quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

academia de vampiros - beijo das sombras (capitulo 8)


OITO
ARDENDO DE RAIVA, EU LUTEI melhor e mais duramente naquele dia do que jamais tinha
lutado em qualquer uma de minhas aulas com os aprendizes. Tanto que eu finalmente ganhei
minha primeira luta corpo-a-corpo, aniquilando Shane Reyes. Nós sempre nos demos bem, e
ele levou isso de boa, aplaudindo meu desempenho, assim como fizeram alguns outros.
“A revanche está começando,” observou Mason depois da aula.
“É o que parece.”
Ele gentilmente tocou meu braço. “Como está Lissa?”
Não me surpreendeu o fato de ele saber. Fofoca se espalhava tão rápido por aqui algumas
vezes, parecia que todo mundo tinha uma ligação mental.
“Okay. Se recuperando.” Eu não comentei como eu sabia disso. Nossa ligação mental era um
segredo do corpo estudantil. “Mase, você diz que sabe sobre Mia. Você acha que ela pode ter
feito aquilo?”
“Whoa, hey, eu não sou um expert nela nem nada. Mas, honestamente? Não. Mia não faria
nem dissecações nas aulas de biologia. Eu não consigo imaginá-la pegando uma raposa, menos
ainda, hum, matando-a.”
“Nenhum amigo que poderia fazer isso por ela?”
Ele balançou sua cabeça. “Na verdade não. Eles não são exatamente do tipo que sujam suas
mãos, tampouco. Mas quem pode saber?”
Lissa continuava abatida quando a encontrei mais tarde para o almoço, seu humor ficou pior
quando Natalie e sua turma não conseguiam parar de falar sobre a raposa. Aparentemente
Natalie superou seu nojo o suficiente para curtir a atenção que o espetáculo trouxe para ela.
Talvez ela não estivesse tão contente com seu status de impopular como eu sempre acreditei.
“E eu estava bem lá,” ela explicou, agitando as mãos para enfatizar. “Bem no meio da cama.
Tinha sangue em toda parte.”
Lissa parecia tão verde quanto o suéter que vestia, e eu a empurrei para longe antes mesmo
de terminar a minha comida e imediatamente lancei uma série de obscenidades quanto às
habilidades sociais de Natalie.
“Ela é legal,” Lissa disse automaticamente. “Você estava me dizendo outro dia o quanto
gostava dela.”
“Eu gosto dela, só que ela é incompetente quanto a certas coisas.”
Nós paramos do lado de fora da nossa classe de comportamento animal, e eu notei pessoas
nos dando olhares curiosos e cochichando enquanto passavam. Eu suspirei.
“Como você está com tudo isso?”
Um meio sorriso apareceu em sua face. “Você já não pode sentir isso?”
“Yeah, mas eu quero ouvir de você.”
“Eu não sei. Eu vou ficar bem. Eu queria que todos parassem de ficar me encarando como se
eu fosse uma esquisita.”
Minha raiva explodiu novamente. A raposa foi ruim. Pessoas chateando ela tornou tudo pior,
mas pelo menos eu podia fazer algo quanto a eles. “Quem está te incomodando?”
“Rose, você não pode bater em todo mundo com quem a gente tiver problemas.”
”Mia?” eu adivinhei.
“E outros,” ela disse evasivamente. “Olha, não importa. O que eu quero saber é como isso
pode ter... isto é, eu não consigo parar de pensar sobre aquela vez—“
“Não,” eu avisei.
“Por quê você continua fingindo que não aconteceu? Você de todas as pessoas. Você tira sarro
de Natalie por ficar tagarelando, mas não é como se você tivesse um bom controle sobre si
mesma. Você normalmente fala sobre qualquer coisa.”
“Mas não sobre aquilo. Nós temos que esquecer isso. Já faz muito tempo. Nós nem ao menos
sabemos realmente o que aconteceu.”
Ela me encarou com aqueles grandes olhos verdes, calculando seu próximo argumento.
“Hey, Rose.”
Nossa conversa parou assim que Jesse veio até nós. Eu dei meu melhor sorriso.
“Hey.”
Ele acenou cordialmente para Lissa. “Então, hey, eu vou estar no seu dormitório hoje à noite
para um grupo de estudos. Você acha... talvez...”
Momentaneamente esquecendo de Lissa, eu foquei minha atenção inteiramente em Jesse.
Repentinamente, eu precisava muito fazer algo selvagem e errado. Muito coisa tinha
acontecido hoje. “Claro.”
Ele me disse quando estaria lá, e eu lhe disse que o encontraria em uma das áreas comuns,
com “maiores informações”.
“Eu não quero exatamente ‘conversar’ com ele. Nós vamos escapulir.”
Ela resmungou. “Eu não te entendo às vezes.”
“Isso porque você é a cuidadosa, e eu sou a negligente.”
Assim que Comportamento Animal começou, eu analisei a possibilidade de Mia ser a
responsável. Pelo olhar arrogante em seu rosto de anja-psicopata, ela certamente parecia ter
adorado a sensação causada pela raposa sangrenta. Mas isso não significava que ela era
culpada, e depois de observá-la durante as últimas duas semanas, eu sabia que ela iria gostar
de qualquer coisa que chateasse a Lissa e a mim. Ela não precisava ser a pessoa que havia feito
isso.”
“Lobos, como muitas outras espécies, diferenciam seus grupos em machos alfas e fêmeas alfas
aos quais os outros se reportam. Alfas são quase sempre os mais fortes fisicamente, apesar de
que muitas vezes, confrontos acabam sendo mais uma questão de força de vontade e
personalidade. Quando um alfa é desafiado e substituído, esse lobo possivelmente será banido
do grupo ou até mesmo atacado.”
Eu parei de sonhar acordada e foquei na Sra. Meissner.
“A maioria dos desafios tende a ocorrer durante a temporada de acasalamento,” ela
continuou. Isto naturalmente trouxe risinhos dos alunos. “Na maior parte dos grupos, os casais
alfas são os únicos que se acasalam. Se o macho alfa é um lobo ancião, um competidor mais
novo pode pensar que tem alguma chance contra ele. Se isso realmente é verdade depende de
cada caso. Os mais jovens geralmente não percebem o quanto são seriamente ameaçados pelo
mais experiente.”
Deixando de lado o negócio de velho-e-jovem-lobo, eu pensei que o resto era bastante
relevante. Certamente na estrutura social da Academia, eu decidi amargamente, parecia existir
um monte de alfas e competições.
Mia levantou sua mão. “E quanto às raposas? Elas têm alfas também?
A turma toda segurou a respiração, seguidamente de alguns risinhos nervosos. Ninguém
acreditava que Mia tinha tocado nesse ponto.
Sra. Meissner ficou vermelha com o que eu suspeitei que fosse raiva. “Nós estamos discutindo
lobos hoje, Srtª Rinaldi.”
Mia não pareceu se importar com a bronca sutil, e quando a classe se formou em pares para
trabalhar em uma tarefa, ela passou a maior parte do tempo olhando para nós e rindo. Através
da ligação, eu pude sentir Lissa ficando mais e mais chateada, enquanto as imagens da raposa
continuavam a passar por sua mente.
“Não se preocupe,” eu disse a ela. “Eu arranjei um jeito—“
“Hey, Lissa,” alguém interrompeu.
Nós olhamos para cima assim que Ralf Sarcozy parou em frente às nossas mesas. Ele estava
com aquele estúpido sorriso de sempre, e eu tive a sensação de que ele tinha vindo até nós
por causa de uma provocação de seus amigos.
“Então, admita,” ele disse. “Você matou a raposa. Você estava tentando convencer Kirova de
que está louca, daí você pode sair daqui de novo.”
“Vai se ferrar,” eu falei em uma voz baixa.
“Você está oferecendo?”
“Pelo o que eu ouvi, não tem muito o que ferrar,” eu retruquei.
“Wow,” ele zombou. “Você mudou. Pelo que eu me lembre, você não era tão exigente para
escolher com quem ficava nua.”
“E pelo que eu me lembre, as únicas pessoas que você viu nuas estavam na Internet.”
Ele levantou sua cabeça com ar de superior, de um jeito exageradamente dramático. “Hey, eu
acabei de perceber: foi você, não foi?” Ele olhou para Lissa, ficando de costas para mim. “Ela
fez você matar a raposa, não foi? Algum tipo estranho de vodu lésbic—ahhh!”
Ralf explodiu em chamas.
Eu pulei e empurrei Lissa para fora do caminho – não algo fácil de fazer, já que estávamos
sentadas em nossas carteiras. Nós duas terminamos no chão enquanto os gritos – de Ralf em
particular – encheram nossa sala de aula e Sra. Meissner correu para alcançar o extintor de
incêndio.
E aí, do nada, as chamas desapareceram. Ralf ainda estava gritando e se batendo, mas ele não
tinha nenhuma marca de queimado. O único indicativo do que acabara de acontecer era o
cheiro de fumaça no ar.
Por vários segundos, a sala inteira congelou. Daí, lentamente, todos juntaram as peças do
quebra-cabeça. As especializações de magia dos Moroi era conhecidas por todos, e depois de
procurar na sala, eu identifiquei três usuários de fogo: Ralf, seu amigo Jacob, e– Christian
Ozera.
Sendo que nem Jacob nem Ralf botariam fogo em Ralf, isso meio que deixou óbvio quem era o
culpado. O fato de que Christian estava rindo histericamente meio que entregou também.
Sra. Meissner mudou do vermelho para o roxo. “Sr Ozera!” ela gritou. “Como você se atreve –
você faz alguma idéia – vá para a sala da Diretora Kirova agora mesmo!”
Christian, completamente inabalável, se levantou e jogou sua mochila sobre um ombro.
Aquele sorriso continuou em seu rosto. “É claro, Sra. Meissner.”
Ele desviou do seu caminho para passar do lado de Ralf, que rapidamente recuou enquanto ele
passava. O resto da classe encarava, de boca aberta.
Depois disso, Sra. Meissner tentou fazer com que a classe voltasse ao normal, mas era uma
causa perdida. Ninguém podia parar de falar sobre o que tinha acontecido. Era chocante em
diferentes níveis. Primeiro, nunca ninguém tinha visto aquele tipo de feitiço: um montante de
fogo que não queimava nada de verdade. Segundo, Christian tinha usado isso ofensivamente.
Ele havia atacado outra pessoa. Moroi nunca faziam isso. Eles acreditavam que a magia era
destinada à proteção da terra, para ajudar pessoas a terem vidas melhores. Nunca, jamais
tinha sido usada como arma. Instrutores de magia nunca ensinavam esses tipos de feitiços; eu
nem acreditava que eles sabiam algum. Finalmente, o mais louco de tudo, Christian tinha feito
isso. Christian, que nunca tinha sido notado e com quem ninguém se importava. Bem, agora
eles o tinham notado.
Parecia que alguém ainda conhecia feitiços ofensivos, apesar de tudo, e por mais que eu tenha
gostado do olhar de terror na cara de Ralf, subitamente me ocorreu que Christian deveria ser
realmente e verdadeiramente um psicopata.
“Liss,” eu disse enquanto saíamos da sala, “por favor me diga que você não está se
encontrando com ele de novo.”
A culpa que se agitou por meio de nossa ligação mental me disse mais do que qualquer
explicação.
“Liss!” eu agarrei seu braço.
“Não tanto assim,” ela disse apreensiva. “Ele é realmente okay—“
“Okay? Okay?” As pessoas no hall nos encaravam. Eu percebi que estava praticamente
gritando. “Ele está fora de si. Ele pôs fogo no Ralf. Eu pensei que tínhamos decidido que você
não o veria novamente.”
“Você decidiu, Rose. Não eu.” Havia um tom em sua voz que eu não ouvia fazia um tempo.
“O que está acontecendo aqui? Vocês estão... você sabe?...”
“Não!” ela insistiu. “Eu já te disse. Deus.” Ela me lançou um olhar de desgosto. “Nem todo
mundo pensa – e age – que nem você.”
Eu me encolhi com essas palavras. Nessa hora percebemos que Mia estava passando por ali.
Ela não tinha escutado a conversa, mas tinha entendido o tom. Um sorriso sarcástico apareceu
em seu rosto. “Problemas no paraíso?”
“Vai procurar seu apaziguador e cala a droga da boca,” eu disse a ela, não esperando para
ouvir a resposta. Ela ficou boquiaberta, e depois sua boca se estreitou em uma carranca.
Lissa e eu andamos em silêncio, e de repente Lissa começou a ter um ataque de riso. Desse
jeito, nossa briga se dissipou.
“Rose...” Seu tom estava mais leve agora.
“Lissa, ele é perigoso. Eu não gosto dele. Por favor, tome cuidado.”
Ela tocou meu braço. “Eu vou. Eu sou a cuidadosa, lembra? Você é a negligente.”
Eu esperava que isso ainda fosse verdade.
Porém mais tarde, depois da escola, eu tive minhas dúvidas. Eu estava no meu quarto fazendo
dever de casa quando eu senti uma fisgada do que só poderia ser chamado de dissimulação
vindo de Lissa. Perdendo o raciocínio do meu trabalho, eu encarei o vazio, tentando entender
mais detalhadamente o que se passava com ela. Se já tivesse existido uma hora certa de entrar
na mente dela, era agora, mas eu não sabia como controlar isso.
Me concentrando, tentei pensar no que normalmente faz nossa conexão ocorrer. Geralmente
ela estava tendo uma forte emoção, uma emoção tão poderosa que tentava invadir minha
mente. Eu tive que trabalhar duro para lutar contra isso; eu sempre tentei manter uma parede
mental levantada.
Focando nela agora, eu tentei remover essa parede. Eu controlei minha respiração e clareei
minha mente. Meus pensamentos não importavam, somente os dela. Eu precisava me abrir
para ela e deixar que nos conectássemos.
Eu nunca tinha feito algo como isso antes; eu não tinha paciência para meditação. Minha
necessidade era tão grande, no entanto, que eu me forcei em um intenso e focado
relaxamento. Eu precisava saber o que acontecia com ela, e depois de mais alguns momentos,
o esforço valeu a pena.
Eu estava dentro.

academia de vampiros - beijo das sombras (capitulo 7)


SETE
ALGUMAS SEMANAS SE PASSARAM DEPOIS disso, e eu logo esqueci sobre a coisa da Anna
assim que a vida na Academia me envolveu. O choque da nossa volta tinha passado um pouco,
e nós começamos a cair numa rotina semi-confortável. Meus dias se resumiam em igreja,
almoço com Lissa, e qualquer tipo de vida social que eu poderia conseguir além disso. Negado
qualquer tempo livre real, eu não tive dificuldade para ficar de fora do centro das atenções,
embora tenha dado um jeito de roubar um pouco de atenção aqui e ali, apesar de meu nobre
discurso a ela sobre ‘navegar com a correnteza’. Eu não podia evitar. Eu gostava de flertar, eu
gostava de grupos, e eu gostava de fazer comentários espertinhos na aula.
O novo e incógnito papel dela chamava atenção simplesmente porque era tão diferente de
antes de fugirmos, quando ela tinha sido tão ativa com a realeza. A maioria das pessoas logo
deixou isso passar, aceitando que a princesa Dragomir estava saindo do radar social e contente
em andar com Natalie e seu grupo. As divagações de Natalie ainda me faziam querer bater a
minha cabeça na parede às vezes, mas ela era legal - mais legal do que quase todos da realeza
– e eu gostava de estar perto dela na maior parte do tempo.
E, exatamente como Kirova tinha avisado, eu estava realmente treinando e trabalhando o
tempo todo. Mas quanto mais o tempo passava, mais meu corpo parava de me odiar. Meus
músculos ficavam mais resistentes, e meu vigor aumentava. Eu ainda apanhava durante o
treino, mas não tanto quanto eu costumava, o que já era alguma coisa. O maior problema
agora parecia ser a minha pele. Ficar do lado de fora no frio por tanto tempo estava rachando
o meu rosto, e só o estoque de cremes faciais de Lissa me impediram de envelhecer antes da
hora. Ela não podia fazer muito pelas bolhas nas minhas mãos e pés.
Uma rotina também se desenvolveu entre Dimitri e eu. Mason estava certo sobre ele ser antisocial.
Dimitri não saia muito com os outros guardiões, apesar de estar claro que todos o
respeitavam. E quanto mais eu trabalhava com ele, mais eu o respeitava também, apesar de
não entender realmente os seus métodos de treinamento. Eles não pareciam muito
agressivos. Nós sempre começávamos com o alongamento no ginásio, e ultimamente ele me
mandava para fora para correr, encarando o cada vez mais frio outono de Montana.
Três semanas depois do meu retorno à Academia, eu fui um dia até o ginásio antes da escola e
achei ele espichado num colchonete lendo um livro de Louis L’Amour. Alguém tinha trazido um
CD player portátil, e enquanto isso, de primeira, me animou de primeira, a música que vinha
dele não o fez: “When Doves Cry” do Prince. Era embaraçoso saber o título da música, mas um
dos nossos colegas de quarto era obcecado pelos anos 80.
“Whoa, Dimitri,” eu disse, jogando minha mochila no chão. “Eu entendo que esse é um hit do
momento no Leste Europeu atualmente, mas você acha que podemos escutar alguma coisa
que não tenha sido gravada antes de eu nascer?”
Apenas os olhos dele passaram por mim, o resto da sua postura continuou a mesma. “O que
isso importa para você? Eu que vou continuar ouvindo isso. Você vai estar lá fora correndo.”
Eu fiz uma careta enquanto coloquei meu pé em cima de uma das barras e estiquei os tendões
da perna. Considerando todas as coisas, Dimitri tinha uma boa tolerância para meu sarcasmo.
Desde que eu não folgasse no meu treinamento, ele não ligava para meus comentários
constantes.
“Hey”, eu perguntei, passando para a próxima sessão de alongamentos, “qual é a da corrida,
afinal de contas? Quero dizer, eu entendo a importância da força e tudo mais, mas eu não
deveria estar passando para algo com um pouco mais de luta? Eles ainda estão me matando
na prática em grupo.”
“Talvez você devesse bater mais forte,” Ele replicou secamente.
“Eu falo sério.”
“Difícil dizer a diferença.” Ele abaixou o livro, mas não moveu seu corpo. “Meu trabalho é te
preparar para defender a princesa e lutar com criaturas das trevas, certo?”
“Sim.”
“Então me diga isto: supondo que você consiga sequestrá-la de novo e levá-la para um
shopping. Enquanto vocês estão lá, um Strigoi vai até vocês. O que você vai fazer?”
“Depende da loja em que estivermos.”
Ele me encarou.
“Certo. Eu o apunhalaria com uma estaca de prata.”
Dimitri sentou-se agora, cruzando suas pernas em um movimento fluido. Eu ainda não
entendia como alguém tão alto podia ser tão gracioso. “Oh?” Ele levantou suas sobrancelhas
escuras. “Você tem uma estaca de prata? Você pelo menos sabe usar uma?”
Eu arrastei meus olhos para longe do corpo dele e olhei de cara feia. Feitas com magia
elementar, estacas de prata eram as armas mais mortíferas dos guardiões. Apunhalar um
Strigoi no coração significava morte imediata. As lâminas eram igualmente mortais aos Morois,
então elas não eram dadas facilmente para os aprendizes. Minha classe estava apenas
começando a aprender como usá-las. Eu treinei com uma arma antes, mas ninguém iria me
deixar chegar perto de uma estaca ainda. Felizmente, há outros dois jeitos de matar um
Strigoi.
“Okay. Eu iria cortar a cabeça dele fora.”
“Ignorando o fato de que você não tem uma arma para fazer isso, como você compensaria o
fato de que ele poderia ser 30 centímetros mais alto do que você?”
Eu endireitei meu corpo, parando de tocar meus dedos dos pés, irritada. “Certo, então eu iria
botar fogo nele.”
“De novo, com o quê?”
“Certo, eu desisto. Você já tem a resposta. Você está apenas brincando comigo. Eu estou num
shopping e eu vejo um Strigoi, o que eu faço?”
Ele olhou para mim e não piscou. “Você corre.”
Eu reprimi o desejo de jogar alguma coisa nele. Quando eu terminei meu alongamento, ele
falou que iria correr comigo. Essa era nova. Talvez correr me daria alguma visão sobre sua
super reputação.
Nós saímos na noite fria de Outubro. Estar de volta a uma programação vampira ainda me
fazia sentir estranha. Com a escola para começar em cerca de uma hora, eu esperava o sol
nascer, e não se pôr. Mas ele estava afundando no
horizonte a Oeste, iluminando as montanhas brancas de neve com um brilho laranja. Isso não
chegou realmente a aquecer o lugar, e logo senti o ar gelado perfurar meus pulmões assim que
minha necessidade de oxigênio aumentou. Nós não falamos. Ele desacelerou seu ritmo para
combinar com o meu, assim nós permanecemos juntos.
Alguma coisa sobre isso me incomodou; de repente eu queria muito sua aprovação. Então eu
fui no meu próprio ritmo, trabalhando meus pulmões e músculos mais duramente. Doze voltas
ao redor da pista resultaram em 5 quilômetros; ainda tínhamos nove para percorrer.
Quando chegamos na antepenúltima volta, alguns outros aprendizes passaram por nós, se
preparando para ir para a prática de grupo em que eu logo estaria também. Ao me ver, Mason
torceu por mim. “Boa forma, Rose!”
Eu sorri e acenei de volta.
“Você está ficando mais lenta” Dimitri falou rispidamente, tirando meu olhar dos rapazes. A
dureza em sua voz me surpreendeu. “É por isso que seus tempos de corrida não estão ficando
nada mais rápidos? Você se distrai facilmente?”
Envergonhada, eu aumentei minha velocidade mais uma vez, apesar do fato de meu corpo ter
começado a gritar obscenidades para mim. Nós terminamos a décima segunda volta, e quando
ele checou, viu que fizemos dois minutos a menos que o meu melhor tempo.
“Nada mal, huh?” Eu vociferei quando voltamos para dentro para fazer alongamentos de
relaxamento. "Parece que eu poderia ir tão longe quanto a divisa do país antes que os Strigoi
me peguem no shopping. Só não tenho certeza de como Lissa faria.”
“Se ela estivesse com você, ela estaria bem.”
Olhei-o surpresa. Era o primeiro elogio de verdade que ele me deu desde que começamos o
treinamento. Seus olhos castanhos me observavam, tanto com diversão quanto com
aprovação.
E foi aí que aconteceu.
Eu senti como se alguém tivesse me dado um tiro. Afiado e aguçado, o terror explodiu em meu
corpo e na minha cabeça. A minha visão ficou turva, e por um momento, eu não estava parada
lá. Eu estava descendo e correndo por um lance de escadas, assustada e desesperada,
precisando sair dali, precisando encontrar… a mim.
A minha visão clareou, deixando-me de volta na pista e fora da cabeça de Lissa. Sem uma
palavra à Dimitri, retirei-me dali, correndo o mais rápido que pude em direção ao dormitório
Moroi. Não importava que eu tinha acabado de botar minhas pernas para correr numa minimaratona.
Elas correram sem esforço e rapidamente, como se elas fossem novas e brilhantes.
Distantemente, eu tinha consciência de que Dimitri me alcançava e perguntava o que estava
errado, mas eu não pude respondê-lo. Eu tinha uma tarefa e somente uma: chegar ao
dormitório.
Sua forma gigantesca e coberta de hera estava apenas chegando em minha visão quando Lissa
nos encontrou, seu rosto coberto de lágrimas. Eu parei subitamente, meus pulmões a ponto
de explodir.
“O que está errado? O que aconteceu?” Eu exigi, chacoalhando seus braços, forçando-a a olhar
para os meus olhos.
Mas ela não podia responder. Ela apenas jogou seus braços ao meu redor, soluçando no meu
peito. Eu segurei ela ali, alisando seu lustroso e sedoso cabelo enquanto dizia que tudo ficaria
bem – seja lá o que ‘tudo’ fosse. E sinceramente, eu não me importava com o que fosse
naquele momento. Ela estava ali e estava segura, e isso era só o que importava. Dimitri estava
perto de nós, alerta e pronto para qualquer ameaça, seu corpo posicionado para o ataque. Eu
me senti segura com ele ao nosso lado.
Uma meia hora depois, estávamos todos dentro do quarto de Lissa com outros três guardiões,
Sra. Kirova, e a inspetora do saguão. Esta era a primeira vez que eu via o quarto de Lissa.
Natalie tinha efetivamente conseguido obtê-la como colega de quarto, e os dois lados do
quarto davam um estudo sobre contrastes. O de Natalie era vivo, cheio de fotos na parede e
uma colcha de flores que não combinavam com um dormitório. Lissa tinha poucas posses
como eu, tornando sua metade pouco notável. Ela tinha uma imagem pendurada na parede,
tirada no último Dia das Bruxas, quando tínhamos nos vestido de fadas, completando a
fantasia com asas e maquiagem de glitter. Ver essa foto e lembrar de como as coisas
costumavam ser fez com que uma dor maciça se formasse em meu peito.
Com toda a agitação que havia ninguém notou que eu supostamente não deveria estar ali. Lá
fora no saguão, outras meninas Moroi se juntaram, tentando descobrir o que estava
acontecendo. Natalie passou por meio delas, querendo saber qual era o motivo da inquietação
em seu quarto. Quando ela descobriu, ela parou bruscamente.
Choque e nojo apareceram no rosto de quase todos assim que olhamos para a cama de Lissa.
Havia uma raposa em seu travesseiro. O seu pelo era laranja-avermelhado, com um quê de
branco. Ela parecia tão suave e fofa que poderia ser um animal de estimação, um gato talvez,
algo que você colocaria em seus braços e faria carinho.
Desconsiderando o fato de que sua garganta tinha sido cortada.
O interior da garganta era rosa e parecido com gelatina. O sangue tinha manchado o pêlo
macio e escorregado até a colcha amarela, formando uma piscina escura que se espalhava por
todo o tecido. Os olhos da raposa olhavam fixamente para cima, envidraçados, com uma
espécie de choque neles, como se a raposa não pudesse acreditar no que estava acontecendo.
Náusea se acumulou em meu estômago, mas eu me forcei a continuar olhando. Eu não podia
me dar ao luxo de ficar nauseada. Eu estaria matando Strigoi algum dia. Se eu não podia lidar
com uma raposa, eu nunca iria sobreviver a mortes maiores.
O que tinha acontecido com a raposa era perverso e doentio, obviamente feito por alguém tão
perturbado que não há palavras para descrevê-lo. Lissa olhou fixamente para ela, sua cara
pálida como um cadáver, e andou alguns passos em sua direção, mãos involuntariamente
tentando alcançá-la. Esse ato nojento a atingiu duramente, eu sabia, considerando seu amor
por animais. Ela os amava, eles a amavam. Enquanto estavamos por nossa conta, ela muitas
vezes implorou por um animal de estimação, mas eu sempre recusei, lembrando a ela de que
não poderíamos cuidar de um quando poderíamos ter de fugir a qualquer momento. Além do
mais, eles me odiavam. Então ela se contentou em ajudar e cuidar de animais perdidos que
encontrava, e fazer amizade com os bichos dos outros, como o gato Oscar.
Entretanto, ela não podia cuidar dessa raposa. Não tinha como trazê-la de volta, mas eu vi em
seu rosto que ela queria ajudar, assim como queria ajudar em tudo. Eu peguei a sua mão e a
afastei, recordando de repente uma conversa de dois anos atrás.
“O que é isso? É uma gralha?”
“Muito grande. É um corvo.”
“Está morto?”
“Yeah, definitivamente morto. Não toque nele.”
Ela não tinha me dado ouvidos na época. Eu esperava que o fizesse agora.
“Ela ainda estava viva quando eu voltei.” Lissa sussurrou para mim, sacudindo meu braço. “Por
muito pouco. Oh deus, ela estava se contorcendo. Ela deve ter sofrido tanto.”
Eu senti bile subir na minha garganta. Sob nenhuma circunstância eu iria vomitar agora. "Você
–?"
“Não...eu queria...eu comecei...”
“Então esqueça sobre isso,” eu disse rispidamente. “É estúpido. Uma brincadeira estúpida de
alguém. Eles vão limpar tudo. Até mesmo lhe dar um quarto novo, se você quiser.”
Ela se virou para mim, seus olhos quase selvagens. “Rose... você lembra... aquela vez...”
“Pare com isso,” eu disse. “Esqueça sobre isso. Isto não é a mesma coisa.”
“E se alguém viu? E se alguém sabe?...”
Eu estreitei meu aperto no seu braço, cravando minhas unhas para que ela prestasse atenção.
Ela se encolheu. “Não. Não é o mesmo. Não tem nada a ver com aquilo. Você me ouviu?” Eu
podia sentir tanto os olhos de Natalie quanto de Dimitri em nós. “ Vai ficar tudo bem. Tudo vai
ficar bem.”
Não parecendo que acreditava em mim, Lissa afirmou com a cabeça.
“Limpe isso,” Kirova disse severamente para a inspetora. “E descubra se alguém viu algo.”
Alguém finalmente se tocou que eu estava ali e ordenou que Dimitri me levasse embora, não
importando o quanto eu implorasse para me deixarem ficar com Lissa. Ele me acompanhou
até o dormitório dos aprendizes. Ele não falou até estarmos quase lá. “Você sabe de alguma
coisa. Alguma coisa sobre o que aconteceu. Foi isso o que você quis dizer quando falou à
Diretora Kirova que Lissa estava em perigo?”
“Eu não sei de nada. É só alguma brincadeira doentia.”
“Você tem idéia de quem faria isso? Ou por quê?”
Eu ponderei sobre isso. Antes de fugirmos, isso poderia ter sido feito por diversas pessoas. É
assim que acontece quando se é popular. Pessoas te amam, pessoas te odeiam. Mas agora?
Lissa tinha deixado de ser popular em certa extensão. A única pessoa que realmente e
verdadeiramente a desprezava era Mia, mas Mia parecia lutar as suas batalhas com palavras,
não ações. E mesmo que ela tivesse decidido fazer algo mais agressivo, por que fazer isso? Ela
não parecia ser deste tipo. Existiam milhões de outros jeitos de se vingar de uma pessoa.
“Não,” eu falei a ele. “Nenhuma idéia”.
“Rose, se você sabe de algo, me conte. Nós estamos do mesmo lado. Nós dois queremos
protegê-la. Isto é sério.
Eu me virei, descontando minha raiva da raposa em cima dele. “Yeah, isso é sério. É tudo sério.
E você fica me fazendo dar voltas todos os dias enquanto eu deveria estar aprendendo a lutar
e defendê-la! Se você quer ajudá-la, me ensine alguma coisa!Me ensine a lutar. Eu já sei como
fugir.”
Eu não percebi até aquele momento o quanto eu queria aprender, o quanto eu queria me
provar para ele, para Lissa, e para todo mundo. O incidente com a raposa me fez sentir
impotente, e eu não gostei daquilo. Eu queria fazer alguma coisa,qualquer coisa.
Dimitri observou minha explosão calmamente, sem mudar sua expressão. Quando eu terminei,
ele simplesmente me chamou adiante como se eu não tivesse dito nada. “Vamos lá. Você está
atrasada para o treino.”

academia de vampiro - beijo das sombras (capitulo 6)

SEIS POR MAIS QUE O ENCONTRO de Lissa com Christian me incomodasse, acabou me dando uma idéia no dia seguinte. “Hey, Kirova – er, Sra. Kirova.” Eu parei na porta de sua sala, não me preocupando em marcar um horário. Ela levantou seus olhos de alguns documentos, claramente irritada por me ver. “Sim, Srtª Hathaway?” “A minha detenção significa que eu não posso ir à Igreja?” “Perdão?” “Você disse que sempre quando eu não estiver em aula ou praticando, eu devo ficar no dormitório. Mas e quanto a igreja aos domingos? Eu não acho que seja justo me deixar longe das minhas necessidades...hum, religiosas.” Ou me privar de outra chance – não importando o quão curta e chata – de estar com Lissa. Ela empurrou seus óculos até o meio do nariz. “Eu não estava consciente de que você tinha alguma necessidade religiosa.” “Eu encontrei Jesus enquanto estava longe.” “Sua mãe não é atéia?” ela perguntou com desconfiança. “E meu pai provavelmente é muçulmano. Mas eu sigo o meu próprio caminho. Você não deveria me afastar dele.” Ela fez um som que meio que pareceu como uma zombaria. “Não, Srtª Hathaway, eu não deveria. Muito bem. Você poderá estar presente na missa aos domingos.” A vitória foi curta, no entanto, porque quando fui à missa alguns dias depois, vi que a igreja era tão chata quanto eu lembrava. Eu consegui sentar ao lado de Lissa, pelo menos, o que me fez sentir como se estivesse tendo algum lucro nisso tudo. Na maior parte do tempo eu apenas observei as pessoas. Ir à igreja era opcional para os estudantes, mas com tantas famílias do Leste Europeu, vários estudantes eram Cristãos Ortodoxos e freqüentavam a igreja ou porque acreditavam ou porque seus pais lhes obrigavam. Christian sentou no lado oposto do corredor, fingindo ser tão santo como tinha dito. Por mais que eu não gostasse dele, sua falsa fé me fez sorrir. Dimitri sentou atrás, sua face contornada de sombras e, como eu, não comungou. Por mais pensativo que aparentasse, eu me perguntava se ele sequer havia escutado ao sermão. Eu escutava apenas algumas partes. “Seguir o caminho de Deus não é sempre fácil,” o padre estava dizendo. “Até mesmo o Santo Vladimir, santo patrono dessa escola, passou por momentos difíceis. Ele era tão espirituoso que as pessoas sempre se reuniam ao seu redor, extasiadas por apenas ouvi-lo e por estar em sua presença. Tão grande era seu espírito, os textos antigos dizem, que ele podia curar os doentes. Ainda assim, apesar desses dons, muitos não o respeitavam. Estes zombavam dele, afirmando que era desorientado e perturbado.” O que foi uma boa forma bonita de dizer que Vladimir era maluco. Todo mundo sabia disso. Ele era um dos poucos santos Moroi, por isso o padre gostava de falar muito sobre ele. Eu já tinha escutado tudo sobre ele, por muitas vezes antes de fugirmos. Legal. Parecia que eu teria uma infinidade de domingos para escutar a sua história de novo e de novo. “...e assim foi com a Anna Shadow-Kissed*." Eu levantei a minha cabeça. Eu não fazia idéia do que o padre estava falando, porque eu não estava escutando por um tempo. Mas essas palavras arderam em mim. Shadow-Kissed. Já fazia um tempo desde que eu as tinha ouvido, mas nunca as tinha esquecido. Eu aguardei, esperando que ele continuasse, mas ele já havia passado para a próxima parte da missa. O sermão tinha terminado. A missa terminou, e quando Lissa se virou para sair, eu virei minha cabeça para ela. “Espere por mim. Eu já volto.” Eu forcei o meu caminho pela multidão, indo até a frente, onde o padre estava conversando com algumas poucas pessoas. Eu esperei impacientemente até que ele terminasse. Natalie estava lá, questionando-o sobre algum trabalho voluntário que ela pudesse fazer. Ugh. Quando terminou, ela partiu, me cumprimentando enquanto passava. O padre levantou suas sobrancelhas quando me viu. “Olá, Rose. É bom te ver novamente.” “Yeah... você também,” eu disse. “Eu ouvi você falando sobre Anna. Sobre como ela era ‘shadow-kissed’. O que isso significa?” Ele fez uma carranca. “Eu não tenho certeza absoluta.Ela viveu há muito tempo atrás. Era comum se referir a pessoas por rótulos que refletiam algo de suas características pessoais. Devem ter lhe dado esse nome para que soasse de um modo feroz.” Eu tentei esconder meu desapontamento. “Ah. Então, quem ela era?” Dessa vez sua carranca foi mais de desaprovação do que pensativa. “Eu mencionei isso por diversas vezes.” “Oh. Eu devo ter, um, perdido essa parte.” Seu desapontamento aumentou, e ele se virou. “Espere só um momento.” Ele desapareceu pela porta próxima ao altar, aquela que Lissa usou para ir até o sotão. Considerei fugir, mas pensei que Deus poderia se vingar de mim por isso. Menos de um minuto depois, o padre retornou com um livro. Ele o passou para mim. Santos Moroi. “Você pode aprender sobre ela aqui. Da próxima vez em que eu te ver, gostaria de ouvir o que você aprendeu.” Fiz cara feia enquanto saia. Ótimo. Lição de casa passada pelo padre. Na entrada da capela, encontrei Lissa conversando com Aaron. Ela sorria enquanto falava, e os sentimentos emanandos dela eram felizes, apesar de certamente não serem de paixão. “Você está brincando,” ela exclamou. Ele sacudiu sua cabeça. “Nope.” Me vendo chegar, ela se virou para mim. “Rose, você não vai acreditar nisso. Você conhece Abby Badica? E Xander? O guardião deles quer se demitir. E casar com outra guardiã.” Agora sim, isso era fofoca excitante. Um escândalo, na verdade. “Sério? Eles vão, tipo, fugir juntos?” Ela assentiu. “Eles estão comprando uma casa. Vão procurar emprego entre os humanos, eu acho.” Eu olhei para Aaron, que repentinamente tinha ficado tímido comigo ali. “Como Abby e Xander estão lidando com isso?” “Okay. Constrangidos. Eles acham que é estupidez.” Então, ele percebeu com quem estava falando. “Oh. Eu não queria dizer—“ “Não importa.” Eu dei a ele um estreito sorriso. “Isso é estupidez.” Wow. Eu estava perplexa. A parte rebelde em mim amava qualquer história onde as pessoas “lutavam contra o sistema”. Só que, nesse caso, eles estavam lutando contra o meu sistema, aquele em que eu fui treinada para acreditar durante toda a minha vida. Dhampirs e Moroi tinham um acordo estranho. Dharmpis originalmente tinham nascido das relações entre Moroi e humanos. Infelizmente, dhampirs não podiam reproduzir entre si – ou com humanos. É uma dessas coisas estranhas sobre genética. Mulas eram do mesmo jeito, me contaram, apesar de ser uma comparação que não gostei muito de escutar. Dhampirs e Moroi puros podiam ter filhos juntos, e por meio de outra esquisitice da genética, seus filhos nasciam como dhampirs padrão, com metade dos genes humanos, metade dos genes vampiros. Com os Moroi sendo os únicos com quem os dhampirs poderiam reproduzir, nós tínhamos que estar próximos e unidos a eles. Isto é, se tornou importante para nós que os Moroi simplesmente sobrevivessem. Sem eles, nós estariamos acabados. E do jeito que os Strigoi adoravam destruir um por um dos Moroi, sua sobrevivência se tornou uma preocupação legítima para nós. É assim que se desenvolveu o sistema guardião. Dhampirs não podiam usar magia, mas nós dávamos como ótimos guerreiros. Nós herdamos os sentidos e reflexos aguçados de nossos genes vampiros, e uma força e resistência mais aprimorada dos genes humanos. Também não éramos limitados pela necessidade de sangue ou pelos problemas com a luz do sol. Claro, nós não éramos tão poderosos quanto os Strigoi, mas nós treinávamos duro, e guardiões faziam um trabalho bom pra caramba em manter os Moroi seguros. A maioria dos dhampirs sentiam que valia a pena arriscar suas vidas para garantir que nossa espécie pudesse continuar reproduzindo. Considerando que os Moroi normalmente queriam ter e criar filhos Moroi, você não encontrava muitos romances duradouros entre Moroi-dhampir. Principalmente, você não encontrava muitas mulheres Moroi se amarrando com caras dhampir. Mas um monte de jovens Moroi gostavam de sair por aí pegando mulheres dhampir, apesar de geralmente eles acabarem casando com mulheres Moroi. Isso resultava em um monte de mães solteiras dhampir, mas nós éramos fortes e podíamos lidar com isso. No entanto, muitas mães dhampir escolhiam não se tornar guardiãs para poder criar seus filhos. Essas mulheres, às vezes, possuíam empregos “comuns”, trabalhando com Moroi ou humanos; algumas delas viviam juntas em comunidades. Essas comunidades tinham uma má reputação. Eu não sei o quanto disso é verdade, mas os rumores contavam que homens Moroi as visitavam a todo tempo em busca de sexo. E que algumas mulheres dhampir deixavam que eles tomassem seu sangue enquanto isso. Meretrizes de sangue. Além do mais, quase todos os guardiões eram homens, o que significa que existiam muito mais Moroi do que guardiões. A maioria dos caras dhampir aceitavam que não poderiam ter filhos. Eles sabiam que era de sua responsabilidade proteger os Moroi enquanto suas irmãs e primas tinham filhos. Algumas mulheres dhampir, como minha mãe, ainda sentiam que era seu dever se tornarem guardiãs – mesmo que isso significasse não criar seus próprios filhos. Depois que eu nasci, ela me entregou para ser criada por um Moroi. Moroi e dhampirs começam a freqüentar a escola bem novos, e a Academia essencialmente me assumiu como meus pais quando eu tinha quatro anos. Em conseqüência do exemplo que ela me deu e minha vida na Academia, eu acreditava piamente que o dever de um dhampir é proteger os Moroi. Era parte de nossa herança, e a única forma de continuar existindo. Simples assim. E isso era o que acabou tornando a atitude do guardião dos Badicas tão chocante. Ele tinha abandonado seu Moroi e fugido com outra guardiã, o que significa que ela abandonou Moroi dela. Eles não poderiam nem ter filhos juntos, e agora duas famílias estavam desprotegidas. Qual era o objetivo nisso? Ninguém se importava se os adolescentes dhampirs namorassem ou se os dhampirs adultos tivessem alguns casos. Mas um relacionamento sério? Particularmente um que envolvia os dois fugindo? Um completo desperdício. E uma desgraça. Depois de um pouco mais de especulação sobre os Badicas, Lissa e eu deixamos Aaron. Assim que demos um passo afora, eu escutei um engraçado barulho de movimento seguido de algo deslizando. Tarde demais percebi o que tinha acontecido, só quando um montão de neve derretida caiu do teto da capela em cima de nós. Era início de outubro e tínhamos tido neve antes da época na noite anterior, que começou a derreter quase imediatamente. Como resultado, a coisa que caiu em cima da gente era muito úmida e muito gelada. Em Lissa caiu a maior parte, mas mesmo assim eu soltei um gritinho logo que a água gelada caiu no meu cabelo e pescoço. Alguns outros, ali perto, gritaram também, tendo visto a miniavalanche. “Você está bem?” eu perguntei para ela. Seu casaco estava ensopado, e seu cabelo de platina grudado nos lados de sua face. “Y-yeah,” ela disse rangendo os dentes. Eu tirei o meu casaco e passei para ela. Ele tinha uma superfície mais impermeável e tinha repelido a maior parte da água. “Tire o seu.” “Mas você vai ficar—“ “Pegue esse.” Ela pegou, e assim que se enfiava no meu casaco, eu finalmente percebi as gargalhadas que sempre seguem uma situação como essa. Eu evitei os olhares, me focando, em vez disso, em segurar o casaco molhado de Lissa enquanto ela se trocava. “Queria que você não estivesse usando um casaco, Rose,” disse Ralf Sarcozy, um Moroi peculiarmente corpulento e rechonchudo. Eu o odiava. “Essa blusa ficaria boa molhada.” “Essa blusa é tão feia que deveria ser queimada. Você pegou isso de um mendigo?” Eu olhei para cima enquanto Mia passaava e entrelaçava seu braço no de Aaron. Seus cachos loiros estavam perfeitamente arrumados, e ela estava em um incrível par de sapatos de salto alto pretos que ficariam muito melhores em mim. Pelo menos eles a deixavam mais alta, eu admito. Aaron estava a alguns passos atrás de nós, mas miraculosamente tinha evitado ser atingido pela neve derretida. Vendo o quão arrogante ela estava, eu decidi que não tinha milagre algum envolvido ali. “Eu imagino que você queira se oferecer para queimá-la, huh?” eu perguntei, me recusando a deixá-la saber o quanto aquele insulto tinha me incomodado. Eu sabia perfeitamente bem que minha noção de moda tinha escorregado nos últimos dois anos. “Oh, espere – fogo não é o seu elemento, é? Você trabalha com água. Que coincidência que um monte tenha caído justamente em nós.” Mia olhou como se tivesse sido insultada, mas o brilho em seus olhos mostrou que ela estava gostando demais disso para ser apenas uma inocente espectadora. “O que isso deveria significar?” “Nada para mim. Mas Sra. Kirova provavelmente terá algo a dizer quando ela descobrir que você usou magia contra outro estudante.” “Isso não foi um ataque,” ela zombou. “E não fui eu. Foi um ato de Deus.” Alguns poucos riram, o bastante para a diversão dela. Em minha imaginação eu respondi com, Isso também, e em seguida a arremessava para um lado da igreja. Na vida real, Lissa simplesmente me cutucou e disse “Vamos.” Ela e eu andamos em direção de nossos respectivos dormitórios, deixando para trás gargalhadas e piadas sobre nosso estado ensopado e sobre como Lissa não saberia nada sobre especialização. Por dentro, eu fervia. Eu tinha que fazer algo quanto Mia, me toquei. Além da normal irritação causada pela chateação de Mia, eu não queria que Lissa tivesse que lidar com mais stress do que ela já tinha. Nós tínhamos ficado bem nessa primeira semana, e eu queria manter desse jeito. “Você sabe,” eu disse, “eu penso cada vez mais que você roubar Aaron de volta é uma coisa boa. Vai ensinar a essa Boneca Vaca uma lição. Eu aposto que ia ser fácil, também. Ele ainda é louco por você.” “Eu não quero ensinar uma lição a ninguém,” disse Lissa. “E eu não sou louca por ele.” “Deixa disso, ela arma brigas e fala de nós pelas costas. Ontem ela me acusou de pegar calças jeans do Exército da Salvação.” “Suas calças jeans são do Exército da Salvação.” “Bem, yeah,” eu retruquei, “mas ela não tem o direito de tirar sarro delas quando ela está vestindo coisas da Target.”* “Hey, não tem nada errado com a Target. Eu gosto da Target.” “Eu também. Essa não é a questão. Ela tenta fazer com que as coisas dela pareçam da Stella McCartney.” “E isso é um crime?” Eu fingi uma expressão solene. “Absolutamente. Você tem que se vingar.” “Eu já te disse, não estou interessada em vingança.” Lissa me retalhou com um longo olhar. “Eu você também não deveria estar.” Eu sorri da forma mais inocente que consegui, e quando cada uma seguiu seu caminho, eu me senti novamente aliviada pelo fato de que ela não podia ler meus pensamentos. “E então, quando a grande briga de mulheres vai acontecer?” Mason estava me esperando do lado de fora do dormitório após eu ter me separado de Lissa. Ele parecia preguiçoso e fofo, encostado na parede com os braços cruzados enquanto me olhava. “Eu com certeza não sei o que você quer dizer.” Ele desdobrou os braços e caminhou comigo para dentro do edifício, me passando seu casaco já que eu tinha deixado Lissa ir com o meu seco. “Eu vi vocês discutindo do lado de fora da capela. Você não tem respeito algum pela casa de Deus?” Eu bufei. “Você tem praticamente o mesmo respeito que eu tenho, seu bárbaro. Você nem ao menos vai até lá. Aliás, como você mesmo disse, nós estávamos do lado de fora.” “E você ainda não respondeu a pergunta.” Eu só dei um largo sorriso e me enfiei em seu casaco. Nós ficamos na área comum do dormitório, um saguão muito bem inspecionado e área de estudo onde estudantes dos dois sexos podiam se misturar, além dos convidados Moroi. Sendo domingo, estava bastante lotado de tarefas de última hora por causa da aula do próximo dia. Espiando uma mesa pequena e vazia, eu agarrei o braço de Mason e o puxei na direção dela. “Você não deveria ir direto para o seu quarto?” Fiquei de cócoras no meu assento, olhando em volta cautelosamente. “Tem muita gente aqui hoje, vai demorar um tempo até que me notem. Deus, eu estou tão cheia de estar trancafiada. E só se passou uma semana.” “Eu também estou cheio disso. Nós sentimos sua falta na noite passada. Uma porção de nós foi e jogamos sinuca na sala de jogos. Eddie estava pegando fogo.” Eu suspirei. “Não me diga isso. Eu não quero ouvir sobre sua glamurosa vida social.” “Tudo bem.” Ele apoiou seu cotovelo na mesa e pousou seu queixo em sua mão. “Então me fale de Mia. Você está para se virar e dar um soco nela um dia, não está? Eu acho que me lembro de você fazendo isso no mínimo dez vezes com pessoas que te tiravam do sério.” “Eu sou uma nova, renovada Rose,” eu disse, passando a minha melhor impressão de seriedade. Que não era muito boa. Ele emitiu uma risada abafada. “Além do mais, se eu fizer isso, eu vou quebrar a minha condicional com Kirova. Tenho que andar na linha.” “Em outras palavras, ache algum jeito de se vingar de Mia sem que entre em problemas.” Eu senti um sorriso forçando os cantos dos meus lábios. “Sabe o que eu gosto em você, Mase? Você pensa exatamente como eu.” “Teoria assustadora,” ele replicou secamente. “Me diga então o que pensa disso: eu posso saber algo sobre ela, mas eu provavelmente não devo lhe contar...” Eu me inclinei a frente. “Oh, agora você já começou. Você tem que me contar agora.” “Seria errado,” ele provocou, “Como eu vou saber que você vai usar essa informação para o bem em vez do mal?” Eu pisquei várias vezes. “Você consegue resistir a esse rostinho?” Ele me estudou por um momento. “Não. Eu não consigo, na verdade. Okay, aqui vai: Mia não é da realeza.” Eu relaxei de novo na cadeira. “Não brinca. Eu já sabia disso. Eu sei quem é da realeza desde que tinha dois anos de idade.” “Yeah, mas não é só isso. Os pais dela trabalham para um dos lordes Drozdovs.” Eu acenei minha mão impacientemente. Um monte de Moroi trabalha no mundo humano, mas a sociedade Moroi também tem várias vagas de trabalho para sua própria raça. Alguém precisava preenchê-las. “Coisa de limpeza. São praticamente servos. Seu pai corta grama e sua mãe é uma criada.” Na realidade eu tinha um grande respeito por qualquer um que tinha um trabalho integral, independentemente do emprego. Pessoas em todos os lugares tinham que fazer coisas nojentas para viver. Mas, assim como ocorria com a Target, se tornava outro assunto quando alguém tentava se passar por algo que não é. E durante a semana que estive aqui, me liguei do quão desesperadamente Mia queria se encaixar com a elite da escola. “Ninguém sabe,” eu disse pensativamente. “E ela não quer que saibam. Você sabe como a realeza é.” Ele fez uma pausa. “Bem, exceto por Lissa, é claro. Eles fariam Mia passer por maus bocados por isso.” “Como você sabe de tudo isso?” “Meu tio é guardião para os Drozdovs.” “E você vem guardando esse segredo, huh?” “Até você descobrir. Então qual é o caminho que você irá escolher: bem ou mal?” “Eu acho que vou dar a ela a honra—“ “Srta. Hathaway, você sabe que não deveria estar aqui.” Uma das inspetoras do dormitório parou em nossa frente, com desaprovação em toda a sua face. Eu não estava brincando quando disse que Mason pensava como eu. Ele podia enrolar tão bem quanto eu. “Nós temos um projeto em grupo para fazer para nossa classe de línguas. Como nós deveríamos fazer se Rose estiver isolada?” A inspetora estreitou seus olhos. “Não parece que vocês estejam fazendo um trabalho.” Eu puxei o livro do padre e o abri aleatoriamente. Eu havia colocado ele na mesa quando nos sentamos. “Nós estamos, um, trabalhando nisso.” Ela ainda parecia desconfiada. “Uma hora. Eu vou dar mais uma para você aqui embaixo, e é bom que eu veja você trabalhando.” “Sim senhora,” disse Mason de rosto sério. “Absolutamente.” Ela se afastou ainda olhando para nós. “Meu herói,” eu declarei. Ele apontou para o livro. “O que é isso?” “Algo que o padre me deu. Eu tinha uma dúvida sobre o sermão.” Ele me encarou, estarrecido. “Oh, pare com isso e pareça interessado.” Eu passei os olhos sobre o índice. “Eu estou tentando achar uma mulher chamada Anna.” Mason arrastou sua cadeira, de forma que acabou sentado bem ao meu lado. “Tudo bem. Vamos estudar.” Eu encontrei o número da página que me levou até a seção sobre Santo Vladimir, sem surpresa alguma. Nós lemos rapidamente o capítulo procurando pelo nome de Anna. Quando achamos, o autor não tinha muito o que dizer sobre ela. Ele tinha incluído um trecho escrito por um outro cara que aparentemente tinha vivido na mesma época de Santo Vladimir: E com Vladimir sempre está Anna, filha de Fyodor. O amor deles é inocente e puro como o de irmão e irmã, e por diversas vezes ela o defendeu contra os Strigoi que buscavam destruir a ele e a sua santidade. Outrossim, é ela quem o conforta quando o espírito se torna difícil de suportar, e a escuridão de Satã tenta envolvê-lo e enfraquecer seu próprio corpo e saúde. Contra isso ela também o defende, pois eles estavam interligados desde que ele salvou a vida dela quando criança. É um sinal do amor de Deus que Ele tenha enviado ao abençoado Vladimir uma guardiã como ela, uma que é shadow-kissed e sempre sabe o que está no coração e na mente dele. “Aqui está,” Mason disse. “Ela era a guardiã dele.” “Aqui não diz o que shadow-kissed significa.” “Provavelmente não significa nada.” Algo em mim não acreditava nisso. Eu li de novo, tentando interpretar a linguagem antiga. Mason me observava curiosamente, aparentando querer muito ajudar. “Talvez eles estivessem namorando,” ele sugeriu. Eu ri. “Ele era um santo.” “E daí? Santos provavelmente gostavam de sexo também. Esse negócio de “irmão e irmã” é provavelmente fachada.” Ele apontou para uma das frases. “Vê? Eles estavam “interligados”. Ele deu uma piscada. “É um código.” Interligados. É uma escolha estranha de palavra, mas não quer dizer necessariamente que Anna e Vladimir estavam arrancando as roupas um do outro. “Eu não acho isso. Eles eram apenas íntimos. Garotos e garotas podem ser apenas amigos.” Eu disse isso enfaticamente, e ele me deu uma olhar seco. “Yeah? Nós somos amigos e eu não sei o que está no seu ‘coração e mente’” Mason fez uma expressão de falso filósofo. “É claro, alguns argumentam que nunca se sabe o que se passa no coração de uma mulher—“ “Oh, cala a boca,” eu bufei, socando o braço dele. “Pois elas são criaturas estranhas e misteriosas,” ele continuou em sua voz de professor, “e um homem deve saber ler mentes se deseja fazê-las felizes.” Eu comecei a rir incontrolavelmente e sabia que provavelmente estaria com problemas de novo. “Bem, tente ler a minha mente e pare de ser tão—“ Eu parei de rir e olhei para baixo, de volta para o livro. Interligados e sempre sabe o que está no coração e na mente dele. Eles tinham uma ligação, eu me toquei. Eu poderia apostar tudo que tinha – o que não era muito – nisso. A revelação era assustadora. Existiam um monte de vagas histórias e mitos sobre como guardiões e Moroi ‘costumavam ter ligações’. Mas essa era a primeira que eu já tinha ouvido sobre alguém específico com o qual isso ocorreu. Mason notou o meu choque. “Você está bem? Você parece meio estranha.” Eu encolhi os ombros. “Yeah. Bem.”