terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

academia de vampiros - beijos da sombras ( capitulo 3 )

TRÊS NOS MANDAR DIRETO PARA AS NOSSAS AULAS depois de nossa reunião me pareceu ser mais do que cruel, mas foi exatamente o que Kirova fez. Lissa foi conduzida para longe, e eu a assisti ir, satisfeita com que a ligação me permitisse ler sua temperatura emocional. Na verdade, primeiro eles me mandaram para um orientador. Ele era um ancião Moroi, um do qual me lembrava de antes de partir. Eu honestamente não acreditava que ele ainda estava por aqui. O cara era tão absurdamente velho, ele devia ter se aposentado. Ou morrido. A visita toda demorou uns cinco minutos. Ele não falou nada sobre o meu retorno e fez algumas perguntas sobre as aulas que tive em Chicago e Portland. Ele as comparou com as do meu velho arquivo e apressadamente rabiscou um novo horário. Eu o peguei com tristeza e me dirigi para a minha primeira aula. 1º Horário Técnicas de Combate Avançado para Guardiões 2º Horário Teoria do Guarda-Costas e Proteção Pessoal 3 3º Horário Musculação e Condicionamento Físico 4º Horário Artes Lingüísticas do 3º ano (Aprendizes) – Almoço – 5º Horário Comportamento e fisiologia animais 6º Horário Pré-cálculo 7º Horário Cultura Moroi 4 8º Horário Artes Eslava* Argh. Eu havia esquecido como eram longos os dias escolares na Academia. Aprendizes e Moroi tinham aulas separados na primeira metade do dia, o que significava que não veria Lissa até depois do almoço – se nós tivéssemos alguma aula no período da tarde juntas. A maioria delas eram aulas padrões do 3º ano, então eu senti que minhas chances seriam boas. Artes Eslava me impressionou por ser uma daquelas opcionais que ninguém se inscreve, então tomara que a coloquem nessa aula também. * eslavo (dos povos eslavos, russo, búlgaro, tcheco, eslovênio) Dimitri e Alberta me escoltaram até o ginásio do guardião para o meu primeiro período, nenhum dos dois reconhecendo a minha existência. Andando atrás deles, vi como ela o seu cabelo curto, corte de fadinha* que mostrava a marca da promessa e as marcas molnija. Muitas das guardiãs faziam isso. Agora não me importava muito, tendo em vista que minha nuca ainda não tinha tatuagens, mas eu nunca iria cortar meu cabelo. Ela e Dimitri não disseram nada e andavam lado a lado quase como se fosse um dia qualquer. Quando nós chegamos, as reações de meus colegas indicaram que não era nada disso. Eles estavam no meio do aquecimento, e igualmente como na área comum, todos os olhos caíram em mim. Não conseguia me decidir se me sentia como uma estrela do rock ou como uma aberração do circo. Ok, então. Se eu fosse ficar por algum tempo aqui, eu não iria mais agir como se tivesse medo deles. Antigamente, Lissa e eu tínhamos o respeito dessa escola, e estava na hora de lembrar todo mundo disso. Fazendo a varredura dos olhares, nas bocas abertas dos aprendizes, procurei por algum rosto familiar. A maioria deles eram garotos. Um deles atraiu meu olhar, e eu quase não consegui segurar o riso. “Hey Mason, enxugue a baba da cara. Se você vai pensar em mim pelada, faça isso num lugar apropriado.” Alguns pigarros e risos abafados quebraram o silêncio temeroso, e Mason Ashford despertou de seu atordoamento, me dando um sorriso torto. Com aquele cabelo vermelho arrogante para todo o lado e com sardas, ele era bonito, embora não exatamente gostoso. Ele também era um dos caras mais engraçados que eu conhecia. Nós éramos bons amigos antigamente. “Essa é a minha vez, Hathaway. Eu estou conduzindo a aula de hoje.” “Oh, é?” eu repliquei. “Huh. Bem, eu acho que essa é uma boa hora para você pensar em mim pelada, então.” “Sempre é uma boa hora pensar em você pelada,” acrescentou alguém por perto, quebrando ainda mais o clima pesado. Eddie Castile. Um outro bom amigo meu. Dimitri balançou a cabeça e foi embora, murmurando alguma coisa em russo que não soava como algo gentil. Mas quanto a mim... bem, rapidinho, eu já era um dos aprendizes novamente. Eles eram um grupo descontraído, menos focados em linhagem e políticas do que a maioria dos Moroi. A turma veio para cima de mim, e eu me encontrei rindo e vendo aqueles dos quais eu quase achei que havia me esquecido. Todo mundo queria saber onde nós estivemos; aparentemente, Lissa e eu tínhamos virado lendas. Eu não poderia contá-los o por quê de termos ido embora, lógico, então os brindei com vários sarcasmos e alguns você-não-vai-acreditar que serviram direitinho. A reunião feliz durou mais algum tempo antes que um guardião adulto que vigiava o treinamento viesse e ralhasse com Mason por negligenciar suas funções. Ainda sorrindo, ele gritou ordens para todo mundo, explicando quais exercícios deveriam começar. De modo constrangedor percebi que não conhecia a maioria deles. “Venha, Hathaway,” ele disse, pegando o meu braço. “Você pode ser minha parceira. Vamos ver o que você tem feito todo esse tempo.” Uma hora depois, ele tinha a sua resposta. “Não vem praticando, huh?” “Ow,” eu gemi, momentaneamente incapaz de falar normalmente. Ele estendeu a mão e me ajudou a levantar da tatame no qual ele havia me derrubado – por cerca de umas quinze vezes. “Eu te odeio,” eu falei para ele, esfregando uma parte da minha perna que iria ficar com um roxo monstruoso amanhã. “Você me odiaria mais se eu me contivesse.” “Yeah, isso é verdade,” eu concordei, vacilante, enquanto a turma guardava os equipamentos. “Na verdade você foi bem.” “O que? Eu só levei porrada.” “Bem, lógico que levou. Se passaram dois anos. Mas hey, você ainda está andando. Já é alguma coisa.” Ele sorriu de forma zombeteira. “Eu mencionei que te odeio?” Ele me deu outro sorriso, que logo se desfez para algo mais sério. “Não me leve a mal... quero dizer, você realmente é uma lutadora, mas não tem chance de você fazer os seus exames na primavera – “ “Eles estão fazendo com que eu tenha aulas extras de treinamento,” eu expliquei. Não que isso importasse. Eu estava planejando tirar Lissa e eu daqui antes que esses treinos se tornassem num problema. “Vou estar pronta.” “Aulas extras com quem?” “Com o cara alto. Dimitri.” Mason parou de andar e olhou para mim. “Você foi posta para ter aulas extras com Belikov?” “Sim, e daí?” “Daí porque o cara é um deus.” “Exagerando muito?” “Não, eu falo sério. Quer dizer, ele é todo quieto e anti-social normalmente, mas quando ele luta... wow. Se você acha que está machucada agora, você vai estar morta quando ele acabar com você.” Ótimo. Mais uma coisa para melhorar o meu dia. Eu acotovelei ele e fui para a minha segunda aula. A aula cobria o essencial sobre ser um guarda-costas e era exigido para todos do 3º ano. Na verdade, era o terceiro de uma série que havia começado no 1º ano. Isso quer dizer que eu também estava atrasada nessa matéria, mas eu esperava que proteger Lissa no mundo real houvesse me dado alguma vantagem. Nosso instrutor era Stan Alto, a quem nós nos referíamos simplesmente como “Stan” por trás dele e “Guardião Alto” em ocasiões especiais. Ele era um pouco mais velho que Dimitri, mas não tão alto quanto, e ele sempre parecia estar irritado. Hoje, essa aparência se intensificou quando ele entrou na sala de aula e me viu lá sentada. Seus olhos se arregalaram numa surpresa fingida enquanto ele circulava pela sala e veio ficar do lado de minha mesa. “O que é isso? Ninguém me disse que teríamos uma palestrante convidada hoje. Rose Hathaway. Que privilégio! Que generosidade a sua de achar uma folga na sua agenda tão apertada e vir dividir seu conhecimento conosco.” Eu senti minhas bochechas esquentarem, mas numa grande demonstração de auto-controle, eu consegui me impedir de mandá-lo se danar. Eu tenho certeza que meu rosto conseguiu transmitir a mensagem, de qualquer forma, porque seu desdém aumentou. Ele fez um gesto para que eu ficasse de pé. “Bem, venha, venha. Não sente aí! Venha para a frente para que possa me ajudar a ensinar à turma.” Eu me afundei na minha cadeira. “Você não quer realmente dizer –“ O sorriso zombeteiro morreu. “Eu quis dizer exatamente o que eu disse, Hathaway. Vá para a frente da classe.” Um silêncio pesado envolveu a sala. Stan era um instrutor assustador, e a maioria da classe ainda estava muito temerosa para poder rir da minha desgraça. Me recusando a fraquejar, eu caminhei até a frente da sala e virei-me de frente para a classe. Eu lhes dei um olhar destemido e joguei meus cabelos para trás dos ombros, ganhando alguns sorrisos simpáticos de meus colegas. Então eu notei que tinha uma platéia maior do que esperava. Alguns Guardiões – inclusive Dimitri – ficaram no fundo da sala. Fora da Academia, os Guardiões se focavam na proteção um-a-um. Aqui, eles tinham bem mais pessoas para proteger e eles tinham que treinar os aprendizes. Então, em vez de seguir cada pessoa por aí, eles trabalhavam em turnos protegendo a escola como um todo e monitorando as aulas. “Então, Hathaway,” disse Stan alegremente, passeando de volta para mim. “Nos ilumine sobre as suas técnicas protetoras.” “Minhas... técnicas?” “Claro. Porque, presumivelmente, você deve ter tido algum tipo de plano que o resto de nós não podíamos entender para que você levasse uma Moroi da realeza menor de idade para fora da Academia e a expusesse a constantes ameaças Strigoi.” Era o discurso da Kirova todo novamente, exceto que com mais testemunhas. “Nós nunca encontramos com um Strigoi,” eu respondi rigidamente. “Obviamente,” ele disse com um risinho. “Eu já percebi isso, vendo como você continuava viva.” Eu queria gritar que talvez eu tenha derrotado um Strigoi, mas depois de ter levado uma surra na aula anterior, eu, agora, suspeitava que não conseguiria sobreviver a um ataque de Mason, quem dirá um Strigoi de verdade. Quando eu não disse nada, Stan começou a andar na frente da classe. “Então o que você fez? Como você se certificava para que ela continuasse segura? Vocês evitavam sair à noite?” “Algumas vezes.” Isso era verdade – especialmente da primeira vez que nós fugimos. Nós relaxamos um pouquinho depois que se passaram meses sem nenhum ataque. “Algumas vezes,” ele repetiu com uma voz aguda, fazendo com que minha resposta parecesse incrivelmente ridícula. “Bem, eu suponho que você tenha dormido durante o dia e ficado de guarda à noite.” “Err... não.” “Não? Mas isso é uma das primeiras coisas mencionadas no capítulo sobre guarda solo. Oh, espere, você não saberia disso porque você não estava aqui.” Eu engoli mais alguns xingamentos. “Eu vigiava a área sempre que nós saiamos,” eu disse, precisando me defender. “Oh? Isso já é algo. Você usou o Método de Fiscalização do Quadrante Carnegie ou a Análise Rotativa?” Eu não disse nada. “Ah. Eu acho que você usou o Método-Olhar-Em-Volta-Quando-Se-Lembrava-Hathaway.” “Não!” eu exclamei irritadamente. “Isso não é verdade. Eu a vigiei. Ela ainda está viva, não está?” Ele andou de volta até mim e se inclinou até o meu rosto. “Porque você teve sorte.” “Strigoi não estão à espreita à cada esquina lá fora,” eu devolvi. “Não é como o que nós temos aprendido. É mais seguro do que vocês fazem parecer.” “Seguro? Seguro? Nós estamos em guerra com os Strigoi!” ele gritou. Eu podia sentir o cheiro de café em seu hálito de tão perto que ele estava. “Um deles poderia ter ido até você e quebrado o seu lindo pescocinho antes mesmo que você o notasse – e eles nem chegam a suar fazendo isso. Você pode ter mais velocidade e força do que um Moroi ou um humano, mas você não é nada, nada, comparada a um Strigoi. Eles são mortais e são perigosos. E você sabe o que os deixam mais poderosos?” De jeito nenhum que eu ia deixar esse imbecil me fazer chorar. Olhando para longe dele, tentei me focar em alguma outra coisa. Meus olhos repousaram em Dimitri e nos outros Guardiões. Ele assistiam à minha humilhação, os rostos impassíveis. “Sangue Moroi,” eu sussurrei. “O que foi isso?” Stan pediu mais alto. “Eu não ouvi.” Virei-me de volta para encará-lo. “Sangue Moroi! Sangue Moroi os deixam mais fortes.” Ele balançou a cabeça com satisfação e deu alguns passos para trás. “Sim. É isso. Deixam os mais fortes e mais difíceis para se destruir. Eles matem e bebem de humanos ou dhampirs, mas eles querem sangue Moroi mais que todo o resto. Eles procuram por isso. Eles se viraram para o lado negro para ganhar imortalidade, e eles fazem qualquer coisa para manter essa imortalidade. Strigoi desesperados já atacaram Moroi em público. Grupos de Strigoi já invadiram Academias iguais a esta. Existem Strigoi que viveram por vários séculos e se alimentaram de gerações de Moroi. Eles são quase impossíveis de se matar. E isso é o porque do número de Moroi estar caindo. Eles não são fortes o suficiente – mesmo com guardiões – para se protegerem. Alguns Moroi nem vêem mais sentido em fugir e simplesmente se entregam aos Strigoi por vontade própria. E quanto mais desaparecem os Moroi...” “... mais desaparecem os dhampirs,” eu terminei. “Bem,” ele disse, lambendo o cuspe salpicado de seus lábios. “Parece que você aprendeu alguma coisa apesar de tudo. Agora nós temos que ver se você consegue aprender o suficiente para passar nessa matéria e se qualificar para o campo prático semestre que vem.” Ouch. Eu passei o resto daquela aula horrível – felizmente, no meu lugar – repassando aquelas últimas palavras na minha mente. O campo prático do 3º ano era a melhor parte na formação de um aprendiz. Nós não tínhamos aula por meio semestre. Em vez disso, cada um era designado com um estudante Moroi a quem deveria proteger e seguir por aí. Os Guardiões adultos iriam nos monitorar e nos testar com ataques encenados e outras ameaças. Como um aprendiz passava no campo prático era quase tão importante quanto todo o resto de suas aulas combinadas. Isso iria influenciar sobre qual Moroi lhe seria designado depois da formatura. E quanto a mim? Só havia um Moroi que eu queria. Duas aulas mais tarde, eu finalmente ganhei minha folga na hora do almoço. Enquanto eu tropeçava pelo campus para a área comum, Dimitri começou a caminhar ao meu lado, não parecendo particularmente divino – a não ser que você contasse com a sua beleza sobrehumana. “Suponho que tenha visto o que aconteceu na aula de Stan?” eu perguntei, não me importando com títulos. “Sim.” “E você não acha q foi injusto?” “Ele estava certo? Você achar que estava inteiramente preparada para proteger Valisia?” Eu olhei para o chão. “Eu a mantive viva,” murmurei. “Como você foi lutando contra os seus colegas hoje?” A pergunta era maldosa. Eu não respondi e sabia que não precisava. Eu tive outra aula com treinamento depois da de Stan, e sem dúvida Dimitri me viu apanhar lá também. “Se você não consegue lutar com eles –“ “Yeah, yeah, eu sei,” eu o cortei. Ele retardou seus longos passos para acompanhar o meu cheio de dor. “Você é forte e rápida por natureza. Você só precisa se manter treinada. Você não praticou nenhum tipo de esporte enquanto esteve fora?” “Claro,” dei de ombros. “Aqui e ali.” “Você não se juntou a nenhuma equipe?” “Muito trabalho. Se eu quisesse praticar tanto, eu teria ficado aqui.” Ele me deu um olhar irritado. “Você nunca vai ser realmente capaz de proteger a princesa se você não aperfeiçoar suas habilidades. Você sempre vai ficar para trás.” “Eu serei capaz de protegê-la,” disse ferozmente. “Você não tem nenhuma garantia de que será designada para ela, você sabe – no seu campo prático ou depois da sua formatura.” A voz de Dimitri era baixa e sem remorso. Eles não haviam me dado um mentor bonzinho e amigável. “Ninguém quer quebrar com a ligação – mas também ninguém vai dar a ela um guardião inadequado. Se você quiser ficar com ela, então você vai ter se esforçar para isso. Você tem as suas aulas. Você tem a mim. Nos use ou não. Você é a escolha ideal para proteger Valisia quando as duas se formarem – se você conseguir provar que é digna. Espero que consiga.” “Lissa, a chame de Lissa,” eu corrigi. Ela detestava o seu nome completo, preferindo muito mais o seu apelido americanizado. Ele foi embora, e de repente, eu não me senti mais com tanto mau-humor. Até agora, já havia perdido muito tempo saindo das aulas. Quase todo o resto já havia corrido até a área comum para o almoço, ansiosos para maximizar o seu horário social. Eu mesma quase consegui voltar para lá quando uma voz por detrás de uma porta entreaberta me chamou. “Rose?” Espreitando na direção da voz, tive um deslumbre de Victor Dashkov, seu rosto afável sorrindo para mim enquanto ele se apoiava numa bengala perto da parede dos prédios. Seus dois guardiões estavam próximos a uma distância educada. “Sr. Dash– er, Sua Alteza. Oi.” Eu me peguei a tempo, praticamente havia esquecido dos termos Moroi da realeza. Eu não os usei enquanto vivi com os humanos. Os Moroi escolhem seu lidere rei dentre doze famílias reais. O mais velho da família ganhava o título de “príncipe” ou “princesa”. Lissa ganhou o dela porque ela era a única viva de sua linhagem. “Como foi seu primeiro dia?” ele perguntou. “Ainda não acabou,” tentei pensar em alguma coisa para conversar. “Você está visitando aqui por um pouco?” “Estarei indo embora nesta tarde depois que de dizer um oi para Natalie. Quando escutei que Valisia – e você – haviam retornado, eu simplesmente tinha que vir vê-las.” Eu acenei com a cabeça, sem saber mais o que dizer. Ele era mais amigo de Lissa do que meu. “Eu queria te dizer...” Ele falou hesitantemente. “Eu compreendo a gravidade do que você fez, mas eu acho que a Diretora Kirova falhou em não reconhecer uma coisa. Você manteve Valisia salva por todo esse tempo. Isso é impressionante.” “Bem, não é como se eu tivesse enfrentado Strigoi ou coisa parecida,” eu disse. “Mas você enfrentou alguma coisa?” “Claro. Uma vez o colégio mandou psi-hounds.” “Notável.” “Na verdade não. Evitá-los foi bastante fácil.” Ele riu. “Eu já cacei com eles antes. Eles não são assim tão fáceis de se iludir, não com a sua força e inteligência.” Isso era verdade. Psi-hounds eram uma das muitas espécies de criaturas mágicas que vagavam pelo mundo, criaturas das quais os humanos nunca souberam que existia ou então não acreditavam no de que realmente viram. Os hounds viajavam em bandos e compartilhavam um tipo de comunicação psíquica que os tornavam particularmente mortais para as suas presas – como também o fato deles se assemelharem a lobos mutantes. “Você enfrentou alguma outra coisa?” Dei de ombros. “Pequenas coisas aqui e ali.” “Notável,” ele repetiu. “Sorte, eu acho. Parece que eu estou realmente atrasada em toda essa coisa de guardião.” Eu soei igual a Stan agora. “Você é uma garota inteligente. Você vai se recuperar. E você também tem a sua ligação.” Eu desviei o olhar. Minha habilidade de “sentir” Lissa havia sido um segredo por tanto tempo, era estranho ter outras pessoas sabendo disso. “A história está cheia de relatos de guardiões que podiam sentir quando seus encargos estivessem em perigo.” Victor continuou. “Eu desenvolvi o hobby de estudar isso e alguns dos costumes antigos. Ouvi que isso é um enorme trunfo.” “Acho que sim.” Dei de ombros. Que hobby chato, eu pensei, imaginando ele lendo atentamente histórias pré-históricas em alguma biblioteca úmida coberta com teias de aranha. Victor inclinou sua cabeça, a curiosidade por todo o seu rosto. Kirova e os outros tiveram essa mesma expressão quando nós mencionamos nossa ligação, como se fossemos ratos de laboratório. “Como é que é – se você não se importar com a minha pergunta?” “É... eu não sei. Eu meio que sempre tive esse sussurro de com ela está se sentindo. Normalmente são só emoções. Nós não podemos mandar mensagens ou coisa parecida.” Eu não o contei sobre escorregar para a sua mente. Essa parte era ainda mais difícil até para eu entender. “Mas isso não funciona no caminho reverso? Ela não consegue te sentir?” Eu balancei a cabeça. Seu rosto se iluminou maravilhado. “Como isso aconteceu?” “Eu não sei,” eu disse, ainda desviando o olhar. “Simplesmente começou dois anos atrás.” Suas sobrancelhas se franziram. “Perto da época do acidente?” Hesitantemente, eu acenei com a cabeça. O acidente era algo sobre o que eu não queria falar, isso eu tinha certeza. As memórias de Lissa já eram ruins o suficiente sem ter as minhas próprias se misturando a elas. Metal retorcido. Uma sensação quente, depois fria, então quente novamente. Lissa gritando sobre mim, gritando para que eu acordasse, gritando para que seus pais e seu irmão acordarem. Nenhum deles acordou, só eu. E os médicos disseram que isso já era um milagre por si só. Aparentemente, vendo o meu desconforto, Victor deixou o momento passar e voltou para a sua excitação inicial. “Eu ainda mal posso acreditar nisso. Faz tanto tempo desde que isso aconteceu. Se isso acontecesse mais vezes... pense só no que isso poderia fazer para a segurança dos Moroi. Se, pelo menos, outros pudessem experimentar isso também. Eu preciso fazer mais pesquisar e ver se nós podemos replicar isso com outros.” “Yeah.” Eu estava ficando impaciente, não importando o quanto eu gostava dele. Natalie falava muito, e estava bem claro de qual pai ela havia herdado essa qualidade. O horário do almoço estava acabando, e apesar de Moroi e aprendizes compartilharem as aulas da tarde, Lissa e eu não teríamos muito tempo para conversar. “Talvez nós pudéssemos–“ Ele começou a tossir, um grande ataque dominador que fez todo o seu corpo tremer. Sua doença, Síndrome de Sandovsky, atacavam seus pulmões enquanto arrastava o corpo para a morte. Eu lancei um olhar ansioso para os seus guardiões, e um deles deu um passo a frente. “Sua Alteza,” ele disse educadamente, “você precisa entrar. Está muito frio aqui fora.” Victor acenou. “Sim, sim. E eu tenho certeza que a Rose aqui quer comer.” Ele se virou para mim. “Obrigado por conversar comigo. Eu não consigo salientar o quanto significa para mim que Valisia esteja a salvo – e que você ajudou com isso. Eu prometi ao seu pai de que cuidaria dela se algo acontecesse com ele, e me senti completamente fracassado quando vocês foram embora.” Eu senti como se meu estômago estivesse afundando quando eu o imaginei se corroendo com culpa e preocupação pelo nosso desaparecimento. Até agora, eu realmente nunca havia pensado como os outros devem ter se sentido quando nós fomos embora. Nós nos despedimos, e eu finalmente cheguei na escola. Quando cheguei, senti a ansiedade de Lissa aumentar. Ignorando a dor em minhas pernas, eu apressei o meu passo até a área comum. E eu quase me esbarrei nela. Mas ela não havia me visto. Nem as pessoas que estavam ao redor dela: Aaron e aquela bonequinha. Eu parei e escutei, só pegando o final da conversa. A garota se inclinou para Lissa, que parecia mais chocada do que qualquer outra coisa. “Para mim parece como algo que veio de uma venda de coisas usadas*. Eu pensava que uma preciosa Dragomir teria um certo nível.” O escárnio transbordando na palavra Dragomir. Agarrando a Garota Boneca pelo ombro, eu a empurrei para longe. Ela era tão leve, que ela tropeçou por quase um metro e quase caiu. “Ela tem nível,” eu disse, “e esse é o motivo pelo qual você já terminou de falar com ela.” * Não sei se todo mundo está familiarizado com o termo “garage sale”, mas é quando as pessoas pegam as coisas que não querem mais e fazem uma liquidação, geralmente em frente

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