terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

academia de vampiros - beijo das sombras (capitulo 5 )

CINCO OU MELHOR, ELES TINHAM SIDO Strigoi. Uma tropa de guardiões os caçaram e mataram. Se os rumores fossem verdadeiros, Christian havia testemunhado tudo isso quando era muito novo. E por mais que ele não seja Strigoi, algumas pessoas pensavam que ele não está longe disso, do jeito que ele sempre vestia preto e era introspectivo. Strigoi ou não, eu não confiava nele. Ele era um idiota, e eu silenciosamente gritava para Lissa sair dali – não que meu grito tenha adiantado alguma coisa. Estúpida ligação mental de uma só via. “O que você está fazendo aqui?” ela perguntou. “Apreciando a vista, é claro. Essa cadeira de lona é particularmente adorável nesse período do ano. Logo ali, temos uma velha caixa cheia de escritas do abençoado e louco St. Vladimir. E não vamos nos esquecer dessa linda mesa sem o pé no canto.” “Que seja.” Ela girou seus olhos e moveu-se em direção à porta, querendo sair, mas ele bloqueou seu caminho. “Bem, e quanto a você?” ele replicou com escárnio. “Por quê você está aqui em cima? Você não tem festas para ir ou vidas para destruir?” Um pouco do velho brilho de Lissa retornou. “Wow, isso é hilário. Eu sou como um ritual de passagem agora? Vai e veja se você consegue deixar a Lissa brava para provar o quão legal você é? Uma garota que eu nem conheço gritou comigo hoje, e agora eu tenho que lidar com você? O que é preciso para ser deixada em paz?” “Oh. Então é por isso que você está aqui em cima. Para uma festinha de auto-piedade.” “Isso não é brincadeira. Estou falando sério”. Eu poderia dizer que Lissa estava ficando brava. Isso estava prevalecendo sobre seu sofrimento anterior. Ele deu de ombros e se encostou casualmente numa quina da parede. “Eu também estou. Eu amo festinhas de auto-piedade. Quem dera ter trazido os chapéus. Sobre o que você quer se lastimar primeiro? Sobre como vai te custar um dia todo para que você novamente seja popular e adorada? Como você terá de esperar umas duas semanas para que a Hollister possa lhe enviar novas roupas? Se você optou pelo frete rápido, não deve ter que esperar tanto.” “Deixe-me sair”, ela disse irritadamente, dessa vez empurrando ele para o lado. “Espere,” ele disse quando ela alcançava a porta. O sarcasmo desapareceu de sua voz. “Como... ahn, como era?” “Como era o quê?” ela rebateu. “Estar lá fora. Longe da Academia.” Ela hesitou por um momento antes de responder, pega com a guarda baixa pelo o que pareceu uma genuína tentativa de estabelecer uma conversa. “Foi maravilhoso. Ninguém sabia quem eu era. Eu era apenas mais um rosto. Não uma Moroi. Não da realeza. Não era ninguém.” Ela olhou para o chão. “Todo mundo aqui acha que sabe quem eu sou.” “Yeah. É meio duro deixar seu passado para trás,” ele disse amargamente. Naquele momento, ocorreu à Lissa – e a mim, por tabela – o quão difícil deve ser estar na pele de Christian. Na maior parte do tempo, as pessoas o tratam como se ele não existisse. Como se fosse um fantasma. Elas não falam com ele nem sobre ele. Simplesmente não se davam conta de sua existência. O estigma do crime de seus pais era muito forte, lançando suas sombras sobre toda a família Ozera. Ainda assim, ele a deixou irritada, e ela não estava disposta a sentir pena dele. “Espere – essa é a sua festinha de auto-piedade agora?” Ele riu, quase como um incentivo. “Já faz um ano que essa sala tem sido o lugar da minha festinha de auto-piedade.” “Desculpe,” disse Lissa sarcasticamente. “Eu vinha aqui antes de ir embora. Eu tenho mais direito que você.” “Direito dos sem-teto. Além disso, eu tenho de estar por perto da capela sempre que possível, para que as pessoas saibam que eu não me tornei um Strigoi... ainda.” Novamente, sua voz soou com uma tonalidade amarga. “Eu costumava sempre te ver na missa. Essa é a única razão de você ir? Para parecer bem?” Strigoi não pode entrar em local sobre solo sagrado. Um pouco mais daquela coisa de pecando-contra-o-mundo. “É claro,” ele disse. “Por quê mais eu iria? Pelo bem da sua alma?” “Que seja,” disse Lissa, que claramente tinha uma opinião diferente. “Eu o deixarei sozinho então.” “Espere,” ele disse novamente. Não parecia que ele queria deixá-la ir. “Vou te propor um acordo. Você pode ficar por aqui também se me disser uma coisa.” “O quê?” Ela olhou de volta para ele. Ele se inclinou para frente. “De todos os rumores que ouvi sobre você hoje – e acredite, eu escutei muitos, mesmo que ninguém dissesse algo diretamente a mim – tem um que não foi muito comentado. Eles dissecaram todo o resto: porque você fugiu, o que você fez lá fora, porque você voltou, a sua especialização, o que Rose disse para Mia, blá blá blá. E no meio de tudo isso, ninguém, ninguém nunca questionou aquela história estúpida que a Rose contou sobre o fato de existir vários tipos de gentinha que deixam você tomar seu sangue.” Ela desviou o olhar, e eu pude sentir que suas bochechas começaram a arder. “Não é estúpida, nem uma história.” Ele riu suavemente. “Eu vivi com humanos. Minha tia e eu estivemos longe depois que meus pais…morreram. Não é tão fácil assim encontrar sangue.” Quando ela não respondeu, ele riu novamente. “Foi a Rose, não foi? Ela te alimentou.” Um medo renovado surgiu através dela e de mim. Ninguém na escola poderia saber sobre isso. Kirova e os guardiões que estavam presentes durante a cena sabiam, mas eles guardaram essa informação para si. “Bem. Se isso não é amizade, eu não sei o que seria,” ele disse. “Você não pode dizer a ninguém,” ela soltou. Isso era tudo o que precisávamos. Como eu tinha sido lembrada, alimentadores eram viciados em mordidas de vampiro. Nós aceitávamos isso como parte da vida, mas ainda assim os desprezávamos por isso. Para todos os outros – especialmente para um Dhampir – deixar um Moroi tomar o seu sangue era quase, bem, sujo. Na realidade, uma das coisas mais pervertidas, praticamente pornográfica que um Dhampir pode fazer é deixar um Moroi tomar o seu sangue durante o sexo. Lissa e eu não tínhamos feito sexo, lógico, mas ambas sabíamos o que os outros iriam pensar sobre eu a alimentar. “Não conte a ninguém.” Lissa repetiu. Ele enfiou suas mãos nos bolsos do casaco e sentou em um dos engradados. “Para quem eu iria contar? Olhe, vá se sentar no assento da janela. Você pode tê-lo hoje e ficar aí por um tempo. Se você não estiver ainda com medo de mim”. Ela hesitou, estudando-o. Ele parecia obscuro e rude, lábios curvados em um tipo de sorriso “sou-um-rebelde-e-tanto”. Mas ele não parecia tão perigoso. Não parecia Strigoi. Cuidadosamente, ela sentou novamente no assento da janela, esfregando inconscientemente seus braços contra o frio. Christian a observava, e um momento depois, o ar esquentou consideravelmente. Lissa encontrou os olhos de Christian e sorriu, surpresa por nunca não ter notado o quão azul eles eram. “Você se especializou em fogo?” Ele assentiu e puxou uma cadeira quebrada. “Agora nós temos acomodações de luxo”. Eu sai da visão bruscamente. “Rose? Rose?” Piscando, eu me foquei no rosto de Dimitri. Ele estava se inclinando em minha direção, suas mãos agarrando meus ombros. Eu tinha parado de andar; nós paramos no meio do pátio que separava os edifícios da parte superior da escola. “Você está bem?” “Eu...yeah. Eu estava…estava com Lissa…” Eu pus uma mão na minha testa. Eu nunca tinha tido uma experiência tão longa ou clara como essa. “Eu estava em sua cabeça”. “Sua...cabeça?” “Yeah. É uma parte da nossa ligação mental.” Eu não estava muito afim de explicar sobre isso. “Está tudo bem com ela?” “Yeah, ela está...” Eu hesitei. Estava tudo bem com ela? Christian Ozera tinha acabado de convidá-la para ficar um tempo com ele. Nada bom. Havia o “navegar com a correnteza”, e havia o se virar para o lado negro da força. Mas os sentimentos que se agitavam em nossa ligação mental não eram mais chateados ou de medo. Ela estava quase contente, apesar de ainda um pouco nervosa. “Ela não está em perigo”, eu disse finalmente. Eu espero. “Você pode continuar?” O rígido, estóico guerreiro que eu conheci antes tinha ido embora – apenas por um minuto – e realmente parecia preocupado. Verdadeiramente preocupado. Sentindo seus olhos em mim daquela forma fez algo se agitar dentro de mim – o que era estúpido, é claro. Eu não tinha razão alguma para ficar tão pateta só porque o homem era bonito demais para o seu próprio bem. Afinal, ele é um deus anti-social, de acordo com Mason. Um que supostamente iria me deixar com todos os tipos de dores. “Yeah. Estou bem.” Eu fui para o vestiário do ginásio e vesti as roupas de ginástica que alguém finalmente resolveu me dar depois de passar um dia treinando de jeans e camiseta. Nojento. Lissa estando com Christian me pertubava, mas eu deixei esse pensamento para depois assim que meus músculos me informaram que não queriam ser submetidos a mais nenhum exercício por hoje. Então eu sugeri a Dimitri que, quem sabe, ele poderia me dispensar dessa vez. Ele riu, e eu tive a total certeza de que era de mim e não comigo. “Por quê isso é engraçado?” “Oh,” ele disse, seu sorriso sumindo. “Você falou sério.” “É claro que eu falei! Olhe, eu estive, tecnicamente, acordada por dois dias. Por quê nós temos que começar esse treinamento agora? Me deixa ir para a cama,” eu choraminguei. “É só uma horinha”. Ele cruzou seus braços e olhou para mim. Sua preocupação de mais cedo havia ido embora. Agora eram apenas negócios. Amor Bruto. “Como você se sente agora? Depois do treinamento que fez até agora?” “Dói pra caramba.” “Você vai se sentir pior amanhã.” “E daí?” “E daí, melhor entrar de cabeça no treinamento agora enquanto você não se sente... tão mal.” “Que tipo de lógica é essa?” Eu retruquei. Mas eu não discuti mais enquanto ele me conduzia até a sala de musculação. Ele me mostrou os pesos e apontou os exercícios que queria que eu fizesse, depois se espichou num canto com uma novela de Velho Oeste. Que deus. Quando eu terminei, ele parou do meu lado e demonstrou alguns exercícios de alongamento. “Como você acabou sendo alocado como guardião da Lissa?” eu perguntei. “Você não estava aqui há alguns anos atrás. Ao menos você foi treinado nesta escola?” Ele não respondeu de imediato. Eu tive a sensação de que ele não costuma falar sobre si mesmo com freqüência. “Não, eu freqüentei uma escola na Sibéria.” “Whoa. Esse deve ser o único lugar pior do que Montana.” Um vislumbre de algo – talvez divertimento – brilhou nos olhos dele, mas ele não demonstrou ter notado a brincadeira. “Depois da formatura, eu fui guardião de um lorde da família Zeklos. Ele foi morto recentemente.” Seu sorriso sumiu, seu rosto ficou obscuro. “Me mandaram aqui porque necessitavam de guardiões extras no campus. Quando a princesa apareceu, eles me designaram para ela, já que eu já estava por aqui. Não que isso seja importante até que ela deixe o campus.” Eu pensei no que ele disse antes. Algum Strigoi matou o cara que ele estava designado a proteger? “Esse lorde morreu durante a sua vigia?” “Não. Ele estava com o seu outro guardião. Eu estava longe.” Ele ficou em silêncio, sua mente obviamente em outro lugar. Os Moroi esperavam muito de nós, todavia reconheciam que os guardiões são – mais ou menos – apenas humanos. Então, guardiões eram pagos e tinham folga como em qualquer outro emprego. Alguns guardiões radicais – como a minha mãe – recusam férias, jurando nunca sair do lado de seus Moroi. Olhando para Dimitri, tive a sensação de que ele poderia muito bem se tornar um desses. Se ele tivesse estado longe por causa de uma dispensa legítima, ele mal poderia se culpar pelo o que ocorreu com aquele lorde. Ainda assim, ele provavelmente se culpa. Eu também me culparia se algo acontecesse com Lissa. “Ei,” eu disse, repentinamente querendo animá-lo, “você ajudou a fazer o plano para nos trazer de volta? Porque foi muito bom. Força brutal e tudo aquilo.” Ele levantou curiosamente uma das sobrancelhas. Legal. Eu sempre quis fazer isso. “Você está me elogiando por isso?” “Bem, foi bem melhor do que a tentativa anterior deles.” “Tentativa anterior?” “Yeah. Em Chicago. Com um bando de psi-hounds.” “Essa foi a primeira vez que encontramos vocês. Em Portland.” Eu parei de me alongar e sentei de pernas cruzadas. “Hum, eu não acho que tenha imaginado psi-hounds. Quem mais poderia tê-los enviado? Eles só respondem aos Moroi. Talvez ninguém tenha te contado.” “Talvez,” ele disse encerrando o assunto. Eu poderia dizer que, pela sua expressão, ele não acreditou na história. Eu retornei ao dormitório dos aprendizes depois disso. Os estudantes Moroi viviam do outro lado do pátio, perto das áreas comuns. A forma de organização do ambiente era parcialmente baseada na conveniência. Estar aqui deixava nós, aprendizes, perto do ginásio e áreas de treinamento. Todavia, nós também vivíamos separados para favorecer as diferenças entre os estilos de vida Moroi e dhampir. O dormitório deles quase não tinha janela alguma, tirando algumas pintadas que ofuscavam os raios de sol. Eles também tinham uma seção especial onde alimentadores sempre estavam à disposição. O dormitório dos aprendizes foi construído de uma forma mais aberta, permitindo maior entrada de luz. Eu tinha o meu próprio quarto porque existiam poucos aprendizes, garotas menos ainda. O quarto que me deram era pequeno e simples, com duas camas de solteiro e uma escrivaninha com um computador. Meus poucos pertences foram trazidos de Portland e estavam, naquele momento, distribuídos em caixas pelo quarto. Eu revistei as caixas, tirando uma camiseta para dormir. Achei duas fotos quando fiz isso, uma de Lissa e eu num jogo de futebol americano em Portland e outra tirada durante a viagem de férias com a família dela, um ano antes do acidente. Eu as coloquei na minha escrivaninha e liguei o computador. Alguém do suporte técnico me deixou um papel com as instruções de renovação do meu e-mail e criação de uma senha. Eu fiz as duas coisas, feliz por descobrir que ninguém tinha se tocado de que isso serviria como uma forma de me comunicar com Lissa. Como estava muito cansada para escrever para ela naquele momento, estava para desligar o computador quando notei que eu já tinha recebido uma mensagem. De Janine Hathaway. Era curta: Estou feliz que tenha voltado. O que você fez é imperdoável. “Amo você também, mãe,” eu resmunguei, desligando tudo. Quando eu fui para a cama, mais tarde, eu peguei no sono antes mesmo de encontrar o travesseiro, e exatamente como Dimitri tinha previsto, eu me senti dez vezes pior quando acordei na manhã seguinte. Deitada na cama, reconsiderei as vantagens de fugir. Nesse momento, lembrei de ter levado uma surra e cheguei a conclusão de que a única forma de prevenir que isso ocorresse novamente era sofrer um pouco mais nessa manhã. Meu corpo dolorido fez com que tudo fosse muito pior, mas eu sobrevivi ao treinamento préaula com Dimitri e às aulas subseqüentes sem passar mal ou desmaiar. No almoço, eu logo arranquei Lissa da mesa de Natalie e passei um sermão digno-de-Kirova sobre Christian – particularmente castigando-a por ter deixado ele saber sobre nosso acordo quanto ao sangue. Se isso vazasse, iria nos matar socialmente, e eu não confiava nele para guardar o segredo. Lissa tinha outras preocupações. “Você estava na minha cabeça de novo?” ela exclamou. “Por tanto tempo?” “Eu não fiz de propósito,” argumentei. “Apenas aconteceu. E esse não é o ponto. Por quanto tempo vocês ficaram juntos, afinal?” “Não muito tempo. Foi meio que…divertido.” “Bem, você não pode fazer isso de novo. Se as pessoas descobrem que você está andando com ele, irão te crucificar.” Eu olhei para ela cautelosamente. “Você não está, digamos, afim dele, está?” Ela zombou. “Não. É claro que não.” “Ótimo. Porque se é para você ir atrás de algum garoto, roube Aaron de volta.” Ele era chato, é verdade, mas era seguro. Assim como Natalie. Porque todas as pessoas inofensivas eram tão sem graça? Talvez essa era a definição de “seguro”. Ela riu. “Mia arrancaria meus olhos fora”. “Nós podemos com ela. Aliás, ele merece alguém que não faça compras na GAP Infantil.” “Rose, você precisa parar de dizer coisas como essa.” “Eu só estou dizendo o que você não diz.” “Ela é só um ano mais nova,” disse Lissa. Ela riu. “Não posso acreditar que você acha que sou eu quem vai nos colocar em problemas.” Sorrindo enquanto caminhávamos em direção à aula, olhei de lado para ela. “Aaron realmente está bem gatinho, huh?” Ela sorriu e evitou os meus olhos. “É. Bem gatinho.” “Ooh. Está vendo? Você deveria ir atrás dele.” “Que seja. Eu estou bem em só sermos amigos por agora.” “Amigos que costumavam enfiar a língua dentro da boca um do outro.” Ela girou os olhos. “Tudo bem.” Eu parei de provocá-la. “Deixe o Aaron no jardim de infância. Enquanto isso, fique o mais longe possível de Christian. Ele é perigoso.” “Você está exagerando. Ele não vai se tornar um Strigoi.” “Ele é uma má influência.” Ela riu. “Você acha que eu estou em perigo de me tornar uma Strigoi?” Ela não esperou por minha resposta, em vez disso empurrou a porta, abrindo-a para a nossa aula de ciências. Parada ali na porta, eu repassei apreensiva as palavras dela e então a segui um momento depois. Quando fiz isso, fui obrigada a ver o poder da realeza em ação. Alguns garotos – com algumas garotas que assistiam e davam risadinhas – estavam provocando um desengonçado Moroi. Eu não o conhecia muito bem, mas sabia que ele era pobre e definitivamente não era da realeza. Uma dupla de seus provocadores eram usuários de magia de ar, e fizeram voar os papéis de sua mesa, lançando correntes de ar para que voassem enquanto o garoto tentava alcançá-los. Meus instintos me compeliram a fazer algo, talvez ir acertar um dos usuários de ar. Mas eu não podia começar uma briga com todo mundo que me incomodasse, e certamente não com um grupo da realeza – especialmente quando Lissa precisava ficar longe de seus radares. Então eu apenas pude lançar a eles um olhar de desgosto enquanto caminhava para minha mesa. Logo que fiz isso, uma mão agarrou meu braço. Jesse. “Hey,” eu disse brincando. Felizmente, ele pareceu não estar participando da sessão de tortura. “É proibido tocar na mercadoria”. Ele me lançou um sorriso, mas manteve sua mão em mim. “Rose, conte ao Paul sobre aquela vez em que você começou uma briga na aula da Sra. Karp.” Ergui minha cabeça na direção deles, dando um sorriso divertido. “Eu comecei um monte de brigas na aula dela.” “Aquela com o caranguejo-ermitão. E o gerbil.”* Eu ri, relembrando. “Oh, yeah. Era um hamster, eu acho. Eu só joguei ele dentro do tanque do caranguejo, e eles dois estavam tão emocionados por estar tão próximos de mim, que eles foram com tudo.” Paul, um garoto sentado perto e que eu não conhecia, começou a rir também. Ele foi transferido no ano passado, aparentemente, e não tinha escutado a história. “Quem ganhou?” Eu olhei para Jesse de forma cômica. “Eu não lembro. Você lembra?” “Não. Eu só me lembro de Karp enlouquecendo.” Ele se virou para Paul. “Cara, você devia ter visto essa professora toda atrapalhada que nós tínhamos. Costumava pensar que as pessoas estavam atrás dela e explodia com coisas que não faziam o mínimo sentido. Ela era maluca. Tinha o hábito de andar pelo campus enquanto todos estavam dormindo.” Eu sorri rigidamente, como se eu pensasse que isso era engraçado. Em vez disso, eu lembrei da Sra. Karp de novo, surpresa por pensar nela de novo em dois dias. Jesse estava certo – ela costumava andar muito pelo campus enquanto trabalhava aqui. Era de dar arrepios. Eu encontrei com ela uma vez – inesperadamente. Eu tinha descido da minha janela do dormitório para ir encontrar umas pessoas. Já era tarde, e todos nós devíamos estar em nossos quartos, dormindo. Essas táticas de fuga eram uma prática regular para mim. Eu era boa nisso. Mas eu caí naquela vez. O meu quarto ficava no segundo andar, e eu perdi meu apoio mais ou menos na metade do caminho até o chão. Sentindo o chão chegar perto de mim, eu tentei desesperadamente me agarrar em algo que diminuísse a velocidade da minha queda. Eu estava muito preocupada para sentir os cortes que a pedra rígida do edifício causaram em minha pele. Caí com tudo na terra gramada, as costas primeiro, tendo minha arrogância nocauteada. “Mau jeito, Rosemarie. Você devia ser mais cautelosa. Seus instrutores iriam ficar desapontados.” Espiando entre o embaraçado do meu cabelo, vi a Sra. Karp me olhando, um olhar perplexo em seu rosto. Dor, nesse meio tempo, jorrou através de cada parte do meu corpo. Ignorando isso da melhor forma que eu podia, me levantei com dificuldade. Estar em sala de aula com a Louca Karp enquanto rodeada de outros estudantes é uma coisa. Estar ali fora sozinha com ela era totalmente diferente. Ela sempre teve um sinistro, distraído brilho em seus olhos que fazia minha pele se encher de arrepios. Também havia, agora, a grande possibilidade dela me arrastar até Kirova para uma detenção. Mais assustador ainda. No lugar disso, ela apenas sorriu e tomou as minhas mãos. Eu vacilei, mas deixei que ela as tomasse. Ela fez “tsic tsic” quando viu os arranhões. Estreitando seu aperto neles, ela levemente franziu as sobrancelhas. Um formigamento ardeu na minha pele, junto de uma espécie de zunido agradável, e então as feridas se fecharam. Eu tive uma breve sensação de vertigem. Minha temperatura elevou-se. O sangue desapareceu, assim como as dores no meu quadril e na minha perna. Ofegando, eu puxei minhas mãos num solavanco. Eu já tinha visto bastante da magia Moroi, mas nunca algo parecido com aquilo. “O quê...o quê você fez?” Ela me deu aquele sorriso esquisito novamente. “Volte para seu dormitório, Rose. Existem coisas ruins aqui fora. Nunca se sabe o que está te seguindo.” Eu continuava encarando minhas mãos. “Mas...” Olhei novamente para ela e pela primeira vez notei cicatrizes nos cantos de sua testa. Como se unhas tivessem sido cravadas nela. Ela piscou para mim. “Eu não vou contar sobre você se você não contar sobre mim.” Eu voltei ao presente, perturbada pela memória daquela noite bizarra. Jesse, nesse meio tempo, estava me falando sobre uma festa. “Você tem que se soltar da sua coleira hoje à noite. Nós vamos até aquele local na floresta em torno de oito e meia. Mark conseguiu alguma maconha.” Eu suspirei melancolicamente, arrependimento substituindo o calafrio que senti com a lembrança de Sra. Karp. “Não posso me livrar da coleira. Eu tenho um carcereiro Russo.” Ele largou meu braço, parecendo desapontado, e passou uma mão em seu cabelo cor de bronze. Yeah. Não poder estar com ele era uma grande vergonha. Eu realmente vou ter que consertar isso algum dia. “Você não pode sair por bom comportamento?” Ele brincou. Eu dei a ele o que eu esperava que fosse um sorriso sedutor enquanto encontrava meu assento. “Claro,” eu disse sobre meu ombro. “Se eu algum dia tivesse sido boa”.

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