A.Vampiro - laço de espirito....


Vampire Academy 5
Spirit Bound
Richelle Mead






UM
Tem uma grande diferença entre ameaças de morte e cartas de amor – mesmo se a pessoa escrevendo as ameaças ainda alega te amar. É claro, considerando que uma vez eu tentei matar alguém que eu amava, talvez eu não tenha direito de julgar.
A carta de hoje tinha um timing perfeito, não que eu devesse esperar menos, eu já a li quatro vezes até agora, e mesmo que esteja atrasada, eu não conseguia me impedir de ler uma quinta vez.
Minha querida Rose,
Uma das poucas desvantagens de ter despertado é que não precisamos mais dormir; portanto nós não sonhamos mais. É uma pena porque se eu pudesse sonhar, eu sei que sonharia com você. Eu sonharia com o seu cheiro e com a sensação do seu cabelo negro entre meus dedos. Eu sonharia com a suavidade da sua pele e o poder de seus lábios quando nos beijamos.
Sem sonhos, eu tenho que me contentar apenas com minha imaginação – que é quase tão bom quanto. Eu posso imaginar todas essas coisas perfeitamente, assim como consigo imaginar como será quando eu tirar sua vida desse mundo. É algo que eu me arrependo de ter que fazer, mas você tornou minha escolha inevitável. Sua recusa de se juntar a mim numa vida de amor eterno não me deixa outra opção, e eu não posso permitir que alguém tão perigoso quanto você viva. Além do mais, mesmo que você seja transformada contra sua vontade, você agora tem tantos inimigos entre os Strigoi que um deles iria te matar. Se você deve morrer, que seja por minhas mãos. De mais ninguém.
Mesmo assim, eu te desejo sorte hoje enquanto você faz suas provas – não que você precise. Se eles estão fazendo você fazer os testes – e eu não tenho duvidas que eles fizeram – é uma perda do tempo de todos. Você é a melhor no grupo, e nessa noite você vai merecer sua marca da promessa. É claro, isso significa que você será um desafio muito maior quando nos reencontrarmos – o que eu vou gostar, definitivamente.
E nós vamos nos encontrar de novo. Com a formatura, você partirá da Academia, e assim que você estiver do lado de fora das wards, eu vou encontrar você. Não existe lugar nesse mundo que você possa se esconder de mim. Estou observando.
Amor,
Dimitri.
Apesar de seus desejos de boa sorte, eu não achei a carta inspiradora, enquanto eu a jogava na minha cama e saia do quarto. Eu tentei não deixar as
palavras dele me atingir, embora seja difícil não ficar assustada com algo assim. Não existe lugar nesse mundo em que você possa se esconder de mim.
Eu não duvidava disso. Eu sabia que Dimitri tinha espiões. Desde que meu instrutor-que-se-tornou-meu-amante foi transformado em um maligno vampiro morto vivo, ele também meio que se tornou um líder entre eles – algo que eu ajudei a acelerar quando eu matei o antigo chefe dele. Eu suspeitava que muitos desses espiões fossem humanos, esperando para me ver passar as fronteiras da escola. Nenhum Strigoi poderia ficar 24 horas vigiando. Humanos podiam, e eu recentemente descobri que muitos humanos estavam dispostos a servir os Strigoi em troca da promessa de algum dia ser transformado. Esses humanos consideram que vale a pena corromper suas almas e matar outros para sobreviver com vida eterna. Esses humanos me enojam.
Mas os humanos não foram os responsáveis pelos meus passos vacilantes, enquanto andava através da grama, que havia se transformado em um verde brilhante devido ao toque do verão. Foi Dimitri. Sempre Dimitri. Dimitri, o homem que eu amava. Dimitri, o Strigoi que eu queria salvar. Dimitri, o monstro que eu provavelmente terei que matar. O amor que nós partilhamos queimava dentro de mim, não importa o quão frequentemente diga a mim mesma para seguir em frente, não importa o quanto o mundo pensa que eu segui em frente. Ele sempre estava comigo, sempre na minha mente, sempre fazendo eu me questionar.
“Você parece pronta pra enfrentar um exercito.”
Eu saí dos meus pensamentos negros. Estive tão fixada em Dimitri e em sua carta que estive andando pelo campus, inconsciente do mundo, e não notei minha melhor amiga, Lissa, andando ao meu lado, com um sorriso provocador no rosto. Ela me pegar de surpresa era uma raridade porque partilhávamos de um laço psíquico, um que sempre me deixava ciente da presença e sentimentos dela. Eu tinha que estar bem distraída para não notar ela, e se havia algo que podia me distrair, era alguém querendo me matar.
Eu dei a Lissa o que esperava que fosse um sorriso convincente. Ela sabia o que tinha acontecido com Dimitri, e como ele, agora, estava esperando para me matar depois que eu tentei – e falhei – matar ele. Mesmo assim, as cartas que eu recebia dele toda semana a preocupavam, e ela já tinha o bastante pra lidar na sua vida sem o meu perseguidor morto vivo na lista.
“Eu meio que estou enfrentando um exercito,” eu apontei. Era cedo da noite, mas o verão ainda encontrava o sol no céu de Montana, nos iluminando com uma luz dourada enquanto andávamos. Eu amava, mas como um Moroi –
um vampiro pacífico e vivo – Lissa iria eventualmente ficar fraca e inconfortável nele.
Ela riu e jogou seu cabelo loiro platina por cima de um ombro. O sol iluminou sua cor pálida com um brilho angelical. “Eu suponho. Eu não achei que você estaria tão preocupada.”
Eu podia entender porque ela pensava assim. Até Dimitri tinha dito que isso seria uma perda do meu tempo. Afinal de contas, eu fui para Rússia para procurá-lo, e enfrentei Strigoi de verdade – matando vários deles sozinha. Talvez eu não devesse temer os testes que estavam por vir, mas toda a fanfarra e expectativas de repente me pressionavam. Meu ritmo cardíaco aumentou. E se eu não conseguisse fazer isso? E se eu não fosse tão boa quanto achava que era? Os guardiões que iriam me desafiar não eram Strigois, mas tinham habilidade e lutavam a mais tempo do que eu. Arrogância podia me trazer muitos problemas, e se eu falhasse, eu o faria na frente de todas as pessoas que se importavam comigo. Todas as pessoas que tinham tanta fé em mim.
Uma outra coisa também me preocupava.
“Estou preocupada com a forma que notas vão afetar meu futuro,” eu disse. Isso era verdade. Os testes eram o último exame para um guardião novato como eu. Eles garantiam que eu podia me formar na Academia St. Vladimir e tomar meu lugar com os verdadeiros guardiões que defendiam os Moroi dos Strigoi. Os testes basicamente definiam a que Moroi o guardião seria designado.
Através do nosso laço, eu senti a compaixão de Lissa – e sua preocupação. “Alberta acha que tem uma boa chance de ficarmos juntas – de você ser minha guardiã.”
Eu fiz uma careta. “Eu acho que Alberta estava dizendo isso para me manter na escola.” Eu desisti, para caçar Dimitri, alguns meses atrás e então retornei – algo que não ficava bem em nenhum histórico escolar. Também havia o pequeno fato de que a rainha Moroi, Tatiana, me odiava e provavelmente iria influenciar a quem eu seria designada – mas isso é outra história. “Eu acho que Alberta sabe que o único jeito deles me deixarem proteger você é se eu fosse a última guardiã da terra. E mesmo assim, minhas chances ainda seriam bem pequenas.”
Na nossa frente, o rugido da multidão ficava mais alto. Um dos muitos campos esportivos da escola tinha sido transformado em uma arena, parecido com algo dos tempos dos gladiadores romanos. As arquibancadas tinham aumentado, expandidas de simples assentos de madeira para luxuosos bancos estofados. Faixas cercavam o campo, suas cores vibrantes visíveis daqui
enquanto elas balançavam com o vento. Eu ainda não conseguia vê-las, mas eu sabia que haveria algum tipo de barraca construída na entrada do estádio para os novatos esperarem com os nervos a flor da pele. O próprio campo fora transformado em um percurso de obstáculos com perigosos testes. E pelos sons daquela ensurdecedora torcida, muitos já estavam testemunhando este evento.
“Eu não vou desistir,” Lissa disse. Através do laço, eu sabia que ela tinha falado pra valer. Isso era uma das coisas maravilhosas em relação a ela – uma fé e otimismo que resistia as mais terríveis provações. Era um afiado contraste com o meu recente ceticismo.
“E eu tenho algo que pode te ajudar hoje.”
Ela parou e botou a mão no bolso de seu jeans, tirando um pequeno anel de prata cheio de pequenas pedras que pareciam jade. Eu não precisava de nenhum laço para entender o que ela estava oferecendo.
“Oh, Liss... eu não sei. Eu não quero nenhuma, um, vantagem injusta.”
Lissa revirou os olhos. “Esse não é o problema, e você sabe. Esse está bom, eu juro.”
O anel que ela me ofereceu era um talismã, infundido com o raro tipo de magia que ela possuía. Todos os Moroi tem controle de um dos cinco elementos: terra, ar, água, fogo ou espírito. Espírito é o mais raro – tão raro que tinha sido esquecido através dos séculos. Então Lissa e alguns outros recentemente tinham aparecido com ele. Diferentemente de qualquer outro elemento, que são mais físicos por natureza, o espírito estava ligado à mente e todo tipo de fenômeno psíquico. Ninguém o entende completamente.
Fazer talismãs com espírito era algo que Lissa tinha apenas começado tentar a fazer – e ela não era muito boa nisso. Sua melhor habilidade com espírito era de cura, então ela continuava a tentar fazer talismãs de cura. O último tinha sido um bracelete que chamuscou meu braço.
“Esse funciona. Só um pouco, mas vai manter a escuridão longe durante o teste.”
Ela falou de leve, mas ambas sabíamos a seriedade das palavras dela. Com todo dom de espírito vinha um custo: uma escuridão que se mostrava como raiva e confusão, e, eventualmente, levava a insanidade. Escuridão que passava, através do nosso laço, para eu. Lissa e eu fomos informadas que com talismãs e a cura dela, poderíamos lutar contra isso. Isso era algo que ambas tínhamos que dominar.
Eu dei a ela um fraco sorriso, comovida pela preocupação dela, e aceitei o anel. Ele não queimou minha mão, o que eu considerei um sinal. Era pequeno e só cabia no meu mindinho. Eu não senti nada quando o coloquei. Às vezes isso acontece com talismãs de cura. Ou podia significar que o anel era completamente inútil. De qualquer forma, não fazia mal experimentar.
“Obrigada,” eu disse. Eu senti deleite passar por ela, e nós continuamos a andar.
Eu estendi minha mão diante de mim, admirando a forma como a pedra verde brilhava. Jóias não são uma boa ideia nesse tipo de teste físico que vou enfrentar, mas eu teria luvas para cobrir ele.
“Difícil acreditar que depois disso, teremos terminado, e vamos sair para o mundo real,” eu falei em voz alta, sem considerar minhas palavras.
Ao meu lado Lissa endureceu, e eu imediatamente me arrependi de ter falado. “Estar no mundo real” significava que Lissa e eu iríamos assumir uma tarefa que ela – nada feliz – prometeu me ajudar a cumprir alguns meses atrás.
Enquanto estava na Sibéria, eu descobri que pode haver uma forma de restaurar Dimitri para que ele volte a ser um dhampir como eu. Era um tiro no escuro – possivelmente uma mentira – e considerando a forma como ele está fixado em me matar, eu não tinha ilusão de que teria outra escolha a não ser matar ele, se a coisa acabasse ficando entre ele e eu. Mas se havia uma forma de eu poder salvar ele antes disso acontecer, eu tinha que descobrir.
Infelizmente, a única pista que tínhamos para fazer esse milagre virar realidade era através de um criminoso. Mas não apenas qualquer criminoso: Victor Dashkov, um Moroi da realeza que tinha torturado Lissa e cometido todo tipo de atrocidade que tinha transformado nossa vida num inferno. A justiça tinha sido feita, e Victor foi preso, o que complica as coisas. Soubemos que enquanto ele estivesse destinado a uma vida atrás das grades, ele não via motivos para partilhar o que ele sabia sobre seu meio-irmão – a única pessoa que uma vez tinha, supostamente, sido capaz de salvar um Strigoi. Eu decidi – possivelmente de forma ilógica – que Victor pode dar a informação se oferecermos a ele a única coisa que mais ninguém poderia: liberdade.
A ideia não era infalível, por vários motivos. Primeiro, eu não sabia se ia funcionar. Isso era meio que uma coisa importante. Segundo, eu não fazia ideia como bolar uma fuga da prisão, muito menos em que prisão ele estava. E finalmente, havia o fato de que estaríamos soltando nosso inimigo mortal. Isso era devastador o bastante para mim, ainda mais para Lissa. Ainda sim, mesmo
com a ideia perturbando ela profundamente – e acredite em mim, a afetava – ela firmemente jurou que ia me ajudar. Eu ofereci liberar ela de sua promessa dezenas de vezes nos últimos meses, mas ela permaneceu firme. É claro, considerando que não tínhamos nem como encontrar a prisão, a promessa dela podia não importar no fim.
Eu tentei consertar o constrangedor silencio entre nós, explicando que estaríamos livres para celebrar o aniversário dela com estilo na semana que vem. Minhas tentativas foram interrompidas por Stan, um dos meus velhos instrutores. “Hathaway!” ele rosnou, vindo da direção do campo. “Que bom da sua parte se juntar a nós. Entre aqui agora!”
O pensamento sobre Victor sumiu da mente de Lissa. Ela me deu um rápido abraço. “Boa sorte,” ela sussurrou. “Não que você precise.”
A expressão de Stan me disse que aquele tchau de 10 segundos foram 10 segundos demais. Eu agradeci Lissa com um sorriso, e então ela foi encontrar nossos amigos nas arquibancadas enquanto eu ia atrás de Stan.
“Você tem sorte por não ser uma das primeiras,” ele rosnou. “As pessoas estavam até apostando se você ia ou não aparecer.”
“Mesmo?” eu perguntei alegre. “Quais são as chances? Porque eu ainda posso mudar de ideia e fazer minha própria aposta. Fazer um pouco de dinheiro.”
Seus olhos estreitos me enviaram um aviso que não precisava de palavras enquanto entrávamos na área de espera adjacente ao campo, na frente das arquibancadas. Sempre me surpreendeu quanto trabalho dava esses testes, e eu não estava menos impressionada agora que estava vendo de perto. A barraca em que os novatos esperavam foi construída de madeira, completa com um teto. A estrutura parecia como se sempre tivesse sido parte do estádio. Ela tinha sido construída com uma incrível velocidade e seria derrubada igualmente rápido, assim que os testes terminassem. Uma porta da extensão de três pessoas dava uma visão parcial do campo, onde um dos meus colegas de classe estava esperando ansioso seu nome ser chamado. Todo tipo de obstáculo fora colocado lá, desafios cujo objetivo era testar o equilíbrio e coordenação dos estudantes enquanto ainda tinham que lutar e se esquivar dos guardiões adultos que estariam por perto de objetos e cantos. Paredes de madeira foram construídas em uma ponta do campo, criando um escuro e confuso labirinto. Redes e estruturas fracas estavam em outras áreas, designadas para checar o quão bem podíamos lutar nessas condições.
Alguns dos outros novatos estavam amontoados na porta, esperando conseguir uma vantagem observando aqueles que iam na frente deles. Eu não. Eu iria entrar lá às cegas, contente em enfrentar o que quer que fosse que eles iam jogar para cima de mim. Estudar o curso agora iria simplesmente me fazer pensar demais e entrar em pânico. Calma era do que eu precisava agora.
Então eu me inclinei contra uma das paredes da barraca e observei aqueles ao meu redor. Parecia que eu realmente tinha sido a última a aparecer, e eu me perguntei se as pessoas realmente tinham perdido dinheiro apostando em mim. Alguns dos meus colegas sussurravam amontoados. Alguns faziam flexões e aquecimento. Outros estavam com os instrutores que tinham sido seus mentores. Esses professores falavam atentamente com seus estudantes, dando conselhos de última hora. Eu ficava ouvindo palavras como concentração e calma.
Ver os instrutores fez meu coração se apertar. Não muito tempo atrás, era assim que eu tinha imaginado esse dia. Eu imaginei Dimitri e eu parados juntos, com ele me dizendo para levar isso a sério e não perder meu controle quando eu estivesse no campo. Alberta tinha feito uma grande quantidade de “mentoria” em mim desde que voltei da Rússia, mas como capitã, ela estava no campo, ocupada com outras responsabilidades. Ela não tinha tempo para vir aqui e segurar minha mão. Amigos meus que poderiam oferecer conforto – Eddie, Meredith, e outros – estavam ocupados com seus próprios medos. Eu estava sozinha.
Sem ela ou Dimitri – ou, bem, qualquer um – eu senti uma surpreendente dor de solidão passar por mim. Isso não estava certo. Eu não deveria estar sozinha. Dimitri deveria estar aqui comigo. Era assim que deveria ter sido. Fechando meus olhos, eu me permiti fingir que ele realmente estava aqui, apenas centímetros de distância enquanto conversávamos.
“Não se preocupe, camarada. Eu posso fazer isso vendada. Diabos, talvez eu até faça. Você tem alguma coisa que eu possa usar? Se você for bonzinho comigo, eu até te deixo amarrar.” Já que essa fantasia iria acontecer depois que dormimos juntos, havia uma forte possibilidade dele depois me ajudar a tirar a venda – entre outras coisas.
Eu podia imaginar, perfeitamente, o balanço exasperado da cabeça dele que esse comentário teria ganho. “Rose, eu juro, às vezes parece que cada dia com você é meu próprio teste pessoal.”
Mas eu sabia que ele iria sorrir mesmo assim, e o olhar de orgulho e encorajamento que ele iria me dar enquanto eu caminhasse para o campo seria tudo que eu iria precisar para passar no teste –
“Você está meditando?”
Eu abri meus olhos, surpresa com a voz. “Mãe? O que você está fazendo aqui?”
Minha mãe, Janine Hathaway, estava parada na minha frente. Ela era apenas alguns centímetros mais baixa que eu, mas era durona o bastante para alguém duas vezes do meu tamanho. O olhar perigoso em seu rosto bronzeado desafiava qualquer um a encarar o desafio. Ela me deu um sorriso amarelo e pós uma mão no quadril.
“Você honestamente pensou que eu não viria ver você?”
“Eu não sei,” eu admiti, me sentindo meio culpada por duvidar dela. Ela e eu não tivemos muito contato através dos anos, e foram apenas os eventos recentes – a maioria deles ruim – que começaram a restabelecer a conexão entre nós. Na maior parte do tempo, eu ainda não sabia como me sentir em relação a ela. Eu oscilava entre uma garotinha com carência por sua mãe ausente e uma adolescente ressentida por ter sido abandonada. Eu também não tinha muita certeza se eu havia perdoado ela pela vez que ela “acidentalmente” me socou no rosto em um treinamento. “Eu pensei que você teria, você sabe, coisas mais importantes para fazer.”
“De jeito nenhum eu poderia perder isso.” Ela inclinou sua cabeça em direção à porta, fazendo seus cachos ruivos balançarem. “Nem seu pai.”
“O que?”
Eu corri até a porta e espiei no campo. Minha visão da arquibancada não era fantástica, graças a vários obstáculos no campo, mas era boa o bastante. Lá estava ele: Abe Mazur. Era fácil ver ele com sua barba e bigode preto, assim como um cachecol verde esmerando sobre sua camisa. Eu podia até ver um pouco do contorno do seu brinco. Ele tinha que estar derretendo nesse calor, mas eu achei que ia ser necessário mais do que um pouco de suor para ele manchar seu senso de moda.
Se minha relação com minha mãe era rudimentar, minha relação com meu pai era praticamente inexistente. Eu o conheci em maio, e mesmo naquela época, não foi até eu voltar que descobri que eu era a filha dele. Todos os dhampir tem pais Moroi, e ele era o meu. Eu ainda não tinha certeza de como me sentia sobre ele. A maior parte da história dele ainda era um mistério, mas havia vários rumores de que ele estava envolvido em negócios ilegais. As pessoas também agiam como se ele fosse o tipo perigoso, e embora eu não
tivesse visto evidência disso, eu não achava surpreendente. Na Rússia, eles o chamavam de Zmey: a Serpente.
Enquanto eu o encarava surpresa, minha mãe foi para o meu lado. “Ele vai ficar feliz por você ter chego a tempo,” ela disse. “Ele estava fazendo uma grande aposta sobre você aparecer. Ele apostou em você, se isso te faz sentir melhor.”
Eu rosnei. “É claro. É claro que ele estaria fazendo as apostas. Eu deveria saber isso assim que eu –” Minha mandíbula se abriu. “Ele está falando com Adrian?”
Yup. Sentado ao lado de Abe estava Adrian Ivashkov – meu, mais ou menos, namorado. Adrian era um Moroi da realeza – e outro usuário de Espírito como Lissa. Ele era louco por mim (e normalmente apenas louco) desde que nos conhecemos, mas eu só tinha olhos para Dimitri. Depois do fracasso na Rússia, eu voltei e prometi dar a Adrian uma chance. Para minha surpresa, as coisas tem sido... boas entre nós. Até mesmo ótimas. Ele me escreveu uma proposta do porque sair com ele era uma boa decisão. Ela incluía coisas como “eu vou desistir dos cigarros a não ser que eu realmente, realmente precise de um” e “eu vou fazer surpresas românticas toda semana, tais como: um incrível piquenique, rosas, ou uma viagem para Paris – mas nenhuma dessas coisas, já que elas não são mais surpresa.”
Estar com ele não era como tinha sido com Dimitri, mas de qualquer forma, eu suponho que duas relações nunca podem ser exatamente a mesma coisa. Eles são homens diferentes, afinal de contas. Eu ainda acordo todo tempo, sentindo a dor da perda de Dimitri e nosso amor. Eu me atormento devido à falha em matar ele na Sibéria e de libertá-lo desse estado de morto vivo. Ainda sim, esse desespero não significava que minha vida romântica estava acabada – algo que me levou um tempo para aceitar. Seguir em frente era difícil, mas Adrian me fazia feliz. E por enquanto, isso era o bastante.
Mas isso não significava que eu queria ele conversando com meu pirata e mafioso pai.
“Ele é uma má influencia!” eu protestei.
Minha mãe bufou. “Eu duvido que Adrian vá influenciar Abe.”
“Não Adrian! Abe. Adrian está tentando se comportar. Abe vai estragar as coisas.” Fora fumar, Adrian tinha jurado parar de beber e de outros vícios em sua proposta. Eu me apertei entre a multidão olhando para ele e Abe, tentando descobrir que tópico poderia ser tão interessante.
“Do que eles estão falando?”
“Eu acho que essa é o menor dos seus problemas agora.” Janine Hathaway não era nada a não ser prática. “Se preocupe menos com eles e mais com aquele campo.”
“Você acha que eles estão falando sobre mim?”
“Rose!” Minha mãe me deu um leve soco no braço, e eu arrastei meus olhos de volta para ela. “Você tem que levar isso a sério. Fique calma, e não se distraia.”
As palavras dela eram tão parecidas com o que eu tinha imaginado que Dimitri diria que um pequeno sorriso apareceu em meu rosto. Eu não estava sozinha afinal de contas.
“O que é tão engraçado?” ela perguntou.
“Nada,” eu disse, dando a ela um abraço. Ela a princípio ficou dura e então relaxou, de fato me abraçando de volta brevemente antes de se afastar. “Estou feliz por você estar aqui.”
Minha mãe não é do tipo afetuoso, e eu a peguei desprevenida. “Bem,” ela disse, obviamente corada, “eu te disse que não iria perder isso.”
Eu olhei para a arquibancada. “Abe, por outro lado, eu não tenho tanta certeza.”
Ou... espere. Uma estranha ideia surgiu. Não, não tão estranha na verdade. Gangster ou não, Abe tinha conexões – extensivas o bastante para ele ser capaz de mandar uma mensagem para Victor Dashkov na prisão. Abe tinha pedido informações sobre Robert Doru, o irmão de Victor, para me ajudar. Quando Victor respondeu ele dizendo que ele não tinha motivos para ajudar Abe com o que ele precisava, eu prontamente larguei meu pai e me voltei a ideia de invadir a prisão. Mas agora –
“Rosemarie Hathaway!”
Foi Alberta quem me chamou, sua voz soando alta e clara. Era como um trompete, uma chamada para batalha. Todos os pensamentos sobre Abe e Adrian – e sim, até mesmo Dimitri – sumiram da minha mente. Eu acho que minha mãe me desejou boa sorte, mas as palavras exatas se perderam enquanto eu ia em direção a Alberta e ao campo. Adrenalina passou por mim.
Meu pulso cresceu mais uma vez. Toda minha atenção agora estava no que eu iria enfrentar: o teste que me faria definitivamente uma guardiã.

3 comentários:

Larissa Nogueira disse...

Olá Luli! Adorei seu blog,parabéns!
Amo a saga academia de vampiros, por isso gostaria de pedir que você postasse mais capitulos do vol.5 (laço de espirito) que ainda não tenho e a curiosidade está me matando.
Grata. Beijos.
Dinha.

Unknown disse...

Ola,sou a Maria Luiza,sera q vc pd cont esse livro pf,amo seu blog,obg! :-D

Unknown disse...

Parabens pelo blog,e o melhor que eu ja vi!pf cont a serie!!ta otimo!