sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

house of night - marcada (capitulo 5)


CINCO
O caminho para o penhasco sempre foi íngreme, mas eu subi um zilhão de vezes,
com e sem a vovó e eu nunca me senti assim. Não era mais apenas a tosse. Não era mais
os músculos doloridos. Eu estava tonta e meu estomago estava tão ruim que me lembrava
de Meg Ryan naquele filme French Kiss: Segredos do coração depois que ela comeu todo
aquele queijo e teve aquela intolerância a lactose. (Kevin Kline é muito fofo nesse filme –
bem, para um cara velho.)
E meu nariz estava escorrendo, e eu não quero dizer só um pouco. Eu quero dizer,
eu estava limpando o nariz na manga do meu casaco (nojento). Eu não conseguia respirar
sem abrir minha boca, o que me fez tossir mais, e eu não conseguia acreditar no quanto
meu peito doía! Eu tentei lembrar o que é que matava oficialmente quem não completava
a Mudança em um vampiro. Eles tinham ataques cardíacos? Ou era possível que eles
tossissem e seus narizes escorressem até a morte?
Pare de pensar sobre isso!
Eu preciso encontrar Vovó Redbird. Se a vovó não tiver as respostas, ela vai
descobrir. Vovó Redbird entende as pessoas. Ela disse que é porque ela não perdeu
totalmente sua herança Cherokee e o conhecimento tribal de seus ancestrais as Mulher
Sábias que ela carregava no sangue. Até mesmo agora eu sorri ao pensar sobre quando o
rosto da vovó franze toda a vez que o assunto é o padrasto-perdedor (ela é a única adulta
que sabe que eu chamo ele assim). Vovó Redbird disse que é obvio que o sangue das
Mulheres Sábias pulou a filha dela, mas só porque ele foi poupado para me dar uma dose
extra de mágica Cherokke antiga.
Quando era criança eu subi esse caminho segurando a mão da vovó mais vezes do
que eu era capaz de contar. No meio da grama alta e das flores selvagens colocávamos
uma colorida toalha e fazíamos um piquenique enquanto a vovó me contava histórias das
pessoas Cherokee e me ensinava a linguagem misteriosa deles. Enquanto eu andava pelo
caminho aquelas histórias antigas pareciam dar voltas dentro da minha cabeça, como
fumaça de um fogo cerimonial... incluindo a triste história de como as estrelas se
formavam quando um cão era pego roubando milho e a tribo o matava. Enquanto o cão
uivava para sua casa no norte, a comida se espalhava pelo céu e fazia a mágica da Via
Láctea. Ou como o Grande Falcão fez as montanhas e vales com suas asas. E meu
favorito, a história sobre a jovem mulher sol que viveu no leste, e seu irmão, a lua que
vivia a oeste, e o Redbird que era a filha do sol.
“Isso não é estranho? Eu sou uma Redbird e uma filha do sol, mas estou me
tornando um monstro da noite.” Eu me ouvi falar em voz alta e estava surpresa por minha
voz soar tão fraca, especialmente quando minhas palavras pareciam ecoar ao meu redor,
como se estivesse sendo vibradas como um tambor.
Tambor...
Pensar na palavra me fazia lembrar dos debates que vovó tinha me levado quando
era pequena, e então, meus pensamentos de algum jeito tomaram vida na memória, e eu
acabei ouvindo o bater dos tambores cerimoniais. Eu olhei ao redor, apertando os olhos
contra a luz mais fraca do dia. Meus olhos estavam atordoados e minha visão estava toda
errada. Não havia vento, mas a sombra das pedras e arvores pareciam estar se
movendo... se esticando... me alcançando.
“Vovó estou com medo...” eu chorei entre uma crise de tosse.
O espírito da terra não precisa ser temido Zoeybird.
“Vovó?” Eu ouvi a voz dela me chamando pelo meu apelido, ou era um daqueles ecos
estranhos vindos da minha memória? “Vovó!” eu chamei de novo, e então fiquei parada
tentando ouvir uma resposta.
Nada. Nada a não ser o vento.
U-no-le... a palavra Cherokee para vento passou pela minha mente como um sonho
meio esquecido.
Vento? Não, espera! Não havia nenhum vento um segundo atrás, mas agora eu tinha
que segurar o chapéu com uma mão e tirar o cabelo que estava sendo jogado
selvagemente para o meu rosto com a outra mão. E então no vento eu os ouvi – o som de
muitas vozes Cherokee cantando junto com os tambores cerimoniais. Através de um véu
de cabelo e lágrimas eu vi fumaça. O cheiro doce de madeira encheu minha boca aberta e
eu senti o gosto das fogueiras dos meus ancestrais. Eu me afoguei, lutando para
recuperar o fôlego.
E então eu os senti. Eles estavam ao meu redor, formas quase visíveis tremulando
como ondas de calor se levantando do asfalto no verão. Eu podia sentir eles se
pressionarem contra mim enquanto se movimentavam com graciosidade, passos intricados
ao redor da imagem da fogueira dos Cherokee.
Se junte a nós, u-we-tsi a-ge-hu-tsa... Se junte a nós, filha...
Fantasmas Cherokee... me afogando nos meus próprios pulmões... e brigando com
meus pais.... minha vida antiga acabada...
Era demais. Eu corri.
Eu suponho que o que eles nos ensinam em biologia sobre a adrenalina tomar conta
durante todo aquele negocio de lutar-ou-lutar é verdade porque embora meu peito
parecesse que iria explodir e parecesse que eu estava tentando respirar debaixo da água,
eu corri pela trilha como se houvesse lojas no shopping dando sapatos de graça.
Procurando por ar eu continuei a subir cada vez mais – lutando para me afastar do
espírito assustador que estava ao meu redor como nevoa, mas ao invés de deixar eles
para trás eu parecia estar correndo cada vez mais para dentro do mundo da fumaça e
sombras. Eu estava morrendo? Era isso que estava acontecendo? Era por isso que eu
podia ver fantasmas? Onde estava a luz branca? Completamente apavorada, eu corri,
jogando meus braços para cima de forma selvagem como se eu pudesse segurar o terror
que estava me perseguindo.
Eu não vi a raiz que estava no meio do caminho. Completamente desorientada eu
tentei me segurar, mas todos os meus reflexos desapareceram. Eu cai com força. A dor na
minha cabeça era afiada, mas durou apenas por um segundo antes da escuridão em
engolir.
Acordar foi estranho. Eu esperei que meu corpo doesse, especialmente meu coração
e peito, mas ao invés da dor eu senti... bem... eu me senti bem. Na verdade, eu me sentia
melhor que bem. Eu não estava tossindo. Meus braços e pernas estavam incrivelmente
leves, e quentes, como se eu tivesse acabo de entrar numa banheira de hidromassagem
em uma noite fria.
Huh?
A surpresa me fez abrir os olhos. Eu estava vendo uma luz, que milagrosamente não
fez meus olhos doerem. Ao invés da luz do sol, isso era mais como a suave luz de uma
vela que parecia estar descendo. Eu sentei, e percebi que estava errada. A luz não estava
descendo, eu estava subindo!
Eu vou para o céu. Bem, isso vai chocar algumas pessoas.
Eu olhei para baixo e vi meu corpo! Eu ou aquilo ou... ou... tanto faz estava deitado
perto da ponta do penhasco. Meu corpo estava bem parado. Minha testa estava cortada e
estava sangrando bastante. O sangue pingava no chão rochoso, fazendo uma trilha de
lagrimas vermelhas caírem no coração do penhasco.
Era incrivelmente estranho olhar para mim mesma. Eu não estava com medo. Mas eu
deveria, não deveria? Isso não significava que eu estava morta? Talvez eu fosse capaz de
ver os fantasmas Cherokee melhor agora. Até essa idéia não me assustava. Na verdade,
ao invés de ter medo era mais como se eu fosse uma observadora, e nada disso pudesse
realmente me tocar. (Que nem aquelas garotas que transam com todo mundo e acham
que não vão ficar grávidas ao pegar uma DST que come seu cérebro e tal. Bem, vamos
ver em 10 anos, não é?)
Eu gostei do jeito que o mundo parecia, brilhante e novo, mas era meu corpo que
continuava a chamar minha atenção. Eu flutuei perto dele. Eu estava respirando rápido e
superficialmente. Bem, meu corpo estava respirando assim, não que não fosse eu. Eu/ela
estava pálida e seus lábios estavam azuis. Hey! Rosto branco, lábios azuis, e sangue
vermelho! Vai dizer que eu não sou patriota?
Eu ri, e percebi o quão incrível era! Eu jurava poder ver minha risada flutuar ao meu
redor como aquelas coisas fofas que você sopra de um dente de leão, só que ao invés de
ser branco era bolo-de-aniversário-de-cobertura-azul. Wow! Quem diria que bater a
cabeça e desmaiar seria tão divertido? Eu me perguntei se isso era como quando alguém
estava alto.
A risada estilo dente de leão sumiu e eu podia ouvir o barulho de água corrente. Eu
me movi mais para perto do meu corpo, percebendo que o que eu pensei que fosse uma
ferida no solo na verdade era uma rachadura estreita. A água parecia estar vindo dali.
Curiosa, eu espiei para baixo, e a brilhante linha prateada de palavras saiu da rocha. Eu
me esforcei para ouvir, e fui recompensada por um fraco, sussurro de um som prateado.
Zoey Redbird... venha até mim...
“Vovó!” Eu gritei para dentro da abertura. Minhas palavras eram púrpura enquanto
enchiam o ar ao meu redor. “É você, Vovó?”
A mistura prateada com o púrpura da minha visível voz, tornaram as palavras em um
brilhante púrpura azulado. Era um pressagio! Um sinal! De alguma forma, como os guias
espirituais do povo Cherokee tinham acreditado por séculos, a Vovó Redbird estava me
dizendo que eu tinha que entrar na rocha.
Sem hesitar, eu entrei na abertura, seguindo a trilha do meu sangue e a memória
prateada dos sussurros da minha avó até que eu cheguei no chão suave de uma espécie
de caverna. No meio do lugar uma pequena corrente de água borbulhava, dando pedaços
visíveis de som, claro e colorido como um vidro. Misturado com a cor escarlate do meu
sangue iluminava a caverna com uma luz fraca que era da cor de folhas secas. Eu queria
sentar perto da água borbulhante e deixar meus dedos tocarem o ar ao redor e brincar
com a textura da musica, mas a voz me chamou de novo.
Zoey Redbird... me siga para o seu destino...
Então eu segui a corrente até o chamado da mulher. A caverna se estreitou até se
tornar um túnel arredondado. Eu segui as curvas, em uma espiral gentil, terminando
bruscamente numa parede que estava cheia de símbolos encravados que pareciam
familiares e alien ao mesmo tempo. Confusa, eu vi a corrente bater na parede e
desaparecer. E agora? Eu deveria seguir?
Eu olhei de volta para o túnel. Nada ali a não ser luzes dançantes. Eu me virei para a
parede e senti um choque elétrico. Whoa! Tinha uma mulher sentada com as pernas
cruzadas na frente da parede! Ela estava usando um vestido branco que estava cheio dos
mesmos símbolos que estavam na parede atrás dela. Ela era fantasticamente bonita, com
um cabelo longo e liso tão preto que parecia ter luzes azuis e púrpuras, como a asa de um
corvo. Os lábios dela se curvaram quando ela falou, enchendo o ar entre nós com o poder
prateado de sua voz.
Tsi-lu-gi U-we-tsi a-ge-hu-tsa. Bem vinda, Filha. Você fez muito bem.
Ela falou em Cherokee, e embora eu não praticasse a língua nos últimos anos eu
entendi as palavras.
“Você não é minha avó!” eu falei, me sentindo constrangida e deslocada enquanto
minhas palavras se juntavam a ela fazendo padrões de brilhantes flores no ar ao nosso
redor.
O sorriso dela era como o sol nascente.
Não, Filha, eu não sou, mas eu conheço Sylvia Redbird muito bem. Eu respirei fundo.
“Estou morta?”
Eu estava com medo dela rir de mim, mas ela não riu. Ao invés disso os olhos negros
dela eram suaves e preocupados.
Não, U-we-tsi a-ge-hu-tsa. Você está longe de estar morta, embora seu espírito
temporariamente tenho sido libertado para andar pelo reino de Nunne 'hi.
“As pessoas de espírito!” Eu olhei ao redor do túnel, tentando ver rostos entre as
sombras.
Sua avó te ensinou bem, u-s-ti Dotsu-wa... pequena Redbird. Você é uma única
mistura do Jeito Antigo e o Novo Mundo – um antigo sangue tribal e o coração dos
estrangeiros.
As palavras dela me fizeram sentir frio e calor ao mesmo tempo. “Quem é você?” eu
perguntei.
Eu sou conhecida por muitos nomes... Changing Woman, Gaea, A'akuluujjusi, Kuan
Yin, Grandmother Spider, e até mesmo Dawn...
Enquanto ela falava cada nome seu rosto era transformado então eu estava tonta
com o poder dela. Ela deve ter entendido, porque ela parou e sorriu para mim, e seu rosto
voltou para a mulher que eu vi primeiro.
Mas você, Zoeybird, minha Filha, pode me chamar pelo nome que seu mundo me
conhece hoje, Nyx.
“Nyx,” minha voz era quase um sussurro. “A deusa vampira?”
Na verdade, foram os gregos antigos tocados pela Mudança que me adoraram
primeiro como a mãe que eles procuraram em sua Noite sem fim. Eu fiquei satisfeita de
chamar os descendentes deles de meus filhos a muitos séculos. E, sim, no seu mundo
esses filhos são chamados de vampiros. Aceite o nome, U-we-tsi a-ge-hu-tsa;e você
encontrará seu destino.
Eu podia sentir a Marca queimando na minha testa, e de repente eu queria chorar.
“Eu- eu não entendo. Encontrar meu destino? Eu só quero encontrar um jeito de lidar com
a minha nova vida – de fazer tudo ficar bem. Deusa, eu só quero encontrar meu lugar. Eu
não acho que sou capaz de encontrar meu destino.”
O rosto da deusa ficou suave de novo, e quando ela falou a voz dela era como a da
minha mãe, mas mais – como se ela tivesse de algum jeito juntado todo o amor maternal
do mundo em suas palavras.
Acredite em si Zoey Redbird. Eu Marquei você como uma igual. Você será minha
primeira verdadeira U-we-tsi a-ge-hu-tsa vhna-i Sv-no-yi... Filha da noite... nessa época.
Você é especial. Aceite isso sobre si e você ira começar a entender que a um verdadeiro
poder em sua exclusividade. Em você é combinada o mágico sangue de antigas e Sábias
Mulheres e Anciões, assim como um profundo entendimento do mundo moderno.
A deusa levantou e andou graciosamente em minha direção, a voz dela fazendo
símbolos prateados de poder no ar ao nosso redor. Quando ela me alcançou ela limpou as
lagrimas da minha bochecha antes de colocar meu rosto em suas mãos.
Zoey Redbird, Filha da Noite, eu nomeio você meus olhos e ouvidos no mundo hoje,
um mundo onde bem e mal estão lutando para encontrar balanço.
“Mas eu tenho 16 anos! Eu nem consigo fazer baliza! Como eu vou saber ser seus
olhos e ouvidos?”
Ela apenas sorriu serenamente. Você é velha além da sua idade, Zoeybird. Acredite
em você mesma e você encontrara um jeito. Mas lembre-se, a escuridão nem sempre
equivale ao mal, assim como a luz nem sempre trás o bem.
Então a deusa Nyx, a antiga personificação da Noite, se inclinou e me beijo na testa.
E pela terceira vez naquele dia, eu desmaiei.

house of night - marcada (capitulo 4)


QUATRO
Então eu sentei na cama e tossi enquanto ouvia minha mãe fazer uma frenética
ligação para a linha de emergência do nosso psicólogo, seguida por outra igualmente
histérica ligação que iria ativar a árvore de rezas das Pessoas de Fé. Em 30 minutos nossa
casa começou a se encher com mulheres gordas e seus maridos pedofilos de olhos
pequenos. Eles me chamaram para a sala. Minha Marca seria considerada um Problema
Realmente Grande e Embaraçoso, então eles provavelmente me ungiriam com alguma
merda que com certeza ia entupir meus poros e uma espinha enorme antes deles
colocarem suas mãos em mim para rezar. Eles pediram a Deus para me ajudar a parar de
ser uma adolescente tão problemática e um problema para os meus pais. Oh, e o pequeno
problema da minha Marca tinha que ser resolvido também.
Se fosse tão simples. Eu com prazer faria um trato com Deus para ser uma boa
garota versus mudar de escola e espécie. Eu até faria o teste de geometria. Bem, ok.
Talvez não a prova de geometria – mas, ainda sim, não é como se eu tivesse pedido para
ser uma aberração. Essa coisa toda significava que eu iria ter que ir embora. O começo da
vida onde, em algum lugar, eu seria a novata. Algum lugar onde eu não tinha amigos. Eu
pisquei com força, me forçando a não chorar. A escola era o único lugar onde eu me
sentia em casa; meus amigos eram minha família. Eu apertei os pulsos e ergui a cabeça
para não chorar. Um passo de cada vez – vou lidar com isso um passo de cada vez.
Não tinha jeito deu lidar com clones do padrasto-perdedor além do tudo mais. E,
como se as Pessoas da Fé já não fossem ruim o suficiente, a terrível sessão de reza iria
ser seguida por uma igualmente irritante sessão com o Dr. Asher. Ele fazia muitas
perguntas sobre como isso e aquilo me faziam sentir. Então ele falava sobre raiva
adolescente e angustia e sobre como eram normal, mas que eu podia escolher como elas
teriam um impacto na minha vida... blá... blá... e já que isso era uma “emergência” ele
provavelmente iria querer que eu desenhasse algo que representasse minha criança
interior ou qualquer coisa assim.
Eu definitivamente tinha que sair daqui.
Que bom que eu sempre fui a “criança má” e sempre estive preparada para situações
como essa. Ok, eu não estava exatamente pensando sobre fugir de casa para me juntar
aos vampiros quando pus uma chave extra do meu carro de baixo do vaso de flor do lado
de fora da minha janela. Eu só estava considerando que eu poderia querer escapar e ir
para a casa de Kayla. Ou, se eu realmente quisesse ser má eu poderia me encontrar com
Heath no parque e me agarrar com ele. Mas então Heath começou a beber e eu comecei
a me transformar em uma vampira. Às vezes a vida não faz sentido nenhum.
Eu peguei minha mochila, abri a janela, e mais fácil que os sermões chatos do meu
padrasto-perdedor, eu sai pela janela. Eu pus meus óculos de sol e olhei ao redor. Era
apenas 4:30, e não estava escuro ainda, então eu estava feliz que a nossa cerca me
escondia dos nossos vizinhos. Desse lado da casa a outra única janela era do quarto da
minha irmã, e ela estava no treino das lideres de torcida. (O inferno deveria estar
congelando porque pela primeira vez na vida eu estava feliz por minha irmã estar
envolvida no que ela chamava de “esporte de torcer.”) Eu derrubei minha mochila
primeiro e então devagar desci pela janela, tomando cuidado para não fazer barulho
quando cheguei ao chão. Eu parei ali por vários minutos, enterrando meu rosto nos braços
para abafar o som da terrível tosse. Então me curvei em direção ao pote onde havia uma
planta de lavanda que a Vovó Redbird me deu, e deixei meus dedos encontrarem a chave
de metal que estava na grama.
O portão nem rangeu quando eu o abri um centímetro a la As panteras. Meu Bug
fofo estava onde sempre ficava – bem enfrente a nossa garagem. O padrasto-perdedor
não me deixava estacionar dentro porque ele disse que seu cortador de grama era mais
importante. (Mais importante que uma vintage VW? Como? Isso nem fazia sentido, droga,
eu acabei de soar como um garoto. Desde quando em importava com a vintage do meu
Bug? Eu devo mesmo estar Mudando.) Eu olhei para os dois lados. Nada. Eu fui para o
meu Bug, entrei, coloquei em ponto morto, e fiquei verdadeiramente agradecida por nossa
entrada ser ridiculamente longe quando meu maravilhoso carro andou silenciosamente e
suavemente pela rua. Dali eu fui para oeste e logo sai da rua das casas grandes e caras.
Eu nem olhei pelo espelho retrovisor.
Eu nem liguei meu telefone celular. Eu não queria falar com ninguém.
Não, isso não era exatamente verdade. Tinha uma pessoa que eu realmente queria
falar. Ela era a única pessoa no mundo que eu tive certeza que não ia olhar para minha
Marca e pensar que eu era um monstro ou uma aberração ou uma pessoa horrível.
Como se meu Bug pudesse ler minha mente ele pareceu virar sozinho na estrada que
levava para Muskogee Turnpike e, eventualmente, para o lugar mais maravilhoso do
mundo – a farmácia da minha Vovó Redbird.
Diferente do caminho da escola para casa, a viagem de uma hora e meia para a casa
da Vovó Redbird pareceu levar uma eternidade. Quando eu finalmente sai da estrada e
entrei na estrada de terra que levava para a casa da Vovó, meu corpo doía ainda mais do
que aquela vez que eles contrataram aquele professor maluco de Ed. Física que pensou
que deveríamos fazer oito circuitos enquanto ela balançava seu chicote para nós e ria. Ok,
então talvez ela não tivesse um chicote, mas ainda sim. Meus músculos doíam pra
caramba. Era quase seis horas e o sol finalmente estava começando a se por, mas meus
olhos ainda doíam. Na verdade, até mesmo a luz do sol fraca fazia minha pele formigar e
ficar estranha. O que me fez ficar feliz foi que era final de Outubro e finalmente tinha
ficado frio o suficiente para eu usar meu casaco da Borg Invason 4D (claro, é um Star
Trek: Next Generation que eu comprei numa viagem a vegar, e eu ocasionalmente na
época era uma grande fã), o que graças a Deus, cobria quase toda a minha pele. Antes de
eu sair do meu Bug eu procurei no banco traseiro meu velho boné para que ele cobrisse
meu rosto do sol.
A casa da minha avó ficava entre campos de flores e era protegido por grandes
carvalhos. Foi construída em 1942 pela pedra crua de Oklahoma, com uma confortável
varanda e janelas muito grandes. Eu amava essa casa. Só em subir os degraus que
levavam para a varanda me fez sentir melhor... segura. Então eu vi o bilhete no lado de
fora da porta. Era fácil reconhecer a letra bonita da Vovó Redbird: Estou no penhasco
pegando flores.
Eu toquei o papel com o suave cheiro de lavanda. Ela sempre sabia quando eu iria
visitar. Quando eu era criança eu achava isso estranho, mas quando fiquei mais velha eu
comecei a apreciar o senso extra que ela tinha. Toda minha vida eu soube que, não
importasse o que, eu poderia contar com a Vovó Redbird. Durante aqueles primeiros
meses horríveis quando mamãe casou com John eu acho que eu teria murchado e morrido
se não fosse para as escapas todo final de semana para a casa da vovó.
Por um segundo eu considerei entrar (Vovó nunca trancava a porta) e esperar por
ela, mas eu precisava ver ela, ter ela me abraçando e me dizer o que minha mãe deveria
dizer.
Não fique com medo... vai ficar tudo bem... eu vou fazer tudo ficar bem. Então ao
invés de entrar eu encontrei o pequeno caminho por entre o penhasco que me permitiria
achar ela e eu o segui, deixando a ponta dos meus dedos passar por entre as plantas mais
perto para que enquanto eu andasse elas liberassem um doce cheiro no ar ao meu redor
como se estivessem me dando boas vindas.
Parecia que fazia anos desde que eu estive aqui, embora eu soubesse que só faziam
4 semanas. John não gostava da vovó. Ele achava que ela era estranha. Eu até o ouvi
dizer a mamãe que a vovó era “uma bruxa que iria ser um problema.”
Então um pensamento incrível veio na minha mente enquanto eu parei
completamente. Meus pais não controlavam mais o que eu fazia. Eu nunca mais iria viver
com eles. John não podia mais me dizer o que fazer.
Whoa! Que incrível!
Tão incrível que tive um espasmo de tosse que me fez enrolar os braços ao meu
redor, como se eu estivesse tentando segurar meu peito. Eu precisava encontrar Vovó
Redbird, e eu precisava encontrar ela agora.

house of night - marcada (capitulo 3)


TRÊS
A primeira vista meu padrasto-perdedor, John Heifer, parece ser um cara ok, até
mesmo normal. (Sim, esse é realmente seu sobrenome –e, infelizmente, também é agora
o sobrenome da minha mãe. Ela é a Sra. Heifer. Dá pra acreditar nisso?). Quando ele e
minha mãe começaram a sair eu ouvi alguns dos meus amigos da minha mãe chamar ele
de “bonito” e “charmoso.” No começo. É claro que a mãe agora tem todo um novo grupo
de amigos agora, um que o Sr. Bonito e Charmoso acha mais apropriado que o grupo de
divertidas mulheres solteiras que ela costumava sair.
Eu nunca gostei dele. De verdade. Eu não estou dizendo isso agora só porque eu não
o suporto agora. Desde o primeiro dia que eu o conheci eu vi apenas uma coisa –
falsidade. Ele finge ser um cara legal. Ele finge ser um bom marido. Finge até mesmo ser
um bom pai.
Ele parecia como qualquer pai. Ele tem cabelo escuro, pernas magras, e está ficando
mais magro. Os olhos dele são como a alma dele, um limpo, frio de cor marrom.
Eu fui a sala de estar e o encontrei parado perto do sofá. Minha mãe estava parada
perto do fim dele, segurando as mãos dele. Os olhos dela já estavam vermelhos e
marejados. Ótimo. Ela ia bancar a machucada e histeria mãe. É uma atuação que ela faz
bem.
John tinha começado a tentar me espetar com seus olhos, mas minha Marca o
distraiu. O rosto dele se virou em desgosto.
“Fica atrás de mim, Satã!” ele citou no que eu gostava de pensar que era a sua voz
de sermão.
Eu suspirei. “Não é o Satã. É apenas eu.”
“Agora não é hora para sarcasmo, Zoey,” disse minha mãe.
“Eu cuido disso, querida,” disse o padrasto-perdedor, dando tapinhas no ombro dela
antes de virar sua atenção de volta para mim.
“Eu disse a você que seu mal comportamento e sua atitude problemática iriam ter
conseqüências. Eu não estou nem surpreso que isso aconteceu tão cedo.”
Eu balancei a cabeça. Eu esperava isso. Eu realmente esperava isso, e ainda sim era
um choque. O mundo inteiro sabia que não havia nada que alguém pudesse fazer para
trazer a Mudança. Todo o “se você é mordida por um vampiro você vai morrer e virar um”
era estritamente fictício. Os cientistas estavam tentando entender o que causa a
seqüência de efeitos físicos que leva ao vampirismo por anos, se eles descobrissem
poderiam conseguir uma cura, ou pelo menos inventar uma vacina. Até agora, não
tiveram sorte. Mas agora meu padrasto-perdedor, John Heifer, tinha de repente
descoberto que comportamento adolescente ruim – especificamente o meu mal
comportamento, o que consistia principalmente numa mentira ocasional, alguns
pensamentos irritados e comentários espertinhos dirigidos principalmente aos meus
parentes, e talvez alguma semi luxuria por Ashton Kutcher (é triste dizer que ele gosta de
mulheres mais velhas) – traziam esse tipo de mudança física no meu corpo. Bem, bem!
Quem diria?
“Isso não é algo que eu causei,” eu finalmente consegui dizer. “Isso não foi feito por
minha culpa. Foi feito comigo. Todos os cientistas do planeta concordam com isso.”
“Os cientistas não sabem de tudo. Eles não são homens de Deus.”
Eu apenas o encarei. Ele era um Ancião das Pessoas de Fé, uma posição que ele era
oh, tão orgulhoso. Era uma das razões do porque mamãe se sentia atraída por ele, e em
um sentido estritamente lógico eu podia entender por que. Ser um Ancião significava que
o homem tinha sucesso. Ele tinha o trabalho certo. Uma boa casa. A família perfeita. Ele
deveria fazer as coisas certas e acreditar no caminho certo. No papel ele deveria ser uma
ótima escolha para ser o novo marido e pai. Pena que o papel não mostra a história toda.
E agora, previsivelmente, ele iria bancar o Ancião e jogar Deus na minha cara. Eu aposto
que minhas novas botas Steve Madden não iriam irritar Deus tanto quanto ele me irritava.
Eu tentei de novo. “Estudamos isso na aula de biologia. É uma reação física que
acontece com alguns dos corpos dos adolescentes enquanto o níveis de hormônios
aumentam.” Eu parei, pensando bastante e totalmente orgulhosa de mim mesma por
lembrar de algo que aprendi no semestre passado. “Em certas pessoas os hormônios
dispara algum tipo de ou algo a... a...” eu pensei mais e lembrei: “um DNA viciado se
sobressai, o que começa a Mudança.” Eu sorri, não para John, mas porque estava feliz
pela minha habilidade de lembrar coisas de uma unidade que tínhamos acabado a meses.
Eu sabia que o sorriso era um era quando eu vi a mandíbula dele se apertando de maneira
familiar.
“O conhecimento de Deus ultrapassa o da ciência, e é uma blasfêmia você dizer ao
contrario, mocinha.”
“Eu nunca disse que cientistas eram mais espertos que Deus!” eu joguei minhas
mãos para cima e tentei segurar uma tosse. “Só estou tentando explicar essa coisa pra
você.”
“Eu não preciso ter nada explicado para mim por uma adolescente de 16 anos.”
Bem, ele estava usando uma daquelas calças muito ruins e uma camisa horrível.
Claramente ele precisava que algumas coisas fossem explicadas por uma adolescente,
mas eu não achei que fosse a hora certa para mencionar esse infeliz e obvio acidente de
moda.
“Mas John, querido, o que vamos fazer sobre ela? O que os vizinhos vão dizer?” O
rosto dela ficou ainda mais pálido mais do que quando ela tinha dado um pequeno soluço.
“O que as pessoas vão dizer na Reunião no domingo?”
Ele cerrou os olhos quando abri minha boca para responder, e me interrompeu antes
que eu pudesse falar.
“Vamos fazer o que uma família de Deus deveria fazer. Vamos deixar isso na mão de
Deus.”
Eles iam me mandar para um converto? Infelizmente, eu tive que lidar com outra
rodada de tosse, então ele continuou falando.
“Também vamos ligar para o Dr. Asher. Ele vai saber o que fazer para acalmar essa
situação.”
Maravilhoso. Fabuloso. Ele ia chamar nosso psicólogo de família, o Cara
Inacreditavelmente sem Expressão. Perfeito.
“Linda, ligue para o numero de emergência do Dr. Asher, e eu acho que seria sábio
ativar a árvore de telefone de oração. Se certifique que os outros Anciões saibam que tem
que se reunir aqui.”
Minha mãe acenou e começou a levantar, mas as palavras que saíram da minha boca
a fizeram voltar para o sofá.
“O que! Sua resposta é ligar para um psicólogo que não tem idéia de como lidar com
adolescentes e chamar todos aqueles estúpidos Anciões para virem aqui? Como se eles
fossem sequer tentar entender? Não! Você não entende? Eu tenho que ir embora. Hoje a
noite.” Eu tossi, de um jeito que fez meu peito doer. “Vê! Isso só vai piorar se eu não ficar
perto dos...” eu hesitei. Porque é tão difícil dizer “vampiros?” Porque soava tão estranho-e
finalmente, - parte de mim admitiu, tão fantástico. “Eu tenho que ir para a House of
Night.”
Mamãe pulou, e por um segundo eu achei que ela fosse me salvar. Então John pôs
seus braços ao redor dos ombros dela de forma possessiva. Ela olhou para ele e quando
olhou de volta para mim seus olhos pareciam quase pedir desculpas, mas as palavras
dela, tipicamente, refletiam apenas o que John iria querer que ela dissesse.
“Zoey, certamente não iria doer nada se você passasse a noite em casa?”
“É claro que não iria,” John disse para ela. “Tenho certeza que o Dr. Asher vai ver a
necessidade de uma consulta em casa. Com ele aqui ela ficara perfeita.” Ele bateu
levemente no ombro dela, fingindo ser atencioso, mas ao invés de doce ele soou fingido.
Eu olhei para ele e para minha mãe. Eles não iam me deixar ir embora. Não hoje a noite,
e talvez nunca, pelo menos até eu ter que ser atendida pelos paramédicos. Eu de repente
entendi que não era só sobre essa Marca ou o fato que a minha vida tinha mudado
completamente. Era sobre controle. Se eles me deixassem ir, de algum jeito eles iriam
perder. No caso da minha mãe, eu gostava de pensar que ela tinha medo de me perder.
Eu sabia que John não queria perder. Ele não gostava de perder sua preciosa autoridade e
a ilusão de que éramos todos uma família feliz. Como mamãe já tinha dito, o que os
vizinhos iam pensar – o que as pessoas iriam pensar na Reunião no domingo? John tinha
que preservar a ilusão, e se isso significasse me deixar muito, muito doente, bem então,
esse era um preço que ele estava disposto a pagar.
Mas eu não estava disposta a pagar isso.
Eu acho que era hora de colocar as coisas nas minhas próprias mãos (afinal de
conta, elas eram bem tratadas).
“Ótimo,” eu disse. “Chame o Dr. Asher. Comece a árvore de ligações pelo telefone.
Mas você se importa que eu vá deitar até todos chegarem aqui?” Eu tossi de novo para
fazer média.
“É claro que não, querida,” disse mamãe, parecendo obviamente aliviada. “Um
pequeno descanso provavelmente vai fazer você se sentir melhor.” Então ela se afastou
do braço possessivo de John. Ela sorriu e então me abraçou. “Você gostaria que eu
pegasse pra você um pouco de remédio pra tosse?”
“Não, estou bem,” eu disse, me agarrando a ela só por um segundo desejando com
tanta força que voltássemos a 3 anos atrás e ela ainda fosse minha – ainda estivesse do
meu lado. Então eu respirei fundo e me afastei. “Estou bem,” eu repeti.
Ela olhou para mim e acenou, me dizendo que ela sentia muito do único jeito que
podia, com os olhos.
Eu me afastei dela e comecei a voltar para o quaro. Para as minhas costas o meu
padrasto-perdedor disse, “e porque você não faz um favor a todos nós e vê se consegue
achar alguma maquiagem para esconder essa coisa na sua testa?”
Eu nem parei. Eu só continuei andando. E eu não ia chorar.
Eu vou lembrar disso, eu falei a mim mesma com firmeza. Eu vou lembrar do quão
horrível eles fizeram eu me sentir hoje. Então quando eu estiver assustada e sozinha e o
que mais for acontecer comigo, eu vou lembrar que nada poderia ser tão pior quanto ficar
presa aqui. Nada.

house of night - marcada (capitulo 2)


DOIS
Quando eu percebi que já tinha passado tempo suficiente para todos saírem da
escola, eu pus meu cabelo por cima da minha testa e sai do banheiro, correndo para as
portas que levavam para o estacionamento dos estudantes. Tudo parecia limpo – só tinha
um garoto usando uma daquelas calças com o cós super baixo seriamente nada atraentes
que ficavam quase nas pernas dele. Impedir essa calça de cair enquanto ele andava
parecia exigir sua concentração; ele não me notaria. Eu cerrei meus dentes por causa
daquela calça caída e sai pela porta, me dirigindo para o meu pequeno Bug.
No momento que eu pisei na rua o sol começou a me incomodar. Eu quero dizer, não
era um dia particularmente ensolarado; tinha muitas daquelas nuvens grandes e grossas,
que pareciam tão bonitas em fotos, bloqueando o sol em parte. Mas isso não importava.
Eu tive que apertar meus olhos dolorosamente e levantar minhas mãos enquanto eu fazia
de conta que elas bloqueavam o sol e aquela luz. Eu acho que foi porque eu estava focada
na dor que a luz do sol estava me causando que eu não notei a picape até que ela fez
uma parada barulhenta na minha frente.
“Hey Zo! Você recebeu minha mensagem?”
Oh merda, merda, merda! Era Heath. Eu olhei para cima, olhando para ele através
dos meus dedos como se fosse um daqueles estúpidos filmes de luta. Ele estava sentado
na caçamba aberta da picape do seu amigo Dustin. Por cima do ombro dele eu pude ver
na cabine da picape onde Dustian e seu irmão, Drew, estavam fazendo o que
normalmente fazer – brigando e discutindo sobre só Deus sabe que coisa estúpida de
homens. Graças a Deus, eles estavam me ignorando. Eu olhei de volta para Heath e
suspirei. Ele tinha uma cerveja na mão e um sorriso bobo no rosto. Momentaneamente
esquecendo que eu tinha acabado de ser Marcada e estava destina a me tornar uma
sugadora de sangue excluída e monstruosa, eu olhei para Heath com cara feia.
“Você está bebendo na escola! Você está louco?”
O sorriso bobo dele ficou maior. “Sim eu estou louco, por você, baby!”
Eu balancei a cabeça enquanto virava minhas costas para ele, abrindo a porta do
meu Bug e empurrando meus livros e mochila no banco da passageiro.
“Porque vocês não estão no treino de futebol?” eu disse, ainda mantendo meu rosto
longe dele.
“Você não soube? Temos o dia de folga por causa da surra que demos no Union na
sexta!”
Dustin e Drew, que meio que estavam prestando atenção em Heath e eu afinal de
contas, deram alguns gritos de “Whooo-hooo!” e “Yeah!” de dentro da picape.
“Oh.Uh.Não. Eu devo ter perdido o anuncio. Eu estive ocupada hoje. Você sabe,
super teste de geometria amanha.” Eu tentei soar normal e indiferente. E então eu
acrescente, “Além do mais, estou ficando doente.”
“Zo, fala a verdade. Você está fula ou algo assim? Tipo, a Kayla disse alguma merda
sobre a festa? Você sabe que eu não te trai.”
Huh? Kayla não tinha dito uma palavra sobre Heaht ter me traído. Como uma idiota,
eu esqueci (ok, temporariamente) da minha nova Marca. Minha cabeça virou para que eu
pudesse olhar para ele.
“O que você fez, Heath?”
“Zo, eu? Você sabe que eu não...” mas seu fingimento inocente desapareceu quando
a boca dele abriu de forma nada atraente assim que ele pôs olhos na minha Marca. “O
que –“ ele começou a dizer, mas eu o cortei.
“Shh!” eu virei minha cabeça na direção de Dustin e Drew que ainda não sabiam de
nada, e que agora estavam cantando a plenos pulmões uma das musicas do ultimo CD de
Toby Keith.
Os olhos de Heath ainda estavam abertos e chocados, mas ele baixou a voz. “Isso é
algum tipo de maquiagem que você está fazendo para a aula de teatro?”
“Não,” eu sussurrei. “Não é.”
“Mas você não pode ser Marcada. Estamos saindo.”
“Não estamos saindo!” E bem assim meu breve alivio da tosse terminou. Eu
praticamente me dobrei, dando uma seria e nojenta tossida.
“Hey,Zo!” Dustin me chamou da cabine. “Você tem que diminuir os cigarros.”
“É, parece que você vai tossir um pulmão ou algo assim,” Drew disse.
“Cara! Deixa ela em paz. Você sabe que ela não fuma. Ela é uma vampira.”
Ótimo. Maravilhoso. Heath, com a sua usual falta de qualquer coisa parecendo bom
senso, acho que estava me defendendo enquanto gritava com seus amigos, que
instantaneamente colocaram suas cabeças para fora da cabine e olharam para mim como
se eu fosse um experimento cientifico.
“Bem, merda. Zoey é uma aberração fudida!” Drew disse.
As palavras insensíveis de Drew fizeram a raiva que eu estava mantendo em meu
peito desde que Kayla tinha chorado ferver. Ignorando a dor que a luz do sol estava me
causando, eu olhei diretamente para Drew, o olhando nos olhos.
“Cala essa tua boca! Eu tive um péssimo dia e eu não preciso dessa merda vinda de
você.” Eu pausei para olhar do agora assustado e silencioso Drew para Dustin e
acrescentei, “Ou de você.”
Enquanto mantive contato visual com Dustin eu percebi algo – algo que me chocou e
me fez ficar estranhamente excitada: Dustin parecia assustado. Realmente assustado. Eu
olhei de volta para Drew. Ele parecia assustado, também. Então eu senti. Uma sensação
de formigamento que subiu pela minha pele e fez a minha Marca queimar.
Poder. Eu senti poder.
“Zo? Que diabos?” A voz de Heath quebrou minha atenção e tirou meu olhar dos
irmãos.
“Estamos saindo daqui!” Dustin disse, passando a marcha e pisando no acelerador. A
picape se lançou para frente, fazendo Heath perder o equilíbrio e deslizar, com um
movimento dos braços e a cerveja voando, no asfalto do estacionamento.
Automaticamente, eu corri para a direção dele. “Você está bem?” Heath estava de
quatro, e eu me curvei para ajudar ele a se levantar.
Então eu senti o cheiro. Algo cheirava muito bem – quente e doce e delicioso.
Heath estava usando uma colônia nova? Uma daquelas coisas estranhas cheias de
feromônios que deveriam atrair mulheres como uma grande e engenhosa armadilha de
mosquito? Eu não percebi o quanto estava perto dele até que ele levantou e nossos
corpos estivessem praticamente pressionados juntos. Ele me olhou, seus olhos
questionadores. Eu não me afastei. Eu deveria. Eu teria me afastando antes... mas agora
não. Não hoje.
“Zo?” ele disse suavemente, a voz dele profunda e rouca.
“Você está cheirando muito bem,” eu não consegui me impedir de dizer. Meu coração
estava batendo tão alto que eu podia ouvir o eco dele em minhas palpitantes têmporas.
“Zoey, eu senti sua falta. Precisamos voltar. Você sabe que eu te amo.” Ele levantou
a mão para tocar no meu rosto e nós dois notamos o sangue que saia da palma da mão
dele. “Ah, merda. Eu acho que-” a voz dele parou quando ele olhou para o meu rosto. Eu
só podia imaginar como eu parecia, com meu rosto todo branco, minha nova Marca feita
com um azul safira, e meus olhos encarando o sangue na mão dele. Eu não podia me
mover; eu não podia olhar para longe.
“Eu quero...” eu sussurrei. “Eu quero...” o que eu queria? Eu não conseguia colocar
em palavras. Não, não era isso. Eu não iria colocar em palavras. Não dizer permitia aquela
explosão de desejo que estava tentando me sugar. E não era porque Heath estava tão
perto. Ele tinha estado perto de mim antes. Bem, estivemos ficando por alguns anos, mas
ele nunca me fez sentir desse jeito – nunca nem perto disso. Eu mordi meus lábios e
gemi.
A picape parou no estacionamento, no nosso lado. Drew saiu e agarrou Heath pela
cintura, e o empurrou de volta para a caçamba.
“Pare com isso! Estou falando com Zoey!”
Heath tentou lutar contra Drew, mas esse cara era o linebacker* (*posição no
futebol americano), e era enorme, então Dustian ajudou e empurrou a porta da picape.
“Deixe ele em paz, sua aberração!” Drew gritou para mim enquanto Dustin acelerava
a picape e aumentava a velocidade.
Eu entrei no meu Bug. Minhas mãos tremiam tanto que eu tive tentar três vez antes
deu ligar o carro.
“Apenas vá para casa. Apenas vá pra casa.” Eu disse as palavras de novo e de novo
entre a tosse enquanto eu dirigia. Eu não pensava sobre o que tinha acabado de
acontecer. Eu não podia pensar sobre o que tinha acontecido.
O caminho para casa levou 15 minutos, mas pareceu passar num piscar de olhos.
Rápido demais. Muito rápido eu estava parada na entrada da garagem, tentando me
preparar para a cena que eu conhecia, tão certo quanto um raio seguir um trovão, que
estava esperando para mim lá dentro.
Porque eu fiquei tão ansiosa para chegar aqui? Eu suponho que tecnicamente não
tenha ficado tão ansiosa. Eu suponho que eu só estava fugindo do que tinha acontecido
com Heath.
Não! Eu não ia falar sobre isso agora. E, de qualquer jeito, tinha provavelmente
algum tipo de explicação racional para tudo, uma racional e simples explicação. Dustin e
Drew eram retardados – totalmente imaturos cérebros-de-cerveja. Eu não tinha usado um
novo poder esquisito para intimidar eles. Eles só estavam apavorados porque eu tinha
acabado de ser Marcada. Era isso. Eu quero dizer, pessoas tinham medo de vampiros.
“Mas eu não sou uma vampira,” eu disse. Então eu tossi enquanto lembrava do quão
hipnoticamente lindo tinha sido o sangue de Heath, e a onda de desejo que eu senti por
ele. Não por Heath, mas pelo sangue de Heath.
Não! Não! Não! Sangue não era lindo ou desejoso. Eu deveria estar choque. Era isso.
Tinha que ser esse. Eu estava em choque e não estava pensando direito. Ok... ok... sem
pensar, eu toquei na minha testa. Tinha parado de queimar, mas eu ainda me sentia
diferente. Eu tossi um zilhão de vezes. Ótimo. Eu não ia pensar sobre Heath, mas eu não
podia mais negar. Eu me sentia diferente. Minha pele estava ultra sensível. Meu peito
queimava, e mesmo usando meus óculos de sol Maui Jim, meus olhos continuavam a
lacrimejar dolorosamente.
“Estou morrendo...” eu gemi, e então fechei meus lábios. Eu posso estar morrendo.
Eu olhei para a casa que, depois de 3 anos, ainda não parecia um lar. “Supere. Só supere
isso.” Pelo menos minha irmã não estaria em casa ainda – treino das lideres de torcida.
Esperançosamente, o troll poderia estar hipnotizando com seu novo vídeo game Delta
Force: Black Hawk Down (um... ew). Eu poderia ter a mamãe para mim. Talvez ela
entendesse... talvez ela soubesse o que fazer...
Ah, diabos! Eu tinha 16 anos, mas eu de repente percebi que eu não queria nada
tanto quanto eu queria minha mãe.
“Por favor deixe ela entender,” eu sussurrei com uma simples reza para qualquer que
fosse o deus ou deusa que pudesse estar ouvindo. Como sempre, eu entrei pela garagem.
Eu andei pelo corredor para o meu quarto e joguei meu livro de geometria, bolsa, e
mochila na minha cama. Então eu respirei fundo e fui, um pouco tremula, encontrar
minha mãe.
Ela estava na sala de estar, sentada na ponta do sofá, tomando um copo de café e
lendo “Sopa de galinha para a alma de uma mulher.” Ela parecia tão normal, tanto quanto
ela parecia antes. Com exceção que ela costumava ler romances exóticos e usava
maquiagem. Os dois eram coisas que seu novo marido não permitia (que idiota).
“Mãe?”
“Hum?” Ela não olhou para mim.
Eu engoli com força. “Mama.” Eu usei o nome que eu costumava chamar ela, antes
dela casar com John. “Eu preciso da sua ajuda.”
Eu não sabia se foi o uso inesperado do “Mama” ou algo em minha voz que tocou um
velho pedaço da intuição de mãe que ela ainda tinha em algum lugar dentro dela, mas os
olhos que ela levantou imediatamente do livro eram suaves e cheios de preocupação.
“O que foi, baby-“ ela começou, e então suas palavras pareceram congelar em seus
lábios e os olhos dela viram a Marca na minha testa.
“Oh, Deus! O que foi que você fez?”
Meu coração começou a doer de novo. “Mãe, eu não fiz nada. Isso é algo que
aconteceu comigo, não por minha culpa. Isso não é minha culpa.”
“Oh, por favor, não!” ela disse como se eu não tivesse pronunciado uma palavra. “O
que o teu pai vai dizer?”
Eu queria gritar “como diabos qualquer um de nós ia saber isso, não vemos ou
ouvimos sobre ele em 14 anos!” mas eu sabia que não faria bem nenhum, e sempre só a
fazia ficar irritada ao lembrar a ela que John não era meu “verdadeiro” pai. Então eu
tentei uma tática diferente – um que eu tinha desistido três anos só atrás.
“Mama, por favor. Você pode só não falar pra ele? Pelo menos por um dia ou dois?
Só mantenha entre nós duas até que... eu não sei... a gente se acostumar ou algo assim.”
Eu segurei o fôlego.
“Mas o que eu diria? Nem podemos cobrir isso com maquiagem.” Os lábios dela se
curvaram enquanto ela dava um olhar nervoso para a lua crescente.
“Mãe, eu não quis dizer que eu ia ficar aqui enquanto nos acostumamos. Eu tenho
que ir; você sabe disso.” Eu pausei enquanto uma enorme tosse fez meu ombro tremer.
“Aquele Rastreador me Marcou. Eu tenho que me mudar para a House of Night ou então
só vou ficar cada vez mais doente.” E então morrer, eu tentei dizer a ela com meus olhos.
Eu não podia dizer as palavras. “Eu só quero alguns dias antes de quer que lidar com...”
Eu parei para não ter que dizer o nome dele, dessa vez propositalmente me fazendo
tossir, o que não era difícil.
“O que eu contaria para o teu pai?”
Eu senti uma onda de medo com o pânico na voz dela. Ela não era minha mãe? Ela
não deveria ter as respostas para tudo?
“Só... só diga a ele que eu vou passar os próximos dias na casa de Kayla porque
temos um grande projeto de biologia atrasado.”
Eu vi os olhos da minha mãe mudarem. A preocupação sumiu e foi substituída pela
dureza que eu conhecia bem demais.
“Então o que você está dizendo é que você quer que eu minta para ele.”
“Não, mãe. O que eu estou dizendo é que eu quero que você, pelo menos uma vez,
coloque minhas necessidades antes das dele. Eu quero que você seja minha mamãe. Me
ajude a fazer as malas e me leve para essa nova escola porque eu estou assustada e
doente e não sei se posso fazer tudo sozinha!” Eu terminei com pressa, respirando com
força e tossindo na mão.
“Eu não estava ciente que parei de ser sua mãe,” ela disse friamente.
Ela me fez sentir ainda mais cansada do que Kayla tinha. Eu suspirei. “Eu acho que
esse é o problema, mãe. Você não se importa o suficiente para perceber. Você não se
importa com nada a não ser John desde que você casou com ele.”
Os olhos dela se estreitaram para mim. “Eu não sei como você pode ser tão egoísta.
Você não percebe tudo que ele fez para nós? Por causa dele eu me demiti daquele
horrível emprego em Dillards. Por causa dele não temos que nos preocupar com dinheiro
e temos essa grande, e maravilhosa casa. Por causa deles temos segurança e um grande
futuro.”
Eu ouvia essas palavras tantas vezes que eu podia recitar elas com ela. Era nessa
parte da não-conversa que eu normalmente me desculpava e voltava para o meu quarto.
Mas hoje eu não podia pedir desculpas. Hoje era diferente. Tudo era diferente.
“Não, mãe. A verdade é que por causa dele você não prestou atenção nos seus filhos
nos últimos 3 anos. Você sabia que sua filha mais velha se tornou uma mimada vadia que
transou com metade do time de futebol? Você sabe que nojento e sanguinário vídeo game
o Kevin mantém escondido de você? Não, é claro que não! Os dois fingem estar felizes e
fingem gostar de John e toda aquele faz de conta da família, então você sorri para eles e
reza por eles e os deixar fazer qualquer coisa. E eu? Você acha que eu sou má porque eu
não finjo – porque eu sou honesta. Quer saber? Eu estou tão cansada da minha vida que
eu estou feliz que o Rastreador me Marcou! Eles chamam aquela escola de vampiros de
House of Night (Casa da noite) mas não pode ser mais escura que essa casa perfeita!”
Antes que eu pudesse começar a chorar ou gritar eu me virei e fui em direção ao meu
quarto, batendo a porta atrás de mim.
“Eu espero que todos se afogue.”
Através daquelas paredes muito finas eu podia ouvir ela fazendo uma ligação
histérica para John. Não havia duvidas que ele iria correndo para casa lidar comigo. O
Problema. Ao invés de sentar na cama e chorar como eu estava tentada, eu tirei as
merdas da escola da minha mochila. Como se eu precisasse daquela merda onde eu
estava indo? Eles provavelmente nem tem aulas normais. Eles provavelmente tinham
aulas de como arrancar a garganta das pessoas e... e... e introdução de como ver no
escuro.
Não importava o que minha fez ou não fez, eu não podia ficar aqui. Eu tinha que ir
embora.
Então o que eu precisava levar comigo?
Meu par favorito de jeans, além do que eu já tinha. Um par de camisetas pretas. Eu
quero dizer, o que mais vampiros usam? Além do mais, eles são magros. Eu quase não
levei minha camiseta cor de água, mas todo aquele preto estava me fazendo mais e mais
deprimida... então eu a coloquei. Então eu enfiei dezenas de sutiãs e calcinhas e coisas de
maquiagem dentro de uma necesseir. Eu quase deixei meu bicho de pelúcia, Otis os
peixes (não podia dizer peixe quando tinha dois), no meu travesseiro, mas... bem...
vampira ou não, não podia dormir muito bem sem ele. Então eu o coloquei dentro da
porcaria da mochila.
Então ouvi a batida na porta, e a voz dele me chamando.
“O que?” eu gritei, então comecei a tossir muito.
“Zoey. Sua mãe e eu precisamos falar com você.”
Ótimo. Claramente eles não se afogaram.
Eu dei um tapinha em Otis o peixes. “Otis, isso é uma merda.” Eu arrumei meu
ombro, tossi de novo, e fui enfrentar o inimigo.

academia de vampiros - beijo das sombras (capitulo 12)


Doze
O sono veio relutantemente aquela noite e eu me agitei e me mexi durante um longo tempo
antes de finalmente adormecer.
Mais ou menos uma hora depois, eu me sentei na cama, tentando relaxar e absorver as
emoções vindo para mim. Lissa. Com medo e chateada. Desestabilizada. Os eventos da noite
de repente vieram correndo de volta pra mim enquanto eu pansava sobre o que poderia estar
incomodado ela. A rainha havia humilhado ela. Mia. Talvez até o Christian – ele poderia ter
encontrado ela até onde eu sabia.
No entanto... nenhum desses era um problema no momento. Enterrado nela, havia algo mais.
Algo terrivelmente errado.
Eu sai da cama, me vesti apressadamente, e considerei minhas opções. Eu tinha um quarto no
terceiro andar agora – muito alto para descer, particularmente agora que eu não tinha a Sr.
Karp para me concertar desta vez. Eu nunca seria capaz de escapulir para fora do hall principal.
Então só restava os canais “apropriados”.
“Onde você acha que está indo?”
Uma das matronas que supervisionavam o hall olhou para cima da sua cadeira. Ela estava
sentada estacionada no fim do hall, perto das escadas que iam para baixo. Durante o dia, as
escadas não tinham supervisão. A noite, nós podíamos muito bem estar na prisão.
Eu cruzei meus braços. “Eu preciso ver Dim – O guardão Belikov.”
“É tarde.”
“É uma emergência.”
Ela me olhou de cima abaixo. “Você me parece estar bem.”
“Você vai estar com tantos problemas amanhã quando todo mundo descobrir que você me
impediu de reportar o que eu sei.”
“Me diga.”
“É uma coisa privada dos Guardiões.”
Eu encarei ela o máximo que eu consegui. Deve ter funcionado, porque ela finalmente
levantou e pegou um telefone celular. Ela chamou alguém – Dimitri, eu esperava – mas
murmurou muito baixo para que eu pudesse ouvir. Nós esperamos vários minutos, e então a
porta que levava as escadas abriu. Dimitri apareceu, totalmente vestido e alerta, embora eu
tivesse certeza que nós o tínhamos tirado da cama.
Ele me olhou uma vez. “Lissa.”
Eu acenei.
Sem qualquer outra palavra, nós demos a volta e começamos a descer as escadas. Eu o segui.
Nós andamos através da quadra em silencia, até o imponente dormitório dos Moroi. Era
‘noite’ para os vampiros, o que significa que era dia para o resto do mundo. O sol do meio-dia
brilhava com luzes douradas e frias em nós.
Os genes humanos em mim deram boas vindas aquilo e sempre meio que lamentavam como
os Moroi eram sensíveis a luz, forçando a gente a viver na escuridão na maior parte do tempo.
A matrona do Hall de Lissa pasmou quando nós aparecemos, mas Dimitri era muito
intimidante para se opor. “Ela está no banheiro,” eu disse a eles. Quando a enfermeira
começou a me seguir para dentro, eu não a impedi. “Ela está muito chateada. Me deixe falar
com ela sozinha, primeiro.”
Dimitri considerou. “Sim. Dê a elas um minuto.”
Eu abri a porta.
“Liss?”
Um som suave, como um soluço, veio de dentro. Eu andei 5 e encontrei o que estava fechado.
Eu bati delicadamente.
“Me deixe entrar,” eu disse, esperando que eu soasse calma e forte.
Eu ouvi uma fungada, e alguns momentos depois, a porta se abriu. Eu não estava preparada
para o que eu vi. Lissa estava na minha frente...
... coberta de sangue.
Horrorizada, eu deu um guincho e quase gritei por ajuda. Olhando mais de perto, eu vi que
muito daquele sangue não estava realmente vindo dela. Estava untado nela, como se tivesse
estado em sua mão e ela tivesse esfregado seu rosto. Ela se afundou no chão, e eu me ajoelhei
diante dela.
“Você está bem?” eu sussurrei. “O que aconteceu?”
Ela apenas balançou sua cabeça, mas eu vi seu rosto se enrugar quando ela derramou mais
lagrimas. Eu peguei as mãos dela.
“Vem. Vamos limpar você – “
Eu parei. Ela estava sangrando afinal de contas. Linhas perfeitas atravessavam seus pulsos,
nem perto de nenhuma veia crucial, mas o suficiente pra deixar traços molhados e vermelhos
pela sua pele. Ela não tinha atingido nenhuma veia quando ela fez isso; a morte não era seu
objetivo. Ela encontrou meus olhos.
“Eu sinto muito... eu não queria... por favor não deixe eles saberem...” disse soluçando.
“Quando eu vi aquilo, eu me apavorei.”
Ela acenou com a cabeça para os seus pulsos. “Isso aconteceu antes que eu pudesse impedir.
Eu estava chateada...”
“Está tudo bem,” eu disse automaticamente, imaginando o que “aquilo” era. “Vamos.”
Eu ouvi uma batida na porta. “Rose?”
“Só um segundo,” eu respondi.
Eu a levei até a pia,e limpei o sangue dos seus pulsos. Pegando o primeiro kit de primeiros
socorros, eu pus alguns Band-Aids nos cortes. O sangramento já tinha diminuído.
“Nós estamos entrando,” falou a matrona.
Eu tirei meu casaco e rapidamente entreguei pra Lissa. Ela tinha acabado de colocar quando
Dimitri e a matrona entraram. Ele correu para o nosso lado em um instante, e eu percebi que
ao esconder o sangue dos pulsos de Lissa, eu esqueci do sangue no seu rosto.
“Não é meu,” ela disse rapidamente, vendo a expressão dele. “É... é do coelho...”
Dimitri avaliou ela, e eu esperei que ele não olhasse para os pulsos dela. Quando ele estar
satisfeito em ver que ela não tinha ferimentos, ele perguntou, “Que coelhos?” Eu estava
imaginando a mesma coisa.
Com as mãos tremendo, ela apontou para a lata de lixo. “Eu limpei. Para que a Natalie não
visse.”
Dimitri e eu ambos andamos e espiamos dentro da lata. Eu me puxei para longe
imediatamente, engolindo a necessidade do meu estomago de vomitar. Eu não sei como Lissa
sabia que era um coelho. Tudo o que eu podia ver era sangue. Sangue e toalhas de papel
encharcadas de sangue. O cheiro era horrível.
Dimitri foi para mais perto de Lissa, se abaixando até que eles estivessem no mesmo nível de
contato visual. “Me diga o que aconteceu.” Ele entregou a ela vários lenços.
“Eu voltei a mais ou menos uma hora. E estava aqui. Bem ali no meio do chão. Destruido. Foi
como se ele tivesse...explodido,” Ela fungou. “Eu não queria que a Natalie o encontrasse, não
queria assustá-la... então eu – eu limpei tudo. Então eu simplesmente não podia... não podia
voltar...”Ela começou a chorar, e os ombros dela tremeram.
Eu podia adivinhar o resto, a parte que ela não contou a Dimitri. Ela encontrou o coelho,
limpou tudo, e enlouqueceu. Então ela se cortou, esse era o jeito esquisito que ela lidava com
as coisas que a deixavam chateada.
“Ninguém deveria ser capaz de entrar nesses dormitórios!” – exclamou a matrona. “Como isso
está acontecendo?”
“Você sabe quem fez isso?” A voz de Dimitri era gentil.
Lissa pos a mão dentro dos bolsos do seu pijama e puxou um pedaço de papel amassado.
Tinha tanto sangue encharcado naquilo, eu mal podia ler quando ele o segurou desamassou.
Eu sei o que você é. Você não vai sobreviver estando aqui. Eu vou me certificar disso. Vá
embora agora. É o único jeito que você talvez possa sobreviver a isso.
O choque da matrona se transformou em algo mais determinado, e ela caminhou para a porta.
“Eu vou buscar Ellen.” Levou um segundo para mim lembrar que esse era o primeiro nome da
Kirova.
“Diga a ela que estaremos na clinica,” disse DImitri. Quando ela saiu, ele se virou pra Lissa.
“Você deveria se deitar.”
Quando ela não se moveu, eu liguei os meus braços nos dela. “Vem, Liss. Vamos sair daqui.”
Devagar, ela colocou um pé na frente do outro, e nós deixou guia-la até a clinica medica da
Academia. Ela estava normalmente dirigida por alguns doutores, mas a essa hora da noite,
apenas uma enfermeira estava atendendo. Ela se ofereceu para acordar um dos doutores, mas
Dimitri recusou. “Ela só precisa descansar.”
Lissa tinha acabado de se esticar na estreita cama, quando Kirova e alguns outros apareceram
e começaram a fazer perguntas.
Eu me meti na frente deles, bloqueando ela. “Deixei ela em paz! Vocês não podem ver que ela
não quer falar sobre isso? Deixem ela dormir um pouco primeiro!”
“Srta Hathaway,” recusou Kirova, “você está fora da linha como sempre. Eu nem sei o que você
está fazendo aqui.”
Dimitri perguntou se ele podia falar com ela em particular e a levou para o Hall. Eu ouvi
sussurros irritados dela, calmos e firmes vindo dele. Quando eles voltaram, ela disse
duramente, “Você pode ficar com ela por algum tempo. Nós vamos fazer com que os zeladores
limpem e uma investigação no banheiro e na sala, Srta. Dragomir, e então discutiremos a
situação com detalhes pela manhã.”
“Não acordem a Natalie,” sussurrou Lissa. “Eu não quero assustá-la. Eu limpei tudo no quarto
de qualquer forma.”
Kirova parecia duvidar. O grupo recuou mas não antes da enfermeira perguntar se Lissa queria
algo pra comer ou beber. Ela recusou. Quando nós finalmente estávamos sozinhas, eu deitei
junto dela e coloquei meu braço ao redor dela.
“Eu não vou deixar eles descobrirem,’ eu disse a ela, sentindo a preocupação dela por causa
dos pulsos.”Mas eu esperava que você tivesse me dito antes deu sair da recepção. Você disse
que sempre viria a mim primeiro.”
“Eu não ia fazer naquela hora,” ela disse, os olhos dela encarando o nada.” Eu juro, eu não ia.
Quer dizer, eu estava chateada...mas eu pensei... eu pensei que eu podia lidar com aquilo. Eu
estava tentando tanto... de verdade, Rose. Eu estava. Mas então eu voltei pro meu quarto, e
eu vi aquilo, e eu... simplesmente perdi a cabeça. Foi como a última gota, sabe? E eu sabia que
eu tinha que limpar. Tinha que limpar antes que eles vissem, antes que eles descobrissem, mas
tinha tanto sangue... e depois, depois que tudo estava feito, foi demais, e eu senti como se eu
fosse... eu não sei...explodir, e era simplesmente demais, eu tinha que deixar sair, entende? Eu
tinha –“
Eu interrompi a histeria dela. “Está tudo bem, eu entendo.”
Aquilo era uma mentira. Eu não entendia porque ela se cortava. Ela fazia aquilo
esporadicamente, desde o acidente, e me assustava toda vez. Ela tentou explicar pra mim,
como ela não queria morrer – ela só precisava tirar aquilo fora de algum jeito. Ela se sentia tão
emocional, que ela dizia que era uma saída – dor física - era a única coisa que a fazia a dor
interna ir embora. Era o único jeito que ela podia controlar aquilo.
“Porque isso está acontecendo?” ela chorou no seu travesseiro. “Porque eu sou uma
aberração?”
‘Você não é uma aberração.”
“Mas ninguém tem isso acontecendo com eles. Mais ninguém faz mágica do jeito que eu faço.”
‘Você tentou fazer mágica?” Sem resposta. “Liss? Você tentou curar o coelho?”
]
“Eu o segurei, só para ver se talvez eu poderia curá-lo, mas tinha muito sangue ... eu não
consegui.”
Quanto mais ela usava, pior ela ficava. Pare ela, Rose.
“Lissa estava certa. A mágica Moroi podia conjurar água e fogo, mover pedras e outros
pedaços de terra. Mas ninguém podia curar ou trazer de volta a vida animais mortos. Ninguem
exceto a Sra. Karp.
Pare ela antes que eles notem, antes que eles notem e a levem embora também. Leve ela
embora daqui.
Eu odiava carregar esse segredo, principalmente porque eu não sabia o que fazer sobre isso.
Eu não gostava de me sentir impotente. Eu precisava proteger ela disso – e dela mesma. E
ainda sim, ao mesmo tempo, eu precisa proteger ela deles, também.
“Nós deveríamos ir,” eu disse de repente. “Nós vamos embora.”
“Rose-“
“Está acontecendo de novo. E está pior. Pior que da última vez.“
“Você está com medo do bilhete.”
“Eu não estou com medo de bilhete nenhum. Mas esse lugar não é seguro.”
Eu de repente desejei por Portland novamente. Pode ser mais sujo e mais lotado que a
acidentada paisagem de Montana, mas pelo menos você sabe o que esperar – diferentemente
do que acontece aqui. Aqui na Academia, passado e presente se juntavam. Pode ter esses
lindos jardins e paredes antigas, mas por dentro, coisas modernas estão entrando sem ser
notadas. As pessoas não sabiam como lidar com isso. Era igual aos próprios Moroi. As famílias
reais ainda mantinham o poder na superfície, mas as pessoas estavam ficando descontentes.
Dharmpirs que queriam mais das suas vidas. Moroi como Christian que queriam lutar contra os
Strigoi. A realeza ainda se apoiava em suas tradições, ainda angariando poder sobre todos,
assim como os portões de ferro da Academia eram uma demonstração de tradição e
invencibilidade.
E, oh, as mentiras e os segredos. Eles correm por esses halls e se escondem nos cantos.
Alguém aqui, odiava Lissa, alguém que provavelmente sorria pra ela e fingia ser sua amiga. Eu
não podia deixar eles a destruírem.
“Você precisa dormir um pouco,” eu disse a ela.
“Eu não posso dormir.”
“Sim, você pode. Eu estou bem aqui.Você não estará sozinha.”
Ansiedade e medo e outras emoções problemáticas percorreram através dela. Mas no final, as
necessidades do corpo dela ganharam. Depois de um tempo, eu vi os olhos dela se fecharem.
A respiração dela ficou igual, e a ligação cresceu silenciosa.
Eu a vi dormir, muito cheia de adrenalina pra me permitir algum descanso. Eu acho que talvez
uma hora tinha passado quando a enfermeira voltou e me disse que eu tinha que sair.
“Eu não posso ir,” eu disse. “Eu prometi a ela que ela não ficaria sozinha.”
A enfermeira era alta, mesmo para uma Moroi, com olhos gentis e marrons. “Ela não ficará. Eu
vou ficar com ela.”
Eu considerei o discurso dela.
‘Eu prometo.”
De volta ao meu quarto, eu tive meu próprio surto. O medo e a excitação tinham me exaurido,
e por um instante, eu desejei poder ter uma vida normal e uma melhor amiga normal.
Imediatamente, eu lancei esse pensamento pra fora. Ninguém era normal, não de verdade. E
eu nunca teria uma amiga melhor que a Lissa... mas cara, era tão difícil as vezes.
Eu dormi pesado até a manhã. Eu fui para minha primeira aula timidamente, nervosa que o
que tinha acontecido noite passada pudesse ter se espalhado. E como não podia deixar de ser,
as pessoas estavam falando sobre ontem a noite, mas as atenções dela ainda estavam sobre a
rainha e a recepção. Eles não sabiam nada sobre o coelho. Ainda que fosse difícil de acreditar,
eu quase tinha esquecido sobre aquelas outras coisas. Mesmo assim, de repente parecia como
uma coisa pequena comparada a alguém causando uma explosão sangrenta no quarto de
Lissa.
Ainda sim, conforme o dia passava, eu notei algo estranho. As pessoas pararam de olhar pra
Lissa tanto. Eles começaram a olhar pra mim. Tanto faz. Ignorando eles, eu procurei e
encontrei Lissa acabando com alimentador. Aquele sentimento engraçado que eu sempre
tinha tomou conta de mim quando eu vi a boca dela trabalhar contra o pescoço do
alimentador, bebendo o sangue dele. Um pingo derramava por sua garganta, se destacando
contra sua pele pálida. O alimentador, embora fosse humano, estava quase tão pálido quanto
um Moroi, devido a perda de sangue. Ele não parecia notar; ele estava alto por causa da
mordida.Afogada em inveja, em decidi que eu precisava de terapia.
“Você está bem?” Eu perguntei pra ela depois, quando estávamos indo pra aula. Ela estava
usando longas mangas, propositalmente escondendo seus pulsos.
“Sim... eu ainda não consigo parar de pensar naquele coelho... foi tão horrível. Eu fico vendo
ele na minha cabeça. E então o que eu fiz.” Ela espremeu seus olhos até fechar, apenar por um
momento, e então o abriu de novo. “As pessoas estão falando sobre nós.”
“Eu sei. Ignore-os.”
“Eu odeio isso,” ela disse irritada. Súbitas trevas apareceram nela e por entre nossa ligação.
Fez com que eu encolhesse. Minha melhor amiga era alegre e gentil. Ela não tinha esse tipo de
sentimentos. “Eu odeio toda essa fofoca. É tão estúpida. Como eles podem ser tão
superficiais?”
“Ignore eles,” repeti calmamente. “Você foi esperta de não andar mais com eles.”
No entanto, ignorar eles foi mais e mais difícil. Os sussurros e olhares aumentaram. Em
‘Comportamento Animal”, eu não conseguia nem mesmo me concentrar no meu tópico
favorito.
A Sra. Meissner tinha começado a falar sobre evolução e sobrevivência do mais adequado e
como os animais buscam companheiros de bons genes. Me fascinou, mas até mesmo ela tinha
dificuldades em ficar com uma tarefa, já que ela tinha que ficar gritando com as pessoas para
que elas ficasse quietas e prestassem atenção.
“Alguma coisa está acontecendo,” eu disse a Lissa entre as classes. “Eu não sei o que, mas
todos eles ouviram algo novo.’
“Alguma outra coisa? Fora o fato de que a rainha me odeia? O que mais poderia ser?”
“Eu gostaria de saber.”
As coisas finalmente chegaram num ponto crucial na nossa ultima aula do dia, Arte Eslava.
Começou quando um cara que eu mal conhecia fez uma explicito e quase obscena sugestão
para mim enquanto estávamos trabalhando em projetos individuais. Eu respondi gentilmente,
informando-o exatamente o que ele podia fazer com o seu pedido.
Ele apenas riu. “Ora vamos, Rose. Eu sangro por você.”
Risadinhas barulhentas seguiram, e Mia nos cortou com um olhar de insulto.”Espera, é a Rose
que sangra, certo?”
Mais risadas. O entendimento me atingiu no rosto. Eu empurrei Lissa pra longe. “Eles sabem.”
“Sabem o que?”
“Sobre nós. Sobre como... você sabe, como eu alimentei você enquanto estamos longe.”
Ela ficou boquiaberta. “Como?”
“Como você acha? Seu “amigo” Christian.”
“Não,” ela disse inflexível. “Ele não poderia.”
“Quem mais sabia?”
A confiança que ela tinha em Christian passou pelos olhos dela e pela nossa ligação. Mas ela
não sabia o que eu sabia. Ela não sabia como eu tinha sido uma vaca com ele noite passada,
como eu tinha o feito pensar que ela o odiava. Aquele cara era instável. Espalhar nosso maior
segredo – bom, um deles - seria uma vingança adequada. Talvez ele tenha matado o coelho
também. Afinal de contas, ele tinha morrido apenas algumas horas depois que eu contei pra
ele.
Sem esperar pra ouvir os últimos protestos dela, eu fui até o outro lado da sala onde Christian
estava trabalhando sozinho, como sempre. Lissa me seguiu de perto. Sem me importar se as
pessoas nos vissem, eu me inclinei na mesa para perto dele, colocando meu rosto a
centímetros da dele.
“Eu vou matar você.”
Os olhos dele se encontrando com o de Lissa, com um vislumbre fraco de desejo neles, e em
seguida surgiu uma expressão carrancuda em seu rosto.
“Porque? É tipo, um crédito extra pra guardiões?”
“Pare com a atitude,” eu avise, falando baixo. “Você contou. Você contou como Lissa tinha que
se alimentar de mim.”
“Conte a ela,” disse Lissa desesperada. “Diga a ela que ela está enganada.”
Christian arrastou seus olhos de mim para ela, e enquanto eles consideravam um ao outro, eu
senti uma onda tão poderosa de atração, foi uma sorte que não me derrubou. O coração dela
estava nos olhos. Era obvio pra mim que ele sentia a mesmo sobre ela, mas ela não conseguia
ver, particularmente já que ele esta flagrando ela.
“Você pode parar, sabe,“ ele disse. “Você não tem que fingir mais.“
A atração vertiginosa de Lissa sumiu, substituída por dor e choque devido ao tom de voz dele.
“Eu... o que? Fingir o que? ...”
“Você sabe o que. Só pare. Pare com a atuação.”
Lissa o encarou, os olhos dela largos e feridos. Ela não tinha idéia sobre o que tinha acontecido
ontem a noite. Ela não tinha idéia que ele acreditava, que ela o odiava.
“Supere o fato de você sentir pena de si mesmo, e nos diga o que está acontecendo,” eu surtei
com ele. “Você contou ou não pra eles?”
Ele me olhou desafiante. “Não. Eu não contei.”
“Eu não acredito em você.”
“Eu acredito,” disse Lissa.
“Eu sei que é impossível acreditar que uma aberração como eu poderia manter sua boca
fechada – especialmente já que nenhum de vocês pode – mas eu tenho coisas melhores a
fazer do que espalhar rumores estúpidos. Você quer alguém pra culpar? Culpe seu garoto de
ouro ali.”
Eu segui o seu olhar para onde Jesse estava rindo sobre algo com aquele idiota do Ralf.
“Jesse não sabe,” disse Lissa desafiante.
“Os olhos de Christian colaram em mim. “Ele sabe, no entanto, Não sabe, Rose? Ele sabe.”
Meu estomago afundou. Sim. Jesse sabia. Ele tinha descoberto aquela noite no lounge. “Eu
não pensei... eu não pensei que ele fosse contar. Ele estava com muito medo do Dimitri.”
“Você contou pra ele?” Exclamou Lissa.
“Não, ele adivinhou.”Eu estava começando a me sentir doente.
“Ele aparentemente fez mais do que adivinhar,” murmurou Christian.
Eu me virei pra ele. “O que isso quer dizer?”
“Oh. Você não sabe.”
“Eu juro por Deus Christian, eu vou quebrar teu pescoço depois da aula.”
“Cara, você realmente é instável.” Ele disse quase feliz, mas suas próximas palavras eram mais
sérias. Ele ainda usou aquela zombaria, ainda cheio de raiva, mas quando ele falou, eu pude
ouvir uma fraca preocupação em sua voz. “Ele meio que elaborou sobre o que tinha em sua
nota. Entrou em alguns detalhes.”
“Oh, entendi. Ele disse que nós transamos.” Eu não precisava cuidar com as palavras. Christian
concordou. Então. Jesse estava tentando aumentar sua reputação. Ok. Eu podia lidar com isso.
Não era como se a minha reputação fosse incrível pra começo de conversa. Todo mundo já
acreditava que eu fazia sexo o tempo todo.
“E uh, Ralf também. Que você e ele –“
Ralf? Nenhuma quantidade de álcool ou substancias ilegais iam fazer com que eu tocasse nele.
“Eu – o que?Que eu transei com o Ralf também?”
Christian concordou.
‘Aquele filho da puta! Eu vou –“
“Tem mais.”
“Como? Eu dormi com todo o time de basquete?”
“Ele disse – ambos disseram – que você deixou... bem, você deixou eles beberem teu sangue.”
Isso parou até mesmo eu. Beber sangue durante sexo. A coisa mais suja das sujas. Era além de
ser fácil ou vadia. Um milhão de vezes pior do que Lissa bebendo de mim para sobreviver. Era
o território de uma meretriz de sangue.
“Isso é loucura!” Lissa choramingou. “Rose nunca – Rose?”
Mas eu não estava mais ouvindo. Eu estava no meu próprio mundo, um mundo que me levou
através da sala de aula onde Jesse e Ralf sentavam. Os dois olharam pra cima, faces meio
presunçosas e meio... nervosas, se eu tivesse que adivinhar. Não era inesperado, já que os dois
estavam mentindo.
A classe inteira ficou paralisada. Aparentemente eles estavam esperando por algum tipo de
show. Minha instável reputação em ação.
“O que diabos vocês acham que está fazendo?” Eu perguntei numa baixa, e perigosa voz.
O olhar nervoso de Jesse se transformou em terror. Ele podia ser mais alto que eu, mas nós
dois sabíamos quem iria ganhar se nos recorrêssemos a violência. Ralf, no entanto, me deu um
sorriso arrogante.
“Nós não fizemos nada que você não queria que nós fizéssemos.” O sorriso dele se tornou
cruel. “E nem pense em por uma mão na gente. Se você começar a brigar, Kirova vai expulsar
você e vai viver com as meretrizes de sangue.”
O resto dos estudantes estava segurando suas respirações, esperando pra ver o que nós
iríamos fazer. Eu não sei como o Sr. Nagy não viu o drama que estava ocorrendo na aula.
Eu queria socar os dois, acertá-los com tanta força que faria com que a briga de Dimitri com
Jesse parecesse um tapinha nas costas. Eu queria arrancar aquele sorriso do rosto de Ralf.
Mas filho da puta, ou não, ele estava certo. Se eu tocasse neles, Kirova iria me expulsar num
piscar de olhos. E se eu fosse expulsa, Lissa estaria sozinha. Respirando fundo, eu tomei uma
das decisões mais difíceis da minha vida.
Eu caminhei pra longe.
O resto do dia foi miserável. Ter desistido da luta, me abriu pra zombaria de todos os outros.
Os rumores e sussurros aumentaram. As pessoas me encaravam abertamente. Pessoas riam.
Lissa ficava tentando falar comigo, me consolar, mas ignorei até mesmo ela. Eu passei pelo
resto das minhas aulas como um zumbi, e então eu me dirigi pra praticar com Dimitri o mais
rápido que eu pude. Ele me deu um olhar perplexo mas não fez perguntas.
Sozinha no meu quarto mais tarde, eu chorei pela primeira vez em anos.
Depois que eu tirei aquilo do meu sistema, eu estava pronta pra colocar meu pijama quando
ouvi uma batida na porta. Dimitri. Ele estudou meu rosto e depois olhou pra longe,
obviamente consciente de que eu tinha estado chorando. Eu podia saber, também, que os
rumores finalmente tinham chegado até ele. Ele sabia.
“Você está bem?”
“Não importa se eu estou, lembra?” Eu olhei pra ele. “Lissa está bem?Isso vai ser difícil pra
ela.”
Um olhar engraçado passou pelo rosto dele. Eu acho que ele se assombrou pelo fato de que eu
ainda estava preocupada com ela ao invés de mim. Ele me chamou com um sinal pedindo para
que eu o seguisse e me levou até uma volta na escada, onde normalmente ficava trancada
para os estudantes. Mas estava aberta hoje, e ele fez um gesto de fora. “5 minutos,” ele me
avisou.
Mais curiosa do que tudo, eu entrei. Lissa estava lá. Eu deveria ter sentido que ela estava
perto, mas meus próprios sentimentos descontrolados tinham obstruído os dela. Sem uma
palavra, ela pos seus braços ao meu redor e me segurou por vários segundos. Eu tive que
segurar mais lágrimas. Quando nos separamos, ela me olhou com olhos calmos.
“Eu sinto muito,” ela disse.
“Não é sua culpa. Vai passar.”
Ela claramente duvidava disso. Eu também.
“É minha culpa,” ela disse. “Ela fez isso pra se vingar de mim.”
“Ela?”
“Mia. Jesse e Ralf não são espertos o suficiente pra pensar em algo assim sozinhos. Você
mesmo disse: Jesse estava com muito medo de Dimitri pra falar muito sobre o que tinha
acontecido. E porque esperar até agora? Aconteceu faz um tempo já. Se ele quisesse espalhar
por aí, ele teria feito quando aconteceu.Mia está fazendo isso como uma retaliação por você
ter falado sobre os parentes dela. Eu não sei como ela conseguiu, mas foi ela que arranjou pra
que eles falassem aquelas coisas.”
No meu interior, eu percebi que Lissa estava certa. Jesse e Ralf eram as ferramentas; Mia tinha
sido a mandante.
“Nada pra ser feito agora,” eu suspirei.
“Rose – “
“Esqueça, Lissa. Está feito, ok?”
Ela me estudou quieta por alguns segundos. “Eu não vejo você chorar já faz um longo tempo.”
“Eu não estava chorando.”
Um sentimento de angustia e simpatia atingiu nossa ligação.
“Ela não pode fazer isso com você,” ela argumentou.
Eu ri amargamente, meio surpresa com minha própria desesperança. “Ela já fez. Ela disse que
ia se vingar de mim, que eu não seria capaz de proteger você. Ela o fez. Quando eu voltar pras
aulas...” Um sensação de angustia se ajustou no meu estomago. Eu pensei nos amigos e no
respeito que eu tinha conseguido, apesar de manter uma descrição. Isso iria sumir. Você não
podia se recuperar de algo assim. Não entre os Moroi. Uma vez uma meretriz de sangue,
sempre uma meretriz de sangue. O que era pior era que alguma secreta parte negra de mim,
gostava de ser mordida.
“Você não deveria ter que ficar me protegendo,” ela disse.
Eu ri. “Esse é o meu trabalho. Eu vou ser sua guardiã.”
“Eu sei, mas eu quis dizer desse jeito. Você não deveria sofrer por minha causa. Você não
deveria ter que sempre cuidar de mim. E ainda sim você sempre cuida. Você me tirou daqui.
Você cuidou de tudo quando estamos por conta própria. Mesmo depois que nós voltamos...
você sempre foi aquela que faz todo o serviço. Toda vez que eu perco controle – como ontem
a noite – você está sempre lá. Eu, eu sou fraca. Eu não sou como você.”
Eu balancei minha cabeça. “Isso não importa. É o que eu faço. Eu não ligo.”
“É mas veja o que aconteceu. Sou eu quem ela tem algo contra – em pensar que eu ainda não
sei porque. Tanto faz. Eu vou parar isso. Eu vou proteger você de agora em diante.”
Havia uma determinação na expressão dela, uma maravilhosa confiança saindo dela que me
lembrou de como Lissa era antes do acidente. Ao mesmo tempo, eu podia sentir algo mais
nela – algo negro, um senso de uma profunda raiva. Eu tinha visto isso antes, e eu não gostei.
Eu não queria ela participando disso. Eu só a queria segura.
“Lissa, você não pode me proteger.”
“Eu posso,” ela disse ferozmente. “ Tem uma coisa que a Mia quer mais que você e eu. Ela
quer ser aceita. Ela quer sair com todos da realeza e sentir que ela é uma delas. Eu posso tirar
isso dela.” Ela sorriu. “Eu posso fazer com que eles se virem contra ela.”
“Como?”
“Contando pra eles.” Seus olhos acessos.
Minha mente estava se movendo muito devagar essa noite. Eu demorei um tempo pra
entender. “Liss – não. Você não pode usar compulsão. Não por aqui.”
“Eu posso muito bem arranjar um uso pra esses poderes estúpidos.”
Quanto mais ela usa, pior vai ficar. Pare ela, Rose. Pare ela antes que eles notem, antes que
eles notem e levem ela embora também. Tire ela daqui.
“Liss, se você for pega – “
Dimitri pos sua cabeça pra fora. “Você tem que entrar, Rose, antes que alguém encontre
você.”
Eu dei um olhar em apavorado pra Lissa, mas ela já estava se afastando. “Eu vou cuidar de
tudo dessa vez, Rose. Tudo.”