terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

academia de vampiros - beijo das sombras (capitulo 4)

às suas casas. QUATRO NÓS NÃO TÍNHAMOS A ATENÇÃO de toda a área comum dessa vez, graças a Deus, mas alguns transeuntes pararam para olhar. “O que diabos você pensa que está fazendo?” perguntou a Garota Boneca, grandes olhos azuis e brilhando com fúria. De perto, agora, eu podia ter uma visão melhor dela. Ela tinha a mesma compleição magra da maioria dos Moroi, mas não o peso normal, o que era parte do motivo dela aparentar ser tão jovem. O pequenino vestido roxo que ela estava usando era lindo – o que me lembrava que, na verdade, eu estava vestida com roupas de brechó* - mas uma inspeção mais atenciosa me fez pensar que era uma imitação falsa de algum designer. Eu cruzei os braços ao redor do peito. “Está perdida, garotinha? O primário fica do lado oeste do campus.” Eu cruzei os braços ao redor do peito. “Está perdida, garotinha? O primário fica do lado oeste do campus.” Um rubor rosa se espalhou por toda a sua bochecha. “Nunca mais toque em mim. Se você ferrar comigo, eu ferro com você também." Oh cara, que tipo de frase de efeito era essa. Somente um balanço de cabeça de Lissa me impediu de soltar toda uma quantidade de respostas hilárias. Em vez disso, eu optei pela simples força bruta, por assim dizer. “E se você mexer conosco de novo, eu quebro você em duas. Se você não acredita, pergunte a Dawn Yarrow sobre o que eu fiz ao braço dela na oitava série. Você, provavelmente, devia estar na hora da soneca**quando isso aconteceu.” *No original "thrift-shop". Aparentemente, são lugares , estilo brechós e antiquários, onde parte do dinheiro das coisas que se vendem vai para doações, ou então onde você pode simplesmente fazer doações. ** No jardim da infância nos Estados Unidos existe o “nap time”, depois do almoço, onde as crianças tomam leite e dormem na sala de aula. O incidente com Dawn não havia sido um dos meus melhores momentos. Eu realmente não esperava quebrar nenhum osso dela quando a empurrei da árvore. Mesmo assim, o incidente havia me dado uma má reputação, acrescentando à de sabichona. A história tinha ganhado um status legendário, e eu gostava de imaginar que isso ainda era contado em volta de fogueiras tarde da noite. Julgando pelo olhar no rosto da garota, ainda era. Um dos membros da patrulha deu a volta justo nessa hora, lançando um olhar suspeito para a nossa reuniãozinha. A Garota Boneca se afastou, pegando Aaron pelo braço. “Venha,” ela disse. “Hey, Aaron,” eu disse alegremente, me recordando de que ele estava lá. “Foi bom vê-lo novamente.” Ele me deu um aceno rápido e um sorriso desconfortável, enquanto a garota o arrastava para fora. O bom velho Aaron. Ele podia ser bonzinho e bonitinho, mas agressivo ele não era. Me virei para Lissa. “Você está bem?” Ela afirmou com a cabeça. “Alguma idéia de quem seja a pessoa que eu acabei de ameaçar?” “Nenhuma.” Eu comecei a conduzi-la para a fila do almoço, mas ela agitou a sua cabeça para mim. “Preciso ir ver os alimentadores.” Um sentimento engraçado se estabeleceu em mim. Eu tinha ficado acostumada a ser sua fonte principal de sangue e o pensamento sobre retornar à rotina normal Moroi pareceu estranha. De fato, quase me incomodou. Não deveria. Alimentação diária fazia parte da vida de um Moroi, uma coisa no qual não pude oferecê-la enquanto morávamos por nossa conta. Tinha sido uma situação incômoda, uma que me deixava fraca nos dias de alimentação e ela fraca nos dias entre eles. Eu deveria estar feliz pelo fato de que ela teria alguma normalidade. Eu forcei um sorriso. “Claro.” Nós andamos para a sala de alimentação, que ficava adjacente à cafeteria. Era feito de pequenos cubículos, separando o lugar numa tentativa de oferecer privacidade. Uma mulher Moroi de cabelos escuros nos cumprimentou na entrada e olhou de relance para a sua prancheta, passando as páginas. Achando o que ela queria, fez algumas anotações e então fez um gesto para que Lissa a acompanhasse. Ela me deu um olhar confuso, mas não me impediu de entrar. Ela nos guiou para um dos cubículos onde uma mulher gorda de meia-idade estava sentada folheando uma revista. Ela olhou para cima devido à nossa aproximação e sorriu. Em seus olhos, eu podia ver a aparência sonhadora e vidrada que a maioria dos alimentadores tinham. Ela provavelmente já tinha quase alcançado a sua quota do dia, julgando pelo modo como ela parecia estar doidona. Reconhecendo Lissa, seu sorriso alargou. “Bem-vinda de volta, Princesa.” A recepcionista nos deixou, e Lissa se sentou na cadeira próxima à mulher. Eu senti um sentimento de desconforto nela, um pouco diferente do meu próprio. Era estranho para ela também; depois de tanto tempo. A alimentadora, no entanto, não tinha tal estranhamento. Um olhar faminto percorreu seu rosto – como uma viciada que estava prestes a ganhar mais uma dose. Uma aversão caiu sobre mim. Era um velho instinto, um que havia sido trabalhado através dos anos. Alimentadores eram essenciais à vida dos Moroi. Eles eram humanos que se dispuseram por livre e espontânea vontade a ser uma fonte regular de sangue, humanos das extremidades da sociedade que haviam dado suas vidas para o mundo secreto dos Moroi. Eles eram bem cuidados e tinham todos os confortos de que poderiam precisar. Mas no fundo disso, eles eram como usuários de drogas, viciados na saliva dos Moroi e da adrenalina oferecida em cada mordida. Os Moroi – e os guardiões – desprezavam essa dependência, apesar dos Moroi não sobreviverem sem isso, a não ser que pegassem as vítimas à força. Hipocrisia em seu nível mais elevado. A alimentadora inclinou sua cabeça, dando a Lissa acesso total ao seu pescoço. Sua pele ali estava marcada com cicatrizes de anos de mordidas diárias. As alimentações infreqüentes que Lissa e eu tínhamos feito mantiveram meu pescoço limpo; as marcas de mordida não duravam mais que um dia ou dois. Lissa se inclinou para frente, as presas mordendo a pele dócil da alimentadora. A mulher fechou os olhos, fazendo um som suave de prazer. Eu engoli, assistindo Lissa beber. Eu não podia ver nenhum sangue, mas podia imagina-lo. Um impulso de emoção surgiu em meu peito: desejo. Ciúmes. Eu desviei os meus olhos, encarando o chão fixamente. Mentalmente, eu me censurei. Qual é o seu problema? Por que você deveria sentir falta disso? Você só fazia isso uma vez por dia. Você não é uma viciada, não como ela. E você não quer ser. Mas eu não podia evitar, não podia evitar o modo como me sentia quando lembrava da felicidade e adrenalina da mordida de um vampiro. Lissa terminou e nós voltamos para a área comum, indo para a direção da fila do almoço. Era pequena, sendo que só tínhamos mais quinze minutos, e eu me adiantei e comecei a encher meu prato com batata fritas e alguns pedacinhos redondos de algo que parecia com nuggets de frango. Lissa só pegou um iogurte. Moroi precisava de comida, como dhampirs e humanos precisavam, mas raramente tinham algum apetite depois de beber sangue. “Então, como foram as aulas?” eu perguntei. Ela deu de ombros. Seu rosto estava iluminado com cor e vida agora. “Tudo bem. Um monte de olhares. Muitos olhares. Muitas perguntas sobre onde nós estávamos. Cochichos.” “Comigo também,” disse. A atendente fez um exame minucioso da gente, e nós nos dirigimos para uma mesa. Eu olhei Lissa de esguelha. “Tudo bem isso para você? Eles não estão te incomodando, estão?” “Não – está tudo bem.” As emoções vindas através da ligação contradiziam suas palavras. Sabendo que eu podia sentir isso, ela tentou mudar de assunto me dando o seu horário das aulas. Eu dei uma conferida. 1º Horário Russo 2 2º Horário Literatura Colonial Americana 3º Horário Princípios do Controle Elementar 4º Horário Poesia Antiga – Almoço – 5º Horário Comportamento e Fisiologia Animal 6º Horário Cálculo Avançado 7º Horário Cultura Moroi 4 8º Horário Artes Eslavas “Nerd,” eu disse. “Se você fosse estúpida em matemática igual a mim, nós teríamos a mesma programação pela tarde.” Eu parei de andar. “Porque você está em princípios elementar? Isso é uma aula do primeiro ano.” Ela me olhou. “Porque os veteranos têm aulas especializadas.” Nós caímos no silêncio com isso. Todo o poder da magia elementar Moroi. Era uma das coisas que diferenciavam vampiros vivos dos Strigoi, os vampiros mortos. Moroi viam a magia como um dom. Era parte de suas almas e os conectavam com o mundo. Há muito tempo atrás, eles usavam a magia abertamente evitando desastres naturais e ajudando com coisas como comida e produção de água. Eles não precisavam mais fazer isso tanto assim, mas a magia ainda estavam em seu sangue. Queimando-os e fazendo com que quisessem alcançar a terra e aperfeiçoar seu poder. Academias como esta existiam para ajudar os Moroi a controlar a magia e aprender a fazer coisas cada vez mais complexas com ela. Estudantes também tinham de aprender as regras que rodeavam a magia, regras que foram impostas a séculos e que eram reforçadas de forma estrita. Cada Moroi tinha uma pequena habilidade em cada elemento. Quando eles chegavam à nossa idade, estudantes se “especializavam” quando um elemento se tornava mais forte que os outros: terra, água, fogo, ou ar. Não se especializar era como ser um adolescente sem passar pela puberdade. E Lissa... bem, Lissa não tinha se especializado ainda. “É a Sra. Carmack quem ainda ensina isso? O que ela disse?” “Ela disse que não está preocupada. Ela pensa que ainda virá.” “Você – você contou a ela sobre – “ Lissa balançou a cabeça. “Não. Lógico que não.” Nós deixamos o assunto morrer. Era um do qual nós pensávamos muito sobre, mas que raramente falávamos. Nós começamos a andar novamente, olhando as mesas enquanto decidíamos onde sentar. Alguns pares de olhos nos olhavam com evidente curiosidade. “Lissa!” veio uma voz próxima. Olhando de relance, vimos Natalie acenar para nós. Lissa e eu trocamos olhares. Natalie era meio que a prima de Lissa do mesmo modo que Victo era meio que seu tio, mas nós nunca andávamos muito com ela. Lissa deu de ombros e se dirigiu em sua direção. “Porque não?” Eu a segui relutantemente. Natalie era boazinha, mas também a pessoa mais desinteressante que já conheci. A maioria da realeza no colégio desfrutava de um tipo de status de celebridade, mas Natalie nunca se encaixou com esse pessoal. Ela era muito simples, muito desinteressada na política da Academia, e muito sem noção para realmente lidar com isso. Os amigos de Natalie nos olhou com uma curiosidade quieta, mas ela não se controlou. Ela jogou seus braços ao nosso redor. Como Lissa, ela tinha os olhos verde-jade, mas seus cabelos eram de um preto azeviche, como os de Victor haviam sido antes da doença os deixar grisalhos. “Você está de volta! Eu sabia que voltaria! Todo mundo dizia que você havia ido para sempre, mas eu nunca acreditei nisso. Sabia que você não poderia ficar longe. Porque você foi? Há tantas histórias sobre o porquê de você ter ido embora!” Lissa e eu trocamos olhares enquanto Natalie tagarelava. “Camille disse que uma de vocês ficara grávida e fugiram para poder fazer um aborto, mas eu sabia que isso não poderia ser verdade. Mais alguém disse que vocês fugiram para ficar com a mãe da Rose, mas eu imaginei que Sra. Kirova e Papai não ficariam tão chateados se vocês tivessem ido para lá. Você sabia que nós podemos virar companheiras de quarto? Eu estava falando com...” Continuamente ela conversou, mostrando suas presas enquanto falava. Eu sorri educadamente, deixando Lissa lidar com a ofensiva até que Natalie fez uma pergunta perigosa. “Como você conseguia sangue, Lissa?” A mesa nos observava questionando o congelamento de Lissa, mas eu imediatamente entrei na conversa, a mentira vindo facilmente aos meus lábios. “Oh, isso é fácil. Existem muitos humanos que querem fazer isso.” “Sério?” perguntou uma das amigas de Natalie, com os olhos bem abertos. “Yep. Você os encontra em festas e coisas do tipo. Eles todos estão procurando uma dose de alguma coisa, eles nem percebem que é um vampiro que está fazendo isso: a maioria está tão doidão que nem lembram de nada.” Meus já vagos detalhes se acabaram, então eu simplesmente dei de ombros do melhor jeito maneiro e confiante que consegui. Não era como se algum deles soubesse fazer melhor. “Como eu disse, era fácil. Quase mais fácil do que ter nossos próprios alimentadores.” Natalie aceitou isso e então se lançou em outro assunto. Lissa me deu um olhar agradecido. Ignorando a conversa novamente, eu observei os rostos familiares, tentando entender quem estava andando com quem e como o poder havia sido transferido dentro do colégio. Mason, sentado com um grupo de aprendizes, captou meu olhar, e eu sorri. Perto dele, estava sentado um grupo da realeza Moroi, rindo de alguma coisa. Aaron e a garota loira sentavam lá também. “Hey, Natalie,” eu disse, me virando e a cortando. Ela não pareceu perceber ou se importar. “Quem é a nova namorada de Aaron?” “Huh? Oh. Mia Rinaldi.” Vendo minha expressão vazia, ela perguntou, “Não se lembra dela?” “Eu devia? Ela estava aqui quando fomos embora?” “Ela sempre esteve aqui,” disse Natalie. “Ela só é um ano mais nova que nós.” Eu disparei um olhar questionador para Lissa, que somente deu de ombros. “Por que ela está tão pirada com a gente?” eu perguntei. “Nenhuma de nós duas a conhece.” “Eu não sei,” Natalie respondeu. “Talvez ela esteja com ciúmes do Aaron. Ela não era muita coisa quando vocês partiram. Ela ficou muito popular muito rápido. Ela não é da realeza nem nada, mas uma vez que começou a namorar com Aaron, ela–“ “Okay, obrigada,” eu interrompi. “Isso realmente não – “ Eu olhei para cima do rosto de Natalie para o do Jesse Zeklos, no momento em que ele estava passando pela nossa mesa. Ah, Jesse. Eu havia esquecido dele. Você flerta com outros garotos simplesmente pelo prazer do flerte. Você flerta com Jesse na esperança de ficar semi-nua com ele. Ele era da realeza Moroi, e ele era gostoso, ele devia usar uma placa CUIDADO: INFLAMÁVEL. Ele encontrou meus olhos e sorriu. “Hey Rose, bem vinda de volta. Você ainda está despedaçando corações?” “Está se oferecendo?” Seu sorriso se alargou. “Vamos sair um dia desses e descobrir. Se você se livrar da sua condicional.” Ele continuou andando, e eu o olhei de forma admiravelmente. Natalie e suas amigas me olharam incrédulas. Eu podia não ser um deus no estilo Demitri, mas nesse grupo, Lissa e eu éramos deuses – ou pelo menos ex-deuses – de uma outra forma. “Oh meu Deus,” exclamou uma garota. Eu não lembrava seu nome. “Aquele era o Jesse.” “Sim,” eu disse, sorrindo. “Certamente que era.” “Eu queria me parecer como você,” ela acrescentou com um suspiro. Seus olhos caíram em mim. Tecnicamente, eu era meia-Moroi, mas minha aparência era humana. Eu me misturava bem com os humanos durante o nosso tempo fora, tão bem que eu raramente pensava sobre a minha aparência. Aqui, entre as garotas Moroi magras e sem peitos, certas características – ou seja, meus seios maiores e meu quadril definido – se destacavam. Eu sabia que era bonita, mas para garotos Moroi, meu corpo era mais que só bonito: era sexy de um modo obsceno. Dhampirs eram uma conquista exótica, uma novidade que todos os caras Moroi queriam “tentar”. Era irônico que Dhampirs despertasse tamanho fascínio aqui, porque as delgadas garotas Moroi se pareciam muito as modelos de passarela super-magras tão famosas no mundo humano. A maioria dos humanos nunca poderá alcançar esse “ideal” de magreza, como as garotas Moroi nunca poderão se parecer comigo. Todo mundo queria o que não podia ter. Lissa e eu sentamos juntas nas aulas que dividíamos pela tarde mas não conversamos muito. Os olhares que ela havia mencionado certamente nos seguiam, mas eu descobri que quanto mais eu conversava com as pessoas, mais elas se abriam. Lentamente, gradualmente, eles pareceram se lembrar de quem nós éramos, e a novidade – mas não a intriga – da nossa louca façanha foi desaparecendo. Ou talvez eu devesse falar, eles lembravam de quem eu era. Porque eu era a única falando. Lissa olhava diretamente para frente, escutando mas sem reconhecer ou participar das minhas tentativas de travar um conversa. Eu podia sentir ansiedade e tristeza transbordando dela. “Tudo bem,” eu disse a ela quando as aulas finalmente acabaram. Nós estávamos do lado de fora do colégio, e eu estava totalmente ciente de que fazendo isso, eu já estava quebrando um dos termos de meu acordo com Kirova. “Nós não vamos ficar aqui,” disse a ela, olhando pelo campus de forma desconfortável. “Eu vou achar um jeito de nos tirar daqui.” “Você acha que nós poderíamos fazer isso pela segunda vez?” Lissa perguntou baixinho. “Absolutamente.” Eu falei com certeza, novamente aliviada de que ela não podia ler meus sentimentos. Escapar da primeira vez já havia sido bastante difícil. Fazer isso de novo poderia ser um verdadeiro inferno, não que eu não achasse uma saída. “Você realmente faria, não é?” Ela sorriu, mais para si mesma do que para mim, como se ela houvesse pensado em uma coisa engraçada. “Lógico que você faria. É só que, bem...” Ela suspirou. “Eu não acho que nós deveríamos ir. Talvez – talvez devêssemos ficar.” Eu pisquei em surpresa. “O quê?” Não foi uma de minhas respostas mais eloqüentes, mas a melhor que pude fazer. Eu nunca esperaria isso dela. “Eu te vi, Rose. Eu vi você conversando com os outros aprendizes nas aulas, conversando sobre o treino. Você sentiu falta disso.” “Isso não vale a pena,” eu discuti. “Não se... não se você...” Eu não podia terminar, mas ela estava certa. Ela tinha me lido. Eu tinha sentido falta dos outros aprendizes. Até de alguns Moroi. Mas havia mais do que só isso. O peso da minha inexperiência, o quanto estava para atrasada, havia crescido durante todo o dia. “Talvez seja melhor,” ela reagiu. “Eu não tenho tido tantos... você sabe, coisas acontecendo há algum tempo. Eu não tenho sentido como se alguém estivesse nos seguindo ou nos observando.” Eu não disse nada sobre isto. Antes de deixarmos a Academia, ela sempre sentia como se alguém a estivesse seguindo, como se ela estivesse sendo perseguida. Eu nunca encontrei evidências para apoiar isso, mas uma vez eu escutei uma de nossas professores falar e falar sobre o mesmo tipo de coisa. Sra. Karp. Ela havia sido uma bonita Moroi, com cabelos de um profundo castanho e com a ossatura da bochecha proeminentes. Eu tinha quase certeza de que ela era maluca. “Você nunca sabe quem está observando,” ela costumava dizer, andando ligeiramente pela sala de aula enquanto fechava todas as cortinas. “Ou quem está te seguindo. Melhor estar precavido. Melhor sempre estar precavido.” Nós falávamos abafando o riso para nós mesmos porque era isso que os estudantes fazem perto de professores excêntricos e paranóicos. O pensamento de Lissa agir como ela me incomodava. “Qual o problema?” Lissa perguntou, notando que eu estava perdida em meus pensamentos. “Huh? Nada. Só pensando.” Eu suspirei, tentando balancear meus próprios desejos com o que era melhor para ela. “Liss, nós podemos ficar, eu acho... mas com algumas condições.” Isso fez com que ela risse. “Um ultimato Rose, huh?” “Falo sério.” Palavras que não usava com freqüência. “Eu quero que você fique longe da realeza. Não como Natalie ou algo parecido mas você sabe, os outros. Os que jogam com o poder. Camille. Carly. Esse grupo.” Seu divertimento se transformou em surpresa. “Você fala sério?” “Claro. Você nunca gostou deles de qualquer forma.” “Você gostava.” “Não. Não de verdade. Eu gostava do que eles podiam oferecer. Todas as festas e outras coisas.” “E você pode ficar sem isso agora?” Ela pareceu cética. “Claro. Nós ficamos assim em Portland.” “Yeah, mas lá era diferente.” Seus olhos fitaram o nada, sem focalizar em algo especifico. “Aqui... aqui eu tenho de ser parte disso. Não posso evitar.” “O diabo que você pode. Natalie fica fora de tudo isso.” “Natalie não vai herdar o título da família,” ela replicou. “Eu já tenho isso. Eu tenho que estar envolvida, começar a fazer conexões. Andre –“ “Liss,” eu gemi. “Você não é Andre.” Eu não podia acreditar que ela ainda se comparava com o seu irmão. “Ele sempre esteve envolvido nessas coisas.” “Yeah, bem,” eu vociferei de volta, “ele está morto agora.” Seu rosto endureceu. “Sabe, algumas vezes você não é nem um pouco gentil.” “Você não me mantêm por perto para ser gentil. Você quer gentileza, há uma dúzia de carneirinhos aqui que dilacerariam a garganta um dos outros para ficar nos bons grados com a princesa Dragomir. Você me mantêm por perto para lhe contar a verdade, e aqui está ela: Andre está morto. Você é a herdeira agora, e você vai ter de lidar com isso do jeito que puder. Mas, por agora, isso significa ficar longe dos outros da realeza. Nós vamos ser discretas. Navegar com a correnteza. Se envolver nessas coisas novamente, Liss, e você vai ficar...” “Maluca?” ela completou quando eu não terminei. Agora eu olhava para longe. “Eu não quis dizer...” “Tudo bem” ela disse, depois de um tempo. Ela suspirou e tocou no meu braço. “Está bem. Nós ficamos e eu vou me manter longe de tudo isso. Nós vamos navegar com a correnteza conforme você quer. Andar com Natalie, eu acho.” Para ser completamente honesta, eu não queria nada disso. Eu queria ir para todas as festas reais e selvagens festividades alcoólicas como fazíamos antes. Nós ficamos de fora dessa vida por anos até que os pais e irmão de Lissa morreram. Andre deveria ter sido aquele a herdar o título da família, e ele certamente agia como tal. Lindo e extrovertido, ele encantava qualquer um que via e tinha sido o líder de todos os grupinhos e clubes reais que existiam no campus. Depois de sua morte, Lissa sentiu que era seu dever familiar tomar o seu lugar. Eu pude desfrutar desse mundo com ela. Era fácil para mim, porque não tinha que realmente lidar com a parte política. Eu era uma bonita dhampir, uma que não ligava se meter em encrenca e fazer façanhas loucas. Eu me tornei uma novidade; eles gostavam de me por perto pelo divertimento que eu representava. Lissa tinha de lidar com outros assuntos. Os Dragomirs eram uma das doze famílias governantes. Ela tinha uma posição muito poderosa na sociedade Moroi, e os outros jovens da realeza queriam ter o bom grado dela. Amigos falsos tentaram agradá-la e fazer com que ela ficasse contra outras pessoas. Os da realeza podiam subornar e te apunhalar pelas costas num mesmo fôlego – e isso era somente um com os outros. Para os dhampirs e plebeus, eles eram completamente imprevisíveis. Essa atitude cruel eventualmente teve resultado em Lissa. Ela tinha uma natureza boa e gentil, uma que eu amava, e eu odiava vê-la chateada e estressada devido aos joguinhos da realeza. Ela tinha ficado frágil desde o acidente, e nem todas as festas do mundo valiam ao vê-la magoada. “Tudo bem então,” eu disse finalmente. “Vamos ver como as coisas vão. Se alguma coisa der errado – qualquer coisinha – nós partimos. Sem discussão.” Ela afirmou com a cabeça. “Rose?” Nós duas olhamos para a figura avultante de Dimitri. Eu esperava que ele não tivesse escutado a parte sobre nós partindo. “Você está atrasada para o treino,” ele disse tranquilamente. Vendo Lissa, ele deu um educado aceno. “Princesa.” Enquanto ele e eu íamos embora, me preocupei com Lissa e me perguntei se ficando aqui seria a coisa certa a fazer. Eu não senti nada alarmente através da ligação, mas suas emoções davam pontadas por todo o lugar. Confusão. Nostalgia. Medo. Esperança. De uma forma forte e muito poderosa, eles me inundaram. Eu senti o puxão um pouco antes de acontecer. Era exatamente como havia acontecido no avião: suas emoções haviam ficado tão fortes que eles me “sugaram” para a sua mente antes que eu pudesse pará-los. Agora eu podia ver e sentir o que ela fazia. Ela andava lentamente pela área comum, se dirigindo para a capela Ortodoxa Russa que serviam para a maioria das necessidades religiosas do colégio. Lissa sempre freqüentou à missa regularmente. Eu não. Eu tinha um acordo sólido com deus: eu concordava em acreditar nele – somente – se ele me deixasse dormir aos domingos. Mas enquanto ela entrava, eu podia sentir que ela não estava lá para rezar. Ela tinha outro propósito, um que eu desconhecia. Olhando em volta, ela verificou se nem o padre ou algum adorador estava por perto. O lugar estava vazio. Se esgueirando por uma porta nos fundos da capela, ela subiu por uma estreita escada que rangia até o sótão. Aqui estava escuro e empoeirado. A única luz que entrava vinha de uma grande janela suja que quebrava a fraca luz do amanhecer e transforma em pequenos pontos multicoloridos pelo chão. Eu não sabia até o momento que esse lugar era o refúgio de Lissa. Mas agora eu podia sentir, sentir as memórias de como ela costumava escapar para ficar sozinha aqui e pensar. A ansiedade nela acalmou-se ficando bem fraca enquanto ela entrava no ambiente familiar. Ela subiu até o assento perto à janela e inclinou a cabeça para trás apoiando nos lados, momentaneamente ingressando no silêncio e na luz. Moroi podiam suportar alguma luz, diferentemente do Strigoi, mas eles tinham que limitar sua exposição. Sentando aqui, ela quase podia fingir que estava embaixo da luz do sol, protegida pelo vidro que diluía os raios. Respire, só respire, ela disse a si mesma. Tudo vai ficar bem. Rose vai tomar conta de tudo. Ela acreditava nisso apaixonadamente, como sempre, e relaxou mais ainda. A voz baixa falou da escuridão. “Você pode ficar com a Academia, mas não com o assento da janela.” Ela deu um salto, o coração batendo. Eu compartilhei da sua ansiedade, e minha própria pulsação acelerou. “Quem está aí?” Um momento depois, uma forma emergiu por detrás da uma pilha de engradados, um pouco fora de seu campo de visão. A figura deu um passo para frente, e na luz fraca, as expressões familiares se materializaram. Cabelo preto bagunçado. Pálidos olhos azuis. Um eterno sorriso afetado sarcástico. Christian Ozera. “Não se preocupe,” ele disse. “Eu não vou morder. Bem, pelo menos não no modo que você tem medo.” Ele deu uma risada de sua própria piada. Ela não havia achado graça. Ela tinha esquecido completamente sobre Christian. Eu também. Não importa o que acontece em nosso mundo, algumas verdades básicas sobre os vampiros permaneciam as mesmas. Moroi eram vivos; Strigoi eram mortos-vivos. Moroi eram mortais; Strigoi eram imortais. Moroi nasciam; Strigoi eram feitos. E haviam duas maneiras de se fazer um Strigoi. Strigoi podiam eficazmente transformar humanos, dhampirs, ou Moroi com uma única mordida. Moroi tentados pela promessa de imortalidade poderiam se transformar em Strigoi por escolha própria se eles intencionalmente matassem sobre pessoa enquanto se alimentava. Fazer isso era considerado errado e doentio, o maior de todos os pecados, tanto para o modo de vida Moroi quanto para a natureza como um todo. Moroi que escolhiam esse caminho sombrio perdiam sua habilidade de se conectar com a magia elementar e com outras forças do universo. Isso era o porquê deles não poderem ficar mais sob o sol. Isso foi o que aconteceu com os pais de Christian. Eles eram Strigoi.

Nenhum comentário: