quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

academia de vampiro - beijo das sombras (capitulo 6)

SEIS POR MAIS QUE O ENCONTRO de Lissa com Christian me incomodasse, acabou me dando uma idéia no dia seguinte. “Hey, Kirova – er, Sra. Kirova.” Eu parei na porta de sua sala, não me preocupando em marcar um horário. Ela levantou seus olhos de alguns documentos, claramente irritada por me ver. “Sim, Srtª Hathaway?” “A minha detenção significa que eu não posso ir à Igreja?” “Perdão?” “Você disse que sempre quando eu não estiver em aula ou praticando, eu devo ficar no dormitório. Mas e quanto a igreja aos domingos? Eu não acho que seja justo me deixar longe das minhas necessidades...hum, religiosas.” Ou me privar de outra chance – não importando o quão curta e chata – de estar com Lissa. Ela empurrou seus óculos até o meio do nariz. “Eu não estava consciente de que você tinha alguma necessidade religiosa.” “Eu encontrei Jesus enquanto estava longe.” “Sua mãe não é atéia?” ela perguntou com desconfiança. “E meu pai provavelmente é muçulmano. Mas eu sigo o meu próprio caminho. Você não deveria me afastar dele.” Ela fez um som que meio que pareceu como uma zombaria. “Não, Srtª Hathaway, eu não deveria. Muito bem. Você poderá estar presente na missa aos domingos.” A vitória foi curta, no entanto, porque quando fui à missa alguns dias depois, vi que a igreja era tão chata quanto eu lembrava. Eu consegui sentar ao lado de Lissa, pelo menos, o que me fez sentir como se estivesse tendo algum lucro nisso tudo. Na maior parte do tempo eu apenas observei as pessoas. Ir à igreja era opcional para os estudantes, mas com tantas famílias do Leste Europeu, vários estudantes eram Cristãos Ortodoxos e freqüentavam a igreja ou porque acreditavam ou porque seus pais lhes obrigavam. Christian sentou no lado oposto do corredor, fingindo ser tão santo como tinha dito. Por mais que eu não gostasse dele, sua falsa fé me fez sorrir. Dimitri sentou atrás, sua face contornada de sombras e, como eu, não comungou. Por mais pensativo que aparentasse, eu me perguntava se ele sequer havia escutado ao sermão. Eu escutava apenas algumas partes. “Seguir o caminho de Deus não é sempre fácil,” o padre estava dizendo. “Até mesmo o Santo Vladimir, santo patrono dessa escola, passou por momentos difíceis. Ele era tão espirituoso que as pessoas sempre se reuniam ao seu redor, extasiadas por apenas ouvi-lo e por estar em sua presença. Tão grande era seu espírito, os textos antigos dizem, que ele podia curar os doentes. Ainda assim, apesar desses dons, muitos não o respeitavam. Estes zombavam dele, afirmando que era desorientado e perturbado.” O que foi uma boa forma bonita de dizer que Vladimir era maluco. Todo mundo sabia disso. Ele era um dos poucos santos Moroi, por isso o padre gostava de falar muito sobre ele. Eu já tinha escutado tudo sobre ele, por muitas vezes antes de fugirmos. Legal. Parecia que eu teria uma infinidade de domingos para escutar a sua história de novo e de novo. “...e assim foi com a Anna Shadow-Kissed*." Eu levantei a minha cabeça. Eu não fazia idéia do que o padre estava falando, porque eu não estava escutando por um tempo. Mas essas palavras arderam em mim. Shadow-Kissed. Já fazia um tempo desde que eu as tinha ouvido, mas nunca as tinha esquecido. Eu aguardei, esperando que ele continuasse, mas ele já havia passado para a próxima parte da missa. O sermão tinha terminado. A missa terminou, e quando Lissa se virou para sair, eu virei minha cabeça para ela. “Espere por mim. Eu já volto.” Eu forcei o meu caminho pela multidão, indo até a frente, onde o padre estava conversando com algumas poucas pessoas. Eu esperei impacientemente até que ele terminasse. Natalie estava lá, questionando-o sobre algum trabalho voluntário que ela pudesse fazer. Ugh. Quando terminou, ela partiu, me cumprimentando enquanto passava. O padre levantou suas sobrancelhas quando me viu. “Olá, Rose. É bom te ver novamente.” “Yeah... você também,” eu disse. “Eu ouvi você falando sobre Anna. Sobre como ela era ‘shadow-kissed’. O que isso significa?” Ele fez uma carranca. “Eu não tenho certeza absoluta.Ela viveu há muito tempo atrás. Era comum se referir a pessoas por rótulos que refletiam algo de suas características pessoais. Devem ter lhe dado esse nome para que soasse de um modo feroz.” Eu tentei esconder meu desapontamento. “Ah. Então, quem ela era?” Dessa vez sua carranca foi mais de desaprovação do que pensativa. “Eu mencionei isso por diversas vezes.” “Oh. Eu devo ter, um, perdido essa parte.” Seu desapontamento aumentou, e ele se virou. “Espere só um momento.” Ele desapareceu pela porta próxima ao altar, aquela que Lissa usou para ir até o sotão. Considerei fugir, mas pensei que Deus poderia se vingar de mim por isso. Menos de um minuto depois, o padre retornou com um livro. Ele o passou para mim. Santos Moroi. “Você pode aprender sobre ela aqui. Da próxima vez em que eu te ver, gostaria de ouvir o que você aprendeu.” Fiz cara feia enquanto saia. Ótimo. Lição de casa passada pelo padre. Na entrada da capela, encontrei Lissa conversando com Aaron. Ela sorria enquanto falava, e os sentimentos emanandos dela eram felizes, apesar de certamente não serem de paixão. “Você está brincando,” ela exclamou. Ele sacudiu sua cabeça. “Nope.” Me vendo chegar, ela se virou para mim. “Rose, você não vai acreditar nisso. Você conhece Abby Badica? E Xander? O guardião deles quer se demitir. E casar com outra guardiã.” Agora sim, isso era fofoca excitante. Um escândalo, na verdade. “Sério? Eles vão, tipo, fugir juntos?” Ela assentiu. “Eles estão comprando uma casa. Vão procurar emprego entre os humanos, eu acho.” Eu olhei para Aaron, que repentinamente tinha ficado tímido comigo ali. “Como Abby e Xander estão lidando com isso?” “Okay. Constrangidos. Eles acham que é estupidez.” Então, ele percebeu com quem estava falando. “Oh. Eu não queria dizer—“ “Não importa.” Eu dei a ele um estreito sorriso. “Isso é estupidez.” Wow. Eu estava perplexa. A parte rebelde em mim amava qualquer história onde as pessoas “lutavam contra o sistema”. Só que, nesse caso, eles estavam lutando contra o meu sistema, aquele em que eu fui treinada para acreditar durante toda a minha vida. Dhampirs e Moroi tinham um acordo estranho. Dharmpis originalmente tinham nascido das relações entre Moroi e humanos. Infelizmente, dhampirs não podiam reproduzir entre si – ou com humanos. É uma dessas coisas estranhas sobre genética. Mulas eram do mesmo jeito, me contaram, apesar de ser uma comparação que não gostei muito de escutar. Dhampirs e Moroi puros podiam ter filhos juntos, e por meio de outra esquisitice da genética, seus filhos nasciam como dhampirs padrão, com metade dos genes humanos, metade dos genes vampiros. Com os Moroi sendo os únicos com quem os dhampirs poderiam reproduzir, nós tínhamos que estar próximos e unidos a eles. Isto é, se tornou importante para nós que os Moroi simplesmente sobrevivessem. Sem eles, nós estariamos acabados. E do jeito que os Strigoi adoravam destruir um por um dos Moroi, sua sobrevivência se tornou uma preocupação legítima para nós. É assim que se desenvolveu o sistema guardião. Dhampirs não podiam usar magia, mas nós dávamos como ótimos guerreiros. Nós herdamos os sentidos e reflexos aguçados de nossos genes vampiros, e uma força e resistência mais aprimorada dos genes humanos. Também não éramos limitados pela necessidade de sangue ou pelos problemas com a luz do sol. Claro, nós não éramos tão poderosos quanto os Strigoi, mas nós treinávamos duro, e guardiões faziam um trabalho bom pra caramba em manter os Moroi seguros. A maioria dos dhampirs sentiam que valia a pena arriscar suas vidas para garantir que nossa espécie pudesse continuar reproduzindo. Considerando que os Moroi normalmente queriam ter e criar filhos Moroi, você não encontrava muitos romances duradouros entre Moroi-dhampir. Principalmente, você não encontrava muitas mulheres Moroi se amarrando com caras dhampir. Mas um monte de jovens Moroi gostavam de sair por aí pegando mulheres dhampir, apesar de geralmente eles acabarem casando com mulheres Moroi. Isso resultava em um monte de mães solteiras dhampir, mas nós éramos fortes e podíamos lidar com isso. No entanto, muitas mães dhampir escolhiam não se tornar guardiãs para poder criar seus filhos. Essas mulheres, às vezes, possuíam empregos “comuns”, trabalhando com Moroi ou humanos; algumas delas viviam juntas em comunidades. Essas comunidades tinham uma má reputação. Eu não sei o quanto disso é verdade, mas os rumores contavam que homens Moroi as visitavam a todo tempo em busca de sexo. E que algumas mulheres dhampir deixavam que eles tomassem seu sangue enquanto isso. Meretrizes de sangue. Além do mais, quase todos os guardiões eram homens, o que significa que existiam muito mais Moroi do que guardiões. A maioria dos caras dhampir aceitavam que não poderiam ter filhos. Eles sabiam que era de sua responsabilidade proteger os Moroi enquanto suas irmãs e primas tinham filhos. Algumas mulheres dhampir, como minha mãe, ainda sentiam que era seu dever se tornarem guardiãs – mesmo que isso significasse não criar seus próprios filhos. Depois que eu nasci, ela me entregou para ser criada por um Moroi. Moroi e dhampirs começam a freqüentar a escola bem novos, e a Academia essencialmente me assumiu como meus pais quando eu tinha quatro anos. Em conseqüência do exemplo que ela me deu e minha vida na Academia, eu acreditava piamente que o dever de um dhampir é proteger os Moroi. Era parte de nossa herança, e a única forma de continuar existindo. Simples assim. E isso era o que acabou tornando a atitude do guardião dos Badicas tão chocante. Ele tinha abandonado seu Moroi e fugido com outra guardiã, o que significa que ela abandonou Moroi dela. Eles não poderiam nem ter filhos juntos, e agora duas famílias estavam desprotegidas. Qual era o objetivo nisso? Ninguém se importava se os adolescentes dhampirs namorassem ou se os dhampirs adultos tivessem alguns casos. Mas um relacionamento sério? Particularmente um que envolvia os dois fugindo? Um completo desperdício. E uma desgraça. Depois de um pouco mais de especulação sobre os Badicas, Lissa e eu deixamos Aaron. Assim que demos um passo afora, eu escutei um engraçado barulho de movimento seguido de algo deslizando. Tarde demais percebi o que tinha acontecido, só quando um montão de neve derretida caiu do teto da capela em cima de nós. Era início de outubro e tínhamos tido neve antes da época na noite anterior, que começou a derreter quase imediatamente. Como resultado, a coisa que caiu em cima da gente era muito úmida e muito gelada. Em Lissa caiu a maior parte, mas mesmo assim eu soltei um gritinho logo que a água gelada caiu no meu cabelo e pescoço. Alguns outros, ali perto, gritaram também, tendo visto a miniavalanche. “Você está bem?” eu perguntei para ela. Seu casaco estava ensopado, e seu cabelo de platina grudado nos lados de sua face. “Y-yeah,” ela disse rangendo os dentes. Eu tirei o meu casaco e passei para ela. Ele tinha uma superfície mais impermeável e tinha repelido a maior parte da água. “Tire o seu.” “Mas você vai ficar—“ “Pegue esse.” Ela pegou, e assim que se enfiava no meu casaco, eu finalmente percebi as gargalhadas que sempre seguem uma situação como essa. Eu evitei os olhares, me focando, em vez disso, em segurar o casaco molhado de Lissa enquanto ela se trocava. “Queria que você não estivesse usando um casaco, Rose,” disse Ralf Sarcozy, um Moroi peculiarmente corpulento e rechonchudo. Eu o odiava. “Essa blusa ficaria boa molhada.” “Essa blusa é tão feia que deveria ser queimada. Você pegou isso de um mendigo?” Eu olhei para cima enquanto Mia passaava e entrelaçava seu braço no de Aaron. Seus cachos loiros estavam perfeitamente arrumados, e ela estava em um incrível par de sapatos de salto alto pretos que ficariam muito melhores em mim. Pelo menos eles a deixavam mais alta, eu admito. Aaron estava a alguns passos atrás de nós, mas miraculosamente tinha evitado ser atingido pela neve derretida. Vendo o quão arrogante ela estava, eu decidi que não tinha milagre algum envolvido ali. “Eu imagino que você queira se oferecer para queimá-la, huh?” eu perguntei, me recusando a deixá-la saber o quanto aquele insulto tinha me incomodado. Eu sabia perfeitamente bem que minha noção de moda tinha escorregado nos últimos dois anos. “Oh, espere – fogo não é o seu elemento, é? Você trabalha com água. Que coincidência que um monte tenha caído justamente em nós.” Mia olhou como se tivesse sido insultada, mas o brilho em seus olhos mostrou que ela estava gostando demais disso para ser apenas uma inocente espectadora. “O que isso deveria significar?” “Nada para mim. Mas Sra. Kirova provavelmente terá algo a dizer quando ela descobrir que você usou magia contra outro estudante.” “Isso não foi um ataque,” ela zombou. “E não fui eu. Foi um ato de Deus.” Alguns poucos riram, o bastante para a diversão dela. Em minha imaginação eu respondi com, Isso também, e em seguida a arremessava para um lado da igreja. Na vida real, Lissa simplesmente me cutucou e disse “Vamos.” Ela e eu andamos em direção de nossos respectivos dormitórios, deixando para trás gargalhadas e piadas sobre nosso estado ensopado e sobre como Lissa não saberia nada sobre especialização. Por dentro, eu fervia. Eu tinha que fazer algo quanto Mia, me toquei. Além da normal irritação causada pela chateação de Mia, eu não queria que Lissa tivesse que lidar com mais stress do que ela já tinha. Nós tínhamos ficado bem nessa primeira semana, e eu queria manter desse jeito. “Você sabe,” eu disse, “eu penso cada vez mais que você roubar Aaron de volta é uma coisa boa. Vai ensinar a essa Boneca Vaca uma lição. Eu aposto que ia ser fácil, também. Ele ainda é louco por você.” “Eu não quero ensinar uma lição a ninguém,” disse Lissa. “E eu não sou louca por ele.” “Deixa disso, ela arma brigas e fala de nós pelas costas. Ontem ela me acusou de pegar calças jeans do Exército da Salvação.” “Suas calças jeans são do Exército da Salvação.” “Bem, yeah,” eu retruquei, “mas ela não tem o direito de tirar sarro delas quando ela está vestindo coisas da Target.”* “Hey, não tem nada errado com a Target. Eu gosto da Target.” “Eu também. Essa não é a questão. Ela tenta fazer com que as coisas dela pareçam da Stella McCartney.” “E isso é um crime?” Eu fingi uma expressão solene. “Absolutamente. Você tem que se vingar.” “Eu já te disse, não estou interessada em vingança.” Lissa me retalhou com um longo olhar. “Eu você também não deveria estar.” Eu sorri da forma mais inocente que consegui, e quando cada uma seguiu seu caminho, eu me senti novamente aliviada pelo fato de que ela não podia ler meus pensamentos. “E então, quando a grande briga de mulheres vai acontecer?” Mason estava me esperando do lado de fora do dormitório após eu ter me separado de Lissa. Ele parecia preguiçoso e fofo, encostado na parede com os braços cruzados enquanto me olhava. “Eu com certeza não sei o que você quer dizer.” Ele desdobrou os braços e caminhou comigo para dentro do edifício, me passando seu casaco já que eu tinha deixado Lissa ir com o meu seco. “Eu vi vocês discutindo do lado de fora da capela. Você não tem respeito algum pela casa de Deus?” Eu bufei. “Você tem praticamente o mesmo respeito que eu tenho, seu bárbaro. Você nem ao menos vai até lá. Aliás, como você mesmo disse, nós estávamos do lado de fora.” “E você ainda não respondeu a pergunta.” Eu só dei um largo sorriso e me enfiei em seu casaco. Nós ficamos na área comum do dormitório, um saguão muito bem inspecionado e área de estudo onde estudantes dos dois sexos podiam se misturar, além dos convidados Moroi. Sendo domingo, estava bastante lotado de tarefas de última hora por causa da aula do próximo dia. Espiando uma mesa pequena e vazia, eu agarrei o braço de Mason e o puxei na direção dela. “Você não deveria ir direto para o seu quarto?” Fiquei de cócoras no meu assento, olhando em volta cautelosamente. “Tem muita gente aqui hoje, vai demorar um tempo até que me notem. Deus, eu estou tão cheia de estar trancafiada. E só se passou uma semana.” “Eu também estou cheio disso. Nós sentimos sua falta na noite passada. Uma porção de nós foi e jogamos sinuca na sala de jogos. Eddie estava pegando fogo.” Eu suspirei. “Não me diga isso. Eu não quero ouvir sobre sua glamurosa vida social.” “Tudo bem.” Ele apoiou seu cotovelo na mesa e pousou seu queixo em sua mão. “Então me fale de Mia. Você está para se virar e dar um soco nela um dia, não está? Eu acho que me lembro de você fazendo isso no mínimo dez vezes com pessoas que te tiravam do sério.” “Eu sou uma nova, renovada Rose,” eu disse, passando a minha melhor impressão de seriedade. Que não era muito boa. Ele emitiu uma risada abafada. “Além do mais, se eu fizer isso, eu vou quebrar a minha condicional com Kirova. Tenho que andar na linha.” “Em outras palavras, ache algum jeito de se vingar de Mia sem que entre em problemas.” Eu senti um sorriso forçando os cantos dos meus lábios. “Sabe o que eu gosto em você, Mase? Você pensa exatamente como eu.” “Teoria assustadora,” ele replicou secamente. “Me diga então o que pensa disso: eu posso saber algo sobre ela, mas eu provavelmente não devo lhe contar...” Eu me inclinei a frente. “Oh, agora você já começou. Você tem que me contar agora.” “Seria errado,” ele provocou, “Como eu vou saber que você vai usar essa informação para o bem em vez do mal?” Eu pisquei várias vezes. “Você consegue resistir a esse rostinho?” Ele me estudou por um momento. “Não. Eu não consigo, na verdade. Okay, aqui vai: Mia não é da realeza.” Eu relaxei de novo na cadeira. “Não brinca. Eu já sabia disso. Eu sei quem é da realeza desde que tinha dois anos de idade.” “Yeah, mas não é só isso. Os pais dela trabalham para um dos lordes Drozdovs.” Eu acenei minha mão impacientemente. Um monte de Moroi trabalha no mundo humano, mas a sociedade Moroi também tem várias vagas de trabalho para sua própria raça. Alguém precisava preenchê-las. “Coisa de limpeza. São praticamente servos. Seu pai corta grama e sua mãe é uma criada.” Na realidade eu tinha um grande respeito por qualquer um que tinha um trabalho integral, independentemente do emprego. Pessoas em todos os lugares tinham que fazer coisas nojentas para viver. Mas, assim como ocorria com a Target, se tornava outro assunto quando alguém tentava se passar por algo que não é. E durante a semana que estive aqui, me liguei do quão desesperadamente Mia queria se encaixar com a elite da escola. “Ninguém sabe,” eu disse pensativamente. “E ela não quer que saibam. Você sabe como a realeza é.” Ele fez uma pausa. “Bem, exceto por Lissa, é claro. Eles fariam Mia passer por maus bocados por isso.” “Como você sabe de tudo isso?” “Meu tio é guardião para os Drozdovs.” “E você vem guardando esse segredo, huh?” “Até você descobrir. Então qual é o caminho que você irá escolher: bem ou mal?” “Eu acho que vou dar a ela a honra—“ “Srta. Hathaway, você sabe que não deveria estar aqui.” Uma das inspetoras do dormitório parou em nossa frente, com desaprovação em toda a sua face. Eu não estava brincando quando disse que Mason pensava como eu. Ele podia enrolar tão bem quanto eu. “Nós temos um projeto em grupo para fazer para nossa classe de línguas. Como nós deveríamos fazer se Rose estiver isolada?” A inspetora estreitou seus olhos. “Não parece que vocês estejam fazendo um trabalho.” Eu puxei o livro do padre e o abri aleatoriamente. Eu havia colocado ele na mesa quando nos sentamos. “Nós estamos, um, trabalhando nisso.” Ela ainda parecia desconfiada. “Uma hora. Eu vou dar mais uma para você aqui embaixo, e é bom que eu veja você trabalhando.” “Sim senhora,” disse Mason de rosto sério. “Absolutamente.” Ela se afastou ainda olhando para nós. “Meu herói,” eu declarei. Ele apontou para o livro. “O que é isso?” “Algo que o padre me deu. Eu tinha uma dúvida sobre o sermão.” Ele me encarou, estarrecido. “Oh, pare com isso e pareça interessado.” Eu passei os olhos sobre o índice. “Eu estou tentando achar uma mulher chamada Anna.” Mason arrastou sua cadeira, de forma que acabou sentado bem ao meu lado. “Tudo bem. Vamos estudar.” Eu encontrei o número da página que me levou até a seção sobre Santo Vladimir, sem surpresa alguma. Nós lemos rapidamente o capítulo procurando pelo nome de Anna. Quando achamos, o autor não tinha muito o que dizer sobre ela. Ele tinha incluído um trecho escrito por um outro cara que aparentemente tinha vivido na mesma época de Santo Vladimir: E com Vladimir sempre está Anna, filha de Fyodor. O amor deles é inocente e puro como o de irmão e irmã, e por diversas vezes ela o defendeu contra os Strigoi que buscavam destruir a ele e a sua santidade. Outrossim, é ela quem o conforta quando o espírito se torna difícil de suportar, e a escuridão de Satã tenta envolvê-lo e enfraquecer seu próprio corpo e saúde. Contra isso ela também o defende, pois eles estavam interligados desde que ele salvou a vida dela quando criança. É um sinal do amor de Deus que Ele tenha enviado ao abençoado Vladimir uma guardiã como ela, uma que é shadow-kissed e sempre sabe o que está no coração e na mente dele. “Aqui está,” Mason disse. “Ela era a guardiã dele.” “Aqui não diz o que shadow-kissed significa.” “Provavelmente não significa nada.” Algo em mim não acreditava nisso. Eu li de novo, tentando interpretar a linguagem antiga. Mason me observava curiosamente, aparentando querer muito ajudar. “Talvez eles estivessem namorando,” ele sugeriu. Eu ri. “Ele era um santo.” “E daí? Santos provavelmente gostavam de sexo também. Esse negócio de “irmão e irmã” é provavelmente fachada.” Ele apontou para uma das frases. “Vê? Eles estavam “interligados”. Ele deu uma piscada. “É um código.” Interligados. É uma escolha estranha de palavra, mas não quer dizer necessariamente que Anna e Vladimir estavam arrancando as roupas um do outro. “Eu não acho isso. Eles eram apenas íntimos. Garotos e garotas podem ser apenas amigos.” Eu disse isso enfaticamente, e ele me deu uma olhar seco. “Yeah? Nós somos amigos e eu não sei o que está no seu ‘coração e mente’” Mason fez uma expressão de falso filósofo. “É claro, alguns argumentam que nunca se sabe o que se passa no coração de uma mulher—“ “Oh, cala a boca,” eu bufei, socando o braço dele. “Pois elas são criaturas estranhas e misteriosas,” ele continuou em sua voz de professor, “e um homem deve saber ler mentes se deseja fazê-las felizes.” Eu comecei a rir incontrolavelmente e sabia que provavelmente estaria com problemas de novo. “Bem, tente ler a minha mente e pare de ser tão—“ Eu parei de rir e olhei para baixo, de volta para o livro. Interligados e sempre sabe o que está no coração e na mente dele. Eles tinham uma ligação, eu me toquei. Eu poderia apostar tudo que tinha – o que não era muito – nisso. A revelação era assustadora. Existiam um monte de vagas histórias e mitos sobre como guardiões e Moroi ‘costumavam ter ligações’. Mas essa era a primeira que eu já tinha ouvido sobre alguém específico com o qual isso ocorreu. Mason notou o meu choque. “Você está bem? Você parece meio estranha.” Eu encolhi os ombros. “Yeah. Bem.”

Nenhum comentário: