me Marcou; eu disse aos meus pais e
tive uma briga horrível com eles; então eu fugi para a casa da minha vó. Eu estava me
sentindo realmente mal, então quando eu subi o caminho para o penhasco...“ eu lembrava
do resto – de todo o resto – os espíritos, o povo Cherojee, a dança na fogueira. Cala a
boca! O sentimento gritou para mim. “E – eu acho que eu desmaiei porque eu tossi
demais, e bati a cabeça. A próxima coisa que eu lembro é da Vovó Redbird cantando e
então eu acordei aqui.” Eu terminei com pressa. Eu queria olhar para longe dos olhos
afiados e verdes dela, mas o mesmo sentimento que estava me ordenando a ficar quieta
também estava claramente me dizendo que eu tinha que manter contato visual com ela,
que eu tinha que tentar com muita vontade não estar escondendo nada dela, embora eu
não tivesse idéia do porque eu estava escondendo qualquer coisa.
“É normal passar por perda de memória com um ferimento na cabeça.” Vovó disse,
quebrando o silencio.
Eu podia beijar ela.
“Sim, é claro que é,” Neferet disse rapidamente, o rosto dela perdendo aquele jeito
afiado. “Não tema pela saúde de sua neta, Sylvia Redbird. Tudo ficará bem com ela.”
Ela falou com vovó de forma respeitosa, e um pouco da tensão que tinha se criado
em mim se acalmou. Se ela gostava da Vovó Redbird, ela deveria ser uma boa pessoa, ou
vampira ou tanto faz. Certo?
“Como tenho certeza que você já sabe, vampiros” – Neferet pausou e sorriu para
mim – “até mesmo vampiros calouros, tem poderes únicos de cura. A cura dela está
acontecendo tão bem que é seguro para ela sair da enfermaria.” Ela olhou da vovó para
mim. “Zoey, você gostaria de encontrar sua nova colega de quarto?”
Não. Eu engoli com força e acenei. “Sim.”
“Excelente!” Neferet disse. Graças a Deus ela ignorou o fato que eu estava parada ali
parecendo um estúpido gnomo de jardim.
“Você tem certeza que não deveria manter ela aqui outro dia para observação?” Vovó
perguntou.
“Eu entendo sua preocupação, mas eu lhe asseguro os ferimentos físicos de Zoey já
estão curando em um ritmo que você acharia extraordinário.”
Ela sorriu para mim de novo e embora eu estivesse assustada e nervosa e estava
surtando eu sorri de volta. Parecia que ela estava realmente feliz por me ver ali. E,
sinceramente, ela me fez pensar que me transformar numa vampira talvez não fosse uma
coisa tão ruim.
“Vovó, estou bem. Verdade. Minha cabeça só dói um pouco, e o resto de mim se
sente melhor.” Eu percebi que era verdade. Eu parei de tossir totalmente. Meus músculos
não doíam mais. Eu me sentia perfeitamente normal, com exceção de um pouco de dor de
cabeça.
Então Neferet fez algo que não apenas me surpreendeu, mas me fez
instantaneamente gostar dela – e começar a confiar nela. Ela andou em direção a Vovó e
falou com calma e cuidado.
“Sylvia Redbird, eu dou a você meu juramento solene que a sua neta está segura
aqui. Cada calouro é colocado junto a um mentor adulto. Para assegurar meu juramento
eu serei a mentora de Zoey. E agora você deve a colocar em meus cuidados.”
Neferet colocou seu punho por cima do coração e se curvou formalmente para Vovó.
Minha vó hesitou por apenas um segundo antes de responder.
“Eu vou confiar em seu juramento, Neferet, Alta Sacerdotisa de Nyx.” Então ela
imitou a ação de Neferet colocando seu próprio punho no coração e se curvando para ela
antes de virar para mim e me abraçar com força. “Me ligue se precisar de mim, Zoeybird.
Eu amo você.”
“Eu vou, Vovó. Eu amo você também. E obrigado por me trazer aqui,” eu sussurrei,
sentindo o cheiro de lavanda e tentando não chorar.
Ela me beijou gentilmente na bochecha e então com os passos rápidos e confiantes
dela ela saiu do quarto, me deixando sozinha pela primeira vez na minha vida com uma
vampira.
“Bem, Zoey, você está pronta para começar sua nova vida?”
Eu olhei para ela e pensei de novo do quão incrível ela era. Se eu realmente Mudasse
para uma vampira, eu teria a confiança e poder dela, ou era algo que somente uma Alta
Sacerdotisa tem? Por um segundo passou pela minha mente o quão incrível seria ser uma
Alta Sacerdotisa – e então minha sanidade voltou. Eu era só uma garota. Uma garota
confusa e definitivamente não era capaz de ser uma Alta Sacerdotisa. Eu só queria
descobrir como me encaixar aqui, mas Neferet certamente tinha feito o que estava
acontecendo comigo ser um fardo muito mais fácil.
“Sim estou.” Eu estava feliz por soar mais confiante do que eu me sentia.

academia de vampiros - beijo das sombras (capitulo 14)


QUATORZE
Eu continuei espionando Lissa através dos dias seguintes, me sentindo meio culpada toda vez.
Ela sempre odiava quando eu fazia isso por acidente, e agora eu fazia de propósito.
Firme, eu assiste quando ela se reintegrava com os poderosos da realeza um por um. Ela podia
usar compulsão em grupo, mas pegar uma pessoa sozinha era tão efetivo quanto só mais
devagar. E realmente, muitos não precisavam de compulsão para começar a andar com ela
novamente. Muitos não eram tão superficiais quanto pareciam; eles lembravam de Lissa e
gostavam dela por quem ela era. Eles se juntavam a ela, e agora, um mês e meio desde que
havíamos voltado pra academia, era como se ela nunca tivesse partido. E enquanto sua fama
aumentava, ela falava ao meu favor e contra Mia e Jesse.
Numa manhã, eu entrei na mente dela enquanto ela estava se aprontando pro café da manhã.
Ela passou os últimos 20 minutos secando e alisando o seu cabelo, algo que ela não fazia a
algum tempo. Natalie, estava sentada na cama no quarto delas, olhando o processo com
curiosidade. Quando Lissa começou a se maquiar, Natalie finalmente falou.
“Hey, nós vamos assistir um filme no quarto da Erin depois da aula. Você vai vir?” Nós sempre
fizemos piadas sobre a Natalie ser sem graça, mas a amiga dela Erin tinha a personalidade de
uma parede.
‘Não posso. Eu vou ajudar Camille a pintar o cabelo de Carly.”
“Você com certeza tem passado muito tempo com elas agora.”
‘É, eu acho.” Lissa passou o rimel em seus cílios, instantaneamente os fazendo ficar maior.
“Eu pensei que você não gostasse mais delas.’
“Eu mudei de idéia.’
“Elas com certeza parecem gostar muito de você agora. Eu quero dizer, não que alguém não vá
gostar de você, mas desde que você voltou e não falou com elas, elas pareciam ok em ignorar
você. Eu escutei elas falarem muito de você. Eu acho que isso não é surpresa, já que eles são
amigos da Mia também, mas não estranho o quanto eles gostam de você agora? Tipo, eu
escuto eles sempre esperando pra saber o que você vai fazer antes deles fazerem planos. E
muitos deles estão defendendo Rose agora, o que é realmente louco. Não que eu acredite
naquelas baboseiras sobre ela, mas eu nunca pensei que isso fosse possível – “
Por debaixo da divagação da Natalie estava a semente da suspeita, e a Lissa captou isso.
Natalie provavelmente nunca pensaria em compulsão, mas Lissa não podia arriscar que
perguntas inocentes se tornassem algo mais. “Quer saber?” ela interrompeu. “Talvez eu passe
na Erin mais tarde. Eu aposto que o cabelo da Carly não vai levar tanto tempo.”
A oferta tirou Natalie da sua linha de pensamento. “Verdade? Oh wow, isso é incrível. Ela
estava me dizendo como ela está triste por você não estar mais por perto como antes, e eu
disse a ela...”
E assim continuou. Lissa continuou usando compulsão e retornou aos populares. Eu assisti
quieta, sempre me preocupando, mesmo percebendo que os seus esforços diminuíram os
olhares e as fofocas sobre mim.
“Isso vai sair pela culatra,” eu sussurrei pra ela um dia. “Alguém vai começar a perceber e a
fazer perguntas.”
“Pare de ser tão melodramática. O poder muda o tempo todo por aqui.”
“Não desse jeito.”
“Você acha que a minha personalidade não poderia fazer isso sozinha?”
“Claro que poderia, mas se o Christian percebeu imediatamente, então mais alguém vai –“
Minhas palavras foram interrompidas quando dois caras sentados num dos bancos da igreja de
repente explodiram em risadas. Olhei pra cima, e vi eles olhando diretamente pra mim, sem
nem ao menos se preocupar em esconder os sorrisos afetados.
Olhando pra longe, eu tentei ignorá-los, desejando de repente que o pastor começasse de uma
vez. Mas Lissa olhou pra eles, e uma ferocidade surgiu de repente em seu rosto. Ela não disse
uma palavra, mas os sorrisos deles diminuíram devido ao seu olhar fixo.
“Diga a ela que vocês sentem muito,” ela disse a eles. “E façam com que ela acredite.”
Um segundo depois, eles praticamente tropeçaram em si mesmo se desculpando, e
implorando por perdão. Eu não podia acreditar. Ela havia usado compulsão em publico – na
igreja, entre todos os lugares. E em duas pessoas ao mesmo tempo.
Eles finalmente esgotaram suas suplicas de desculpas, mas Lissa não tinha terminado.
“Isso é o melhor que vocês podem fazer?” ela surtou.
O olhar deles escondido por medo, os dois com medo que eles tivessem irritado ela.
“Liss,” eu disse rapidamente, tocando o braço dela. “Está tudo bem, eu, uh, aceito as desculpas
deles.”
O rosto dela ainda radiava desaprovação, mas ela finalmente acenou. Os caras caíram de
alivio.
Eca. Eu nunca fiquei mais aliviada de ver uma missa começar. Através do nosso laço, eu senti
uma certa satisfação negra vindo de Lissa. Não era natural para ela, e eu não gostei.
Precisando me distrair do seu comportamento problemático, eu observei outras pessoas tanto
quanto eu costumava fazer. Ali perto, Christian observava Lissa abertamente, um olhar
perturbado em seu rosto. Quando ele me viu, ele fez uma careta e se virou pra longe.
Dimitri estava sentado mais atrás como sempre, pela primeira vez não avaliando todos os
cantos em busca de perigo. A sua atenção estava em ali dentro, sua expressão quase doida. Eu
ainda não sei porque ele veio para a igreja. Ele sempre parecia estar lutando contra algo.
Na frente o padre estava falando sobre o Santo Vladimir de novo.
“O espírito dele era forte, e ele tinha um dom genuinamente vindo de Deus. Quando ele
tocava eles, os aleijados andavam, e os cegos podiam ver. Onde ele andava, flores floresciam.”
Cara, os Moroi precisavam arranjar mais santos –
Curando aleijados e cegos?
Eu esqueci tudo sobre o Santo Vladimir. Mason tinha mencionado que Vladimir trazia as
pessoas de volta a vida, e isso tinha me lembrado da Lissa naquele tempo. Então outras coisas
me distraíram. E eu não pensei mais sobre o santo ou seu guardião “Shadow-Kissed”* - ou sua
ligação – em algum tempo. Como eu podia ter ignorado isso? Sra. Karp, eu percebi, não era a
única Moroi que podia curar como Lissa. Vladimir podia também.
*Pra não estragar a leitura com uma tradução idiota Shadow-Kissed vai permanecer igual ao
original, sem ser traduzido.
“E todo o tempo, as massas se reunião ao lado dele, amando ele, ansiosos pra seguir seus
ensinamentos e ouvi-lo pregar a palavra de Deus...”
Me virando, eu encarei Lissa. Ela me olhei perplexa. “O que?”
Eu não tive a chance de elaborar –eu nem sei se eu poderia formar palavras – porque eu
estava de volta a minha prisão quase tão logo a missa havia terminado.
De volta ao meu quarto, eu entrei online para pesquisar sobre o Santo. Vladimir mas acabou
sendo inútil. Merda. Mason tinha lido todos os livros da biblioteca e havia dito que tinha pouco
lá. O que me restava?Eu não tinha outro jeito de saber mais sobre aquele santo velho e
empoeirado.
Ou eu tinha? O que Christian tinha dito no primeiro dia com Lissa?
Lá nós temos uma caixa velha cheia de antigos escritos do abençoado e louco Santo Vladimir.
O armazém sobre a capela. Tinha escritos. Christian os tinha apontado. Eu precisava olhar eles,
mas como? Eu não podia pedir para o padre.Como ele iria reagir se ele soubesse que
estudantes estavam indo até lá?Iria colocar um fim no esconderijo de Christian. Mas talvez,
talvez o próprio Christian pudesse ajudar.
No entanto era domingo, e eu não o veria até amanhã a tarde. Mesmo assim, eu não sabia se
teria a chance de falar com ele sozinha.
Enquanto me dirigia ao treino,eu parei na cozinha esperando pegar uma barra de cereais.
Enquanto eu esperava, eu passei por alguns caras novatos, Miles e Anthony. Miles assoviou
quanto ele me viu.
“Como tem estado, Rose?Você está se sentindo sozinha?Quer companhia?”
Anthony riu. “Eu não posso morder você, mas eu posso dar a você outra coisa que você quer.”
Eu tinha que passar pela porta onde eles estavam pra chegar lá fora. Eu consegui os empurrar
pra passar, mas Miles me pegou pela cintura, sua mão escorrendo para a minha bunda.
“Tire as suas mãos da minha bunda antes que eu quebre a sua cara,” eu disse a ele, me
afastando. Fazendo isso eu apenas dei um encontrei em Anthony.
“Vamos,” Anthony disse, “Eu pensei que você não tinha problemas em pegar dois caras ao
mesmo tempo.”
Uma voz nova falou. “Se vocês não se afastarem agora, eu quebro vocês dois.” Mason. Meu
herói.
‘Você é tão cheio de si, Ashford,” disse Miles. Ele era o maior dos dois e me deixou pra se
acertar com o Mason. Anthony se afastou de mim, mais interessado em saber se haveria ou
não uma luta. Tinha tanta testosterona no ar, que eu senti como se eu precisasse de uma
mascara de gás.
“Você está fazendo com ela também?” Miles perguntou a Mason. “Você não quer dividir?”
“Diga mais alguma palavra sobre ela, e eu vou arrancar sua cabeça.”
“Porque? Ela só é uma barata meretriz –“
Mason socou ele. Não arrancou a cabeça de Mason ou fez nada quebrar ou sangrar, mas
pareceu doer.Seus olhos se alargaram em direção a Mason e ele riu. O som das portas abrindo
no hall fez com que todos congelassem. Novatos entravam em muitos problemas por brigar.
“Provavelmente alguns guardiões vindo.” Mason disse.”Você quer que eles saibam que estava
batendo em uma garota?”
Miles e Anthony trocaram olhares. “Vamos,” Anthony disse, “Vamos embora. Nós não temos
tempo pra isso.”
Miles o seguiu relutante. “Eu vou encontrar você depois, Ashford.”
Quanto eles foram embora, em me virei pro Mason. “Bateu numa garota?”
“De nada,” ele disse secamente.
“Eu não precisava da sua ajuda.”
“Claro. Você estava ótima sozinha.”
“Eles me pegaram com a guarda baixa, só isso. Eu poderia lidar com eles eventualmente.”
“Olha,não desconte a sua raiva deles em mim.”
“Eu só não gosto de ser tratada como... uma garota.”
“Você é uma garota. E eu estava só tentando ajudar.”
“Bom... obrigado. Desculpe por descontar em você.”
Nós conversamos um pouco, e eu consegui fazer com que ele me contasse mais algumas
fofocas da escola. Ele tinha notado o status crescente de Lissa mas não achou estranho.
Enquanto eu falava com ele, eu notei o olhar de adoração dele enquanto ele estava ao meu
redor no rosto dele. Me fez ficar triste o fato de que eu não sentia o mesmo por ele. Me senti
culpada, até.
O quão difícil seria, eu perguntava, sair com ele? Ele era legal, engraçado, e razoavelmente
bonito. Nós nos dávamos bem. Porque eu fui pega por tantas confusões com outros caras
quando eu tinha o cara perfeitamente doce que me queria? Porque eu não podia
simplesmente retribuir os sentimentos dele?
A resposta veio até mim antes que eu terminasse de me fazer a pergunta. Eu não podia ser a
namorada do Mason porque quando eu imaginava alguém me segurando e sussurrando coisas
sujas no meu ouvindo, ele tinha um sotaque russo.
Mason continuou a olhar maravilhado, sem saber o que se passava na minha mente. E vendo
aquela adoração, eu de repente me dei conta de como eu poderia usá-la ao meu favor.
Me sentindo um pouco culpada, eu mudei o rumo da conversa a um estilo de flerte e observei
os olhos de Mason brilharem mais.
Eu me inclinei pra perto dele na parede para que nossos braços se tocassem e dei a ele um
sorriso preguiçoso. “Você sabe, eu ainda não aprovo o seu ato heróico, mas você os assustou.
Isso quase valeu a pena.”
“Mas você não aprova?”
Eu toquei meus dedos no braço dele. “Não. Eu quero dizer, é sexy a principio mas não é
pratico”
Ele riu. “Diabos que não é.” Ele pegou a minha mão e me deu um olhar de conhecimento. “As
vezes você precisa ser salva. Eu acho que você gosta de ser salva as vezes mas simplesmente
não admite.”
“E eu acho que você se excita em salvar as pessoas e não admite.”
“Eu não acho que você saiba o que me excita.Salvar donzelas como você é só uma coisa
honrada de se fazer.” Ele declarou.
Eu reprimi a vontade de bater nele pelo uso da ‘donzela’. ‘Então prove. Me faça um favor só
porque é o certo a se fazer.’
“Claro,” ele disse imediatamente. “Manda.”
“Eu preciso que você mande uma mensagem pra Christian Ozera.”
Sua vontade vacilou. “O que diabos -? Você não está falando sério.”
“Sim. Completamente.”
‘Rose... eu não posso falar com ele. Você sabe disso.”
“Eu pensei que você tinha dito que ia ajudar. Eu achei que você disse que ajudar “donzelas”
era uma coisa honrada a se fazer.’
“Eu não vejo nenhuma honra envolvida aqui.” Eu dei a ele o olhar mais suplico que eu
consegui. Ele caiu. “O que você quer que eu diga a ele?”
“Diga a ele que eu preciso dos livros do Santo Vladimir. Os que estão no deposito. Ele precisa
me dar eles logo. Diga a ele que é por Lissa. E diga a ele... diga a ele que eu menti pra ele
aquela noite na recepção.” Eu hesitei. “Diga a ele que eu sinto muito.”
“Isso não faz sentido.”
“Tem sim. Só faça isso. Por favor?” Eu dei meu sorriso lindo de novo.
Com garantias de que ele veria o que ele podia fazer, ele partiu para o almoço e eu fui para
prática.

academia de vampiro - beijo das sombras (capitulo 13)


TREZE
O resultado da mentira de Jesse e Ralf foi tão horrível quanto eu esperava. O único jeito que
eu sobrevive foi me fazendo de cega, ignorando tudo e todos. Me manteve sã – por pouco –
mas eu odiava. Eu sentia vontade de chorar o tempo todo. Eu perdi meu apetite e eu não
dormia bem.
E no entanto, não importa o quão ruim era pra mim, eu não me preocupei tanto comigo como
eu me preocupava com Lissa. Ela manteve sua promessa de mudar as coisas. Foi devagar no
inicio, eu via um da realeza ou outro vindo até ela no almoço ou nas aulas pra dizer olá. Ela
dava um sorriso brilhante, rindo e falando com eles como se eles fossem seus melhores
amigos.
No inicio, eu não entendi como ela estava fazendo isso. Ela me disse que ela usaria compulsão
pra ganhar os outros da realeza e os virar contra Mia. Mas eu não via isso acontecer. Era
possível, é claro, que ela estivesse ganhando as pessoas sem usar compulsão. Afinal de contas,
ela era engraçada, esperta, e querida.Qualquer um poderia gostar dela. Mas alguma coisa me
disse que ela não estava ganhando amigos do jeito antigo, e eu finalmente descobri.
Ela estava usando compulsão quando eu não estava por perto. Eu apenas a via por uma
pequena parte do dia, e já que ela sabia que eu não iria aprovar, ela usava seus poderes
apenas quando eu não estava por perto.
Depois de alguns dias usando essa compulsão secreta, eu sabia o que eu precisava fazer: eu
tinha que voltar pra cabeça dela de novo. Por escolha. Eu já tinha feito antes; eu poderia fazer
de novo.
Pelo menos, foi isso que eu disse a mim mesma, quando estava sentada e relaxando na aula do
Stan. Mas não foi tão fácil quanto eu pensei que seria, parcialmente porque eu me sentia
muito agitada para relaxar e me abrir para os pensamentos dela. Eu também tive problemas
porque eu escolhi uma hora em que ela estava relativamente calma. A cabeça dela se abria
melhor quando as emoções dela estavam fortes.
Ainda sim, eu tentei fazer o que eu tinha feito antes, quando eu espionei ela e o Christian. A
coisa da meditação. Respirar devagar. Olhos fechados. Me concentrar desse jeito ainda não
era fácil pra mim, mas finalmente eu consegui a transição, entrando na cabeça dela e
experimentando o mundo dela. Ela estava na sua aula de literatura americana, durante a hora
do trabalho, mas como a maioria dos estudantes, ela não estava trabalhando. Ela e Camille
Conta estavam encostadas numa parede na parte mas distante da sala, falando em sussurros.
“É nojento,” disse Camille firmemente, uma expressão carrancuda cruzando seu rosto bonito.
Ela estava usando uma saia azul feita de um tipo de veludo, pequena o suficiente para mostrar
as suas longas pernas e possivelmente erguer duvidas sobre as regras de se vestir. “Se vocês
estavam fazendo, eu não estou surpresa que ela tenha se viciado e feito com o Jesse.”
“Ela não fez com o Jesse,” insistiu Lissa. “E não é como se nós tivéssemos transado. Nós apenas
não tínhamos alimentadores, só isso.” Lissa concentrou sua atenção em Camille e sorriu. “Não
tem nada demais. Todo mundo está exagerando.”
Camille parecia como se ela duvidasse seriamente, e então, quanto mais ela olhava pra Lissa,
mais desfocados seus olhos ficavam. Um vazio tomou conta dela.
“Certo?” perguntou Lissa, com a voz como seda. “Não é nada demais.”
A carranca retornou. Camille tentou afastar a compulsão. O fato de que ela sequer chegou tão
longe era incrível. Como Christian tinha observado, usar num Moroi era inédito.
O sorriso uma vez forte de Camille, perdeu a batalha. “Sim,” ela disse devagar. “Realmente não
tem nada demais.“
“E o Jesse está mentindo.”
Ela concordou. “Definitivamente mentindo.”
Um cansaço mental queimou dentro de Lissa enquanto ela usava a compulsão. Foi necessário
muito esforço, e então ela tinha terminado.
“O que vocês vão fazer hoje a noite?”
“Carly e eu vamos estudar para o teste do Mattheson no quarto dela.”
“Me convide.”
Camille pensou sobre isso. “Hey, você quer estudar com a gente?”
“Claro,” disse Lissa, sorrindo pra ela. Camille sorriu de volta.
Lissa parou com a compulsão, e uma onda de tontura tomou conta dela. Ela se sentia fraca.
Camille olhou em volta, momentaneamente surpresa, e então “sacudiu” a estranheza. “Vejo
você depois do jantar então.”
‘Vejo você lá,” murmurou Lissa, observando ela se afastar. Quando Camille tinha ido embora,
Lissa tentou prender seu cabelo para cima em um rabo de cavalo. Seus dedos não alcançavam
todos os fios, e de repente um outro par de mãos chegou para ajudá-la.Ela virou e se
encontrou encarando os olhos azuis-gelo de Christian. Ela se afastou dele.
“Não faça isso!” ela exclamou, tremendo quando se deu conta que tinha sido os dedos dele
que haviam tocado nela.
Ele deu a ela o seu preguiçoso e ligeiramente torcido sorriso e tirou alguns fios do cabelo preto
dela de seu rosto. “Você está me pedindo ou me mandando?”
“Cala a boca.” Ela olhou em volta, para evitar o olhar dele e ter certeza que ninguém estava
ouvindo.
“Qual o problema?Preocupada com o que os seus escravos vão pensar se virem você falando
comigo?”
‘Eles são meus amigos,” ela respondeu.
“Oh.Certo.É claro que eles são. Eu quero dizer, pelo que eu vi, Camille provavelmente faria
qualquer coisa por você, certo? Amigas até o fim.” Ele cruzou seus braços, e apesar da raiva
dela, ela não pode deixar de notar como o verde da sua camiseta combinava com o seu cabelo
preto e olhos azuis.
“Pelo menos ela não é que nem você. Ela não finge ser minha amiga um dia e depois me ignora
sem qualquer razão.”
Um olhar incerto cruzou seu rosto. Tensão e raiva tinham crescido entre eles na ultima
semana, desde que eu gritei com Christian depois da recepção da realeza. Acreditando no que
eu tinha dito a ele, Christian tinha parado de falar com ela e a tratava de forma rude toda vez
que ela tentava iniciar uma conversa. Agora magoada e confusa, ela tinha desistido de ser
boazinha. A situação está ficando cada vez pior.
Olhando através dos olhos de Lissa, eu podia ver que ele ainda se importava com ela e ainda a
queria. O orgulho dele havia sido ferido, no entanto, e ele não iria mostrar fraquezas.
“É?” ele disse numa voz baixa e cruel. “Eu pensei que era o jeito em que a realeza deveria agir.
Você certamente parece estar fazendo um bom trabalho. Ou talvez você está usando
compulsão em mim pra me fazer pensar que você é uma vaca de duas caras. Talvez você não
seja. Mas eu duvido disso.”
Lissa corou com a palavra compulsão – e lançou outro olhar preocupado olhando em volta –
mas decidiu não dar a ele a satisfação de continuar a discussão. Ela simplesmente deu a ele um
ultimo olhar antes de voltar e ir se juntar ao grupo da realeza se voltando para uma tarefa.
Voltando para mim mesma, eu encarei a sala de aula, processando o que eu vi. Alguma parte
bem pequena de mim estava começando a sentir pena de Christian. Era apenas uma pequena
parte, e no entanto, muito fácil de ignorar.
No inicio do outro dia, eu me dirigi ao encontro com Dimitri. Essas praticas eram minha parte
favorita do dia agora, em parte por causa da minha queda estúpida por ele em parte porque
eu não tinha que ficar perto de outras pessoas.
Ele e eu começamos a correr como sempre, e ele correu comigo, quieto e quase gentil em suas
instruções, provavelmente preocupado em ser o motivo de que eu perdesse o controle. Ele
sabia sobre os rumores de algum jeito, mas ele nunca os mencionava.
Quando nós terminamos, ele me levou pra praticar algum exercício ofensivo onde eu podia
usar qualquer arma improvisada que eu pudesse encontrar para atacá-lo. Para minha
surpresa, eu consegui dar alguns golpes nele, embora eles parecessem fazer mais danos em
mim do que nele. Os impactos sempre me faziam ir pra trás, mas ele nunca se mexia. Ainda
sim não me impediu de atacar e atacar, lutando com uma raiva quase cegante. Eu não sabia
com quem eu realmente estava lutando nesse momento: Mia ou Jesse ou Ralf. Talvez todos
eles.
Dimitri finalmente pediu um tempo. Ele carregou o equipamento que nós usamos pelo campo
e levou tudo de volta para o quarto de suprimentos. Enquanto ele guardava,ele olhou pra
mim.
‘Suas mãos.” Ele xingou em russo. Eu podia reconhecer agora, mas ele se recusava a me dizer o
que aquilo significava. “Onde estão as suas luvas?”
Eu olhei para as minhas mãos. Elas sofreram por semanas, e hoje só tinha feito elas ficarem
pior. O frio tinha feito a pele descascar e rachar, e algumas partes estavam sangrando um
pouco. As minhas bolhas cresceram. “Não tenho nenhuma. Nunca precisei delas em Portland.”
Ele xingou de novo e me conduziu a uma cadeira enquanto pegava um kit de primeiros
socorros. Limpando o sangue com um pano molhado, ele me disse rudemente, “Vamos pegar
alguma pra você.”
Eu olhei pra baixo para as minhas mãos destruídas enquanto ele trabalhava. “Isso é apenas o
começo,não é?”
“Do que?”
“Eu. Me transformando em Alberta. Ela... e todas as outras guardiãs. Elas são todas acabadas.*
Lutando e treinando sempre ao ar livre – elas não são mais bonitas.” Eu pausei. “Isso... essa
vida. Destruiu elas. A aparência delas, eu quero dizer.”
*Não é exatamente isso que ela diz, mas é nesse sentido.
Ele hesitou por um momento e olhou para as minhas mãos. Aqueles quentes olhos marrom me
inspecionaram, e algo se apertou no meu peito. Droga. Eu tinha que parar de me sentir desse
jeito perto dele. ‘Não vai acontecer com você. Você é muito...” Ele procurou pela palavra certa,
e eu mentalmente a substitui por todo tipo de possibilidade. Como uma deusa.Incrivelmente
sexy. Desistindo, ele simplesmente disse, “Não vai acontecer com você.”
Ele voltou sua atenção de volta para a minha mão. Ele... ele pensava que eu era bonita? Eu
nunca duvidava da reação que eu causava aos caras da minha idade, mas ele, eu não sabia. O
aperto em meu peito aumentou.
“Aconteceu com a minha mãe. Ela costumava ser linda. Eu acho que ela ainda é, mais ou
menos. Mas não do jeito que ela costumava ser.” Amarga, eu acrescentei, “Não a vejo faz um
tempo. Ela poderia estar parecendo completamente diferente até onde eu sei.”
“Você não gosta da sua mãe,” ele observou.
“Você notou, é?”
“Você mal conhece ela.”
“Esse é o ponto. Ela me abandonou. Ela me deixou pra que eu fosse criada pela Academia.”
Quando ele terminou de limpar meus ferimentos, ele encontrou uma pomada e começou a
esfregar nas partes ásperas da minha pele. Eu meio que me perdi no sentimento da mão dele
massageando a minha.
“Você diz isso... mas o que mais ela poderia ter feito? Eu sei que você quer ser uma guardiã. Eu
sei o quanto significa pra você. Você acha que ela sente algo diferente? Você acha que ela
deveria ter desistido para criar você quando você passa metade da sua vida aqui de qualquer
forma?”
Eu não gostava de ter argumentos racionais jogados contra mim. “Você está dizendo que eu
sou uma hipócrita?”
“Estou apenas dizendo que talvez você não devesse ser tão dura com ela. Ela é uma dhampir
muito respeitada. Ela deixou você no caminho para ser o mesmo.”
“Não mataria ela me visitar mais,” eu murmurei. “Mas talvez você tem razão.Um pouco.
Poderia ser pior, eu acho. Eu poderia ter sido criada por uma meretriz de sangue.”
Dimitri olhou pra cima. “Eu fui criado numa comunidade de dhampir. Eles não são tão ruins
quanto você pensa.”
“Oh.” Eu de repente me sentia estúpida. “Eu não queria-“
“Está tudo bem.” Ele voltou sua atenção de volta para as minhas mãos.
“Então, você, tipo, tem família lá? Cresceu com eles?”
Ele concordou. “Minha mãe e duas irmãs. Eu não as vi muito depois que eu fui para escola,
mas nós ainda mantemos contato. As comunidades são de família, principalmente. Tem muito
amor lá, não importa o as histórias que você pode ter ouvido.”
Minha amargura retornou, e eu olhei pra baixo para esconder meus olhos molhados. Dimitri
tinha tido uma família feliz com a sua mãe desgraçada e familiares e eu tinha a minha
“respeitada” mãe guardiã. Ele certamente conhecia a mãe dele melhor do que eu conhecia a
minha.
“Sim, mas... não é estranho?Não tem muitos homens Moroi visitando também, você sabe?...”
As mãos dele esfregaram círculos nas minhas. “Às vezes.”
Havia algo perigoso no tom dele, algo me disse que aquele não era um tópico bem vindo.
“Eu – Eu sinto muito. Eu não queria trazer a tona algo ruim...”
“Na verdade...você provavelmente não deve achar que é ruim,” ele disse depois quase um
minuto. Um pequeno sorriso se formou nos lábios dele. “Você não conhece o seu pai,
conhece?”
Eu balancei minha cabeça. “Não. Tudo o que eu sei é que ele deve ter um cabelo louco e
legal.”
Dimitri olhou pra cima, e os olhos dele me analisaram. “Sim. Ele deve ter.” Voltando para as
minhas mãos, ele disse cuidadosamente, “Eu conheci o meu.”
Eu congelei.”Verdade? A maioria dos caras Moroi não fica – eu quero dizer, alguns sim, mas
você sabe, normal,ente eles simplesmente –“
“Bom, ele gostava da minha mãe.” Ele não disse “gostava” de um jeito legal. “E ele a visitava
muito. Ele é o pai das minhas irmãs também.Mas quando ele vinha...bom, ele não tratava
minha mãe muito bem. Ele fazia algumas coisas bem horríveis.”
“Tipo...” eu hesitei. Era sobre a mãe do Dimitri que nós estávamos falando. Eu não sabia até
onde eu podia ir. “Coisas de meretrizes de sangue?”
“Como meter a mão nela,” ele respondeu.
Ele terminou o curativo mas ele ainda estava segurando as minhas mãos. Eu nem sei se ele
tinha notado. Eu certamente sim. As mãos dele eram grandes e quentes, com dedos longos e
graciosos. Dedos que poderiam ter tocado um piano em outra vida.
“Oh meu Deus,” eu disse. Quão horrível. Eu apertei minhas mãos contra as dele. Ele apertou
de volta. “Isso é horrível. E ela...ela simplesmente deixava acontecer?”
“Ela deixava.” O canto da sua boca virou em um sorriso triste. “Mas eu não.”
Excitação surgiu em mim. “Me diga, me diga que você quebrou a cara dele.”
O sorriso dele cresceu. “Quebrei.”
“Wow.” Eu não pensei que Dimitri poderia ser mais legal, mas eu estava errada. “Você bateu
no seu pai. Eu quero dizer isso é horrível...o que aconteceu. Mas, wow. Você é realmente
bom.”
Ele piscou. “O que?”
“Hum, nada.” Apressadamente eu tentei mudar de assunto. “Quantos anos você tinha?”
Ele ainda parecia estar pensando sobre o meu comentário. “Treze.’
Uou. Definitivamente bom. “Você quebrou a cara do seu pai quando tinha treze anos?”
“Não foi muito difícil. Eu era mais forte do que ele, quase tão alto quanto. Eu não podia deixar
ele continuar fazendo aquilo. Ele tinha que aprender que ser da realeza e Morei não significa
que você pode fazer o que quiser com as pessoas – até mesmo meretrizes de sangue.”
Eu o encarei. Eu não podia acreditar que ele tinha acabado de dizer aquilo sobre a mãe dele.
“Eu sinto muito.”
“Está tudo bem.”
Os pedaços se juntaram pra mim. “Foi por isso que você ficou tão chateado sobre o Jesse, não
é? Ele era outro da realeza, tentando tirar vantagem de uma garota dhampir.”
Dimitri evitou meus olhos. “Eu fiquei chateado sobre aquilo por várias razões. Afinal de contas,
você estava quebrando as regras e...”
Ele não terminou, mas ele olhou de novo para os meus olhos de um jeito que fez o calor
crescer entre nós.
Pensar em Jesse piorou meu humor infelizmente. Eu olhei pra baixo. “Eu sei que você ouviu o
que as pessoas estão dizendo, que eu –“
“Eu sei que não é verdade,” ele interrompeu.
A sua resposta certa e imediata me surpreendeu, e eu estupidamente me encontrei
questionando ele. “É, mas como você-“
‘Porque eu conheço você,” ele respondeu firmemente. “Eu conheço o seu caráter. Eu sei que
você vai ser uma guardiã incrível.”
A confiança dele fez o sentimento de calor retornar. “Eu fico feliz que alguém saiba. Todos os
outros acham que eu sou uma irresponsável.”
“Com o jeito em que você se preocupa mais com a Lissa do que consigo...” Ele balançou sua
cabeça.”Não.Você entende suas responsabilidades melhor que qualquer guardião duas vezes
mais velho que você. Você vai fazer o que tiver que fazer pra ter sucesso.”
Eu pensei sobre isso. “Eu não sei se eu posso fazer tudo que eu preciso.”
Ele fez aquela coisa legal com a sua sobrancelha.
“Eu não quero cortar meu cabelo,” eu expliquei.
Ele parecia perplexo. ‘Você não tem que cortar o seu cabelo. Não é requerido.”
“Todas as outras guardiãs cortaram. Elas mostram suas tatuagens.”
Inesperadamente, ele soltou minhas mãos e se inclinou pra frente. Devagar, ele alcançou meu
cabelo e o prendeu, torcendo-o em volta de um dedo de forma pensativa. Eu congelei, e por
um momento, não havia nada acontecendo no mundo a não ser ele tocando o meu cabelo. Ele
soltou meu cabelo, parecendo um pouco surpreso – e embaraçado – com o que ele tinha feito.
“Não corte,” ele disse rude.
De algum jeito, eu lembrei de falar novamente. “Mas ninguém vai ver minhas tatuagens se eu
não cortar.”
Ele se moveu para perto da porta,um pequeno sorriso no seus lábios. “Use-o preso.”