terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

academia de vampiros - beijo das sombras (capitulo 5 )

CINCO OU MELHOR, ELES TINHAM SIDO Strigoi. Uma tropa de guardiões os caçaram e mataram. Se os rumores fossem verdadeiros, Christian havia testemunhado tudo isso quando era muito novo. E por mais que ele não seja Strigoi, algumas pessoas pensavam que ele não está longe disso, do jeito que ele sempre vestia preto e era introspectivo. Strigoi ou não, eu não confiava nele. Ele era um idiota, e eu silenciosamente gritava para Lissa sair dali – não que meu grito tenha adiantado alguma coisa. Estúpida ligação mental de uma só via. “O que você está fazendo aqui?” ela perguntou. “Apreciando a vista, é claro. Essa cadeira de lona é particularmente adorável nesse período do ano. Logo ali, temos uma velha caixa cheia de escritas do abençoado e louco St. Vladimir. E não vamos nos esquecer dessa linda mesa sem o pé no canto.” “Que seja.” Ela girou seus olhos e moveu-se em direção à porta, querendo sair, mas ele bloqueou seu caminho. “Bem, e quanto a você?” ele replicou com escárnio. “Por quê você está aqui em cima? Você não tem festas para ir ou vidas para destruir?” Um pouco do velho brilho de Lissa retornou. “Wow, isso é hilário. Eu sou como um ritual de passagem agora? Vai e veja se você consegue deixar a Lissa brava para provar o quão legal você é? Uma garota que eu nem conheço gritou comigo hoje, e agora eu tenho que lidar com você? O que é preciso para ser deixada em paz?” “Oh. Então é por isso que você está aqui em cima. Para uma festinha de auto-piedade.” “Isso não é brincadeira. Estou falando sério”. Eu poderia dizer que Lissa estava ficando brava. Isso estava prevalecendo sobre seu sofrimento anterior. Ele deu de ombros e se encostou casualmente numa quina da parede. “Eu também estou. Eu amo festinhas de auto-piedade. Quem dera ter trazido os chapéus. Sobre o que você quer se lastimar primeiro? Sobre como vai te custar um dia todo para que você novamente seja popular e adorada? Como você terá de esperar umas duas semanas para que a Hollister possa lhe enviar novas roupas? Se você optou pelo frete rápido, não deve ter que esperar tanto.” “Deixe-me sair”, ela disse irritadamente, dessa vez empurrando ele para o lado. “Espere,” ele disse quando ela alcançava a porta. O sarcasmo desapareceu de sua voz. “Como... ahn, como era?” “Como era o quê?” ela rebateu. “Estar lá fora. Longe da Academia.” Ela hesitou por um momento antes de responder, pega com a guarda baixa pelo o que pareceu uma genuína tentativa de estabelecer uma conversa. “Foi maravilhoso. Ninguém sabia quem eu era. Eu era apenas mais um rosto. Não uma Moroi. Não da realeza. Não era ninguém.” Ela olhou para o chão. “Todo mundo aqui acha que sabe quem eu sou.” “Yeah. É meio duro deixar seu passado para trás,” ele disse amargamente. Naquele momento, ocorreu à Lissa – e a mim, por tabela – o quão difícil deve ser estar na pele de Christian. Na maior parte do tempo, as pessoas o tratam como se ele não existisse. Como se fosse um fantasma. Elas não falam com ele nem sobre ele. Simplesmente não se davam conta de sua existência. O estigma do crime de seus pais era muito forte, lançando suas sombras sobre toda a família Ozera. Ainda assim, ele a deixou irritada, e ela não estava disposta a sentir pena dele. “Espere – essa é a sua festinha de auto-piedade agora?” Ele riu, quase como um incentivo. “Já faz um ano que essa sala tem sido o lugar da minha festinha de auto-piedade.” “Desculpe,” disse Lissa sarcasticamente. “Eu vinha aqui antes de ir embora. Eu tenho mais direito que você.” “Direito dos sem-teto. Além disso, eu tenho de estar por perto da capela sempre que possível, para que as pessoas saibam que eu não me tornei um Strigoi... ainda.” Novamente, sua voz soou com uma tonalidade amarga. “Eu costumava sempre te ver na missa. Essa é a única razão de você ir? Para parecer bem?” Strigoi não pode entrar em local sobre solo sagrado. Um pouco mais daquela coisa de pecando-contra-o-mundo. “É claro,” ele disse. “Por quê mais eu iria? Pelo bem da sua alma?” “Que seja,” disse Lissa, que claramente tinha uma opinião diferente. “Eu o deixarei sozinho então.” “Espere,” ele disse novamente. Não parecia que ele queria deixá-la ir. “Vou te propor um acordo. Você pode ficar por aqui também se me disser uma coisa.” “O quê?” Ela olhou de volta para ele. Ele se inclinou para frente. “De todos os rumores que ouvi sobre você hoje – e acredite, eu escutei muitos, mesmo que ninguém dissesse algo diretamente a mim – tem um que não foi muito comentado. Eles dissecaram todo o resto: porque você fugiu, o que você fez lá fora, porque você voltou, a sua especialização, o que Rose disse para Mia, blá blá blá. E no meio de tudo isso, ninguém, ninguém nunca questionou aquela história estúpida que a Rose contou sobre o fato de existir vários tipos de gentinha que deixam você tomar seu sangue.” Ela desviou o olhar, e eu pude sentir que suas bochechas começaram a arder. “Não é estúpida, nem uma história.” Ele riu suavemente. “Eu vivi com humanos. Minha tia e eu estivemos longe depois que meus pais…morreram. Não é tão fácil assim encontrar sangue.” Quando ela não respondeu, ele riu novamente. “Foi a Rose, não foi? Ela te alimentou.” Um medo renovado surgiu através dela e de mim. Ninguém na escola poderia saber sobre isso. Kirova e os guardiões que estavam presentes durante a cena sabiam, mas eles guardaram essa informação para si. “Bem. Se isso não é amizade, eu não sei o que seria,” ele disse. “Você não pode dizer a ninguém,” ela soltou. Isso era tudo o que precisávamos. Como eu tinha sido lembrada, alimentadores eram viciados em mordidas de vampiro. Nós aceitávamos isso como parte da vida, mas ainda assim os desprezávamos por isso. Para todos os outros – especialmente para um Dhampir – deixar um Moroi tomar o seu sangue era quase, bem, sujo. Na realidade, uma das coisas mais pervertidas, praticamente pornográfica que um Dhampir pode fazer é deixar um Moroi tomar o seu sangue durante o sexo. Lissa e eu não tínhamos feito sexo, lógico, mas ambas sabíamos o que os outros iriam pensar sobre eu a alimentar. “Não conte a ninguém.” Lissa repetiu. Ele enfiou suas mãos nos bolsos do casaco e sentou em um dos engradados. “Para quem eu iria contar? Olhe, vá se sentar no assento da janela. Você pode tê-lo hoje e ficar aí por um tempo. Se você não estiver ainda com medo de mim”. Ela hesitou, estudando-o. Ele parecia obscuro e rude, lábios curvados em um tipo de sorriso “sou-um-rebelde-e-tanto”. Mas ele não parecia tão perigoso. Não parecia Strigoi. Cuidadosamente, ela sentou novamente no assento da janela, esfregando inconscientemente seus braços contra o frio. Christian a observava, e um momento depois, o ar esquentou consideravelmente. Lissa encontrou os olhos de Christian e sorriu, surpresa por nunca não ter notado o quão azul eles eram. “Você se especializou em fogo?” Ele assentiu e puxou uma cadeira quebrada. “Agora nós temos acomodações de luxo”. Eu sai da visão bruscamente. “Rose? Rose?” Piscando, eu me foquei no rosto de Dimitri. Ele estava se inclinando em minha direção, suas mãos agarrando meus ombros. Eu tinha parado de andar; nós paramos no meio do pátio que separava os edifícios da parte superior da escola. “Você está bem?” “Eu...yeah. Eu estava…estava com Lissa…” Eu pus uma mão na minha testa. Eu nunca tinha tido uma experiência tão longa ou clara como essa. “Eu estava em sua cabeça”. “Sua...cabeça?” “Yeah. É uma parte da nossa ligação mental.” Eu não estava muito afim de explicar sobre isso. “Está tudo bem com ela?” “Yeah, ela está...” Eu hesitei. Estava tudo bem com ela? Christian Ozera tinha acabado de convidá-la para ficar um tempo com ele. Nada bom. Havia o “navegar com a correnteza”, e havia o se virar para o lado negro da força. Mas os sentimentos que se agitavam em nossa ligação mental não eram mais chateados ou de medo. Ela estava quase contente, apesar de ainda um pouco nervosa. “Ela não está em perigo”, eu disse finalmente. Eu espero. “Você pode continuar?” O rígido, estóico guerreiro que eu conheci antes tinha ido embora – apenas por um minuto – e realmente parecia preocupado. Verdadeiramente preocupado. Sentindo seus olhos em mim daquela forma fez algo se agitar dentro de mim – o que era estúpido, é claro. Eu não tinha razão alguma para ficar tão pateta só porque o homem era bonito demais para o seu próprio bem. Afinal, ele é um deus anti-social, de acordo com Mason. Um que supostamente iria me deixar com todos os tipos de dores. “Yeah. Estou bem.” Eu fui para o vestiário do ginásio e vesti as roupas de ginástica que alguém finalmente resolveu me dar depois de passar um dia treinando de jeans e camiseta. Nojento. Lissa estando com Christian me pertubava, mas eu deixei esse pensamento para depois assim que meus músculos me informaram que não queriam ser submetidos a mais nenhum exercício por hoje. Então eu sugeri a Dimitri que, quem sabe, ele poderia me dispensar dessa vez. Ele riu, e eu tive a total certeza de que era de mim e não comigo. “Por quê isso é engraçado?” “Oh,” ele disse, seu sorriso sumindo. “Você falou sério.” “É claro que eu falei! Olhe, eu estive, tecnicamente, acordada por dois dias. Por quê nós temos que começar esse treinamento agora? Me deixa ir para a cama,” eu choraminguei. “É só uma horinha”. Ele cruzou seus braços e olhou para mim. Sua preocupação de mais cedo havia ido embora. Agora eram apenas negócios. Amor Bruto. “Como você se sente agora? Depois do treinamento que fez até agora?” “Dói pra caramba.” “Você vai se sentir pior amanhã.” “E daí?” “E daí, melhor entrar de cabeça no treinamento agora enquanto você não se sente... tão mal.” “Que tipo de lógica é essa?” Eu retruquei. Mas eu não discuti mais enquanto ele me conduzia até a sala de musculação. Ele me mostrou os pesos e apontou os exercícios que queria que eu fizesse, depois se espichou num canto com uma novela de Velho Oeste. Que deus. Quando eu terminei, ele parou do meu lado e demonstrou alguns exercícios de alongamento. “Como você acabou sendo alocado como guardião da Lissa?” eu perguntei. “Você não estava aqui há alguns anos atrás. Ao menos você foi treinado nesta escola?” Ele não respondeu de imediato. Eu tive a sensação de que ele não costuma falar sobre si mesmo com freqüência. “Não, eu freqüentei uma escola na Sibéria.” “Whoa. Esse deve ser o único lugar pior do que Montana.” Um vislumbre de algo – talvez divertimento – brilhou nos olhos dele, mas ele não demonstrou ter notado a brincadeira. “Depois da formatura, eu fui guardião de um lorde da família Zeklos. Ele foi morto recentemente.” Seu sorriso sumiu, seu rosto ficou obscuro. “Me mandaram aqui porque necessitavam de guardiões extras no campus. Quando a princesa apareceu, eles me designaram para ela, já que eu já estava por aqui. Não que isso seja importante até que ela deixe o campus.” Eu pensei no que ele disse antes. Algum Strigoi matou o cara que ele estava designado a proteger? “Esse lorde morreu durante a sua vigia?” “Não. Ele estava com o seu outro guardião. Eu estava longe.” Ele ficou em silêncio, sua mente obviamente em outro lugar. Os Moroi esperavam muito de nós, todavia reconheciam que os guardiões são – mais ou menos – apenas humanos. Então, guardiões eram pagos e tinham folga como em qualquer outro emprego. Alguns guardiões radicais – como a minha mãe – recusam férias, jurando nunca sair do lado de seus Moroi. Olhando para Dimitri, tive a sensação de que ele poderia muito bem se tornar um desses. Se ele tivesse estado longe por causa de uma dispensa legítima, ele mal poderia se culpar pelo o que ocorreu com aquele lorde. Ainda assim, ele provavelmente se culpa. Eu também me culparia se algo acontecesse com Lissa. “Ei,” eu disse, repentinamente querendo animá-lo, “você ajudou a fazer o plano para nos trazer de volta? Porque foi muito bom. Força brutal e tudo aquilo.” Ele levantou curiosamente uma das sobrancelhas. Legal. Eu sempre quis fazer isso. “Você está me elogiando por isso?” “Bem, foi bem melhor do que a tentativa anterior deles.” “Tentativa anterior?” “Yeah. Em Chicago. Com um bando de psi-hounds.” “Essa foi a primeira vez que encontramos vocês. Em Portland.” Eu parei de me alongar e sentei de pernas cruzadas. “Hum, eu não acho que tenha imaginado psi-hounds. Quem mais poderia tê-los enviado? Eles só respondem aos Moroi. Talvez ninguém tenha te contado.” “Talvez,” ele disse encerrando o assunto. Eu poderia dizer que, pela sua expressão, ele não acreditou na história. Eu retornei ao dormitório dos aprendizes depois disso. Os estudantes Moroi viviam do outro lado do pátio, perto das áreas comuns. A forma de organização do ambiente era parcialmente baseada na conveniência. Estar aqui deixava nós, aprendizes, perto do ginásio e áreas de treinamento. Todavia, nós também vivíamos separados para favorecer as diferenças entre os estilos de vida Moroi e dhampir. O dormitório deles quase não tinha janela alguma, tirando algumas pintadas que ofuscavam os raios de sol. Eles também tinham uma seção especial onde alimentadores sempre estavam à disposição. O dormitório dos aprendizes foi construído de uma forma mais aberta, permitindo maior entrada de luz. Eu tinha o meu próprio quarto porque existiam poucos aprendizes, garotas menos ainda. O quarto que me deram era pequeno e simples, com duas camas de solteiro e uma escrivaninha com um computador. Meus poucos pertences foram trazidos de Portland e estavam, naquele momento, distribuídos em caixas pelo quarto. Eu revistei as caixas, tirando uma camiseta para dormir. Achei duas fotos quando fiz isso, uma de Lissa e eu num jogo de futebol americano em Portland e outra tirada durante a viagem de férias com a família dela, um ano antes do acidente. Eu as coloquei na minha escrivaninha e liguei o computador. Alguém do suporte técnico me deixou um papel com as instruções de renovação do meu e-mail e criação de uma senha. Eu fiz as duas coisas, feliz por descobrir que ninguém tinha se tocado de que isso serviria como uma forma de me comunicar com Lissa. Como estava muito cansada para escrever para ela naquele momento, estava para desligar o computador quando notei que eu já tinha recebido uma mensagem. De Janine Hathaway. Era curta: Estou feliz que tenha voltado. O que você fez é imperdoável. “Amo você também, mãe,” eu resmunguei, desligando tudo. Quando eu fui para a cama, mais tarde, eu peguei no sono antes mesmo de encontrar o travesseiro, e exatamente como Dimitri tinha previsto, eu me senti dez vezes pior quando acordei na manhã seguinte. Deitada na cama, reconsiderei as vantagens de fugir. Nesse momento, lembrei de ter levado uma surra e cheguei a conclusão de que a única forma de prevenir que isso ocorresse novamente era sofrer um pouco mais nessa manhã. Meu corpo dolorido fez com que tudo fosse muito pior, mas eu sobrevivi ao treinamento préaula com Dimitri e às aulas subseqüentes sem passar mal ou desmaiar. No almoço, eu logo arranquei Lissa da mesa de Natalie e passei um sermão digno-de-Kirova sobre Christian – particularmente castigando-a por ter deixado ele saber sobre nosso acordo quanto ao sangue. Se isso vazasse, iria nos matar socialmente, e eu não confiava nele para guardar o segredo. Lissa tinha outras preocupações. “Você estava na minha cabeça de novo?” ela exclamou. “Por tanto tempo?” “Eu não fiz de propósito,” argumentei. “Apenas aconteceu. E esse não é o ponto. Por quanto tempo vocês ficaram juntos, afinal?” “Não muito tempo. Foi meio que…divertido.” “Bem, você não pode fazer isso de novo. Se as pessoas descobrem que você está andando com ele, irão te crucificar.” Eu olhei para ela cautelosamente. “Você não está, digamos, afim dele, está?” Ela zombou. “Não. É claro que não.” “Ótimo. Porque se é para você ir atrás de algum garoto, roube Aaron de volta.” Ele era chato, é verdade, mas era seguro. Assim como Natalie. Porque todas as pessoas inofensivas eram tão sem graça? Talvez essa era a definição de “seguro”. Ela riu. “Mia arrancaria meus olhos fora”. “Nós podemos com ela. Aliás, ele merece alguém que não faça compras na GAP Infantil.” “Rose, você precisa parar de dizer coisas como essa.” “Eu só estou dizendo o que você não diz.” “Ela é só um ano mais nova,” disse Lissa. Ela riu. “Não posso acreditar que você acha que sou eu quem vai nos colocar em problemas.” Sorrindo enquanto caminhávamos em direção à aula, olhei de lado para ela. “Aaron realmente está bem gatinho, huh?” Ela sorriu e evitou os meus olhos. “É. Bem gatinho.” “Ooh. Está vendo? Você deveria ir atrás dele.” “Que seja. Eu estou bem em só sermos amigos por agora.” “Amigos que costumavam enfiar a língua dentro da boca um do outro.” Ela girou os olhos. “Tudo bem.” Eu parei de provocá-la. “Deixe o Aaron no jardim de infância. Enquanto isso, fique o mais longe possível de Christian. Ele é perigoso.” “Você está exagerando. Ele não vai se tornar um Strigoi.” “Ele é uma má influência.” Ela riu. “Você acha que eu estou em perigo de me tornar uma Strigoi?” Ela não esperou por minha resposta, em vez disso empurrou a porta, abrindo-a para a nossa aula de ciências. Parada ali na porta, eu repassei apreensiva as palavras dela e então a segui um momento depois. Quando fiz isso, fui obrigada a ver o poder da realeza em ação. Alguns garotos – com algumas garotas que assistiam e davam risadinhas – estavam provocando um desengonçado Moroi. Eu não o conhecia muito bem, mas sabia que ele era pobre e definitivamente não era da realeza. Uma dupla de seus provocadores eram usuários de magia de ar, e fizeram voar os papéis de sua mesa, lançando correntes de ar para que voassem enquanto o garoto tentava alcançá-los. Meus instintos me compeliram a fazer algo, talvez ir acertar um dos usuários de ar. Mas eu não podia começar uma briga com todo mundo que me incomodasse, e certamente não com um grupo da realeza – especialmente quando Lissa precisava ficar longe de seus radares. Então eu apenas pude lançar a eles um olhar de desgosto enquanto caminhava para minha mesa. Logo que fiz isso, uma mão agarrou meu braço. Jesse. “Hey,” eu disse brincando. Felizmente, ele pareceu não estar participando da sessão de tortura. “É proibido tocar na mercadoria”. Ele me lançou um sorriso, mas manteve sua mão em mim. “Rose, conte ao Paul sobre aquela vez em que você começou uma briga na aula da Sra. Karp.” Ergui minha cabeça na direção deles, dando um sorriso divertido. “Eu comecei um monte de brigas na aula dela.” “Aquela com o caranguejo-ermitão. E o gerbil.”* Eu ri, relembrando. “Oh, yeah. Era um hamster, eu acho. Eu só joguei ele dentro do tanque do caranguejo, e eles dois estavam tão emocionados por estar tão próximos de mim, que eles foram com tudo.” Paul, um garoto sentado perto e que eu não conhecia, começou a rir também. Ele foi transferido no ano passado, aparentemente, e não tinha escutado a história. “Quem ganhou?” Eu olhei para Jesse de forma cômica. “Eu não lembro. Você lembra?” “Não. Eu só me lembro de Karp enlouquecendo.” Ele se virou para Paul. “Cara, você devia ter visto essa professora toda atrapalhada que nós tínhamos. Costumava pensar que as pessoas estavam atrás dela e explodia com coisas que não faziam o mínimo sentido. Ela era maluca. Tinha o hábito de andar pelo campus enquanto todos estavam dormindo.” Eu sorri rigidamente, como se eu pensasse que isso era engraçado. Em vez disso, eu lembrei da Sra. Karp de novo, surpresa por pensar nela de novo em dois dias. Jesse estava certo – ela costumava andar muito pelo campus enquanto trabalhava aqui. Era de dar arrepios. Eu encontrei com ela uma vez – inesperadamente. Eu tinha descido da minha janela do dormitório para ir encontrar umas pessoas. Já era tarde, e todos nós devíamos estar em nossos quartos, dormindo. Essas táticas de fuga eram uma prática regular para mim. Eu era boa nisso. Mas eu caí naquela vez. O meu quarto ficava no segundo andar, e eu perdi meu apoio mais ou menos na metade do caminho até o chão. Sentindo o chão chegar perto de mim, eu tentei desesperadamente me agarrar em algo que diminuísse a velocidade da minha queda. Eu estava muito preocupada para sentir os cortes que a pedra rígida do edifício causaram em minha pele. Caí com tudo na terra gramada, as costas primeiro, tendo minha arrogância nocauteada. “Mau jeito, Rosemarie. Você devia ser mais cautelosa. Seus instrutores iriam ficar desapontados.” Espiando entre o embaraçado do meu cabelo, vi a Sra. Karp me olhando, um olhar perplexo em seu rosto. Dor, nesse meio tempo, jorrou através de cada parte do meu corpo. Ignorando isso da melhor forma que eu podia, me levantei com dificuldade. Estar em sala de aula com a Louca Karp enquanto rodeada de outros estudantes é uma coisa. Estar ali fora sozinha com ela era totalmente diferente. Ela sempre teve um sinistro, distraído brilho em seus olhos que fazia minha pele se encher de arrepios. Também havia, agora, a grande possibilidade dela me arrastar até Kirova para uma detenção. Mais assustador ainda. No lugar disso, ela apenas sorriu e tomou as minhas mãos. Eu vacilei, mas deixei que ela as tomasse. Ela fez “tsic tsic” quando viu os arranhões. Estreitando seu aperto neles, ela levemente franziu as sobrancelhas. Um formigamento ardeu na minha pele, junto de uma espécie de zunido agradável, e então as feridas se fecharam. Eu tive uma breve sensação de vertigem. Minha temperatura elevou-se. O sangue desapareceu, assim como as dores no meu quadril e na minha perna. Ofegando, eu puxei minhas mãos num solavanco. Eu já tinha visto bastante da magia Moroi, mas nunca algo parecido com aquilo. “O quê...o quê você fez?” Ela me deu aquele sorriso esquisito novamente. “Volte para seu dormitório, Rose. Existem coisas ruins aqui fora. Nunca se sabe o que está te seguindo.” Eu continuava encarando minhas mãos. “Mas...” Olhei novamente para ela e pela primeira vez notei cicatrizes nos cantos de sua testa. Como se unhas tivessem sido cravadas nela. Ela piscou para mim. “Eu não vou contar sobre você se você não contar sobre mim.” Eu voltei ao presente, perturbada pela memória daquela noite bizarra. Jesse, nesse meio tempo, estava me falando sobre uma festa. “Você tem que se soltar da sua coleira hoje à noite. Nós vamos até aquele local na floresta em torno de oito e meia. Mark conseguiu alguma maconha.” Eu suspirei melancolicamente, arrependimento substituindo o calafrio que senti com a lembrança de Sra. Karp. “Não posso me livrar da coleira. Eu tenho um carcereiro Russo.” Ele largou meu braço, parecendo desapontado, e passou uma mão em seu cabelo cor de bronze. Yeah. Não poder estar com ele era uma grande vergonha. Eu realmente vou ter que consertar isso algum dia. “Você não pode sair por bom comportamento?” Ele brincou. Eu dei a ele o que eu esperava que fosse um sorriso sedutor enquanto encontrava meu assento. “Claro,” eu disse sobre meu ombro. “Se eu algum dia tivesse sido boa”.

academia de vampiros - beijo das sombras (capitulo 4)

às suas casas. QUATRO NÓS NÃO TÍNHAMOS A ATENÇÃO de toda a área comum dessa vez, graças a Deus, mas alguns transeuntes pararam para olhar. “O que diabos você pensa que está fazendo?” perguntou a Garota Boneca, grandes olhos azuis e brilhando com fúria. De perto, agora, eu podia ter uma visão melhor dela. Ela tinha a mesma compleição magra da maioria dos Moroi, mas não o peso normal, o que era parte do motivo dela aparentar ser tão jovem. O pequenino vestido roxo que ela estava usando era lindo – o que me lembrava que, na verdade, eu estava vestida com roupas de brechó* - mas uma inspeção mais atenciosa me fez pensar que era uma imitação falsa de algum designer. Eu cruzei os braços ao redor do peito. “Está perdida, garotinha? O primário fica do lado oeste do campus.” Eu cruzei os braços ao redor do peito. “Está perdida, garotinha? O primário fica do lado oeste do campus.” Um rubor rosa se espalhou por toda a sua bochecha. “Nunca mais toque em mim. Se você ferrar comigo, eu ferro com você também." Oh cara, que tipo de frase de efeito era essa. Somente um balanço de cabeça de Lissa me impediu de soltar toda uma quantidade de respostas hilárias. Em vez disso, eu optei pela simples força bruta, por assim dizer. “E se você mexer conosco de novo, eu quebro você em duas. Se você não acredita, pergunte a Dawn Yarrow sobre o que eu fiz ao braço dela na oitava série. Você, provavelmente, devia estar na hora da soneca**quando isso aconteceu.” *No original "thrift-shop". Aparentemente, são lugares , estilo brechós e antiquários, onde parte do dinheiro das coisas que se vendem vai para doações, ou então onde você pode simplesmente fazer doações. ** No jardim da infância nos Estados Unidos existe o “nap time”, depois do almoço, onde as crianças tomam leite e dormem na sala de aula. O incidente com Dawn não havia sido um dos meus melhores momentos. Eu realmente não esperava quebrar nenhum osso dela quando a empurrei da árvore. Mesmo assim, o incidente havia me dado uma má reputação, acrescentando à de sabichona. A história tinha ganhado um status legendário, e eu gostava de imaginar que isso ainda era contado em volta de fogueiras tarde da noite. Julgando pelo olhar no rosto da garota, ainda era. Um dos membros da patrulha deu a volta justo nessa hora, lançando um olhar suspeito para a nossa reuniãozinha. A Garota Boneca se afastou, pegando Aaron pelo braço. “Venha,” ela disse. “Hey, Aaron,” eu disse alegremente, me recordando de que ele estava lá. “Foi bom vê-lo novamente.” Ele me deu um aceno rápido e um sorriso desconfortável, enquanto a garota o arrastava para fora. O bom velho Aaron. Ele podia ser bonzinho e bonitinho, mas agressivo ele não era. Me virei para Lissa. “Você está bem?” Ela afirmou com a cabeça. “Alguma idéia de quem seja a pessoa que eu acabei de ameaçar?” “Nenhuma.” Eu comecei a conduzi-la para a fila do almoço, mas ela agitou a sua cabeça para mim. “Preciso ir ver os alimentadores.” Um sentimento engraçado se estabeleceu em mim. Eu tinha ficado acostumada a ser sua fonte principal de sangue e o pensamento sobre retornar à rotina normal Moroi pareceu estranha. De fato, quase me incomodou. Não deveria. Alimentação diária fazia parte da vida de um Moroi, uma coisa no qual não pude oferecê-la enquanto morávamos por nossa conta. Tinha sido uma situação incômoda, uma que me deixava fraca nos dias de alimentação e ela fraca nos dias entre eles. Eu deveria estar feliz pelo fato de que ela teria alguma normalidade. Eu forcei um sorriso. “Claro.” Nós andamos para a sala de alimentação, que ficava adjacente à cafeteria. Era feito de pequenos cubículos, separando o lugar numa tentativa de oferecer privacidade. Uma mulher Moroi de cabelos escuros nos cumprimentou na entrada e olhou de relance para a sua prancheta, passando as páginas. Achando o que ela queria, fez algumas anotações e então fez um gesto para que Lissa a acompanhasse. Ela me deu um olhar confuso, mas não me impediu de entrar. Ela nos guiou para um dos cubículos onde uma mulher gorda de meia-idade estava sentada folheando uma revista. Ela olhou para cima devido à nossa aproximação e sorriu. Em seus olhos, eu podia ver a aparência sonhadora e vidrada que a maioria dos alimentadores tinham. Ela provavelmente já tinha quase alcançado a sua quota do dia, julgando pelo modo como ela parecia estar doidona. Reconhecendo Lissa, seu sorriso alargou. “Bem-vinda de volta, Princesa.” A recepcionista nos deixou, e Lissa se sentou na cadeira próxima à mulher. Eu senti um sentimento de desconforto nela, um pouco diferente do meu próprio. Era estranho para ela também; depois de tanto tempo. A alimentadora, no entanto, não tinha tal estranhamento. Um olhar faminto percorreu seu rosto – como uma viciada que estava prestes a ganhar mais uma dose. Uma aversão caiu sobre mim. Era um velho instinto, um que havia sido trabalhado através dos anos. Alimentadores eram essenciais à vida dos Moroi. Eles eram humanos que se dispuseram por livre e espontânea vontade a ser uma fonte regular de sangue, humanos das extremidades da sociedade que haviam dado suas vidas para o mundo secreto dos Moroi. Eles eram bem cuidados e tinham todos os confortos de que poderiam precisar. Mas no fundo disso, eles eram como usuários de drogas, viciados na saliva dos Moroi e da adrenalina oferecida em cada mordida. Os Moroi – e os guardiões – desprezavam essa dependência, apesar dos Moroi não sobreviverem sem isso, a não ser que pegassem as vítimas à força. Hipocrisia em seu nível mais elevado. A alimentadora inclinou sua cabeça, dando a Lissa acesso total ao seu pescoço. Sua pele ali estava marcada com cicatrizes de anos de mordidas diárias. As alimentações infreqüentes que Lissa e eu tínhamos feito mantiveram meu pescoço limpo; as marcas de mordida não duravam mais que um dia ou dois. Lissa se inclinou para frente, as presas mordendo a pele dócil da alimentadora. A mulher fechou os olhos, fazendo um som suave de prazer. Eu engoli, assistindo Lissa beber. Eu não podia ver nenhum sangue, mas podia imagina-lo. Um impulso de emoção surgiu em meu peito: desejo. Ciúmes. Eu desviei os meus olhos, encarando o chão fixamente. Mentalmente, eu me censurei. Qual é o seu problema? Por que você deveria sentir falta disso? Você só fazia isso uma vez por dia. Você não é uma viciada, não como ela. E você não quer ser. Mas eu não podia evitar, não podia evitar o modo como me sentia quando lembrava da felicidade e adrenalina da mordida de um vampiro. Lissa terminou e nós voltamos para a área comum, indo para a direção da fila do almoço. Era pequena, sendo que só tínhamos mais quinze minutos, e eu me adiantei e comecei a encher meu prato com batata fritas e alguns pedacinhos redondos de algo que parecia com nuggets de frango. Lissa só pegou um iogurte. Moroi precisava de comida, como dhampirs e humanos precisavam, mas raramente tinham algum apetite depois de beber sangue. “Então, como foram as aulas?” eu perguntei. Ela deu de ombros. Seu rosto estava iluminado com cor e vida agora. “Tudo bem. Um monte de olhares. Muitos olhares. Muitas perguntas sobre onde nós estávamos. Cochichos.” “Comigo também,” disse. A atendente fez um exame minucioso da gente, e nós nos dirigimos para uma mesa. Eu olhei Lissa de esguelha. “Tudo bem isso para você? Eles não estão te incomodando, estão?” “Não – está tudo bem.” As emoções vindas através da ligação contradiziam suas palavras. Sabendo que eu podia sentir isso, ela tentou mudar de assunto me dando o seu horário das aulas. Eu dei uma conferida. 1º Horário Russo 2 2º Horário Literatura Colonial Americana 3º Horário Princípios do Controle Elementar 4º Horário Poesia Antiga – Almoço – 5º Horário Comportamento e Fisiologia Animal 6º Horário Cálculo Avançado 7º Horário Cultura Moroi 4 8º Horário Artes Eslavas “Nerd,” eu disse. “Se você fosse estúpida em matemática igual a mim, nós teríamos a mesma programação pela tarde.” Eu parei de andar. “Porque você está em princípios elementar? Isso é uma aula do primeiro ano.” Ela me olhou. “Porque os veteranos têm aulas especializadas.” Nós caímos no silêncio com isso. Todo o poder da magia elementar Moroi. Era uma das coisas que diferenciavam vampiros vivos dos Strigoi, os vampiros mortos. Moroi viam a magia como um dom. Era parte de suas almas e os conectavam com o mundo. Há muito tempo atrás, eles usavam a magia abertamente evitando desastres naturais e ajudando com coisas como comida e produção de água. Eles não precisavam mais fazer isso tanto assim, mas a magia ainda estavam em seu sangue. Queimando-os e fazendo com que quisessem alcançar a terra e aperfeiçoar seu poder. Academias como esta existiam para ajudar os Moroi a controlar a magia e aprender a fazer coisas cada vez mais complexas com ela. Estudantes também tinham de aprender as regras que rodeavam a magia, regras que foram impostas a séculos e que eram reforçadas de forma estrita. Cada Moroi tinha uma pequena habilidade em cada elemento. Quando eles chegavam à nossa idade, estudantes se “especializavam” quando um elemento se tornava mais forte que os outros: terra, água, fogo, ou ar. Não se especializar era como ser um adolescente sem passar pela puberdade. E Lissa... bem, Lissa não tinha se especializado ainda. “É a Sra. Carmack quem ainda ensina isso? O que ela disse?” “Ela disse que não está preocupada. Ela pensa que ainda virá.” “Você – você contou a ela sobre – “ Lissa balançou a cabeça. “Não. Lógico que não.” Nós deixamos o assunto morrer. Era um do qual nós pensávamos muito sobre, mas que raramente falávamos. Nós começamos a andar novamente, olhando as mesas enquanto decidíamos onde sentar. Alguns pares de olhos nos olhavam com evidente curiosidade. “Lissa!” veio uma voz próxima. Olhando de relance, vimos Natalie acenar para nós. Lissa e eu trocamos olhares. Natalie era meio que a prima de Lissa do mesmo modo que Victo era meio que seu tio, mas nós nunca andávamos muito com ela. Lissa deu de ombros e se dirigiu em sua direção. “Porque não?” Eu a segui relutantemente. Natalie era boazinha, mas também a pessoa mais desinteressante que já conheci. A maioria da realeza no colégio desfrutava de um tipo de status de celebridade, mas Natalie nunca se encaixou com esse pessoal. Ela era muito simples, muito desinteressada na política da Academia, e muito sem noção para realmente lidar com isso. Os amigos de Natalie nos olhou com uma curiosidade quieta, mas ela não se controlou. Ela jogou seus braços ao nosso redor. Como Lissa, ela tinha os olhos verde-jade, mas seus cabelos eram de um preto azeviche, como os de Victor haviam sido antes da doença os deixar grisalhos. “Você está de volta! Eu sabia que voltaria! Todo mundo dizia que você havia ido para sempre, mas eu nunca acreditei nisso. Sabia que você não poderia ficar longe. Porque você foi? Há tantas histórias sobre o porquê de você ter ido embora!” Lissa e eu trocamos olhares enquanto Natalie tagarelava. “Camille disse que uma de vocês ficara grávida e fugiram para poder fazer um aborto, mas eu sabia que isso não poderia ser verdade. Mais alguém disse que vocês fugiram para ficar com a mãe da Rose, mas eu imaginei que Sra. Kirova e Papai não ficariam tão chateados se vocês tivessem ido para lá. Você sabia que nós podemos virar companheiras de quarto? Eu estava falando com...” Continuamente ela conversou, mostrando suas presas enquanto falava. Eu sorri educadamente, deixando Lissa lidar com a ofensiva até que Natalie fez uma pergunta perigosa. “Como você conseguia sangue, Lissa?” A mesa nos observava questionando o congelamento de Lissa, mas eu imediatamente entrei na conversa, a mentira vindo facilmente aos meus lábios. “Oh, isso é fácil. Existem muitos humanos que querem fazer isso.” “Sério?” perguntou uma das amigas de Natalie, com os olhos bem abertos. “Yep. Você os encontra em festas e coisas do tipo. Eles todos estão procurando uma dose de alguma coisa, eles nem percebem que é um vampiro que está fazendo isso: a maioria está tão doidão que nem lembram de nada.” Meus já vagos detalhes se acabaram, então eu simplesmente dei de ombros do melhor jeito maneiro e confiante que consegui. Não era como se algum deles soubesse fazer melhor. “Como eu disse, era fácil. Quase mais fácil do que ter nossos próprios alimentadores.” Natalie aceitou isso e então se lançou em outro assunto. Lissa me deu um olhar agradecido. Ignorando a conversa novamente, eu observei os rostos familiares, tentando entender quem estava andando com quem e como o poder havia sido transferido dentro do colégio. Mason, sentado com um grupo de aprendizes, captou meu olhar, e eu sorri. Perto dele, estava sentado um grupo da realeza Moroi, rindo de alguma coisa. Aaron e a garota loira sentavam lá também. “Hey, Natalie,” eu disse, me virando e a cortando. Ela não pareceu perceber ou se importar. “Quem é a nova namorada de Aaron?” “Huh? Oh. Mia Rinaldi.” Vendo minha expressão vazia, ela perguntou, “Não se lembra dela?” “Eu devia? Ela estava aqui quando fomos embora?” “Ela sempre esteve aqui,” disse Natalie. “Ela só é um ano mais nova que nós.” Eu disparei um olhar questionador para Lissa, que somente deu de ombros. “Por que ela está tão pirada com a gente?” eu perguntei. “Nenhuma de nós duas a conhece.” “Eu não sei,” Natalie respondeu. “Talvez ela esteja com ciúmes do Aaron. Ela não era muita coisa quando vocês partiram. Ela ficou muito popular muito rápido. Ela não é da realeza nem nada, mas uma vez que começou a namorar com Aaron, ela–“ “Okay, obrigada,” eu interrompi. “Isso realmente não – “ Eu olhei para cima do rosto de Natalie para o do Jesse Zeklos, no momento em que ele estava passando pela nossa mesa. Ah, Jesse. Eu havia esquecido dele. Você flerta com outros garotos simplesmente pelo prazer do flerte. Você flerta com Jesse na esperança de ficar semi-nua com ele. Ele era da realeza Moroi, e ele era gostoso, ele devia usar uma placa CUIDADO: INFLAMÁVEL. Ele encontrou meus olhos e sorriu. “Hey Rose, bem vinda de volta. Você ainda está despedaçando corações?” “Está se oferecendo?” Seu sorriso se alargou. “Vamos sair um dia desses e descobrir. Se você se livrar da sua condicional.” Ele continuou andando, e eu o olhei de forma admiravelmente. Natalie e suas amigas me olharam incrédulas. Eu podia não ser um deus no estilo Demitri, mas nesse grupo, Lissa e eu éramos deuses – ou pelo menos ex-deuses – de uma outra forma. “Oh meu Deus,” exclamou uma garota. Eu não lembrava seu nome. “Aquele era o Jesse.” “Sim,” eu disse, sorrindo. “Certamente que era.” “Eu queria me parecer como você,” ela acrescentou com um suspiro. Seus olhos caíram em mim. Tecnicamente, eu era meia-Moroi, mas minha aparência era humana. Eu me misturava bem com os humanos durante o nosso tempo fora, tão bem que eu raramente pensava sobre a minha aparência. Aqui, entre as garotas Moroi magras e sem peitos, certas características – ou seja, meus seios maiores e meu quadril definido – se destacavam. Eu sabia que era bonita, mas para garotos Moroi, meu corpo era mais que só bonito: era sexy de um modo obsceno. Dhampirs eram uma conquista exótica, uma novidade que todos os caras Moroi queriam “tentar”. Era irônico que Dhampirs despertasse tamanho fascínio aqui, porque as delgadas garotas Moroi se pareciam muito as modelos de passarela super-magras tão famosas no mundo humano. A maioria dos humanos nunca poderá alcançar esse “ideal” de magreza, como as garotas Moroi nunca poderão se parecer comigo. Todo mundo queria o que não podia ter. Lissa e eu sentamos juntas nas aulas que dividíamos pela tarde mas não conversamos muito. Os olhares que ela havia mencionado certamente nos seguiam, mas eu descobri que quanto mais eu conversava com as pessoas, mais elas se abriam. Lentamente, gradualmente, eles pareceram se lembrar de quem nós éramos, e a novidade – mas não a intriga – da nossa louca façanha foi desaparecendo. Ou talvez eu devesse falar, eles lembravam de quem eu era. Porque eu era a única falando. Lissa olhava diretamente para frente, escutando mas sem reconhecer ou participar das minhas tentativas de travar um conversa. Eu podia sentir ansiedade e tristeza transbordando dela. “Tudo bem,” eu disse a ela quando as aulas finalmente acabaram. Nós estávamos do lado de fora do colégio, e eu estava totalmente ciente de que fazendo isso, eu já estava quebrando um dos termos de meu acordo com Kirova. “Nós não vamos ficar aqui,” disse a ela, olhando pelo campus de forma desconfortável. “Eu vou achar um jeito de nos tirar daqui.” “Você acha que nós poderíamos fazer isso pela segunda vez?” Lissa perguntou baixinho. “Absolutamente.” Eu falei com certeza, novamente aliviada de que ela não podia ler meus sentimentos. Escapar da primeira vez já havia sido bastante difícil. Fazer isso de novo poderia ser um verdadeiro inferno, não que eu não achasse uma saída. “Você realmente faria, não é?” Ela sorriu, mais para si mesma do que para mim, como se ela houvesse pensado em uma coisa engraçada. “Lógico que você faria. É só que, bem...” Ela suspirou. “Eu não acho que nós deveríamos ir. Talvez – talvez devêssemos ficar.” Eu pisquei em surpresa. “O quê?” Não foi uma de minhas respostas mais eloqüentes, mas a melhor que pude fazer. Eu nunca esperaria isso dela. “Eu te vi, Rose. Eu vi você conversando com os outros aprendizes nas aulas, conversando sobre o treino. Você sentiu falta disso.” “Isso não vale a pena,” eu discuti. “Não se... não se você...” Eu não podia terminar, mas ela estava certa. Ela tinha me lido. Eu tinha sentido falta dos outros aprendizes. Até de alguns Moroi. Mas havia mais do que só isso. O peso da minha inexperiência, o quanto estava para atrasada, havia crescido durante todo o dia. “Talvez seja melhor,” ela reagiu. “Eu não tenho tido tantos... você sabe, coisas acontecendo há algum tempo. Eu não tenho sentido como se alguém estivesse nos seguindo ou nos observando.” Eu não disse nada sobre isto. Antes de deixarmos a Academia, ela sempre sentia como se alguém a estivesse seguindo, como se ela estivesse sendo perseguida. Eu nunca encontrei evidências para apoiar isso, mas uma vez eu escutei uma de nossas professores falar e falar sobre o mesmo tipo de coisa. Sra. Karp. Ela havia sido uma bonita Moroi, com cabelos de um profundo castanho e com a ossatura da bochecha proeminentes. Eu tinha quase certeza de que ela era maluca. “Você nunca sabe quem está observando,” ela costumava dizer, andando ligeiramente pela sala de aula enquanto fechava todas as cortinas. “Ou quem está te seguindo. Melhor estar precavido. Melhor sempre estar precavido.” Nós falávamos abafando o riso para nós mesmos porque era isso que os estudantes fazem perto de professores excêntricos e paranóicos. O pensamento de Lissa agir como ela me incomodava. “Qual o problema?” Lissa perguntou, notando que eu estava perdida em meus pensamentos. “Huh? Nada. Só pensando.” Eu suspirei, tentando balancear meus próprios desejos com o que era melhor para ela. “Liss, nós podemos ficar, eu acho... mas com algumas condições.” Isso fez com que ela risse. “Um ultimato Rose, huh?” “Falo sério.” Palavras que não usava com freqüência. “Eu quero que você fique longe da realeza. Não como Natalie ou algo parecido mas você sabe, os outros. Os que jogam com o poder. Camille. Carly. Esse grupo.” Seu divertimento se transformou em surpresa. “Você fala sério?” “Claro. Você nunca gostou deles de qualquer forma.” “Você gostava.” “Não. Não de verdade. Eu gostava do que eles podiam oferecer. Todas as festas e outras coisas.” “E você pode ficar sem isso agora?” Ela pareceu cética. “Claro. Nós ficamos assim em Portland.” “Yeah, mas lá era diferente.” Seus olhos fitaram o nada, sem focalizar em algo especifico. “Aqui... aqui eu tenho de ser parte disso. Não posso evitar.” “O diabo que você pode. Natalie fica fora de tudo isso.” “Natalie não vai herdar o título da família,” ela replicou. “Eu já tenho isso. Eu tenho que estar envolvida, começar a fazer conexões. Andre –“ “Liss,” eu gemi. “Você não é Andre.” Eu não podia acreditar que ela ainda se comparava com o seu irmão. “Ele sempre esteve envolvido nessas coisas.” “Yeah, bem,” eu vociferei de volta, “ele está morto agora.” Seu rosto endureceu. “Sabe, algumas vezes você não é nem um pouco gentil.” “Você não me mantêm por perto para ser gentil. Você quer gentileza, há uma dúzia de carneirinhos aqui que dilacerariam a garganta um dos outros para ficar nos bons grados com a princesa Dragomir. Você me mantêm por perto para lhe contar a verdade, e aqui está ela: Andre está morto. Você é a herdeira agora, e você vai ter de lidar com isso do jeito que puder. Mas, por agora, isso significa ficar longe dos outros da realeza. Nós vamos ser discretas. Navegar com a correnteza. Se envolver nessas coisas novamente, Liss, e você vai ficar...” “Maluca?” ela completou quando eu não terminei. Agora eu olhava para longe. “Eu não quis dizer...” “Tudo bem” ela disse, depois de um tempo. Ela suspirou e tocou no meu braço. “Está bem. Nós ficamos e eu vou me manter longe de tudo isso. Nós vamos navegar com a correnteza conforme você quer. Andar com Natalie, eu acho.” Para ser completamente honesta, eu não queria nada disso. Eu queria ir para todas as festas reais e selvagens festividades alcoólicas como fazíamos antes. Nós ficamos de fora dessa vida por anos até que os pais e irmão de Lissa morreram. Andre deveria ter sido aquele a herdar o título da família, e ele certamente agia como tal. Lindo e extrovertido, ele encantava qualquer um que via e tinha sido o líder de todos os grupinhos e clubes reais que existiam no campus. Depois de sua morte, Lissa sentiu que era seu dever familiar tomar o seu lugar. Eu pude desfrutar desse mundo com ela. Era fácil para mim, porque não tinha que realmente lidar com a parte política. Eu era uma bonita dhampir, uma que não ligava se meter em encrenca e fazer façanhas loucas. Eu me tornei uma novidade; eles gostavam de me por perto pelo divertimento que eu representava. Lissa tinha de lidar com outros assuntos. Os Dragomirs eram uma das doze famílias governantes. Ela tinha uma posição muito poderosa na sociedade Moroi, e os outros jovens da realeza queriam ter o bom grado dela. Amigos falsos tentaram agradá-la e fazer com que ela ficasse contra outras pessoas. Os da realeza podiam subornar e te apunhalar pelas costas num mesmo fôlego – e isso era somente um com os outros. Para os dhampirs e plebeus, eles eram completamente imprevisíveis. Essa atitude cruel eventualmente teve resultado em Lissa. Ela tinha uma natureza boa e gentil, uma que eu amava, e eu odiava vê-la chateada e estressada devido aos joguinhos da realeza. Ela tinha ficado frágil desde o acidente, e nem todas as festas do mundo valiam ao vê-la magoada. “Tudo bem então,” eu disse finalmente. “Vamos ver como as coisas vão. Se alguma coisa der errado – qualquer coisinha – nós partimos. Sem discussão.” Ela afirmou com a cabeça. “Rose?” Nós duas olhamos para a figura avultante de Dimitri. Eu esperava que ele não tivesse escutado a parte sobre nós partindo. “Você está atrasada para o treino,” ele disse tranquilamente. Vendo Lissa, ele deu um educado aceno. “Princesa.” Enquanto ele e eu íamos embora, me preocupei com Lissa e me perguntei se ficando aqui seria a coisa certa a fazer. Eu não senti nada alarmente através da ligação, mas suas emoções davam pontadas por todo o lugar. Confusão. Nostalgia. Medo. Esperança. De uma forma forte e muito poderosa, eles me inundaram. Eu senti o puxão um pouco antes de acontecer. Era exatamente como havia acontecido no avião: suas emoções haviam ficado tão fortes que eles me “sugaram” para a sua mente antes que eu pudesse pará-los. Agora eu podia ver e sentir o que ela fazia. Ela andava lentamente pela área comum, se dirigindo para a capela Ortodoxa Russa que serviam para a maioria das necessidades religiosas do colégio. Lissa sempre freqüentou à missa regularmente. Eu não. Eu tinha um acordo sólido com deus: eu concordava em acreditar nele – somente – se ele me deixasse dormir aos domingos. Mas enquanto ela entrava, eu podia sentir que ela não estava lá para rezar. Ela tinha outro propósito, um que eu desconhecia. Olhando em volta, ela verificou se nem o padre ou algum adorador estava por perto. O lugar estava vazio. Se esgueirando por uma porta nos fundos da capela, ela subiu por uma estreita escada que rangia até o sótão. Aqui estava escuro e empoeirado. A única luz que entrava vinha de uma grande janela suja que quebrava a fraca luz do amanhecer e transforma em pequenos pontos multicoloridos pelo chão. Eu não sabia até o momento que esse lugar era o refúgio de Lissa. Mas agora eu podia sentir, sentir as memórias de como ela costumava escapar para ficar sozinha aqui e pensar. A ansiedade nela acalmou-se ficando bem fraca enquanto ela entrava no ambiente familiar. Ela subiu até o assento perto à janela e inclinou a cabeça para trás apoiando nos lados, momentaneamente ingressando no silêncio e na luz. Moroi podiam suportar alguma luz, diferentemente do Strigoi, mas eles tinham que limitar sua exposição. Sentando aqui, ela quase podia fingir que estava embaixo da luz do sol, protegida pelo vidro que diluía os raios. Respire, só respire, ela disse a si mesma. Tudo vai ficar bem. Rose vai tomar conta de tudo. Ela acreditava nisso apaixonadamente, como sempre, e relaxou mais ainda. A voz baixa falou da escuridão. “Você pode ficar com a Academia, mas não com o assento da janela.” Ela deu um salto, o coração batendo. Eu compartilhei da sua ansiedade, e minha própria pulsação acelerou. “Quem está aí?” Um momento depois, uma forma emergiu por detrás da uma pilha de engradados, um pouco fora de seu campo de visão. A figura deu um passo para frente, e na luz fraca, as expressões familiares se materializaram. Cabelo preto bagunçado. Pálidos olhos azuis. Um eterno sorriso afetado sarcástico. Christian Ozera. “Não se preocupe,” ele disse. “Eu não vou morder. Bem, pelo menos não no modo que você tem medo.” Ele deu uma risada de sua própria piada. Ela não havia achado graça. Ela tinha esquecido completamente sobre Christian. Eu também. Não importa o que acontece em nosso mundo, algumas verdades básicas sobre os vampiros permaneciam as mesmas. Moroi eram vivos; Strigoi eram mortos-vivos. Moroi eram mortais; Strigoi eram imortais. Moroi nasciam; Strigoi eram feitos. E haviam duas maneiras de se fazer um Strigoi. Strigoi podiam eficazmente transformar humanos, dhampirs, ou Moroi com uma única mordida. Moroi tentados pela promessa de imortalidade poderiam se transformar em Strigoi por escolha própria se eles intencionalmente matassem sobre pessoa enquanto se alimentava. Fazer isso era considerado errado e doentio, o maior de todos os pecados, tanto para o modo de vida Moroi quanto para a natureza como um todo. Moroi que escolhiam esse caminho sombrio perdiam sua habilidade de se conectar com a magia elementar e com outras forças do universo. Isso era o porquê deles não poderem ficar mais sob o sol. Isso foi o que aconteceu com os pais de Christian. Eles eram Strigoi.

academia de vampiros - beijos da sombras ( capitulo 3 )

TRÊS NOS MANDAR DIRETO PARA AS NOSSAS AULAS depois de nossa reunião me pareceu ser mais do que cruel, mas foi exatamente o que Kirova fez. Lissa foi conduzida para longe, e eu a assisti ir, satisfeita com que a ligação me permitisse ler sua temperatura emocional. Na verdade, primeiro eles me mandaram para um orientador. Ele era um ancião Moroi, um do qual me lembrava de antes de partir. Eu honestamente não acreditava que ele ainda estava por aqui. O cara era tão absurdamente velho, ele devia ter se aposentado. Ou morrido. A visita toda demorou uns cinco minutos. Ele não falou nada sobre o meu retorno e fez algumas perguntas sobre as aulas que tive em Chicago e Portland. Ele as comparou com as do meu velho arquivo e apressadamente rabiscou um novo horário. Eu o peguei com tristeza e me dirigi para a minha primeira aula. 1º Horário Técnicas de Combate Avançado para Guardiões 2º Horário Teoria do Guarda-Costas e Proteção Pessoal 3 3º Horário Musculação e Condicionamento Físico 4º Horário Artes Lingüísticas do 3º ano (Aprendizes) – Almoço – 5º Horário Comportamento e fisiologia animais 6º Horário Pré-cálculo 7º Horário Cultura Moroi 4 8º Horário Artes Eslava* Argh. Eu havia esquecido como eram longos os dias escolares na Academia. Aprendizes e Moroi tinham aulas separados na primeira metade do dia, o que significava que não veria Lissa até depois do almoço – se nós tivéssemos alguma aula no período da tarde juntas. A maioria delas eram aulas padrões do 3º ano, então eu senti que minhas chances seriam boas. Artes Eslava me impressionou por ser uma daquelas opcionais que ninguém se inscreve, então tomara que a coloquem nessa aula também. * eslavo (dos povos eslavos, russo, búlgaro, tcheco, eslovênio) Dimitri e Alberta me escoltaram até o ginásio do guardião para o meu primeiro período, nenhum dos dois reconhecendo a minha existência. Andando atrás deles, vi como ela o seu cabelo curto, corte de fadinha* que mostrava a marca da promessa e as marcas molnija. Muitas das guardiãs faziam isso. Agora não me importava muito, tendo em vista que minha nuca ainda não tinha tatuagens, mas eu nunca iria cortar meu cabelo. Ela e Dimitri não disseram nada e andavam lado a lado quase como se fosse um dia qualquer. Quando nós chegamos, as reações de meus colegas indicaram que não era nada disso. Eles estavam no meio do aquecimento, e igualmente como na área comum, todos os olhos caíram em mim. Não conseguia me decidir se me sentia como uma estrela do rock ou como uma aberração do circo. Ok, então. Se eu fosse ficar por algum tempo aqui, eu não iria mais agir como se tivesse medo deles. Antigamente, Lissa e eu tínhamos o respeito dessa escola, e estava na hora de lembrar todo mundo disso. Fazendo a varredura dos olhares, nas bocas abertas dos aprendizes, procurei por algum rosto familiar. A maioria deles eram garotos. Um deles atraiu meu olhar, e eu quase não consegui segurar o riso. “Hey Mason, enxugue a baba da cara. Se você vai pensar em mim pelada, faça isso num lugar apropriado.” Alguns pigarros e risos abafados quebraram o silêncio temeroso, e Mason Ashford despertou de seu atordoamento, me dando um sorriso torto. Com aquele cabelo vermelho arrogante para todo o lado e com sardas, ele era bonito, embora não exatamente gostoso. Ele também era um dos caras mais engraçados que eu conhecia. Nós éramos bons amigos antigamente. “Essa é a minha vez, Hathaway. Eu estou conduzindo a aula de hoje.” “Oh, é?” eu repliquei. “Huh. Bem, eu acho que essa é uma boa hora para você pensar em mim pelada, então.” “Sempre é uma boa hora pensar em você pelada,” acrescentou alguém por perto, quebrando ainda mais o clima pesado. Eddie Castile. Um outro bom amigo meu. Dimitri balançou a cabeça e foi embora, murmurando alguma coisa em russo que não soava como algo gentil. Mas quanto a mim... bem, rapidinho, eu já era um dos aprendizes novamente. Eles eram um grupo descontraído, menos focados em linhagem e políticas do que a maioria dos Moroi. A turma veio para cima de mim, e eu me encontrei rindo e vendo aqueles dos quais eu quase achei que havia me esquecido. Todo mundo queria saber onde nós estivemos; aparentemente, Lissa e eu tínhamos virado lendas. Eu não poderia contá-los o por quê de termos ido embora, lógico, então os brindei com vários sarcasmos e alguns você-não-vai-acreditar que serviram direitinho. A reunião feliz durou mais algum tempo antes que um guardião adulto que vigiava o treinamento viesse e ralhasse com Mason por negligenciar suas funções. Ainda sorrindo, ele gritou ordens para todo mundo, explicando quais exercícios deveriam começar. De modo constrangedor percebi que não conhecia a maioria deles. “Venha, Hathaway,” ele disse, pegando o meu braço. “Você pode ser minha parceira. Vamos ver o que você tem feito todo esse tempo.” Uma hora depois, ele tinha a sua resposta. “Não vem praticando, huh?” “Ow,” eu gemi, momentaneamente incapaz de falar normalmente. Ele estendeu a mão e me ajudou a levantar da tatame no qual ele havia me derrubado – por cerca de umas quinze vezes. “Eu te odeio,” eu falei para ele, esfregando uma parte da minha perna que iria ficar com um roxo monstruoso amanhã. “Você me odiaria mais se eu me contivesse.” “Yeah, isso é verdade,” eu concordei, vacilante, enquanto a turma guardava os equipamentos. “Na verdade você foi bem.” “O que? Eu só levei porrada.” “Bem, lógico que levou. Se passaram dois anos. Mas hey, você ainda está andando. Já é alguma coisa.” Ele sorriu de forma zombeteira. “Eu mencionei que te odeio?” Ele me deu outro sorriso, que logo se desfez para algo mais sério. “Não me leve a mal... quero dizer, você realmente é uma lutadora, mas não tem chance de você fazer os seus exames na primavera – “ “Eles estão fazendo com que eu tenha aulas extras de treinamento,” eu expliquei. Não que isso importasse. Eu estava planejando tirar Lissa e eu daqui antes que esses treinos se tornassem num problema. “Vou estar pronta.” “Aulas extras com quem?” “Com o cara alto. Dimitri.” Mason parou de andar e olhou para mim. “Você foi posta para ter aulas extras com Belikov?” “Sim, e daí?” “Daí porque o cara é um deus.” “Exagerando muito?” “Não, eu falo sério. Quer dizer, ele é todo quieto e anti-social normalmente, mas quando ele luta... wow. Se você acha que está machucada agora, você vai estar morta quando ele acabar com você.” Ótimo. Mais uma coisa para melhorar o meu dia. Eu acotovelei ele e fui para a minha segunda aula. A aula cobria o essencial sobre ser um guarda-costas e era exigido para todos do 3º ano. Na verdade, era o terceiro de uma série que havia começado no 1º ano. Isso quer dizer que eu também estava atrasada nessa matéria, mas eu esperava que proteger Lissa no mundo real houvesse me dado alguma vantagem. Nosso instrutor era Stan Alto, a quem nós nos referíamos simplesmente como “Stan” por trás dele e “Guardião Alto” em ocasiões especiais. Ele era um pouco mais velho que Dimitri, mas não tão alto quanto, e ele sempre parecia estar irritado. Hoje, essa aparência se intensificou quando ele entrou na sala de aula e me viu lá sentada. Seus olhos se arregalaram numa surpresa fingida enquanto ele circulava pela sala e veio ficar do lado de minha mesa. “O que é isso? Ninguém me disse que teríamos uma palestrante convidada hoje. Rose Hathaway. Que privilégio! Que generosidade a sua de achar uma folga na sua agenda tão apertada e vir dividir seu conhecimento conosco.” Eu senti minhas bochechas esquentarem, mas numa grande demonstração de auto-controle, eu consegui me impedir de mandá-lo se danar. Eu tenho certeza que meu rosto conseguiu transmitir a mensagem, de qualquer forma, porque seu desdém aumentou. Ele fez um gesto para que eu ficasse de pé. “Bem, venha, venha. Não sente aí! Venha para a frente para que possa me ajudar a ensinar à turma.” Eu me afundei na minha cadeira. “Você não quer realmente dizer –“ O sorriso zombeteiro morreu. “Eu quis dizer exatamente o que eu disse, Hathaway. Vá para a frente da classe.” Um silêncio pesado envolveu a sala. Stan era um instrutor assustador, e a maioria da classe ainda estava muito temerosa para poder rir da minha desgraça. Me recusando a fraquejar, eu caminhei até a frente da sala e virei-me de frente para a classe. Eu lhes dei um olhar destemido e joguei meus cabelos para trás dos ombros, ganhando alguns sorrisos simpáticos de meus colegas. Então eu notei que tinha uma platéia maior do que esperava. Alguns Guardiões – inclusive Dimitri – ficaram no fundo da sala. Fora da Academia, os Guardiões se focavam na proteção um-a-um. Aqui, eles tinham bem mais pessoas para proteger e eles tinham que treinar os aprendizes. Então, em vez de seguir cada pessoa por aí, eles trabalhavam em turnos protegendo a escola como um todo e monitorando as aulas. “Então, Hathaway,” disse Stan alegremente, passeando de volta para mim. “Nos ilumine sobre as suas técnicas protetoras.” “Minhas... técnicas?” “Claro. Porque, presumivelmente, você deve ter tido algum tipo de plano que o resto de nós não podíamos entender para que você levasse uma Moroi da realeza menor de idade para fora da Academia e a expusesse a constantes ameaças Strigoi.” Era o discurso da Kirova todo novamente, exceto que com mais testemunhas. “Nós nunca encontramos com um Strigoi,” eu respondi rigidamente. “Obviamente,” ele disse com um risinho. “Eu já percebi isso, vendo como você continuava viva.” Eu queria gritar que talvez eu tenha derrotado um Strigoi, mas depois de ter levado uma surra na aula anterior, eu, agora, suspeitava que não conseguiria sobreviver a um ataque de Mason, quem dirá um Strigoi de verdade. Quando eu não disse nada, Stan começou a andar na frente da classe. “Então o que você fez? Como você se certificava para que ela continuasse segura? Vocês evitavam sair à noite?” “Algumas vezes.” Isso era verdade – especialmente da primeira vez que nós fugimos. Nós relaxamos um pouquinho depois que se passaram meses sem nenhum ataque. “Algumas vezes,” ele repetiu com uma voz aguda, fazendo com que minha resposta parecesse incrivelmente ridícula. “Bem, eu suponho que você tenha dormido durante o dia e ficado de guarda à noite.” “Err... não.” “Não? Mas isso é uma das primeiras coisas mencionadas no capítulo sobre guarda solo. Oh, espere, você não saberia disso porque você não estava aqui.” Eu engoli mais alguns xingamentos. “Eu vigiava a área sempre que nós saiamos,” eu disse, precisando me defender. “Oh? Isso já é algo. Você usou o Método de Fiscalização do Quadrante Carnegie ou a Análise Rotativa?” Eu não disse nada. “Ah. Eu acho que você usou o Método-Olhar-Em-Volta-Quando-Se-Lembrava-Hathaway.” “Não!” eu exclamei irritadamente. “Isso não é verdade. Eu a vigiei. Ela ainda está viva, não está?” Ele andou de volta até mim e se inclinou até o meu rosto. “Porque você teve sorte.” “Strigoi não estão à espreita à cada esquina lá fora,” eu devolvi. “Não é como o que nós temos aprendido. É mais seguro do que vocês fazem parecer.” “Seguro? Seguro? Nós estamos em guerra com os Strigoi!” ele gritou. Eu podia sentir o cheiro de café em seu hálito de tão perto que ele estava. “Um deles poderia ter ido até você e quebrado o seu lindo pescocinho antes mesmo que você o notasse – e eles nem chegam a suar fazendo isso. Você pode ter mais velocidade e força do que um Moroi ou um humano, mas você não é nada, nada, comparada a um Strigoi. Eles são mortais e são perigosos. E você sabe o que os deixam mais poderosos?” De jeito nenhum que eu ia deixar esse imbecil me fazer chorar. Olhando para longe dele, tentei me focar em alguma outra coisa. Meus olhos repousaram em Dimitri e nos outros Guardiões. Ele assistiam à minha humilhação, os rostos impassíveis. “Sangue Moroi,” eu sussurrei. “O que foi isso?” Stan pediu mais alto. “Eu não ouvi.” Virei-me de volta para encará-lo. “Sangue Moroi! Sangue Moroi os deixam mais fortes.” Ele balançou a cabeça com satisfação e deu alguns passos para trás. “Sim. É isso. Deixam os mais fortes e mais difíceis para se destruir. Eles matem e bebem de humanos ou dhampirs, mas eles querem sangue Moroi mais que todo o resto. Eles procuram por isso. Eles se viraram para o lado negro para ganhar imortalidade, e eles fazem qualquer coisa para manter essa imortalidade. Strigoi desesperados já atacaram Moroi em público. Grupos de Strigoi já invadiram Academias iguais a esta. Existem Strigoi que viveram por vários séculos e se alimentaram de gerações de Moroi. Eles são quase impossíveis de se matar. E isso é o porque do número de Moroi estar caindo. Eles não são fortes o suficiente – mesmo com guardiões – para se protegerem. Alguns Moroi nem vêem mais sentido em fugir e simplesmente se entregam aos Strigoi por vontade própria. E quanto mais desaparecem os Moroi...” “... mais desaparecem os dhampirs,” eu terminei. “Bem,” ele disse, lambendo o cuspe salpicado de seus lábios. “Parece que você aprendeu alguma coisa apesar de tudo. Agora nós temos que ver se você consegue aprender o suficiente para passar nessa matéria e se qualificar para o campo prático semestre que vem.” Ouch. Eu passei o resto daquela aula horrível – felizmente, no meu lugar – repassando aquelas últimas palavras na minha mente. O campo prático do 3º ano era a melhor parte na formação de um aprendiz. Nós não tínhamos aula por meio semestre. Em vez disso, cada um era designado com um estudante Moroi a quem deveria proteger e seguir por aí. Os Guardiões adultos iriam nos monitorar e nos testar com ataques encenados e outras ameaças. Como um aprendiz passava no campo prático era quase tão importante quanto todo o resto de suas aulas combinadas. Isso iria influenciar sobre qual Moroi lhe seria designado depois da formatura. E quanto a mim? Só havia um Moroi que eu queria. Duas aulas mais tarde, eu finalmente ganhei minha folga na hora do almoço. Enquanto eu tropeçava pelo campus para a área comum, Dimitri começou a caminhar ao meu lado, não parecendo particularmente divino – a não ser que você contasse com a sua beleza sobrehumana. “Suponho que tenha visto o que aconteceu na aula de Stan?” eu perguntei, não me importando com títulos. “Sim.” “E você não acha q foi injusto?” “Ele estava certo? Você achar que estava inteiramente preparada para proteger Valisia?” Eu olhei para o chão. “Eu a mantive viva,” murmurei. “Como você foi lutando contra os seus colegas hoje?” A pergunta era maldosa. Eu não respondi e sabia que não precisava. Eu tive outra aula com treinamento depois da de Stan, e sem dúvida Dimitri me viu apanhar lá também. “Se você não consegue lutar com eles –“ “Yeah, yeah, eu sei,” eu o cortei. Ele retardou seus longos passos para acompanhar o meu cheio de dor. “Você é forte e rápida por natureza. Você só precisa se manter treinada. Você não praticou nenhum tipo de esporte enquanto esteve fora?” “Claro,” dei de ombros. “Aqui e ali.” “Você não se juntou a nenhuma equipe?” “Muito trabalho. Se eu quisesse praticar tanto, eu teria ficado aqui.” Ele me deu um olhar irritado. “Você nunca vai ser realmente capaz de proteger a princesa se você não aperfeiçoar suas habilidades. Você sempre vai ficar para trás.” “Eu serei capaz de protegê-la,” disse ferozmente. “Você não tem nenhuma garantia de que será designada para ela, você sabe – no seu campo prático ou depois da sua formatura.” A voz de Dimitri era baixa e sem remorso. Eles não haviam me dado um mentor bonzinho e amigável. “Ninguém quer quebrar com a ligação – mas também ninguém vai dar a ela um guardião inadequado. Se você quiser ficar com ela, então você vai ter se esforçar para isso. Você tem as suas aulas. Você tem a mim. Nos use ou não. Você é a escolha ideal para proteger Valisia quando as duas se formarem – se você conseguir provar que é digna. Espero que consiga.” “Lissa, a chame de Lissa,” eu corrigi. Ela detestava o seu nome completo, preferindo muito mais o seu apelido americanizado. Ele foi embora, e de repente, eu não me senti mais com tanto mau-humor. Até agora, já havia perdido muito tempo saindo das aulas. Quase todo o resto já havia corrido até a área comum para o almoço, ansiosos para maximizar o seu horário social. Eu mesma quase consegui voltar para lá quando uma voz por detrás de uma porta entreaberta me chamou. “Rose?” Espreitando na direção da voz, tive um deslumbre de Victor Dashkov, seu rosto afável sorrindo para mim enquanto ele se apoiava numa bengala perto da parede dos prédios. Seus dois guardiões estavam próximos a uma distância educada. “Sr. Dash– er, Sua Alteza. Oi.” Eu me peguei a tempo, praticamente havia esquecido dos termos Moroi da realeza. Eu não os usei enquanto vivi com os humanos. Os Moroi escolhem seu lidere rei dentre doze famílias reais. O mais velho da família ganhava o título de “príncipe” ou “princesa”. Lissa ganhou o dela porque ela era a única viva de sua linhagem. “Como foi seu primeiro dia?” ele perguntou. “Ainda não acabou,” tentei pensar em alguma coisa para conversar. “Você está visitando aqui por um pouco?” “Estarei indo embora nesta tarde depois que de dizer um oi para Natalie. Quando escutei que Valisia – e você – haviam retornado, eu simplesmente tinha que vir vê-las.” Eu acenei com a cabeça, sem saber mais o que dizer. Ele era mais amigo de Lissa do que meu. “Eu queria te dizer...” Ele falou hesitantemente. “Eu compreendo a gravidade do que você fez, mas eu acho que a Diretora Kirova falhou em não reconhecer uma coisa. Você manteve Valisia salva por todo esse tempo. Isso é impressionante.” “Bem, não é como se eu tivesse enfrentado Strigoi ou coisa parecida,” eu disse. “Mas você enfrentou alguma coisa?” “Claro. Uma vez o colégio mandou psi-hounds.” “Notável.” “Na verdade não. Evitá-los foi bastante fácil.” Ele riu. “Eu já cacei com eles antes. Eles não são assim tão fáceis de se iludir, não com a sua força e inteligência.” Isso era verdade. Psi-hounds eram uma das muitas espécies de criaturas mágicas que vagavam pelo mundo, criaturas das quais os humanos nunca souberam que existia ou então não acreditavam no de que realmente viram. Os hounds viajavam em bandos e compartilhavam um tipo de comunicação psíquica que os tornavam particularmente mortais para as suas presas – como também o fato deles se assemelharem a lobos mutantes. “Você enfrentou alguma outra coisa?” Dei de ombros. “Pequenas coisas aqui e ali.” “Notável,” ele repetiu. “Sorte, eu acho. Parece que eu estou realmente atrasada em toda essa coisa de guardião.” Eu soei igual a Stan agora. “Você é uma garota inteligente. Você vai se recuperar. E você também tem a sua ligação.” Eu desviei o olhar. Minha habilidade de “sentir” Lissa havia sido um segredo por tanto tempo, era estranho ter outras pessoas sabendo disso. “A história está cheia de relatos de guardiões que podiam sentir quando seus encargos estivessem em perigo.” Victor continuou. “Eu desenvolvi o hobby de estudar isso e alguns dos costumes antigos. Ouvi que isso é um enorme trunfo.” “Acho que sim.” Dei de ombros. Que hobby chato, eu pensei, imaginando ele lendo atentamente histórias pré-históricas em alguma biblioteca úmida coberta com teias de aranha. Victor inclinou sua cabeça, a curiosidade por todo o seu rosto. Kirova e os outros tiveram essa mesma expressão quando nós mencionamos nossa ligação, como se fossemos ratos de laboratório. “Como é que é – se você não se importar com a minha pergunta?” “É... eu não sei. Eu meio que sempre tive esse sussurro de com ela está se sentindo. Normalmente são só emoções. Nós não podemos mandar mensagens ou coisa parecida.” Eu não o contei sobre escorregar para a sua mente. Essa parte era ainda mais difícil até para eu entender. “Mas isso não funciona no caminho reverso? Ela não consegue te sentir?” Eu balancei a cabeça. Seu rosto se iluminou maravilhado. “Como isso aconteceu?” “Eu não sei,” eu disse, ainda desviando o olhar. “Simplesmente começou dois anos atrás.” Suas sobrancelhas se franziram. “Perto da época do acidente?” Hesitantemente, eu acenei com a cabeça. O acidente era algo sobre o que eu não queria falar, isso eu tinha certeza. As memórias de Lissa já eram ruins o suficiente sem ter as minhas próprias se misturando a elas. Metal retorcido. Uma sensação quente, depois fria, então quente novamente. Lissa gritando sobre mim, gritando para que eu acordasse, gritando para que seus pais e seu irmão acordarem. Nenhum deles acordou, só eu. E os médicos disseram que isso já era um milagre por si só. Aparentemente, vendo o meu desconforto, Victor deixou o momento passar e voltou para a sua excitação inicial. “Eu ainda mal posso acreditar nisso. Faz tanto tempo desde que isso aconteceu. Se isso acontecesse mais vezes... pense só no que isso poderia fazer para a segurança dos Moroi. Se, pelo menos, outros pudessem experimentar isso também. Eu preciso fazer mais pesquisar e ver se nós podemos replicar isso com outros.” “Yeah.” Eu estava ficando impaciente, não importando o quanto eu gostava dele. Natalie falava muito, e estava bem claro de qual pai ela havia herdado essa qualidade. O horário do almoço estava acabando, e apesar de Moroi e aprendizes compartilharem as aulas da tarde, Lissa e eu não teríamos muito tempo para conversar. “Talvez nós pudéssemos–“ Ele começou a tossir, um grande ataque dominador que fez todo o seu corpo tremer. Sua doença, Síndrome de Sandovsky, atacavam seus pulmões enquanto arrastava o corpo para a morte. Eu lancei um olhar ansioso para os seus guardiões, e um deles deu um passo a frente. “Sua Alteza,” ele disse educadamente, “você precisa entrar. Está muito frio aqui fora.” Victor acenou. “Sim, sim. E eu tenho certeza que a Rose aqui quer comer.” Ele se virou para mim. “Obrigado por conversar comigo. Eu não consigo salientar o quanto significa para mim que Valisia esteja a salvo – e que você ajudou com isso. Eu prometi ao seu pai de que cuidaria dela se algo acontecesse com ele, e me senti completamente fracassado quando vocês foram embora.” Eu senti como se meu estômago estivesse afundando quando eu o imaginei se corroendo com culpa e preocupação pelo nosso desaparecimento. Até agora, eu realmente nunca havia pensado como os outros devem ter se sentido quando nós fomos embora. Nós nos despedimos, e eu finalmente cheguei na escola. Quando cheguei, senti a ansiedade de Lissa aumentar. Ignorando a dor em minhas pernas, eu apressei o meu passo até a área comum. E eu quase me esbarrei nela. Mas ela não havia me visto. Nem as pessoas que estavam ao redor dela: Aaron e aquela bonequinha. Eu parei e escutei, só pegando o final da conversa. A garota se inclinou para Lissa, que parecia mais chocada do que qualquer outra coisa. “Para mim parece como algo que veio de uma venda de coisas usadas*. Eu pensava que uma preciosa Dragomir teria um certo nível.” O escárnio transbordando na palavra Dragomir. Agarrando a Garota Boneca pelo ombro, eu a empurrei para longe. Ela era tão leve, que ela tropeçou por quase um metro e quase caiu. “Ela tem nível,” eu disse, “e esse é o motivo pelo qual você já terminou de falar com ela.” * Não sei se todo mundo está familiarizado com o termo “garage sale”, mas é quando as pessoas pegam as coisas que não querem mais e fazem uma liquidação, geralmente em frente

academia de vampiro - beijo das sombras ( capitulo 2 )

DOIS NÃO OBSTANTE MEU ÓDIO, EU TINHA que admitir que Dimitri Beli-sei-lá-o-quê era bastante inteligente. Depois deles terem nos despachado para o aeroporto e para o jato particular da Academia, ele deu uma olhada em nós duas cochichando e mandou nos separar. “Não deixem que elas falem uma com a outra,” ele advertiu ao guardião que me escoltava até o fundo do avião. “Cinco minutos juntas, e elas vão armar um plano de fuga.” Eu lhe lancei um olhar arrogante e saí esbravejando pelo corredor. Não importava o fato de que nós estávamos planejando uma fuga. Como era de praxe, as coisas não estavam boas para nossos heróis – ou heroínas, no caso. Uma vez que estávamos no ar, nossas chances para escapar caíram ainda mais. Mesmo supondo que um milagre acontecesse e eu conseguisse nocautear todos os dez guardiões, nós ainda teríamos o problema de como sair do avião. Eu imaginei que eles tivessem pára-quedas a bordo, mas na improvável hipótese de usar um, ainda havia a pequena questão da sobrevivência, vendo que nós provavelmente aterrissaríamos nas Montanhas Rocky. Não, nós não sairíamos do avião até que ele estivesse pousado nos arredores de Montana. Então, eu teria que pensar em alguma coisa, alguma coisa que envolvia passar pelas vigilâncias mágicas da Academia e dez vezes mais o número de guardiões. Yeah. Sem problema. Embora Lissa se sentasse na parte da frente com o cara Russo, seu medo uivava de volta para mim, martelando dentro de minha cabeça como um martelo. Minha preocupação por ela interferiu na minha fúria. Eles não podiam levá-la de volta para lá, não aquele lugar. Me perguntei se Dimitri hesitaria se ele sentisse o que eu senti e se ele soubesse o que eu sabia. Provavelmente não. Ele não se importava. Suas emoções tornaram-se tão fortes em certo momento, que eu tive a desnorteante sensação de estar sentada em seu lugar – em sua pele. Isso acontecia algumas vezes, e sem nenhum aviso, ela me puxava diretamente para a sua mente. A alta compleição de Dimitri sentava ao seu lado, e minha mão – a mão dela – agarrou uma garrafa d’água. Ele se inclinou para frente para pegar alguma coisa, revelando seis pequenos símbolos tatuados em sua nuca: marcas molnija* . Pareciam-se com dois raios de linhas irregulares se cruzando num símbolo em “X”. Um para cada Strigoi que ele havia matado. Acima deles havia uma linha serpenteante, mais ou menos como uma cobra, que o marcava como um guardião. A marca da promessa. Piscando, lutei contra ela e me desloquei de volta para a minha própria mente com uma careta. Eu detestava quando isso acontecia. Sentir as emoções de Lissa era uma coisa, mas deslizar para dentro dela era algo que nós duas desprezávamos. Ela via isso como uma invasão de privacidade, então eu normalmente não a contava quando isso acontecia. Nenhuma de nós podia controlar isso. Era outro efeito da ligação, uma ligação que nenhuma das duas entendia inteiramente. Existiam lendas sobre as ligações psíquicas entre os guardiões e seu Moroi, mas nenhuma das histórias mencionava algo como isso. Nós lidávamos com isso do melhor jeito possível. Perto do fim do vôo, Dimitri veio até onde eu estava sentada e trocou de lugar com o guardião ao meu lado. Eu, explicitamente, me afastei, olhando para a janela distraidamente. Passamos muito tempo em silêncio. Finalmente, ele disse, “Você realmente ia atacar todos nós?” Eu não respondi. “Fazendo isso... protegendo ela desse jeito – foi muito corajoso.” Ele pausou. “Estúpido, mas muito corajoso. Por que você ao menos tentou?” Olhei ele de relance, tirando o meu cabelo do rosto para que eu pudesse olhar em seus olhos de igual para igual. “Porque eu sou a sua guardiã.” Me virei de volta para a janela. Depois de mais um momento em silêncio, ele se levantou e retornou para a parte da frente do jato. Quando pousamos, Lissa e eu não tivemos outra opção a não ser deixar os comandos* nos levarem até a Academia. Nosso carro parou no portão e o nosso motorista com os guardas que verificaram se nós não éramos Strigoi prestes a começar uma matança por diversão. Depois de um minuto, eles nos deixaram passar vigilância e entrar na Academia propriamente dita. Era por volta do horário do pôr do sol – o começo do dia vampírico – e o campus estava envolvido por sombras. Provavelmente se parecia como sempre, disperso e gótico. Os Moroi eram fiéis às tradições; nada nunca mudava com eles. Essa escola não era tão velha quanto a de lá da Europa, mas foi construída no mesmo estilo. Os prédios ostentamente elaborados, parecido com a arquitetura de igreja, com picos elevados e esculturas de pedra. Portões forjados de ferro bloqueiam pequenos jardins e entradas aqui e ali. Depois de morar num campus universitário, eu tive uma nova apreciação pelo fato desse lugar se parecer mais com uma universidade do que um simples colégio. Nós estávamos no campus secundário, que era dividida em colégio inferior e superior. Cada um foi construído ao redor de um pátio aberto decorado com alguns caminhos de pedra e enormes árvores centenárias. Nós estávamos indo para o pátio do superior, no qual havia prédios acadêmicos de um lado, enquanto os dormitórios dos dhampirs e o ginásio ficavam do lado oposto. Os dormitórios dos Moroi ficavam numa das outras extremidades, e defronte deles haviam os prédios administrativos que também serviam à escola inferior. Estudantes mais novos viviam no campus primário, mais distante ao oeste. Ao redor de todos os campus havia espaço, espaço, e mais espaço. Nós estávamos em Montana, afinal de contas, a quilômetros de distância de uma cidade de verdade. O ar parecia fresco para meus pulmões e cheirava a pinheiro e a umidade, folhas caindo. Florestas, por demais crescidas, rodeavam todo o perímetro da Academia, e durante o dia, você podia ver as montanhas elevando-se no horizonte. Enquanto nós entrávamos na parte principal do colégio superior, eu me livrei do meu guardião e corri até Dimitri. “Hey, camarada.” Ele continuou a andar e não me olhou. “Você quer conversar agora?” “Você está nos levando para a Kirova?” “Diretora Kirova,” ele corrigiu. Do seu outro lado, Lissa me mandou um olhar que dizia, Não arranje encrenca. “Diretora. O que seja. Ela ainda é uma velha hipócrita de uma figa – “ Minhas palavras morreram quando os guardiões nos guiaram através de umas portas duplas – direto para a área comum. Eu suspirei. Essas pessoas eram realmente tão cruéis? Deviam existir, no mínimo, uma dúzia de caminhos para o escritório de Kirova, e eles estavam nos levando diretamente para o centro da área comum. E era o horário do café da manhã. Guardiões novatos – dhampirs como eu – e Moroi sentavam juntos, comendo e socializando, rostos ligados em qualquer fofoca nova que prendessem a atenção da Academia. Quando entramos, o cochicho alto das conversas cessaram instantaneamente, como se alguém tivesse desligado o interruptor. Centenas de pares de olhos giraram em nossa direção. Eu devolvi os olhares de meus antigos colegas de classe com um sorriso amargo malandro, tentando perceber se as coisas haviam mudado. Não. Não parecia. Camille Conta ainda aparentava ser a cadela hipócrita perfeitinha que eu lembrava, ainda a autodenominada líder da associação real Moroi da Academia. Por outro lado, a prima desajeitada de Lissa, Natalie prestava a atenção com os olhos arregalados, tão inocentes e ingênuos quanto antes. E do outro lado do aposento... bem, isso era interessante. Aaron. Coitadinho, coitadinho do Aaron, que sem dúvida teve seu coração partido quando Lissa foi embora. Ele ainda era tão bonito como nunca – talvez mais agora – sempre com aquela aparência dourada que complementava tão com a dela. Seus olhos seguiram cada movimento dela. Sim. Definitivamente ainda não a havia superado. Era triste, de verdade, porque Lissa nunca foi realmente afim dele. Eu acho que ela saiu com ele simplesmente porque pareceu ser a coisa certa a fazer. Mas o que eu achei mais interessante foi que Aaron aparentemente arranjou um modo de passar o tempo sem ela. Do lado dele, segurando sua mão, estava uma garota Moroi que parecia ter uns onze anos, mas devia ser mais velha, a não ser que ele tenha se tornado um pedófilo na nossa ausência. Com pequenas bochechas gordinhas e cachinhos dourados, ela parecia uma boneca de porcelana. Ela agarrou forte a mão dele e lançou a Lissa um olhar ódio tão ardente que isso me chocou. O que diabos era tudo isso? Ela não era ninguém que eu conhecesse. Só uma namorada ciumenta, eu supus. Eu também ficaria pirada se o meu cara olhasse para outra assim. Nossa passarela da vergonha havia terminado, apesar do nosso novo rumo – o escritório da Diretora Kirova – não dar uma melhorada na situação. A bruxa velha estava exatamente do mesmo jeito que eu lembrava, nariz pontudo e cabelo grisalho. Ela era alta e magra, como a maioria dos Moroi, e sempre me lembrava um abutre. Eu a conhecia bem porque passei muito tempo em seu escritório. A maioria de nossa escolta nos deixou assim que Lissa e eu nos sentamos, e eu me senti um pouco menos como uma prisioneira. Somente Alberta, a capitã dos guardiões da escola, e Dimitri ficaram. Eles tomaram suas posições ao longo da parede, aparentando estóicos e aterrorizantes, do modo como as descrições do cargo exigia. Kirova fixou seus olhos furiosos em nós e abriu sua boca para começar, ao que eu não tenho dúvida, o maior sermão de todos os tempos. Uma profunda voz delicada a interrompeu. “Valisia.” Alarmada, percebi que havia mais alguém na sala. Não havia notado. Negligente para um guardião, mesmo para um novato. Com um grande esforço, Victor Dashkov levantou-se de uma cadeira no canto. Príncipe Victor Dashkov. Lissa levantou-se num salto e correu para ele, jogando seus braços ao redor do frágil corpo dele. “Titio,” ela sussurrou. Ela soou como se estivesse à beira das lágrimas enquanto ela apertava seu abraço. Com um pequeno sorriso, ele gentilmente deu tapinhas nas costas dela. “Você não tem idéia de como estou feliz por vê-la a salvo, Valisia.” Ele olhou para mim. “E você também, Rose.” Eu acenei de volta, tentando esconder o quanto estava chocada. Ele estava doente quando fomos embora, mas isso – isso era horrível. Ele era o pai de Natalie, somente uns quarenta e pouco, mas ele aparentava o dobro da idade. Pálido. Encolhido. Com as mãos tremendo. Meu coração se partiu olhando para ele. Com todas as pessoas más no mundo, não era justo que essa pessoa pegasse uma doença que o mataria jovem e, em última analise, o impediria de se tornar rei. Apesar de não ser tecnicamente seu tio – os Moroi usam termos familiares de forma muito imprecisa, especialmente a realeza – Victor era um amigo íntimo da família de Lissa e havia feito de tudo para ajudá-la depois que seus pais morreram. Eu gostava dele; era a primeira pessoa que eu estava feliz em ver aqui. Kirova deixou que eles tivessem mais alguns minutos e então, rigidamente, puxou Lissa de volta para seu lugar. Hora do sermão. Foi um dos bons – um dos melhores de Kirova, o que já dizia algo. Ela era uma mestre nisso. Eu juro que deve ter sido a única razão para ela ter ido para a administração do colégio, porque eu ainda tinha que ver outra evidência dela realmente gostar de crianças. O discurso abrangeu os assuntos usuais: comportamento de responsabilidade negligente, egocentrismo...blá, blá. Eu rapidamente me encontrei divagando, ponderando as logísticas de escapar pela janela do escritório. Mas quando o discurso se voltou para mim – bem, foi aí que voltei à realidade. “Você, srta. Hathaway, quebrou a mais sagrada promessa entre os de nossa espécie: a promessa de um guardião de proteger um Moroi. É um grande ato de confiança. A confiança que você violou egoisticamente ao levar a princesa daqui. Os Strigoi amariam acabar com os Dragomir; você quase os permitiu fazer isso.” “Rose não me raptou.” Lissa falou antes que eu pudesse fazê-lo, sua voz e rosto serenos, apesar de seus desconfortáveis sentimentos. “Eu quis ir. Não a culpe.” A sra. Kirova fez “tsic tsic” para nós duas e marchou pelo escritório, as mãos entrelaçadas nas suas costas estreitas. “Srta. Dragomir, você pode ter sido aquela que orquestrou todo o plano pelo que eu saiba, mas ainda era a responsabilidade dela ter certeza de que você não levaria isso adiante. Se ela tivesse feito o seu trabalho, ela teria notificado alguém. Se ela tivesse cumprido com o seu dever, ela a manteria salva.” Eu perdi o controle. “Eu cumpri com meu dever!” eu gritei, pulando de minha cadeira. Dimitri e Alberta, ambos hesitaram, mas me deixaram em paz já que eu não estava tentando bater em ninguém. Ainda. “Eu a mantive salva! Eu a mantive salva quando nenhum de vocês – eu fiz um gesto amplo ao redor da sala – “pôde fazer isso. Eu a levei embora para protegê-la. Eu fiz o que eu tinha que fazer. Vocês certamente não iriam fazê-lo.” Pela nossa ligação, eu pude sentir Lissa mandando mensagens tranqüilizadoras, novamente insistindo para que a raiva não tomasse conta de mim. Era tarde demais. Kirova me encarou, seu rosto inexpressivo. “Srta. Hathaway, perdoe-me por não entender a lógica de como tirá-la de um ambiente altamente protegido e magicamente assegurado é protegê-la. A não ser que haja algo que você não esteja me contando.” Mordi meu lábio. “Estou vendo. Está bem. Pela minha avaliação, a única razão de você ter ido – além da novidade que isso envolvia, sem dúvida – foi para evitar as conseqüências daquela horrível e destrutiva façanha que você fez pouco antes de desaparecer.” “Não, isso não – “ “E isso só torna minha decisão ainda mais fácil. Como uma Moroi, a princesa deve continuar aqui na Academia pela sua própria segurança, mas nós não temos nenhuma obrigação para com você. Você será mandada embora o mais rápido possível.” Minha ousadia se esgotou. “Eu... o quê?” Lissa se levantou ao meu lado. “Você não pode fazer isso! Ela é minha guardiã.” “Ela não é nada disso, especialmente porque ela nem é uma guardiã. Ela ainda é uma novata.” “Mas meus pais – “ “Eu sei o que seus pais queriam, que Deus abençoes suas almas, mas as coisas mudaram. Srta. Hathaway é dispensável. Ela não merece ser uma guardiã, e ela irá embora.” Eu olhei para Kirova, incapaz de acreditar no que estava escutando. “Para onde você vai me mandar? Para minha mãe no Nepal? Ela pelo menos sabe que estive ausente? Ou talvez você vá me enviar para o meu pai?” Os olhos dela se estreitaram em reação àquela última palavra. Quando falei novamente, minha voz estava tão calma, que eu mal reconheci. “Ou talvez você esteja tentando me mandar para ser uma meretriz de sangue. Tente isso, e nós teremos ido embora antes do fim do dia.” “Srta. Hathaway,” ela sibilou, “você está agindo inadequadamente.” “Elas tem uma ligação.” A voz acentuada e baixa de Dimitri quebrou o clima pesado, e todos nós nos viramos para ele. Eu acho que Kirova havia esquecido que ele estava ali, mas eu não. Sua presença era muito poderosa para ser ignorada. Ele ainda estava contra a parede, parecendo com um daqueles cowboy de vigília naquele longo casaco ridículo dele. Ele olhou para mim, não para Lissa, seus olhos escuros encarando diretamente os meus. “Rose sabe o que Vasilia está sentindo. Não sabe?” Pelo menos eu tive a satisfação de ver Kirova ser pega de guarda baixa enquanto ela entre nós e Dimitri. “Não... isso é impossível. Isso não acontece há séculos.” “É óbvio,” ele disse. “Eu suspeitei assim que comecei a observá-las.” Nem Lissa nem eu respondemos, e eu desviei meus olhos dos dele. “Isso é uma benção,” murmurou Victor de seu canto. “Algo raro e maravilhoso.” “Os melhores guardiões tinham essa ligação,” Dimitri acrescentou. “Nas histórias.” A indignação de Kirova voltou. “Histórias que tem séculos,” ela exclamou. “Certamente você não está sugerindo que a deixemos ficar na Academia depois de tudo que ela fez?” Ele se encolheu. “Ela pode ser selvagem e desrespeitosa, mas se ela tem potencial – “ “Selvagem e desrespeitosa?” eu interrompi. “E quem diabos é você, afinal? Ajuda terceirizada?” “Guardião Belikov é o guardião da princesa agora,” Kirova disse. “O guardião autorizado dela.” “Você contratou mão-de-obra barata estrangeira para proteger Lissa?” Aquilo foi uma coisa muito maldosa de se dizer – particularmente porque a maioria dos Moroi e seus guardiões eram descendentes de Russos ou Romenos – mas o comentário pareceu ser mais inteligente do que realmente foi. E não era como se eu pudesse falar. Eu posso ter nascidos na América, mas meus pais eram nascidos no estrangeiro. Minha mãe dhampir era Escocesa – ruiva, com um sotaque ridículo – e me falaram que meu pai Moroi era Turco. Essa combinação genética havia me dado uma pele da mesma cor do interior de uma amêndoa, junto com, o que eu gostava de pensar que eram, as características de uma princesa semiexótica do deserto: grandes olhos escuros e cabelos de um castanho tão escuro que normalmente parecia ser preto. Eu não teria me importado de ter herdado o cabelo ruivo, mas a gente usa o que tem. Kirova jogou suas mãos para cima em irritação e se virou para ele. “Você viu? Totalmente indisciplinada! Com toda as ligações psíquicas e potenciais imaturos do mundo não vão compensar isso. Um guardião sem disciplina é pior do que nenhum guardião.” “Então a ensine disciplina. As aulas mal começaram. A coloque de volta e a faça treinar novamente.” “Impossível. Ela ainda ficará atrás de seus colegas.” “Não, eu não vou,” eu argumentei. Ninguém me escutava. “Então a dê sessões de treinamento extra,” ele disse. Eles continuaram enquanto o resto de nós assistia a troca como se fosse uma partida de Ping- Pong. Meu orgulho ainda estava ferido acerca da facilidade com que Dimitri havia nos enganado, mas me ocorreu que ele poderia muito bem me manter aqui com Lissa. Melhor ficar nesse fim de mundo do que sem ela. Pela nossa ligação, eu pude sentir seu pingo de esperança. “E quem vai gastar esse tempo extra?” Kirova exigiu. “Você?” O argumento de Dimitri deu uma parada abrupta. “Bem, isso não era o que eu –“ Kirova cruzou os braços com satisfação. “Sim. Foi isso que pensei.” Claramente perdendo, ele franziu as sobrancelhas. Seus olhos passaram rapidamente de Lissa para mim, e me perguntei o que ele viu. Duas garotas patéticas, com grandes olhos pedintes? Ou duas fugitivas que haviam passado pela forte segurança do colégio e levado metade da herança de Lissa? “Sim,” ele disse finalmente. “Eu posso orientar Rose. Vou dar a ela aulas extras junto com as normais.” “E então o quê?” Kirova replicou furiosamente. “Ela fica sem punição?” “Ache outra forma de castigá-la,” respondeu Dimitri. “O número de Guardiões tem caído muito para arriscarmos perder mais um. Uma garota, em particular.” Suas palavras não ditas me fizeram tremer, me lembrando da minha declaração de mais cedo sobre “meretrizes de sangue.” Poucas garotas dhampir tem se transformado em guardiões. De repente Victor falou de seu canto. “Estou inclinado a concordar com o Guardião Belikov. Mandar Rose embora seria vergonhoso, um desperdício de talento.” Sra. Kirova olhava fixamente para a janela. Estava completamente escuro do lado de fora. Com a programação noturna da Academia, manhã e tarde eram termos relativos. Isso, e eles mantinham as janelas pintadas para bloquear o excesso de luz. Quando ela se virou, Lissa encontrou seus olhos. “Por favor, sra. Kirova. Deixe Rose ficar.” Oh, Lissa, eu pensei. Seja cuidadosa. Usar coerção em outro Moroi era perigoso – particularmente na frente de testemunhas. Mas Lissa só estava usando um pouquinho, e nós precisávamos de toda a ajuda que pudéssemos arranjar. Felizmente, ninguém pareceu perceber o que estava acontecendo. Eu nem sabia se a coerção havia feito alguma diferença, mas, finalmente, Kirova acenou. “Se a srta. Hathaway ficar, é assim que vai ser.” Ela se virou para mim. “Sua matrícula regular no St. Vladimir é estritamente probatório. Saia da linha uma vez, e você está fora. Você vai freqüentar todas as aulas e treinamentos exigidos para os novatos de sua idade. Você também irá treinar com o Guardião Belikov em cada folga que tiver – antes e depois das aulas. Fora disso, você está banida de qualquer evento social, exceto as refeições, e ficará no seu dormitório. Não cumpra com alguma dessas coisas, e você será mandada... embora.” Dei uma risada áspera. “Banida de todas as atividades sociais? Você está tentando nos manter separadas?” eu acenei na direção de Lissa. “Com medo de que nós fujamos novamente?” “Estou tomando precauções. Tenho certeza de que se lembra, você nunca foi punida por destruir propriedade da escola. Você tem muito o que compensar.” Seus lábios finos se apertaram numa linha reta. “Está lhe sendo oferecido uma proposta muito generosa. Eu sugiro que você não deixe a sua atitude pôr isso em risco.” Eu comecei a dizer que não era nada generoso, mas então eu encontrei o olhar de Dimitri. Era difícil de ler. Ele poderia estar me dizendo que acreditava em mim. Ele poderia estar me dizendo que eu era uma idiota por continuar brigando com Kirova. Eu não sabia dizer. Olhando para longe dele pela segunda vez nessa reunião, eu encarei o chão, ciente de Lissa ao meu lado e seu próprio encorajamento queimando em nossa ligação. Finalmente, eu expirei e olhei de volta para a diretora. “Está bem. Eu aceito.”

livro academia de vampiros - beijo das sombras ( capitulo 1 )

Dicionário de Vampire Academy Antes de começarmos, é bom esclarecer alguns termos da mitologia romena que estão nesse livro. Dhampir Um Zamphir ou Dhampir no folclore balcânico e nas ficções é a criança de um vampiro com uma humana, com os poderes de vampiro mas nenhuma de suas fraquezas. (na ficção o inverso também ocorre). Acredita-se que um dhampir tem a habilidade única de ver vampiros, mesmo quando estão invisíveis, e são extraordinários conhecedores de como matá-los. Moroi São vampiros completos e são mortais. Bebem sangue, mas para o suficiente para matar. Sua mordida estimula sua vítima, dando lhes um sentimento prazeroso. São guardados por Dhampirs do Strigoi. Strigoi Vampiros imortais que originam dos Moroi que mataram para se alimentar. Podem somente ser matados por uma estaca de prata através do coração, decapitando, ou pelo fogo. Moroi, Dhampirs, e os seres humanos podem ser transformados em Strigoi por outro Strigoi. Vampire Academy por Richelle Mead UM SENTI SEU MEDO ANTES de escutar seus gritos. O pesadelo dela pulsou em mim, me tirando de meus próprios sonhos, no qual tinha alguma coisa a ver com uma praia e um cara gostoso espalhando óleo bronzeador em mim. Imagens – dela, não minhas – faziam baderna em minha mente: fogo e sangue, o cheiro de fumaça, o metal torcido de um carro. As figuras me envolveram, me sufocando, até que alguma parte racional de meu cérebro lembrou-me que esse não era meu sonho. Eu acordei, longas mechas de um cabelo escuro grudando na minha testa. Lissa deitada em sua cama, se debatia e gritava. Eu escapuli da minha, passando rapidamente pelos poucos metros que nos separava. “Liss,” eu disse, sacudindo-a. “Liss, acorde.” Seus gritos morreram, sendo substituídos por fracos choramingos. “Andre,” lamentou-se. “Oh, Deus.” Eu a ajudei a sentar-se. “Liss, você não está mais lá. Acorde.” Depois de algum tempo, seus olhos agitaram-se e abriram, e na iluminação turva, eu pude ver uma centelha de consciência começar a despertar. Sua respiração frenética diminuiu, e ela se inclinou sobre mim, descansando sua cabeça em meu ombro. Eu a envolvi com meu braço e passei minha mão em seus cabelos. “Está bem,” disse a ela gentilmente. “Está tudo bem.” “Eu tive aquele sonho.” “Yeah. Eu sei.” Ficamos sentadas assim por muitos minutos, sem dizer mais nada. Quando senti suas emoções se tranqüilizarem, me inclinei sobre o criado-mudo entre nossas camas e acendi o abajur. Ele incandesceu de forma tênue, mas nenhuma de nós precisava de muito para enxergar. Atraído pela luz, nosso companheiro de quarto felino, Oscar, pulou em cima do peitoril da janela aberta. Ele manteve a distância de mim – animais não gostam de dhampirs, por alguma razão – mas pulou na cama e esfregou sua cabeça contra Lissa, ronronando baixinho. Animais não tinham problemas com Moroi, e todos eles amavam Lissa em particular. Sorrindo, ela acariciou seu queixo, e eu senti sua calma ainda mais. “Quando foi a última vez que nós fizemos uma alimentação?” eu perguntei, estudando seu rosto. Sua bela pele estava mais pálida de que costume. Grandes olheiras embaixo de seus olhos, e havia um ar de fraqueza nela. A escola tinha sido agitada essa semana, e eu não me recordava da última vez que havia lhe dado sangue. “Foi a... mais de dois dias, não foi? Três? Por que você não disse algo?” Ela se encolheu e não olhou em meus olhos. “Você estava ocupada. Eu não queria –“ “Que se dane isso,” eu disse, me colocando numa posição melhor. Não era surpresa que ela aparentava tão fraca. Oscar, não me querendo por perto, pulou da cama e retornou para a janela, onde ele podia olhar de uma distância segura. “Venha. Vamos fazer isso.” “Rose – “ “Vamos. Vai fazer você se sentir melhor.” Eu inclinei minha cabeça e joguei meu cabelo para trás, descobrindo meu pescoço. Eu vi ela hesitar, mas a visão do meu pescoço e o que ele poderia oferecer se mostrou ser muito poderoso. Uma expressão de rosto perpassou por seu rosto, e seus lábios ligeiramente se entreabriram, expondo os caninos que ela normalmente mantêm escondidos ao viver entre os humanos. Aquelas presas contrastavam estranhamente com o resto de suas feições. Com seu rosto bonito e seu cabelo loiro pálido, ela aparentava mais um anjo do que um vampiro. Enquanto seus dentes se aproximavam de minha pele nua, eu senti meu coração correr numa mistura de medo e antecipação. Eu sempre detestava sentir o segundo, mas não havia nada que eu pudesse fazer, era uma fraqueza da qual não poderia me livrar. Seus caninos me morderam, fortemente, e eu gritei na breve explosão de dor. Então desapareceu, substituído por um maravilhoso e excelente prazer que se espalhou por meu corpo. Era melhor do que todas as vezes em que estive bêbada ou doidona. Melhor que sexo – ou eu imaginava que sim, já que eu nunca havia feito. Era um coberto do mais absoluto, puro prazer, que me envolvia e prometia que tudo ficaria bem no mundo. E assim foi, continuamente. As químicas em sua saliva provocaram uma alta de endorfina, e eu perdi a noção do mundo, perdi a noção de quem eu era. Então, infelizmente, tudo havia acabado. Durou menos de um minuto. Ela se afastou, limpando sua boca com a mão enquanto me examinava. “Você está bem?” “Eu...yeah.” Me deitei na cama, tonta pela perda de sangue. “Eu só preciso dormir. Estou bem.” Seus pálidos, olhos verde-jade me olhavam com interesse. Ela se levantou. “Vou pegar alguma coisa para você comer.” Meus protestos chegaram desastradamente até meus lábios, e ela havia saído antes que eu conseguisse reformular uma frase. A agitação de sua mordida tinha diminuído assim que ela cortou a conexão, mas ainda havia um pouco disso correndo em minhas veias, e eu senti um sorriso pateta surgir em meu rosto. Virando a minha cabeça, dei uma olhada em Oscar, ainda sentado na janela. “Você não sabe o que está perdendo,” disse a ele. Sua atenção estava voltada para o lado de fora. Pondo-se de cócoras num agachamento, ele inflou em sua pele de um preto forte e lustroso. Seu rabo começou a se agitar. Meu sorriso desapareceu, e me forcei a sentar. O mundo girou, e eu esperei que ele se endireitasse antes de tentar levantar. Quando consegui isso, a vertigem voltou e dessa vez se recusou a ir embora. Mesmo assim, me senti bem o bastante para tropeçar até a janela e espiei com Oscar. Ele me olhou cuidadosamente, escapou um pouco para o outro lado, e então retornou para o que quer que tenha prendido sua atenção. Uma brisa morna – um morno fora de estação para a primavera de Portland – brincou com meu cabelo enquanto me inclinava para fora. A rua estava escura e relativamente quieta. Eram três da manhã, justamente o único horário que o campus da faculdade se aquieta, pelo menos um pouco. A casa na qual nós alugávamos um quarto pelos últimos oito meses ficava numa rua residencial com casas velhas que não combinavam. Do outro lado da rua, a luz de um poste piscava, quase pronta para queimar. Ainda tinha luz o suficiente para que eu pudesse perceber as formas dos carros e prédios. No nosso velho quintal, eu podia ver as silhuetas das árvores e dos arbustos. E um homem olhando para mim. Eu me joguei para trás surpresa. A pessoa ficava ao lado de uma árvore no quintal, há cerca de nove metros de distância, onde ele podia facilmente ver pela janela. Ele estava perto o suficiente para que eu jogasse algo que pudesse acertá-lo. Certamente, ele estava perto o suficiente para ver o que Lissa e eu tínhamos acabado de fazer. As sombras o acobertavam tão bem que mesmo com a minha visão elevada, eu não podia distinguir nenhuma de suas feições, exceto por sua altura. Ele era alto. Realmente alto. Ele ficou ali por um momento, mal perceptível, então andou para trás, desaparecendo nas sombras projetadas pelas árvores do lado mais distante do quintal. Eu tinha quase certeza de que vi alguém mais se mexer perto dali, se juntando a ele antes que a escuridão engolisse os dois. Quem quer que fossem, Oscar não gostava deles. Sem contar comigo, normalmente ele se dava com quase todo mundo, desenvolvendo um estranhamento somente quando alguém afirmava ser um perigo imediato. O indivíduo lá fora não havia feito nada que ameaçasse Oscar, mas o gato sentiu alguma coisa, alguma coisa que o colocava de sobreaviso. Alguma coisa similar ao que ele sente sobre mim. Um medo congelante passou por mim, quase – mas não completamente – erradicando a agradável felicidade da mordida de Lissa. Recuando da janela, vesti um par de calças que encontrei no chão, quase caindo no processo. Uma vez que estava vestida, eu peguei o meu casaco e do de Lissa, junto com nossas carteiras. Enfiando meu pé nos primeiros sapatos que vi, me dirigi porta afora. No andar debaixo, encontrei ela na cozinha apertada, inspecionando a geladeira. Um de nossos companheiros de quarto, Jeremy, sentado à mesa, com a mão em sua testa enquanto olhava tristemente par o livro de cálculos. Lissa me observou com surpresa. “Você não devia estar de pé.” “Nós temos que ir. Agora.” Seus olhos se arregalaram, e então um momento depois, a compreensão bateu. “Você está ....falando sério? Você tem certeza?” Eu acenei com a cabeça. Eu não podia explicar como eu tinha certeza. Eu simplesmente tinha. Jeremy nos olhava curioso. “Qual é o problema?” Uma idéia me veio à cabeça. “Liss, pegue as chaves do carro dele.” Ele olhou de um lado para o outro entre nós. “O que vocês – “ Lissa andou até ele sem hesitação. Seu fluiu até mim através de nossa ligação mental, mas havia outra coisa também: a total confiança dela de que eu tomaria conta de tudo, de que nós estaríamos seguras. Como sempre, eu esperava que eu fosse digna desse tipo de confiança. Ela sorriu amplamente e olhou diretamente nos olhos dele. Por um segundo, Jeremy simplesmente encarou, ainda confuso, então vi o servo aprisioná-lo. Seus olhos se vidraram, e ele a estimou veneravelmente. “Nós precisamos pegar seu carro emprestado,” ela disse com uma voz gentil. “Onde estão as suas chaves?” Ele sorriu, e eu tremi. Eu tinha uma alta resistência à coerçãoimposição, mas eu ainda podia sentir seus efeitos disso quando era direcionado para outra pessoa. Isso, e eu havia sido ensinada minha vida inteira que usar isso era errado. Alcançando seu bolso, Jeremy entregou uma série de chaves pendurados num grande chaveiro vermelho. “Obrigada,” Lissa disse. “E onde está estacionado?” “No fim da rua,” ele disse sonhadoramente. “Na esquina. Perto da Brown.” Quatro quarteirões de distância. “Obrigada,” ela disse novamente, recuando. “Assim que nós sairmos, eu quero que você volte a estudar. Esqueça que nos viu hoje à noite.” Ele acenou condescendentemente. Eu tive a impressão de que ele saltaria de um penhasco por ela assim que ela pedisse. Todos os humanos era suscetíveis à coerção, mas Jeremy pareceu ser mais fraco que a maioria. Isso foi conveniente agora. “Vamos,” eu falei para ela. “A gente tem que se mexer.” Nós andamos para fora, nos direcionando para a esquina que ele havia mencionado. Eu ainda estava tonta da mordida e continuava tropeçando, incapaz de me movimentar tão rápido quanto queria. Lissa teve que me segurar algumas vezes para impedir que eu caísse. A todo momento, aquela ansiedade vinha até mim pela sua mente. Eu tentei o meu melhor para ignorá-la, eu tinha meus próprios para lidar. “Rose... o que nós vamos fazer se eles nos pegarem?” ela sussurrou. “Eles não vão,” disse ferozmente. “Não vou permitir isso.” “Mas se eles nos encontraram – “ “Eles já nos encontraram antes. E mesmo assim eles não nos pegaram. Nós, simplesmente, dirigiremos até a estação de trem e iremos até L.A. Eles vão perder o rastro.” Eu fiz com que soasse simples. Eu sempre fazia isso, apesar de não ser nada simples fugir das pessoas com quem nós crescemos juntos. Nós estávamos fazendo isso por dois anos, nos escondendo em qualquer lugar que podíamos e simplesmente tentar terminar o colegial. Nosso último ano tinha acabado de começar, e morar num campus de faculdade parecia seguro. Nós estávamos tão perto da liberdade. Ela não disse mais nada, e eu senti a sua fé em mim dar um impulso mais uma vez. Esse era o modo que sempre foi entre nós. Eu era aquela que agia, que fazia com que as coisas acontecessem – apesar de algumas vezes de forma imprudente. Ela era mais a parte mais racional, aquela que pensava nas coisas e as pesquisava extensivamente antes de agir. Ambos os estilos tinham suas utilidades, mas no momento, a imprudência era exigida. Nós não tínhamos tempo para hesitar. Lissa e eu éramos amigas desde o jardim da infância, quando nossa professora nos colocou em duplas para os exercícios de escrita. Forçar uma criança de cinco anos a soletrar Valisia Dragomir e Rosemarie Hathaway era mais do que cruel, e nós teríamos – ou melhor, eu teria – respondido apropriadamente. Eu atirei meu livro na professora e a chamei de fascista bastarda. Eu não sabia o que aquelas palavras significavam, mas eu sabia como acertar um alvo em movimento. Lissa e eu tínhamos sido inseparáveis desde então. “Você escutou isso?” ela perguntou repentinamente. Demorou alguns segundos para que eu escutar o que seus sentidos afiados já haviam pressentido. Passos, se movendo rapidamente. Eu fiz uma careta. Nós ainda tínhamos mais dois quarteirões para atravessar. “Nós temos que correr,” eu disse, segurando o seu braço. “Mas você não pode – “ “Corre.” Eu usei cada grama da minha força de vontade para não desmaiar na calçada. Meu corpo não queria correr depois de perder sangue ou enquanto ainda estivesse metabolizando os efeitos da saliva dela. Mas eu mandei meus músculos pararem de reclamar e me agarrei em Lisa enquanto nossos pés golpeavam o concreto. Normalmente eu a teria ultrapassado sem nenhum esforço extra – especialmente porque ela estava descalça – mas hoje à noite, ela era tudo que me mantinha ereta. Os passos perseguidores ficaram mais altos, mais perto. Estrelas negras dançavam perante meus olhos. Na nossa frente, pude distinguir o Honda verde de Jeremy. Oh Deus, se pudéssemos simplesmente alcançá-lo – Há três metros do carro, um homem pisou exatamente no nosso caminho. Nós demos uma parada brusca, e eu joguei Lissa para trás pelo seu braço. Era ele, o cara que vi do outro lado da rua me observando. Ele era mais velho que nós, talvez vinte e poucos, e tão alto quanto havia imaginado, talvez 1,95cm ou 2,00cm. E sob circunstâncias diferentes – digamos, se ele não estivesse retardando nossa fuga perigosa – eu diria que o achava gostoso. Cabelo castanho na altura dos ombros, amarrado para trás num curto rabo de cavalo. Olhos castanho escuro. Um longo casaco marrom – um sobretudo, creio que era o nome. Mas a sua gostosura era irrelevante agora. Ele era somente um obstáculo mantendo Lissa e a mim longe do carro e de nossa liberdade. Os passos atrás de nós diminuiu, e eu sabia que o nosso perseguidor havia nos alcançado. Nos lados, eu detectei mais movimento, mais pessoas se aproximando. Deus. Eles haviam mandando quase uma dúzia de guardiões para nos reaverem. A própria rainha não viaja com tantos. Apavorada e não inteiramente no controle de meu raciocínio mais elevado, eu agi por instinto. Eu imprensei Lissa, mantendo-a atrás de mim e longe do homem que aparentava ser o líder. “Deixe ela em paz,” eu rosnei. “Não toque nela.” Seu rosto era ilegível, mas ele levantou suas mãos no que aparentou ser algum tipo de gesto para que eu me acalmasse, como se eu fosse algum tipo de animal raivoso que ele estava planejando sedar. “Eu não vou – “ Ele deu um passo para frente. Perto demais. Eu o ataquei, saltando numa manobra ofensiva na qual não usava há dois anos, não usava desde que Lissa e eu tínhamos fugido. A manobra era estúpida, outra reação nascida do instinto e do medo. E era inútil. Ele era um guardião habilidoso, não um novato que ainda não tinha terminado seu treinamento. Ele também não era fraco e não estava a ponto de desmaiar. E, cara, ele era rápido. Eu havia esquecido o quão rápido os guardiões podem ser, como eles podiam se mexer e atacar como cobras. Ele me nocauteou como se estivesse espantando uma mosca, e suas mãos me golpearam e me mandaram para trás. Eu não acho que ele teve a intenção de bater tão forte – provavelmente só almejou me manter longe – mas minha falta de coordenação interferiu na minha capacidade de reagir. Incapaz de me manter de pé, eu comecei a cair, me dirigindo diretamente para a calçada num ângulo torto, com o quadril na frente. Isso ia doer. Muito. Só que não doeu. Simplesmente, tão rápido quanto ele havia me bloqueado, o homem se esticou e pegou meu braço, me colocando de pé. Quando eu me firmei, notei que ele estava olhando para mim – ou, mais precisamente, para o meu pescoço. Ainda desorientada, eu não percebi de imediato. Então, lentamente, minha mão livre alcançou o lado da minha garganta e tocou levemente na ferida que Lissa havia feito mais cedo. Quando puxei meus dedos de volta, eu vi o escorregadio, sangue preto na minha pele. Embaraçada, eu agitei meu cabelo para que ele caísse ao redor do meu rosto. Meu cabelo era longo e cheio e cobriu meu pescoço completamente. Eu o deixei crescer precisamente por esse motivo. Os olhos escuros do cara continuaram na marca, agora coberta, por mais um instante e então encontrou meus olhos. Eu devolvi seu olhar audaciosamente e me puxei rapidamente de sua mão no meu braço. Ele me soltou, apesar de perceber que ele poderia me segurar a noite toda se ele quisesse. Lutando contra a vertigem nauseante, voltei para onde Lissa estava de novo, me preparando para outro ataque. De repente, sua mãos segurou a minha. “Rose,” ela disse serenamente. “Não.” Suas palavras não tiveram nenhum efeito sobre mim no início, mas, gradualmente, pensamentos tranqüilizantes começaram a se instalar na minha mente, vindos através de nossa ligação. Não era exatamente coerção – ela não usaria isso em mim – mas era eficaz como era o fato de que nós estávamos irremediavelmente em menor número e superadas. Até eu sabia que lutar seria inútil. Eu senti a tensão deixando meu corpo, e eu sucumbi à derrota. Sentindo minha resignação, o homem andou para frente, voltando sua atenção para Lissa. O rosto dele era calmo. Ele fez uma reverência e conseguiu ser gracioso ao fazer isso, o que me surpreendeu considerando a sua altura. “Meu nome é Dimitri Belikov,” ele disse. Eu consegui sentir um leve sotaque russo. “Eu vim para leva-la de volta à Academia St. Vladimir, Princesa.”