segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

house of night - marcada (capitulo 16)


DEZESSEIS
“É isso.” Stevie Rae parou, parecendo desconfortável e apoplética enfrente aos
degraus que levavam um prédio de tijolos situado em uma pequena encosta que aparecia
na parte oriental dos arredores da escola. Enormes carvalhos estavam envoltos na
escuridão dentro da escuridão, então eu mal podia ver os pontos de luz de velas da
entrada. Nenhum fio de luz estava vindo das escuras janelas que eram longas e
arqueadas e pareciam ser feitas de vidro chateado.
“Ok, bem, obrigado pelas pastilhas.” Eu tentei parecer brava. “E guarde um lugar
para mim. Isso realmente não pode levar muito tempo. Eu devo terminar isso e me juntar
a vocês para o jantar.”
“Não se apresse. Verdade. Você pode encontrar alguém que você gosta e ficar com
ele. Não se preocupe se você encontrar. Eu não vou ficar braba e só vou dizer a Damien e
as Gêmeas que você está fazendo reconhecimento do inimigo.”
“Eu não vou me tornar um deles, Stevie Rae.”
“Eu acredito em você,” ela disse, mas os olhos dela pareciam suspeitosamente
grandes e redondos.
“Eu vejo você logo.”
“Ok. Vejo você logo,” ela disse, e começou a seguir a calçada em direção ao prédio
principal.
Eu não queria ver ela se afastar – ela parecia toda miserável e um filhotinho abatido.
Ao invés disso eu subi os degraus e disse a mim mesma que isso não seria grande coisa –
nada pior que a vez que a minha irmã Barbie me convenceu a ir campo das lideres de
torcida com ela (eu não sei o que diabos eu tava pensando). Pelo menos esse fiasco não
duraria uma semana. Elas provavelmente fariam outro circulo, o que era bem legal, fariam
alguma reza diferente como Neferet fez, e então jantaríamos. Esse seria minha
oportunidade de sorrir e escapar. Fácil – fácil.
As tochas dos lados da porta de madeira estava acessas por gás e não pelos
candelabros igual era no templo de Nyx. Eu levantei minha mão em direção a pesada
aldrava, mas, com um som que era perturbamente parecido a um suspiro, ela abriu com
meu toque.
“Merry meet, Zoey.”
Oh. Meu. Deus. Era Erik. Ele estava vestido todo de preto, e seu cabelo preto e seu
insanamente olhos azuis me lembravam de Clark Kent – bem, ok, sem os óculos nerd e o
cabelo arrumado para trás... então... eu suponho que isso significa que ele na verdade me
lembra (de novo) do Superman – bem, sem a capa ou o colante ou o grande S...
Então a falação na minha cabeça parou quando o dedo dele cheio de olho deslizou
pela minha testa, traçando um pentagrama.
“Abençoado seja,” ele disse.
“Abençoado seja,” eu respondi, e ficaria eternamente grata por minha voz não ter
grasnado ou ficado grossa ou fina. Ah, cara, ele cheirava tão bem, mas eu não conseguia
identificar qual era esse cheiro. Não era o cheiro de nenhuma das colônias usadas demais
que os caras aplicam galões. Ele cheirava a... ele cheirava a... a floresta a noite logo
depois de chover... algo terreno e limpo e...
“Você pode entrar,” ele estava dizendo.
“Oh, uh, obrigado,” eu disse brilhantemente. Eu entrei. E então parei. No interior
estava uma enorme sala. As paredes de forma circular estavam envolvidas em veludo
preto, bloqueando totalmente as janelas e a luz do luar. Eu podia ver que por baixo das
pesadas cortinhas haviam estranhas formas, o que começou a me assustar até que eu
percebi que – oláá – essa era uma sala de recreação. Eles devem ter empurrado as TVs e
os games para os lados da sala e os coberto para que tudo parecesse, bem, assustador.
Então minha atenção foi capturada pelo circulo. Estava situado no meio da sala e feito
inteiramente de velas em altos recipientes vermelhos, como as velas de reza que você
pode comprar nas sessões de comida mexicana de uma mercearia que cheiram a rosas e
a senhoras. Deveria ter mais de 100 delas acessas e os garotos estavam parados em um
circulo solto atrás delas conversando e rindo com a luz fantasmática que era manchada
em de vermelho. Todos estavam usando preto e eu notei imediatamente que nenhum
deles estava usando algo bordado com as insígnias correspondente as séries, mas cada
um deles usava uma corrente prateada que brilhava ao redor do pescoço deles com um
estranho símbolo. Parecia duas luas crescentes posicionadas de costas uma pra outra
contra uma lua cheia.
“Aí está você, Zoey!”
A voz de Afrodite passou pela sala logo a frente do corpo dela. Ela estava usando um
longo vestido preto que brilhava devido as contas de onyx, o que estranhamente me
lembrou a versão negra da beleza brilhante de Neferet. Ela usava o mesmo colar que as
outras, mas o dela era maior e tracejado com jóias vermelhas que poderiam ser granada.
O cabelo loiro dela estava preso e caia ao redor dela como um véu dourado. Ela era
totalmente bonita demais.
“Erik, obrigada por fazer a Zoey se sentir bem vinda. Eu assumo daqui.” Ela soava
normal, e ela até colocou a ponta do dedo no braço do Erik por um segundo em que os
desenformados poderiam pensar ser um gesto amigável, mas o rosto dela era uma
história totalmente diferente. Era duro e frio, e os olhos dela pareciam tão afiados quanto
os dele. Erik mal olhou para ela, e ele definitivamente se afastou do toque dela. Então ele
me deu um rápido sorriso, sem olhar para Afrodite de novo, e se afastou.
Ótimo. Exatamente o que eu não precisava era me meter no meio de uma horrível
separação. Mas eu não consegui impedir o fato de que meus olhos seguiram os dele pela
sala.
Eu sou idiota. De novo. Eu suspirei.
Afrodite limpou a garganta, e eu tentei (sem sucesso) não parecer que tinha sido
pega fazendo algo que eu não devia. O sorriso maldoso dela disse que havia
absolutamente nenhuma duvida que ela notou meu interesse em Erik (e o interesse dele
em mim). E, de novo, eu me perguntei se ela sabia que tinha sido eu no corredor no dia
anterior.
Bem, não era como se eu pudesse perguntar a ela.
“Você precisa se apressar, mas eu trouxe algo para você se trocar.” Afrodite estava
falando rápido enquanto ela fez menção para mim seguir ela para o banheiro feminino.
Ela me jogou um olhar de nojo por cima dos ombros. “Não é como se você pudesse vir a
um ritual das Filhas Negras vestida desse jeito.” Quando estávamos no banheiro ela
bruscamente me deu um vestido que estava pendurado em uma divisão e meio que me
empurrou para dentro. “Você pode colocar suas roupas no cabide e carregar eles de volta
com você para o dormitório desse jeito.”
Não parecia haver nenhuma discussão com ela e, de qualquer forma, eu já me sentia
como uma estranha mesmo. Estar vestida diferente me fez sentir como se eu tivesse
aparecido para a festa vestida como um pato, mas ninguém me disse que não era uma
festa a fantasia então todo o resto estava usando jeans.
Eu rapidamente tirei as minhas roupas e pus o vestido preto por cima da minha
cabeça, suspirando de alivio quando ele serviu. Ele era simples, mas lisonjeiro. O material
era suave e não marcava. Tinha mangas longas e um busto redondo que mostrava a
maior parte dos meus ombros (que bom que estava usando um sutiã preto). Ao redor do
busto, a ponta da longa manga, e nas borda, que era bem acima do meu joelho, haviam
contas pequenas de um vermelho brilhante. Era bem bonito. Eu coloquei meus sapatos de
volta, pensando, feliz, que um bom par de rasteirinha vai com quase qualquer roupa, e sai
do banheiro.
“Bem, pelo menos serve.” Eu disse.
Mas eu notei que Afrodite não estava olhando para o vestido. Ela estava olhando
para a minha Marca, o que me incomodou muito. Ok, minha Marca era colorida – supere
de uma vez! Mas eu não disse nada. Eu quero dizer, isso era a “festa” dela e eu era uma
convidada. Tradução: eu estava totalmente sem ajuda, então é melhor eu ser boazinha.
“Eu vou liderar o ritual, é claro, então eu vou estar muito ocupada para segurar sua
mão.”
Ok, eu deveria só manter a boca fechada, mas ela estava me irritando. “Olha,
Afrodite, eu não preciso que você segure minha mão.”
Os olhos dela se estreitaram e eu me segurei para outra cena da garota psicopata.
Ao invés disso ela sorriu um sorriso totalmente nada legal que a fez parecer um cão
rabugento. Não que eu estivesse chamando ela de cadela, mas a analogia parece
assustadoramente certa.
“É claro que você não precisa que segurem sua mão. Você só vai passar pelo
pequeno ritual como você passa por tudo o resto. Eu quero dizer, afinal de conta, você é a
nova favorita da Neferet.”
Maravilha. Fora dos problemas com Erik e a estranheza da minha Marca, ela estava
com ciúmes por Neferet ser minha mentora.
“Afrodite, eu não acho que sou a favorita de Neferet. Eu sou apenas nova.” Eu tentei
soar razoável, e até sorri.
“Tanto faz. Então, está pronta?”
Eu desisti de tentar ser razoável com ela e acenei, desejando que todo esse ritual
fosse rápido e acabasse de uma vez.
“Ótimo. Vamos.” Ela me levou para fora do banheiro e para o circulo. Eu reconheci as
duas garotas para qual andamos como as duas “bruxas do inferno” que tinham seguido
ela na cafeteria. Só que ao invés de estar usando uma cara de eu-acabei-de-comer-umlimão,
elas estavam sorrindo amigavelmente para mim.
Não. Eu não iria ser enganada. Mas eu sorri também. Quando em território inimigo é
melhor se misturar e parecer sem noção e/ou idiota.
“Olá, eu sou Enyo,” disse a mais alta das duas. Ela era, é claro, loira, mas seu longo,
era mais cor de praia do que dourado. Embora com a luz do candelabro fosse difícil ter
certeza qual clichê tinha uma descrição mais apropriada. E eu ainda não acreditava que
ela fosse uma loira natural.
“Oi,” eu disse.
“Eu sou Deino,” disse a outra garota. Ela era obviamente uma mistura e tinha uma
linda combinação de uma realmente bonita, café-com-creme pele e um excelente cabelo
encaracolado, que provavelmente nunca teve a coragem de frizzar, não importando a
umidade.
As duas eram estranhamente perfeitas.
“Olá,” eu disse de novo. Me sentindo mais do que um pouco claustrofóbica, e me
movi para o espaço que elas criaram.
“Vocês três aproveitem o ritual,” Afrodite disse.
“Oh, nós vamos!” Enyo e Deino falaram juntas. Eu virei minha atenção para longe
delas antes do meu melhor julgamento ganhar do meu orgulho e eu me prendi a sala.
Eu tinha uma boa visão da área interna do circulo, e de novo era similar ao templo
de Nyx, mas esse tinha uma cadeira perto a mesa e tinha alguém sentado nela. Bem,
meio que sentado. Na verdade, ele estava atirado na cadeira com um capuz cobrindo a
cabeça.
Bem... hmmm...
De qualquer jeito, a mesa estava envolvida com o mesmo veludo preto das paredes,
e tinha uma estátua da deusa nela, uma tigela de frutas e pão, várias taças, e um jarro. E
uma faca. Eu olhei de novo para ter certeza que estava vendo certo. Sim. Era uma faca –
tinha um cabo e uma longa e curvada lamina que parecia totalmente afiada demais para
ser usada para cortar fruta ou pão. Uma garota que eu pensei ter reconhecido do
dormitório estava acendendo vários incensos que estava no ornamentado suporte para
incenso, na mesa, e totalmente ignorado quem quer que fosse que estava na cadeira.
Droga, o garoto estava dormindo?
Imediatamente o ar começou a se encher de fumaça e eu juro estava meio
esverdeado, meio fantasmagórico, ao redor da sala. Eu esperei que cheirasse doce, como
o incenso no templo de Nyx, mas quando a fumaça chegou até mim e eu respirei era
surpreendentemente amarga. Era meio familiar e eu franzi a testa, tentando descobrir o
que aquilo me lembrava... merda, o que era? Era quase como folha de louro, com um
pouco de cravo da índia. (eu tinha que lembrar de agradecer a Vovó Redbird mais tarde
por me ensinar sobre temperos e seu cheiro.)
Eu cheirei de novo, intrigada, e minha cabeça ficou um pouco tonta. Estranho. Ok, o
incenso era estranho. Pareceu mudar enquanto enchia a sala, como um perfume caro que
muda dependendo da pessoa que o usa. Eu respirei de novo. Sim. Cravo da índia e folha
de louro, mas tinha algo mais; algo que fazia o cheiro terminar parecendo amargo e
diferente... escuro e místico e sedutor e... travesso.
Travesso? Então eu soube.
Bem, diabos! Eles estavam enchendo a sala com maconha misturada com temperos.
Incrível, eu agüentei a pressão por anos e disse não para até as ofertas mais educadas
para experimentar um daquelas coisas nojentas feitas em casa passada ao redor pelas
festas. (Eu quero dizer, por favor. Sequer é sanitário? E porque exatamente eu iria querer
uma droga que iria me fazer querer começar obsessivamente salgadinhos?) E agora ali
estava eu, imersa em maconha. Suspirei. Kayla nunca iria acreditar.
Então, me sentindo paranóica (provavelmente outro efeito colateral da maconha) eu
olhei ao redor do circulo, certa de ter visto um professor que estava pronto para nos atrair
para longe para... para... eu não sei, algo horrível, como os acampamentos que a Maury
envia todos os seus adolescentes problemáticos.
Mas, graças a Deus, diferente do circulo no templo de Nyx, não havia vampiros
adultos aqui, e apenas cerca de 20 adolescentes. Eles estavam falando baixo e agindo
como se o totalmente ilegal incenso de machona não fosse nada demais. (Cabeças de
Maconha.) Tentando respirar devagar, eu virei para a garota a minha direita. Quando em
duvida (pânico), converse bobagens.
“Então... Deino é um, bem, nome diferente. Significa algo especial?”
“Deino significa terrível;” ela disse, sorrindo docemente.
Do meu outro lado a loira alta se animou, “E Enyo significa pronto para a luta.”
“Huh,” eu disse, tentando ser educada.
“Yeah, Pemphredo, que significa arfar, é quem está acendendo o incenso,” explicou
Enyo. “Pegamos os nomes da mitologia grega. Elas eram as três irmãs de Gordon e Scylla.
Diz o mito que elas nasceram como bruxas que dividiam um olho, mas decidimos que era
provavelmente só bobagem propaganda devido a dominação dos homens escrita por
homens humanos que queriam manter as mulheres fortes controladas.”
“Verdade?” eu não sabia o que mais dizer. Verdade.
“Sim,” Deino disse. “Os homens humanos são uma droga.”
“Todos deveriam morrer,” Enyo disse.
Com essa idéia amorosa a musica de repente começou, fazendo impossível (graças a
Deus) falar.
Ok, a musica era perturbadora. Tinha uma profunda, e pulsante batida que era
antiga e moderna. Como se alguém tivesse misturado uma daquelas horríveis musicas de
sexo de um tribal ritual de acasalamento. E então, muito mais chocante, Afrodite começou
a dançar pelo circulo. Sim, eu suponho que daria para dizer que ela era gostosa. Eu quero
dizer, ela tinha um bom corpo e se movia como Catherine Zeta Jones em Chicago. Mas de
alguma forma não funcionou para mim. E eu não quero dizer por que eu não sou gay
(embora eu não seja gay). Não funcionou porque pareceu uma imitação pobre da dança
de Neferet “Ela anda em beleza.” Se essa musica fosse um poema seria mais como
“Alguma vadia da a bunda.”
Durante a dancinha de Afrodite todos estavam, naturalmente, olhando para ela,
então eu olhei ao redor do circulo, fingindo que eu não estava procurando por Erik, até...
oh, merda... eu o encontrei na direção quase oposta a minha. E ele era o único que na
sala que não estava olhando para Afrodite. Ele estava olhando para mim. Antes de
descobrir se eu deveria olhar para o outro lado, sorrir para ele ou acenar ou algo assim
(Damien tinha dito para sorrir para ele, e Damien era um auto proclamado expert em
caras), a musica parou e eu olhei do Erik para Afrodite. Ela estava parada no meio do
circulo na frente da mesa. De propósito, ela pegou uma grande vela púrpura em uma
mão, e a faca na outra. A vela estava acessa, e ela a carregou, segurando na frente dela
como um farol, para o lado do circulo onde eu agora notei estava uma vela amarela entre
as vermelhas. Eu não precisei de nenhum aviso da Terrível ou da Pronta para guerra (eca)
para me virar para o leste. Enquanto o vento passou pelo meu cabelo, pelo canto do olho
eu pude ver que ela tinha acendido a luz amarela e agora ela levantou a faca, desenhando
um pentagrama pelo ar enquanto falou:
Oh ventos de tempestade,
Em nome de Nyx eu chamo a ti para frente,
Lance a benção, eu peço,
Pela mágica que está acontecendo aqui!
Eu admito ela é boa. Embora não tão poderosa quanto Neferet, era obvio que ela
praticou o controle de voz e o som sedoso das palavras dela carregaram fácil. Viramos
para o sul e ela se aproximou de uma grande vela vermelha entre as outras vermelhas, e
eu pude sentir o que eu já estava reconhecendo como o poder do fogo e a mágica passou
pela minha pele.
Oh fogo do trovão, em nome da Nyx eu chamo a ti para frente, traga tempestades e
poder da mágica, eu peço a sua ajuda no feitiço que faço aqui!
Viramos de novo e, junto com Afrodite, eu me senti inesperadamente atraída pela
vela azul que estava entre as vermelhas. Embora tenha me assustado, eu tive que me
impedir de sair do circulo e me juntar a evocação dela pela água.
O correntes de chuva,
em nome de Nyx eu chamo a ti para frente.
Se junte a mim com sua inunda força,
em fazer desse o mais poderoso dos rituais!
O que diabos estava errado comigo? Eu estava suando e invés de me sentir só um
pouco quente, como durante o ritual de mais cedo, a Marca na minha testa estava quente
– muito quente – e eu juro que eu podia ouvir o rugido do mar nos ouvidos. Atordoada,
eu me virei para a direita.
O terra, profunda e úmida,
em nome de Nyx eu chamo a ti para frente,
que eu sinta a própria terra se mover no rugido da tempestade de poder que veio
quando você me ajudou nesse ritual!
Afrodite cortou o ar de novo, e eu pude sentir a palma da minha mão direita
formigar, como se eu sentisse a faca que cortava o ar.
Eu sentia o cheiro de grama cortada e eu ouvi o choro de um curiango, como se
estivesse enrolado invisível no ar ao meu redor. Afrodite se moveu de volta para o centro
do circulo. Colocando a vela púrpura ainda acessa no meio da mesa ela completou o
feitiço.
O espírito, selvagem e livre,
em nome de Nyx eu chamo a ti para frente!
Me responda!
Fique comigo durante esse ritual e me conceda teu poder de deusa!
E de alguma forma eu sabia o que ela ia fazer a seguir. Eu podia ouvir as palavras
dentro da minha mente – dentro do meu espírito. Quando ela ergueu a taça e começou a
andar pelo circulo eu senti as palavras dela, e embora ela não tivesse a pose ou o poder
de Neferet o que ela disse entrou em mim, como se eu estivesse de dentro para fora.
“Esse é o tempo da grandeza da nossa deusa lua. Existe gloria nessa noite. Os
antigos sabiam dos mistérios da noite, e o usavam para ficar mais fortes... e para cortar o
véu entre os mundos e tinham aventuras que hoje apenas sonhamos. Segredo...
mistério... mágica... verdadeira beleza e poder em forma vampirica – sem ser manchada
pelas regras ou leis humanas. Não somos humanos!” Com isso, a voz dela tocou contra as
paredes, como a de Neferet tinha feito antes. “E todos vocês Filhas e Filhos Negros
perguntam hoje a noite se esse rito é o que temos pedido a cada lua cheia desde o ano
passado. Liberte o poder em nós para que, como os felinos selvagens, saibamos a
flexibilidade do nosso animal interior e não sejamos ligados pelas correntes ou jaulas
humanas da ignorância e fraqueza deles.”
Afrodite parou bem na minha frente. Eu sabia que eu estava vermelha e respirando
com força, assim como ela. Ela levantou a taça e a ofereceu para mim.
“Beba, Zoey Redbird, e se junte a nós em pedir a Nyx pelo que é nosso por direito de
sangue e corpo e a Marca da nossa grande Mudança – A Marca com a qual ela já te
tocou.”
Sim, eu sei. Eu provavelmente deveria dizer não. Mas como? E de repente eu não
queria. Eu definitivamente não gostava ou confiava em Afrodite, mas o que ela estava
dizendo não era basicamente verdade? A reação da minha mãe e padrasto a Marca voltou
com força e claramente na minha memória, junto com o olhar de medo de Kayla e a
repulsão de Drew e Dustin. E como ninguém tinha me chamado, ou nem mesmo me
mandado uma mensagem, desde que eu tinha partido. Eles só me deixaram ser jogada
aqui para lidar com minha nova vida sozinha.
Me deixou triste, mas também me deixava irritada.
Eu peguei a taça de Afrodite e dei um gole grande. Era vinho, mas não tinha o gosto
do vinho do outro ritual. Esse era doce, também, mas tinha um tempero nele que não
tinha o gosto de nada que eu já experimentei antes. Causou uma explosão de sensações
na minha boca que viajaram com um quente e amargo traço pela minha garganta e me
encheu com um desejo tonto de beber mais e mais e mais.
“Abençoada seja,” Afrodite disse enquanto pegava a taça de mim, derramando um
pouco do liquido vermelho nos meus dedos. Então ela me deu um apertado e triunfante
sorriso.
“Abençoada seja,” eu respondi automaticamente. Ela se dirigiu até Enyo, oferecendo
a taça e eu não consegui me impedir de lamber os dedos para sentir um pouco mais do
gosto do vinho que tinha sido derramado ali. Era muito mais que delicioso. E o cheiro...
era um cheiro familiar... mas pela tontura na minha cabeça eu não consegui me
concentrar o bastante para descobrir o que eu tinha cheirado com esse incrível cheiro
antes.
Quase não levou tempo para Afrodite passar por todo o circulo, dando a cada um,
um gole da taça. Eu a observei de perto, desejando poder ter mais quando ela voltou para
a mesa. Ela levantou a taça de novo.
“Grandiosa e mágica deusa da Noite e da lua cheia, ela que cavalga entre o trovão e
a tempestade, guiando o espírito e os Anciões, linda e incrível, que até os mais antigos
devem obedecer, nos conceda o que é pedido. Nos encha com seu poder e mágica e
força!”
Então ela botou a boca na taça, e eu observei com inveja, enquanto ela bebia até a
ultima gota. Quando ela terminou de beber, a musica começou de novo. Sincronizada com
isso ela voltou para o circulo, dançando e rindo enquanto apagava cada vela e dava adeus
para cada elemento. E de alguma forma, enquanto ela se movia ao redor do circulo,
minha visão ficou toda errada porque o corpo dela piscou e mudou e foi como se eu
estivesse olhando para Neferet de novo – só que ela era mais nova, uma versão crua da
Alta Sacerdotisa.
"Merry meet and merry part e merry meet de novo!" ela finalmente disse. Todos
respondemos enquanto eu pisquei para minha visão clarear e a imagem estranha da
Afrodite-como-Neferet desapareceu, assim como a queimação na minha Marca. Mas eu
ainda sentia o gosto do vinho na língua. Era tão estranho. Eu não gostava de álcool. Sério.
Eu não gosto do gosto. Mas tinha algo nesse vinho que era delicioso além... bem, alem do
melhor chocolate de mundo (eu sei, é difícil acreditar). E eu ainda não consegui descobrir
porque parecia tão familiar.
Então todos começaram a andar e a falar e o circulo se desfez. A iluminação
aumentou o que nos fez piscar devido a luz. Eu olhei para o outro lado do circulo,
tentando ver se Erik ainda estava me olhando, e um movimento na mesa chamou minha
atenção. A pessoa que estava encapuzada e parada durante o ritual estava finalmente se
mexendo. Ele meio que se moveu, estranhamente colocando a si numa posição melhor
para sentar. O capuz da capa preta caiu, e eu estava chocada por ver aquele cabelo
alaranjado e nada atraente e um rosto sardento e branco demais.
Era aquele irritante garoto Elliott! Muito, muito estranho ele estar aqui. Poderia ser
que as Filhas e Filhos Negros o quisessem? Eu olhei ao redor da sala de novo. Sim, como
eu suspeitava, não havia ninguém feio ou parecendo nerd. Todos, e eu digo todos, com
exceção de Elliott eram atraentes. Ele definitivamente não se encaixava.
Ele estava piscando e bocejando e parecia que ele tinha cheirado muito incenso. Ele
levantou a mão para limpar algo no nariz (provavelmente uma meleca que ele gostava de
olhar depois) e eu vi a branca e grossa bandagem que estava envolvendo o pulso dele. O
que...?
Um terrível sentimento se arrastou pela minha espinha. Enyo e Deino estavam
paradas não muito longe de mim, conversando animadamente com a garota chamada
Pemphredo. Eu fui até elas e esperei até haver uma brecha na conversa. Fingindo que
meu estomago não estava tentando se apertar até morrer, eu sorri e acenei na direção de
Elliott.
“O que aquele garoto está fazendo aqui?”
Enyo olhou para Elliott enquanto virava os olhos. “Ele não é nada. Só o refrigerador
que usamos hoje a noite.”
“Que perdedor,” Deino disse, liberando Elliott com uma cara feia. “Ele é praticamente
humano,” Pempheredo disse enojada. “Não é de se admirar que tudo que ela seja bom é
ser um lanchinho.”
Meu estomago parecia que ia virar do avesso. “Espera, eu não entendo.
Refrigerador? Lanchinho?”
Deino a Terrível virou seu arrogante olhar para mim. “É assim que chamamos os
humanos – refrigeradores e lanchinhos. Você sabe – café da manha, almoço, e jantar.”
“Ou qualquer refeição entre isso,” a alegre Enyo praticamente ronronou.
“Eu ainda não-“ eu comecei, mas Deino me interrompeu.
“Oh, qualê! Não finja que você não soube dizer o que tinha no vinho, e que você não
amou o gosto.”
“Sim, admita, Zoey. Era obvio. Você teria tomado tudo – você queria até mais do que
nós. Vimos você lambendo os dedos,” Enyo disse, se inclinando e invadindo meu espaço
pessoal enquanto encarava minha Marca. “Isso deve fazer de você algum tipo de
aberração, não é? De algum jeito você é uma caloura e uma vampira, tudo em um, e você
queria mais do que só uma prova do sangue daquele garoto.”
“Sangue?” eu não reconheci minha própria voz. A palavra “aberração” continuou
ecoando na minha cabeça.
“Sim, sangue,” Terrível disse.
Eu senti calor e frio ao mesmo tempo e olhei para longe dos rostos conhecidos, para
os olhos de Afrodite. Ela estava parada do outro lado da sala falando com Erik. Nossos
olhos se encontraram e devagar, propositalmente, ela sorriu. Ela estava segurando a taça
de novo, e ela a levantou no mais imperceptível brinde para mim antes de tomar um gole
e virar de costas rindo de algo que Erik disse.
Me mantendo firme, eu dei uma desculpa idiota para a Pronta para Guerra, Terrível,
e Arfar, e andei calmamente para fora da sala. No segundo que eu fechei a porta de
madeira atrás de mim eu corri feito uma maluca cega. Eu não sabia onde estava indo, só
que eu queria ir embora.
Eu bebi sangue – sangue daquele horrível garoto Elliott – e eu gostei! E pior, o
delicioso cheiro tinha sido familiar porque eu tinha sentido ele antes quando as mãos de
Heath estavam sangrando. Não era uma colônia nova que eu tinha me sentido atraída;
tinha sido o sangue dele. E eu senti o cheiro de novo no corredor quando Afrodite tinha
cortado a coxa Erik e eu queria lamber o sangue dele também.
Eu era uma aberração.
Finalmente, eu não consegui respirar e cai na fria pedra da parede da protetora da
escola, procurando por ar e vomitando as tripas para fora.

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